Jaspe



Você viu os cabelos dela pela primeira vez no expresso de Hogwarts. A cascada acaju passou pela sua frente muito rápido para que você visse o rosto da dona, mas você gravou bem aquela cor. Vermelho. Tanto quanto o pingente de jaspe em seu pescoço, que se pai te dera como joia de família.  Vermelho-jaspe.


Você brigou com ela pela primeira vez dois anos depois. Você zoava com um garoto que tinha zoado de você. Mas ela era ceia de ética, e não sabia de toda a história. Ela era tão linda que você não soube o que dizer. Ela acabou com você na frente de todos e você ficou vermelho como nunca tinha ficado, tanto quando o pingente de jaspe em seu pescoço ou os cabelos dela. Vermelho-jaspe.


Você caminhava pelo corredor sozinho, atrasado como sempre, quando ouviu soluços. Curioso como só você poderia ser, resolveu ir procurar o autor do som. Você achou uma garota sentada no chão em um corredor vazio. Reconheceu a garota pela cor dos cabelos, seu coração saltou e seu estomago torceu-se ao perceber que era Lílian.


“Tá tudo bem?” Você perguntou a ela, que te olhou e bufou.


“Vá embora, Potter” ela disse, mas você não quis deixa-la sozinha naquele estado. Sentou-se ao lado dela e abraçou pelos ombros. Lílian acomodou-se contra o seu corpo e adormeceu, enquanto você ficou ali a observando. Algo logo te chamou a atenção, as unhas dela. Faziam um contraste magnífico com a pele alva da garota. Eram vermelhas, tanto quanto o pingente em seu pescoço. Vermelho-jaspe.


Ela brincava com as amigas na beira do lago naquela tarde anormalmente quente de verão, e você não se atreveria a aproximar-se por causa de suas brigas. Lílian estava um tanto envergonhada, mas no fim aceitou colocar o vestido mais fresco, por insistência das meninas. E ela estava magnífica. Como uma flor que acabara de desabrochar. Mas os outros garotos também notaram isso, e Malfoy foi importuná-la. Seu primeiro instinto foi protegê-la quando se jogou na frente dela, recebendo o jato vermelho que saiu da varinha do outro.


Você acordou na enfermaria. A primeira coisa que ouviu foi a voz da ruiva dizendo “eu podia ter me defendido sozinha”. Abriu os olhos e viu os da garota um tanto vermelhos, como se ela tivesse chorado.


Você ficou mal por um tempo por conta do que ela disse. Você tentou ajuda-la e ela te dispensou daquela maneira. Descobriu o amor quando tentou ficar irritado com ela e não conseguiu. Amava-a mais do que tinha suposto ser possível.


Ela te pegou sentado em um corredor e, sem ver o que realmente acontecia, começou a bronqueá-lo por matar aulas. Quando você ergueu o rosto, porém, ela mordeu o lábio inferior com tanta força que fez uma mínima ferida neles, deixando-os com a cor do pingente que você carregava por baixo da roupa. Vermelho-jaspe.


Você nem pensou duas vezes antes de ficar de pé e aproximar-se dela. Ela não reagiu, mas parecia em pânico. Você tirou a corrente fina, dourada e longa do pescoço e pendurou-o no dela, com a pedra de seu pai junto. Sua mente precisava de um consolo, e ali estava. Ela teria algo seu, algo que de alguma forma a marcava como sua. Sua o que, você não sabia.


Deixou-a no corredor antes que ela pudesse devolver a joia.


Alguns dias depois ela apareceu, o colar na mão.


“Por que me deu isso?” Perguntou com propriedade. “Black me disse que seu pai te deu isso. Não devia dá-lo assim”. Ela parecia zangada, tensa e… vulnerável, de alguma forma.


“É meu e eu dou para quem eu quiser” Você disse dando de ombros. Percebeu repentinamente que aquele colar de alguma forma representava seu amor. Dera-o a ela. “Faça o que quiser com ele. Jogue fora, enterre-o, venda-o.” Sugeriu amargo.


“Eu não poderia fazer isso” Lílian murmurou, chamando sua atenção para ela. Como era? Não poderia? “Pegue de volta, Potter” demandou.


“Eu não quero” você retrucou, querendo saber onde ela faria aquilo acabar.


“Eu não posso ficar com isso! Não posso ficar com uma joia de família sua!” A ruiva explodiu, bradando a pedra vermelho-jaspe na sua frente.


Você sorriu consigo mesmo e levantou-se de sua cadeira na biblioteca, ficando de frente para ela. Pegou o colar das mãos da ruiva e repôs no pescoço dela, onde tinha colocado na primeira vez.


“Claro que pode” finalizou com calma. “É seu”.


Todos os medos da ruiva se concretizaram quando ela mesma, hipnotizada pelos olhos dele, deu o passo a frente e beijou-o devagar. Você retribuiu, mergulhando naquela doçura sem pensar suas vezes. Era ali que pertencia, você sabia disso.


A garota então deu um passo para trás, ofegante e assustada. Você continuou sorrindo um sorriso leve, satisfeito. Ela parecia muito confusa.


“Por quê?” Lílian perguntou por fim.


“Você sabe por que.” Você responde sem tirar o sorriso do rosto.


“E agora?” A garota pergunta de novo. Você se aproxima um passo dela.


“Eu não sei. O que você acha?” Alargou o sorriso sob o rubor dela. A ruiva olhou seu colar.


“É bonito. Acho que vou ficar com ele.” Declara já mais calma. A ambiguidade óbvia, analisando o colar como seu amor.


“Tinha certeza de que ia gostar” Você responde simplesmente e vira-se de costas, caminhando como se a conversa tivesse acabado. Percebeu que não tinha quando ouviu os passos rápidos dela atrás de você.


“Ai!” Você exclamou baixo depois de sentir a mordida que ela deu em sua nuca. Ficaria tão vermelha quanto seu colar, obviamente. Talvez até mais vermelho que vermelho-jaspe. Virou-se para fita-la, surpreso.


“Eu não vou ser a única a carregar uma coleira por aí, Potter. Fique esperto.” Ela sorriu, referindo-se obviamente a marca de posse que o colar e a mordida instituíam um no outro.


Você riu com a mão na nuca, vendo-a ir embora. Era assim mesmo que gostava dela. Sagaz, inteligente e ruiva como só ela poderia ser.


Agora, sentado sob as brasas vermelho-jaspe da lareira de sua casa, você não poderia imaginar outro destino senão aquele, observando Lílian e Harry dormirem no sofá enquanto o esperavam depois de uma missão, para jantar. Acordou-a com um beijo leve em sua testa que a fez sorrir e olhar para as bochechas rosadas do filho.


Lily levantou-se enquanto você pegava Harry no colo para leva-lo para a cama, e você viu um pequeno volume sob a blusa dela, um que você não via há tempos. Pôs o filho no berço e puxou o colar dela do pescoço, sorrindo ao ver o colar vermelho-jaspe que tinha dado para ela ainda no colégio.


Vocês se beijaram com doçura pela última vez naquela noite que acabaria com o sangue vermelho de vocês deixando de correr e faziam-na parecer incrivelmente pálida. Mas seu cabelo continuava lá, naquela cor que ele parecia destinado a ter em sua vida, fosse por sua casa em Hogwarts ou pelos cabelos da mulher que amava. Vermelhos. Tanto quanto o pingente de jaspe em seu pescoço, que se pai te dera como joia de família.  Vermelho-jaspe. 

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