Sapphire













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“I read your mind a thousand times
Exempt myself from alibis
Surrender to me softly
You’re trying to find a different side of me
You see this life as nothing but a song without no rhyme”


”Eu li sua mente milhares de vezes
Me isentei de álibis
Renda-se a mim suavemente
Você está tentando achar um lado diferente de mim
Você vê essa vida como nada a mais que uma canção sem rima”


Você viu os olhos dela brilharem enquanto entoava esses versos. Dedilhou o violão com certeza, lembrando-se do quanto treinara para mostrar á ela sua habilidade. Para que tudo saísse perfeito. Encarou o fogo por alguns instantes, tentando sentir-se menos nervoso, tentando não pensar que escolhera exatamente aquela canção por ter um significado forte para ambos.

Você olhou para os olhos escuros dela, iluminados pelo fogo, e quis rir. Quis rir porque se lembrava de quando prometera aos amigos que nunca se apaixonaria. Afinal, Sirius Black não se apaixonava. Ele distribuía amor por aí, mas nunca amava efetivamente alguém. Quer dizer, você achou que era assim. Até que repentinamente, aquela garota que você conheceu a vida toda, aquela a qual você incomodou em reuniões entre as famílias, levantando sua saia e correndo enquanto ria, aquela mesma menina da qual você zombava e arrancava os cabelos das bonecas, a garota que roubara seu primeiro beijo quando tinham dez anos e meio de idade, chamou a sua atenção. Mas não pela beleza. Não, perceber a beleza de Marlene era superficial demais. Fútil demais.

Você percebeu as mãos de Marlene. Nunca pensara que teria feitiche com mãos, mas assim aconteceu. As mãos macias, delicadas, adornadas por aquele anel. Anel de safira, o qual herdara de sua avó materna, uma irlandesa de muita fibra e com um coração do tamanho do mundo. Ela lhe contara, antes de virem para Hogwarts, o quanto amara a avó, o quanto ela fora importante em sua vida. E perceber que ela usava aquele anel, como um símbolo da avó, fazia você admirá-la ainda mais.

Viu Marlene sorrir levemente olhando para o fogo com o terceiro verso. Ah, como você queria que ela se rendesse realmente. Rendesse á você aqueles olhos, aquele sorriso, os lábios, o cheiro, a alma. Sim, porque você também notara que aquelas mãos femininas, que colocavam os extensos cabelos negros para trás das orelhas com delicadeza; cuidavam de flores e de bordados; depositavam carícias distraídass e hipnotizantes nos lábios vermelhos, colo e braços, não tinham medo de pegar no pesado. Marlene era também uma mulher de fibra, não negava o sangue irlandês que corria em suas veias. Levantava-se contra o que achava injusto, protegia os amigos com unhas e dentes, protegia desconhecidos quando necessário, ajudava quem precisava do jeito que fosse. Marlene era a representação da grifinória em carne e osso: grande, nobre, forte e corajosa. Uma heroína.

Sua heroína. Sua Marlene. Sua Marlene-heroína de mãos macias e sorriso gentil, de olhares maliciosos e lábios tentadores. Você resistiu á tentação por tanto tempo que agora sentia suas resistências se esvaírem como água escorrendo pelas mãos em concha. Não podia beijar a melhor amiga. E para isso se apegava ao maior defeito dela: seu próprio pessimismo acerca de sua própria vida. Ela acreditava que não realizaria seus sonhos, nunca conseguiria fazer alguém gostar dela verdadeiramente, que nunca constituiria uma família independente dos casamentos arranjados que sua família lhe proporcionasse, como sua avó fizera, fugindo com o homem que amava, cuspindo nas regras e pisando na tradição idiota das famílias puro-sangue.

Mas você nunca contaria á ela. Marlene não podia saber. Você estava determinado á fazê-la ficar sem-graça aos seus olhos, mas isso não funcionou muito bem. E nesse momento Marlene começou a te perguntar coisas estranhas, como se quisesse descobrir alguma coisa. Agora, olhando-a naquela noite sentados em troncos de árvore na parte mais afastada do bosque do jardim dos Potter, entendia o quê ela tentava descobrir, e percebia que estava mostrando isso á ela. Seu lado diferente do “galinha implacável Sirius Black”. Seu lado com sentimentos e desejos mais específicos e elaborados, não comandados pela mente, sempre tão controladora de seus atos quanto seus impulsos, mas sim por seus sentimentos. Um lado que, na verdade, nem ao menos você conhecia.

”Devote myself with compromise
Selfishly lying, giving bad advice
Surrender to me once again
You’re trying to find a boy inside a man
You ask me why we suffocate our lives beneath the sky”


”Devoto me com compromisso
Egoístamente mentindo, dando conselhos ruins
Renda-se a mim uma vez mais
Você está tentando achar um garoto dentro de um homem
Você me pergunta por que nós sufocamos nossas vidas embaixo do céu”


Observou as mãos de Marlene, tentando captar algum sinal da reação dela àquela quase-serenata. Porque afinal ainda era Sirius Black, o amor por ela não o fizera esquecer aquilo, e se ia se declarar á ela tinha que ser do seu jeito mais criativo. Então chamara-a naquela noite para caminhar com ele e, carregando o violão nas costas, levara Marlene até a parte mais afastada do bosque. Então sentara-se com ela, acenderam uma fogueira e começara a cantar aquilo.

Claro, a música era um tanto subjetiva, mas Marlene provavelmente iria entender. Conheciam-se tão bem. Demorara séculos para você aprender a tocar aquela música direito, e por mais que Alan e James se esforçassem, os esforços de pai e filho quase foram em vão. Sirius por pouco não aprendera a música á tempo de Marlene poder ouvi-la saindo de seus dedos. Ela dissera que ia embora para casa para ver o irmãozinho, que estava com dor de garganta, mas você egoístamente queria-a para si, e aconselhou-a a ficar mais alguns dias com você e James naquelas férias, porque poderia pegar a mesma doença que o irmão e perder seu aniversário. Ela então aceitara ficar por mais seis dias, e esse era seu prazo para aprender a tocar. Devotara-se inteiramente á idéia de que Marlene merecia uma boa demonstração de sentimentos por sua parte, e esperava que ela se rendesse.

“O que está fazendo?” Ela te perguntou quando você começou a levá-la para dentro do bosque, escondidos pelas árvores. Marlene arqueou uma sobrancelha, o raciocínio pessimista tomando conta de seus pensamentos. “Não é nenhuma piada, é Black? Porque se eu me deparar com alguma bomba de bosta para estourar na minha cara, você pode contar que eu vou te fazer não poder ter filhos” Ela deu um sorriso maligno, cruzando os braços, mostrando-se capaz de realizar a ameaça. “De um modo bem doloroso” Completou e riu maliciosamente, simulando um corte em suas partes íntimas com algo parecido com machado.

Você só revirou os olhos e pegou a mão dela, a mão macia dela, adornada com aquele anel. Anel de safira, anel da avó dela. Anel que fazia você admirá-la e odiá-la ao mesmo tempo por ter chamado sua atenção. A safira definitivamente era a pedra dela. Sofisticada, marcante, delicada. Marlene era tudo o que você pedira á Merlin e mais um pouco, e de repente você percebeu isso.

“Por quê você acha que desperdiçamos nossas vidas com tantas coisas idiotas, em Six?” Ela te perguntou no caminho, e deve ter te achado um grosso por não responder. Mas a verdade é que você se perdera tentando achar resposta para a pergunta dela, sem nunca encontrar. Ela tinha toda a razão. Perdiam-se anos com brigas idiotas, rixas, futilidades sociais, frivolidades falsas, hipocrisia não-necessária. A vida fora feita para ser vivida, e ela tinha toda a razão em questionar por que escolhiam não vivê-la. Suspirou fundo.

“Porque não temos coragem para viver a vida. “

Essa era a sua resposta.

”Maybe we’re losing our reasons in our silly fights
Maybe this time it’ll seem right
I wanna tell you about the day we first met
How I feel when you’re holding me tight
And oh, how you’ve changed my life”


”Talvez estejamos perdendo nossas razões em nossas brigas bobas
Talvez dessa vez isso parecerá certo
Quero te falar sobre o dia que nos conhecemos
Em como em me sinto quando você me abraça apertado
E oh, como você mudou a minha vida”


Você terminou a música e encarou Marlene, percebendo suas reações. Ela girava o anel de safira, misteriosamente azul, enquanto observava o fogo. Ela era boa nisso. Em não esboçar reações. Mas isso te irritava, á como irritava, não poder saber em momentos de aperto o modo que ela estava se sentindo. Isso te deixava louco. Olhou para o céu tão azul quanto o anel dela e deu um suspiro.

-Talvez você tenha razão. Estivemos perdendo a dimensão dos nossos objetivos e da nossa vontade de sermos felizes com nossas brigas bobas. Talvez ficarmos juntos, com tantas discussões, fosse um erro antes. Mas o que eu sinto por você é forte demais para ser ignorado, e agora talvez seja mais certo que estejamos juntos. Mas de outro jeito, não como antes. – Você suspirou após despejar aquelas palavras nervosamente, sentindo-se tolo por estar com as mãos trêmulas e suadas. Segurou com força o violão.

-Sirius, você está viajando, não está? Bebeu demais? – Ela te perguntou, fazendo você ficar irritado. Você levantou-se e se ajoelhou na frente dela, sentando-se sobre a terra marrom seca. Você pegou as mãos dela, acariciando-as e ao anel de safira que tanto prendia a sua atenção, e tanto revelava sobre a personalidade intrigante de Marlene. Grunhiu.

-Não, Lene, você não vê? Eu quero poder tocar você, te beijar, deitar com você sob o céu estrelado e te contar o que eu senti quando agente se viu pela primeira vez, o modo que eu me sinto quando você está com medo e me abraça, o modo que você me fez mudar e fez eu mudar a minha vida – Você acariciou os cabelos negros lutando contra a sua voz, trêmula.

- Eu quero poder te proteger como te prometi que faria – Você lutou com as suas mãos de novo, pegando a caixa de veludo preta em seu bolso, abrindo-a e pegando o anel de prata com uma pedra azul em forma de gota no meio. Uma safira. Observou o anel, consciente dos olhos dela sob a peça também, e deu mais um suspiro. – Eu queria colocar esse anel no seu dedo e saber que você vai ser minha tanto quanto eu quero ser seu. – Declarou por fim estendendo o anel para o anelar direito dela, junto com o anel da avó. De algum modo as peças se encaixavam e faziam um belo conjunto nos dedos curtos, mas esguios dela.

Você viu Marlene piscar algumas vezes, tentando entender o que acontecia ali. Você viu ela abrir a boca e fechá-la em seguida, incrédula. Então de repente ela se aproximou e te beijou, segurando o seu rosto com as mãos delicadas. Você quis rir, pular, gritar, mas limitou-se á puxá-la mais para perto e colocar suas mãos na cintura coberta apenas por uma camisola e um robe de seda brancos, suspirando fundo. Quis gritar mais uma vez quando percebeu o toque frio da prata em seu rosto. O toque frio de dois anéis. O da avó; que te fizera prestar atenção em Marlene, e o seu; que te fizera consegui-la.

“Também de amo, seu galinha, manipulador, estranho, estúpido, idiota, imprudente, impulsivo...” Ela tinha lágrimas nos olhos e você secou-as sorridente, entendendo que o pessimismo dela iria se acabar dali por diante. Ela te ofereceu um sorriso lindo, genuíno, e você a beijou docemente mais uma vez, suas mãos delicadamente segurando o rosto dela.

“Vamos?” Você perguntou com o violão em uma mão, estendendo a outra para ela. Marlene aceitou e vocês voltaram de mãos dadas para a mansão dos Potter para passar a noite juntos e em claro, sonhando com o futuro. E toda a vez que você sentia a textura lisa e fria da prata em sua pele, você se lembrava.

Você se lembrava que Marlene era exatamente como uma safira. Forte, preciosa e delicada. E você se determinou á guardar aquele tesouro, seu tesouro, custasse o que custasse. Sua amada Marlene. Sua amiga, sua heroína, seu amor, sua
safira.

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