O Herdeiro de Salazar Slytheri



Merope foi até o quarto e jogou-se sobre a cama. Passava mil coisas por sua cabeça, ela chorava em desespero, não sabia o que pensar, não sabia o que fazer, o que faria agora com um filho em seu ventre e sem pai, e sem família, sem ter a quem recorrer, a quem procurar, o que faria? O que faria agora?


Adormeceu por algumas horas e quando acordou viu que a luz do dia tocava as colinas, olhou para frente e viu a cidade ao longe, será que lá alguém poderia ajudá-la? Alguém poderia ter pena dela e acolhe-la? Que destino a aguardava agora, o que diria seu orgulhoso pai se a visse deste jeito? Sozinha, sem esperança e esperando um filho sem pai, a que abismo havia lhe levado o seu desejo proibido, a sua luxúria e cobiça, o que tinha agora eram as conseqüências de seus atos movidos pelo desejo. A herdeira de Sonserina cujo medalhão ainda tilintava em seu pescoço mendigara um amor proibido e agora rastejava mediante um futuro completamente obscuro.


“O que eu vou fazer agora?” – pensava ela.


            Merope começou a caminhar sem rumo, descalça pelos caminhos pedregosos que feriam seus pés, ia pisando no mato fino que em alguns momentos lhe alcançavam os joelhos até que chegou à cidade, quando uma chuva fina e gelada começou a cair. Todas as portas da cidade se fecharam e começava a escurecer. A garota tropeçou e caiu, sentiu uma forte dor na barriga, mas pôs-se de pé com dificuldade.


            Andou mais alguns metros e começou a sentir muita dor, uma dor que aumentava cada vez mais, até que sentiu um liquido escorrer por suas pernas, pensou ser sangue, talvez estivesse tendo um aborto natural, aquilo não lhe pareceu ruim, até agradeceria se fosse verdade, não podia colocar um filho no mundo, não queria que nascesse, ele não merecia viver em um mundo tão nogento como aquele. Mas para sua surpresa o liquido não era sangue, havia um pouco de sangue mas em sua maioria era incolor, aquilo só poderia significar que... estava prestes a dar a luz.


            Merope entrou em desespero, não tinha ninguém por perto por isso pouco adiantaria gritar ou pedir socorro. Ela continuou a caminhar mancando, e cambaleando enquanto a chuva caia pesadamente sobre suas costas. Alguns metros a frente ela viu um local onde uma luz pálida que parecia ser  de lareira iluminava janelas sujas. Quando se aproximou leu em uma placa que dizia “Orfanato Wool’s” ela então sacudiu o grande portão de ferro indo ao chão pois não tinha mais forças para ficar de pé, clamando por ajuda.


_ Alguem! Por favor!


            Ao ver aquela estranha cena no meio de uma tempestade uma mulher de meia idade abriu o portão, trajava vestes de freira. Quando viu que se tratava de uma mulher grávida aparentemente prestes a dar a luz logo a segurou firme e a arrastou para dentro.


_ Maurice, Ana me ajudem aqui, rápido – gritou a freira logo que passou pela porta. E quase que imediatamente um senhor de aparentemente 50 anos e uma moça também vestida com vestes de freira vieram auxiliá-la.


_ Quem é ela? – perguntou Ana, uma jovem noviça de no máximo 25 anos.


_ Não faço a menor idéia, mas ela está prestes a dar a luz, vamos, me ajudem a levá-la para a enfermaria – respondeu a madre Helena.


            Os três seguraram Merope e a colocaram sobre a cama da enfermaria do orfanato.


_ Chamem o Dr.Christopher agora – pediu Helena.


_ O Dr. Está em viagem senhora – respondeu Ana – Teremos que fazer o parto agora.


_ Então acorde as enfermeiras, precisamos delas e peçam para trazer o que for necessário.


            Merope gemia, as contrações eram fortes, aquela dor desconhecida lhe trazia agonia e silenciosamente ela amaldiçoava ao ter que passar por aquilo, mas a dor de seu coração partido era ainda maior, e muitas vezes em sua agonia ela chamou o nome de Tom.


_ Não está vindo, está pronto pra nascer mas é como se algo o impedisse – disse uma das enfermeiras


_ Escute, você precisa nos ajudar – disse Ana bondosamente à Merope – Precisamos que empurre, que force


_ Não! Não! Você não entende... essa criança... não pode... nascer! – disse Merope enquanto respirava com dificuldade


_ O-oque está dizendo? – respondeu Ana perplexa


_ Não, não... isso precisa... terminar... aqui, ele não pode nascer, eu preciso ser a última, não podemos mais... prolongar isso


_ Você está fora de si moça, por favor acalme-se e trate de nos ajudar – disse Ana


_ NÃO!!!


            Nesta hora Merope se debateu fortemente.


_ Não tem jeito, segurem-na e prendam-na na cama – ordenou a irmã Helena


            Merope continuou se debatendo tentando se livrar do que a prendia.


_ Não, ele não pode nascer, não deixem que isso aconteça, ele deve morrer junto comigo, isso deve acabar aqui.


_ Ela não quer que o próprio filho nasça, isso é terrível – disse Ana indignada


_ Ignore-a, ela está delirando -  esbravejou a Irmã Helena.


            Ana continuou segurando Merope com força enquanto as enfermeiras com apoio da irmã Helena travavam uma batalha para trazer aquela criança ao mundo enquanto a mãe lutava pelo contrário, até que finalmente ouviu-se um choro de criança, que logo cessou.


            Não houve comemorações, as enfermeiras apenas enrolaram a criança em um lençol. Merope ainda respirava com dificuldade mas parara de se debater. Voltara a pensar em Tom, e no que seria daquele pobre ser que acabara de colocar no mundo.


_ Você teve um menino, e ele aparentemente é bastante saudável, apesar das condições precárias a qual foi exposto – disse uma das enfermeiras.


            Merope não olhou para a criança, pois não queria vê-lo, simplesmente continuo com os olhos perdidos e sem foco.


_ Vamos deixá-la descansar, coloque-o ali naquele berço – disse a irmã Helena


_ Mas ela precisa alimentá-lo, madre – disse Ana.


_ Prepare algo para alimentá-lo caso ela não seja capaz de fazê-lo. Essa mulher está claramente destroçada por dentro. Vão agora, vou tentar falar com ela – disse a irmã Helena


            Ana e as duas enfermeiras deixaram a enfermaria onde a irmã Helena e Merope ficaram a sós.


_ Quem é você afinal, de onde veio? – perguntou a freira.


            Merope ergueu o braço trêmulo e apontou para a Janela.


_ Das colinas? Veio nesta situação até aqui? Realmente é incrível como você e principalmente seu filho tenha sobrevivido. Mas preciso saber como você se chama Srta.


_ Riddle, Merope Gaunt Riddle – respondeu ela sem emoção


_ Sra. Riddle, por acaso o seu filho não teria um pai? Entendo que talvez não queira falar sobre isso mas precisamos desta informação para passar ao juiz.


_ Sim, ele tem um pai e quero que ele saiba disso, o pai dele chama-se Tom Riddle – disse Merope claramente - E escute, este bebê, ele não é comum, ele é especial...


_ Senhora, senhora Riddle não se esforce, está muito fraca, eu entendo o que a senhora disse, mas agora preciso que me diga o nome que deseja dar a seu filho.


            Merope olhou na direção do filho pela primeira vez e o viu, estava dormindo. Voltou a fita irmã Helena bem dentro de seus olhos, tão profundamente que fez com que ela mesmo sentisse um arrepio na espinha.


_ Tom... como o pai... Marvolo... como o avô... Riddle.


_ Tom Marvolo Riddle, certo – disse a irmã Helena tomando nota – Agora se me dá licença eu vou verificar um leito melhor para a Sra.


            Merope não respondeu, fechou os olhos por um momento, tocou o medalhão de seu antecessor, Salazar Slytherin, um dos fundadores de Hogwarts, bruxo de extrema sabedoria e malícia. Ela então reuniu forças e pô-se de pé, indo até o berço onde o pequeno Tom dormia. O bebê porém ao ver a mãe se aproximar abriu os olhos e a encarou. Ela sentou-se no chão para olhar bem dentro dos olhos da criança.


_ Você sabe não é Tom? Você não é qualquer um, você é especial, você não deveria ter nascido, você não foi desejado, e nem amado, mas como está aqui, você precisa saber o seu valor e o seu diferencial entre os demais bruxos que existem.


            A criança olhava para a mãe como se compreendesse cada palavra que ela dizia.


_ Escute bem Tom, você não vai ser subjugado, você não vai se deixar levar por um amor ou por qualquer outra fraqueza assim como sua mãe se deixou levar, você vai crescer forte e poderoso, e você vai ser o mais forte, você vai dominar tudo e todos, você vai fazer com que os outros se curvem a você e jamais permita que seja o contrário. Passe por cima de tudo e todos para ter o que deseja, destrua se for necessário, mate se for preciso, não meça esforços para ser o bruxo mais poderoso que já existiu.Você tem isso em seu sangue, a ganância corre em suas veias, você é o único herdeiro de Salazar Slytherin, siga seu destino, faça aquilo que eu não pude fazer pela honra da sua família.


            Merope então tirou o medalhão e o colocou sobre a pequena mão de Tom. Foi a única vez que ela o tocou. Após fazer isso abaixou a cabeça e alguns segundos depois foi ao chão, morta.


            O bebê não reagiu ao ver a mãe caída, mas ainda olhava para ela.


            Ana entrou no quarto para levar Merope e o pequeno Tom para um lugar mais aquecido e limpo, mas parou derrubando a bandeja que carregava quando viu Merope caída ao chão.


_ Essa não! Irmã Helena! – gritou enquanto  levantava Merope com dificuldade e a arrastava até a cama.


            Irmã Helena chegou ao quarto acompanhada de uma das enfermeiras que logo mediu o pulso de Merope e informou que estava realmente morta.


_ Mas que tragédia horrível, o que será deste menino agora sem pai e sem mãe – disse Ana


_ Ele ficará aqui, ela conseguiu me passar o nome que desejava que ele tivesse antes de morrer e me parece que também deixou um certo tipo de herança para ele – disse referindo-se ao medalhão.


_ Guarde isso em um local seguro Ana, devolveremos a ele quando tiver 8 anos – disse a irmã Helena retirando o medalhão da pequena mão de Tom e o entregando à Ana.


            A freira retirou a criança do berço e a segurou acalentando-o em seu braços.


_ Ele não chora, só deu um pequeno grito quando nasceu, mas só para indicar que estava vivo... ele não chorou mais depois disso


_ Ele sofreu grandes perdas, nasceu órfão, sendo rejeitado pela mãe e contra a vontade dela, isso é terrível, mas devemos dizer que essa criança quis sobreviver, ele lutou bravamente por sua vida, até mesmo contra a própria mãe – disse Ana olhando para Tom que agora estava novamente com olhos abertos e olhava para as duas.


_ O olhar dele é assustador – disse Ana – mesmo sendo uma criança, o que eu disse pode parecer terrível, mas ele me dá arrepios.


_ È o mesmo olhar da mãe, o mesmo que senti e sinto ao segurá-lo, sabe ela me disse que ele não era comum, que ele era especial, não sei exatamente o que ela quis dizer, mas quero acompanhar de perto o crescimento dele.


_ Não vai procurar familiares dele? Não vai procurar saber mais sobre a jovem mãe? – perguntou Ana.


_ Algumas coisas devem permanecer em silêncio Ana, eu sinto que ela deixou algo para trás, algo que não queria que fosse tocado novamente, vamos apenas criar a criança aqui em nosso orfanato.


_ A senhora ainda não me disse o nome dele, madre – perguntou Ana.


_ Ele se chama Tom... Tom Marvolo Riddle.


 


 


 


 


------- FIM -------


 


 


 


... do início.


 

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