Reconciliação



            Depois de sair do Três Vassouras, Lilian voltou rapidamente para Hogwarts, precisava conversar com Rose, sentia como tinha sido idiota, como havia traído a confiança da melhor amiga e como precisava que ela a perdoasse.


            Lilian cruzou as grandes portas para o hall de entrada e viu diversos estudantes sem os uniformes da escola conversando, como era todos os dias de sábado em Hogwarts. Lilian reconheceu uma das alunas da mesma turma de Rose e perguntou sobre a prima.


_ Eu não a vi hoje, mas se conheço a Weasley deve estar na biblioteca como sempre.


            Lilian subiu os lances de escada até o andar em que se encontra a biblioteca e quando entrou viu os cabelo ruivos de Rose presos por um rabo de cavalo. Se aproximou dela.


_ Rose?


            Rose se virou e quando viu que se tratava de Lilian ficou surpresa mas agiu com indiferença


_ O que houve? – respondeu com frieza


_ Eu... hã... bem, eu queria te dizer que eu tenho sido uma retardada todo esse tempo – disse Lilian praticamente choramingando


_ E agora só que percebeu? – disse Rose


_ Me desculpa, eu fui tão idiota, tão falsa, tão estúpida e tão cega, eu não sei o que me deu, eu fiquei com tanta raiva que...


_ Lilian – Rose a interrompeu – Não adianta nada você ficar se explicando, não é mais fácil só você dizer que sente muito?


            Lilian se calou, onde Rose queria chegar, será que estava sendo sincera ou isso significava que por mais que ela falasse e se explicasse nada iria mudar e Rose iria continuar com raiva dela?


_ Eu sinto muito, eu também descobri muita coisa sobre o Fred, Rose, ele definitivamente está sendo desprezível até consigo mesmo...


_ Eu não quero falar sobre esse assunto mais, deixa morrer esse assunto, essa história de caderno e tudo mais, não quero mais saber disso – respondeu Rose


_ É mas... eu tive que contar a ele que era você a garota, me desculpa mas é que ele foi tão cretino que eu precisava dizer


_ Tudo bem, não tem problema agora... a propósito, eu também sinto muito Li, eu devia também ter deixado você se explicar aquela hora, fiquei com tanta raiva e falei coisas que não devia, me desculpa você também.


_ Ah não tem problema, eu senti muito sua falta – respondeu Lilian dando um abraço em Rose


_ Eu também senti, com o Albus não é a mesma coisa – disse Rose rindo – Eu adoro ele, mas não posso conversar sobre coisas de garota entende? Não sei como minha mãe conseguia andar com dois meninos o tempo todo, e ainda mais um cara com a sensibilidade de um legume, como ela sempre diz pro meu pai.


            Lilian riu.


_ Mas Rose, como eu havia dito, o Fred, acho bom você desencanar de vez mesmo, ele não tem volta, ele está completamente corrompido pelo “ser o que todo mundo quer que eu seja”


_ O que ele disse quando você contou que era eu que escrevia pra ele no caderno?


_ Ele não disse nada, só ficou de cabeça baixa encarando a mesa quando eu disse que ele não merecia você


_ Você disse isso mesmo? – perguntou Rose abrindo um largo sorriso


_ Disse sim, claro – respondeu Lilian espontaneamente


_ Puxa, obrigada – disse Rose


_ A mais pura verdade Rose


_ Acho que eu deveria ir falar com ele, não acha? – perguntou Rose


_ Não acho, vai perder seu tempo, e além do mais vai falar o que com ele?


_ Dizer que... ah... bem, pelo menos que ele não deve desistir daquilo que ele quer ser, porque é aquela pessoa, aquele garoto que escrevia no caderno que é ele de verdade


_ Ele sabe disso Rose, ele mesmo me disse, mas a casca é grossa demais, ele não consegue quebrar – disse Lilian suspirando


_ Mesmo assim acho que eu devia


_ Você quem sabe – respondeu Lilian dando de ombros.


 


 


_ Mal começaram e já terminaram? – dizia Tiago enquanto vestia seu uniforme de quadribol


_ Pois é, ela não é que eu pensei que fosse – disse Fred


_ Não disse pra você que não era ela quem escrevia no caderno? – disse Tiago em tom de glória


_ Sim, mas seria tão mais fácil se fosse não é? Por que não pode ser ela mesmo?


_ E por que você tem que ficar com essa menina do caderno hein? Tem tanta garota por aí?


_ Por que achei que ela era especial


_ Era? Espera aí? Quer dizer então que você desistiu dessa idiotice de perseguir esse fantasma do caderno?


_ Eu já sei quem é a garota


_ E? – perguntou Tiago que parou de colocar a bota para olhar pra Fred


_ É a Rose.


_ A Rose? Olha só... mas sabe, esse negócio de caderno e essas coisas são bem a cara dela – disse Tiago sem demonstrar muita surpresa


_ Pois é


_ A Rose gosta de você desde que eram bebês de fraldas, não acredito que ela ainda não superou isso – disse Tiago rindo


            Fred não respondeu, apenas terminou de colocar as luvas muito sério e pegou sua vassoura


_ E aí cara? Não vai fazer nada? Falar com ela?


_ Com a Rose? – disse Fred – Pra quê?  Não poderemos ter nada não é mesmo?


_ A Rose é meio complicado né cara, você sabe bem os motivos, sabe que pessoas como nós...


_ Como nós, como nós o que? O que Tiago – disse Fred alterando a voz – O que a gente é? Somos de algum tipo de realeza imperial?


_ Mais ou menos né, temos que ser exemplos de...


_ Exemplos de perfeição?


_ Não sei você mas eu estou muito longe de ser isso – disse Fred ressentido – aliás isso tudo pra que? Pra mostrar que somos mais...


_ Pra um dia sermos tão bons quanto nossos pais – disse Tiago


            Fred olhou para o primo, abriu a boca e tornou a fecha-la.


_ Fred, você sabe o quanto nossos pais são conhecidos, não fomos nós que escolhemos isso, eu não queria ser o filho do “famoso Harry Potter” queria ser filho do Sr. Potter apenas, e você, eu tenho certeza que sente o mesmo. Acontece que nossos pais nos deixaram um legado, se não formos bons, se começarmos a fazer idiotices, o que acha que vai aparentar por aí? Precisamos sim manter as aparências, pra honrar nossas famílias, não é apenas um joguinho medíocre. Você disse realeza... bem de certa forma no mundo bruxo somos sim da realeza, por isso TUDO que fazemos tem que ser o melhor. Você não se esforçou pra pegar o distintivo de monitor, e eu também? Por que precisava ser um de nós dois? Por que temos que levar o time da Grifinória à vitoria? Porque somos de uma linhagem promissora de grandes heróis, é isso que esperam de nós Fred, meu avô, meu pai foram grandes apanhadores, se eu for um fracasso vou acabar com uma linhagem, eu não me permito ser um fracasso, mesmo que isso me mate. E em relação a quem devemos ou não namorar, sim, isso também é importante, para evitar falações. Você tem noção do quão fácil é sair uma matéria sobre a gente no Profeta Diário?  Faça uma idiotice aqui hoje e amanhã vai ver “Filho de Harry Potter comete um grave erro, por Rita Skeeter” ou “Filho do famoso Olívio Wood é derrotado pelo fraco time da Lufa Lufa, será mesmo que teremos mais Woods na nossa seleção inglesa? Por Rita Skeeter”. Eu não quero isso, mas se é o que você quer, então... vá em frente, faça do seu jeito e muito boa sorte. –


Tiago pegou sua vassoura e foi para o campo deixando Fred ainda sem uma das luvas pensando sobre tudo o que o primo havia dito. Seus pais assim como os pais de Tiago realmente haviam lutado muito no passado, mas os pais de Rose haviam lutado tanto quanto eles, mesmo assim não eram tão visados pela mídia. No fundo Fred queria ser como Rose, sem precisar se preocupar em manter aparências ou coisas assim. E se por acaso tivesse algo entre eles dois, Rose passaria a pertencer a este mundo esnobe, de aparências e exigências, e isso iria acabar com tudo que ela é, com toda sua essência. E Fred não poderia ser responsável por isso. Tinha que conversar com Rose mas para pôr um fim de uma vez por todas nessa história de caderno.


 


_ Rose? Podemos conversar? – disse Fred quando Rose estava saindo da última aula, Transfiguração.


_ Hã... mas é claro, tudo bem – disse Rose


            Os dois deixaram a sala sob diversos olhares e comentários pelos corredores.


“Ele não estava com a Lilian?” 


“Ouvi que os dois terminaram?”


“Que pena, formavam um casal tão lindo”


“Será que ele está a fim dessa menina agora? Não pode ser”


“Ela não é prima dele?”


            Fred fechou os olhos e deu um suspiro de impaciência sob tantos olhares e murmúrios. Se soubessem como ele detestava todos esses comentários paralelos de pessoas querendo cuidar de sua vida.


            Rose olhou pra ele rapidamente, procurou ignorar os olhares que recaiam sobre ela, com muita dificuldade, pois diferente de Lilian, Rose não estava acostumada com isso e definitivamente não gostava nem um pouco.


            Quando os dois chegaram a um local mais tranqüilo e também não muito reservado, Fred teve o cuidado de escolher um local que não parecesse que estavam “ficando” escondido de todos.


_ Eu queria lhe devolver isso – disse Fred estendendo o caderno para Rose


_ Tem certeza de que não quer ficar com ele? – disse Rose


_ Bem, eu não tenho motivos para guardar isso – disse Fred


_ Talvez pra que pudesse se lembrar – respondeu Rose


_ De você?


_ Não... de você – disse Rose sorrindo gentilmente


            Fred encarou a garota, abaixou a cabeça e deu um sorriso desdenhoso.


_ Rose... foi interessante tudo que você escreveu aqui, realmente prova que ainda temos algumas coisas em comum mas...


            Ao ouvir isso o coração de Rose bateu mais forte, e ao mesmo tempo se preparou para o que viria a seguir


_ Mas eu não posso entende? Eu agradeço por me encorajar, eu realmente fui sincero quando escrevi isso mas eu reconsiderei e vi que tudo isso é uma grande besteira, eu não sou mais assim


_ Por que não? Será que não percebe que você era uma ótima pessoa, não que hoje você não seja, mas você está infeliz, você mesmo sabe disso...


_ Rose, não adian....


_ Mas se você aceitasse que pode mudar a si mesmo, então quem sabe você voltasse a...


_ ROSE PÁRA!! Eu não posso, não adianta você me dizer estas coisas, está perdendo seu tempo e o meu... olha eu sei porque você faz isso, porque insiste tanto mas entenda de uma vez por todas que aquele garoto que você conheceu já não existe mais em mim.


_ Nada? Aqueles tempos não significam mais nada pra você? – perguntou Rose tentando conter as lágrimas


_ Não é isso Rose, foi legal, mas éramos crianças, não tinha 1/3 das preocupações que eu tinha hoje entende? E nem você, não dá pra comparar aquela época com hoje.


_ O número de preocupações não é importante, o que você é realmente que...


_ É isso Rose, o que sou hoje é o que eu sou realmente, me desculpe, eu agradeço sua preocupação comigo e tudo o mais, mas não adianta querer tentar me mudar.


_ Você sabe que não...


_ E o que você achava? Que ia convencer a me mudar por causa de um caderno e algumas mensagens, foi legal, obrigada pela iniciativa, eu sou muito grato pela sua preocupação mas se você achava que eu ia simplesmente mudar e nós iríamos ficar juntos formando um casalzinho feliz, me desculpe você estava enganada, porque pertencemos a mundos diferentes, nada mais é igual quando éramos crianças, aquele tempo passou.


            Nesta hora Rose não conseguiu conter as lágrimas.


_ Eu só queria descobrir se ainda existe aquela pessoa tão maravilhosa que um dia eu conheci e que...


_ E o que? Que você amava? Rose... não existe... eu sinto muito mas, é melhor você esquecer tudo isso ok? Deixa isso pra lá e segue em frente, toca a sua vida, você é inteligente, tem muita coisa pela frente.


            Rose não conseguiu responder, a dor em seu coração era realmente muito forte, bloqueando os seus outros sentidos.


_ Me desculpe Rose – disse Fred estendendo o caderno novamente


            Rose agarrou o caderno devagar enquanto Fred o soltava, as lágrimas rolavam sem parar. Fred não era insensível, seu coração também doía ao ver o estado em que a prima estava, mas até mesmo para o bem dela (era o que ele achava) era melhor assim.


_ Me desculpe – disse Fred novamente


            Rose fez que não com a cabeça e tentou sorrir, pegou o caderno e saiu deixando Fred vendo a prima se afastar até se transformar em um borrão preto e desaparecer.


 


 


 


            Rose entrou na sala comunal da Grifinória tentando limpar as lágrimas, subiu as escadas até o dormitório das meninas e sentou-se na janela fitando o pôr-do-sol. As palavras de Fred ressoavam dentro de sua cabeça quando Lilian entrou preocupada.


_ Rose, ouvi comentários aleatórios de que o Fred estava falando com uma garota que ninguém sabia quem era, supus que devia ser você – disse Lilian em tom de brincadeira


            Rose se virou e mais lágrimas caíram por seu rosto.


_ Ah minha nossa Rose, me desculpe a brincadeira, o que foi que ele falou, aquele cretino – disse Lilian com raiva cerrando o punho direito.


_  Nada de mais, ele me devolveu o caderno


_ Pra você ter ficado assim não pode ter sido somente isso


_ Eu tentei falar com ele sobre as coisas que escrevíamos, mas ele... ele – Rose começou a soluçar


_ Ah Rose – disse Lilian


_ Quando perguntei se não lembrava de nada sobre aqueles tempos em que éramos crianças, ele disse que isso passou, que hoje tudo é diferente


_ Ah Rose, mas você sabe que ele ia falar isso mesmo


_ Foi como ele disse Li, é verdade, ele não existe mais, o Fred que eu conheci está morto pra sempre, não vai voltar nunca mais


_ Rose, eu... não sei nem o que te dizer


_ Não, está tudo bem, eu vou melhorar, ele também disse que eu tenho que tocar minha vida, eu vou estudar mais e vou ficar bem – disse Rose se levantando, forçando um sorriso sem sucesso. 


_ Ah Rose não adianta tentar ser forte agora, você sabe que vai ser duro aceitar que...


_ Não Lilian, eu estou bem, de verdade eu só preciso agora fazer as lições que o professor pediu e ...


_ ROSE, não – disse Lilian segurando a prima pelos ombros lhe repreendendo – Não tem nada de errado em sofrer Rose, você tem que se permitir sofrer também.


            Rose sentiu as lágrimas explodirem em seus olhos, abraçou Lilian e não mais segurou as lágrimas, chorou alto como há muito tempo não fazia abraçando Lilian que preferiu não falar nada, na verdade não havia nada o que dizer naquele momento.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.