Conversas



Já haviam se passado duas semanas desde a grande batalha em que Lord Voldemort fora derrotado e Harry Potter temia cada vez mais o dia em que teria de esclarecer o que realmente tinha acontecido para a comunidade bruxa. Não queria de maneira alguma dar uma entrevista, principalmente não ao Profeta Diário; mas quanto mais pensava, mais ele via que não tinha outra opção. Ron e Hermione estariam lá com ele, mas ainda assim...


- Harry?! HARRY!!!! Harry foi acordado de seus devaneios pelo grito e pelo empurrão que seu melhor amigo Ronald Weasley deu nele:

- Qual é o seu problema? To falando com você há séculos e você não me responde!


- Foi mal, cara. Tava distraído...


- Com o que? – perguntou o amigo.


- Sei lá, não sei... – depois de hesitar um pouco falou – Só estou preocupado com o que vamos falar pra todo mundo e como... Sobre o que aconteceu, quero dizer...


Antes de Ron pudesse falar alguma coisa, Hermione disse:


- Não se preocupa com isso Harry, vai dar tudo certo! E de qualquer forma, você não precisa falar nada, se não quiser.


- Preciso sim, Mione. As pessoas têm o direito de saber.


- Então você precisa falar logo né cara - opinou Ron.


- Eu? Eu não, NÓS precisamos né?! Vocês estavam lá comigo o tempo todo, e caso não tenham reparado, o Profeta não pára de falar de vocês dois... Ainda mais agora que todo mundo sabe que vocês estão juntos, Rita Skeeter não pára de falar nisso... já que não tem mais material novo para publicar. – disse Harry, deixando os dois amigos desconcertados.


O fato é que como todo o mundo bruxo sabia que Ron e Mione estiveram sumidos durante todo o tempo com Harry, os dois se tornaram tão famosos quanto ele, e como Harry ainda não tinha tido oportunidade de conversar com a Gina, com A Toca tão lotada como andava ultimamente, seus melhores amigos andavam sendo alvo constante de revista de fofocas. Parecendo adivinhar os pensamentos do amigo, Hermione perguntou:


- Falando nisso, quando é que você vai conversar com a Gina?


Harry ficou vermelho como um tomate com a pergunta da amiga, Ron olhou de um pra outro e resolveu descer para comer alguma coisa e Hermione simplesmente falou: - Hein Harry...


- Sei lá Mione, é que todo mundo ainda está abalado por causa do Fred... eu queria conversar com ela num momento mais... Sei la...


Os olhos de Hermione encheram de água, mas ela ainda foi firme quando disse:


- Por isso mesmo Harry! Gina está precisando de você mais do que nunca. Eu tenho conversado bastante com o Ron sobre isso, e ele parece estar um pouco melhor.


- Eu sei, eu também converso com ele. Mas com a Gina é diferente...


- Você que sabe, mas eu não perderia tempo... Vocês se gostam tanto, parece uma bobeira deixar qualquer coisa mais atrapalhar. Primeiro era o seu medo de contar pro Ron que gostava dela, depois quando vocês finalmente se acertaram, você teve que ficar fora todo aquele tempo, e ela sempre te esperando... Eu sei que ela te ama, mas vocês precisam resolver as coisas o mais rápido possível e...


- Tá bom!!! – Harry a essa altura já estava mais vermelho que um pimentão. – Eu vou falar com ela. – E levantou pra ir procurá-la.


Enquanto descia a escada, ele percebeu que era melhor ir falar com Ron primeiro. Era verdade que desde o início do seu namoro com Mione, o amigo estava mais tolerante, mas toda vez que a amiga levantava esse assunto com Harry na frente do namorado, suas orelhas adquiriam um perigoso tom vermelho e ele inventava uma desculpa pra sair, sendo assim ele achou melhor não testá-lo. Chegou à cozinha e encontrou o amigo comendo um pedaço enorme de bolo de chocolate e se sentou ao lado dele. Como estavam sozinhos, achou melhor falar logo antes que perdesse a coragem:


- Eu vou conversar com a Gina hoje. Preferi vir falar com você primeiro.


Mas antes que ele pudesse falar qualquer coisa, Ron respondeu:


- Tudo bem cara, não tem problema. Eu sei que vocês se gostam e não quero ficar no meio... É só que eu não me acostumei ainda, mas eu prefiro que você do que qualquer outra pessoa. Você nem precisava ter vindo falar comigo.


A surpresa de Harry ficou evidente em seu rosto, mas ele apenas sorriu, agradeceu e foi procurar pela ex-namorada. Vendo que ela não estava lá embaixo, foi subindo e a chamando pela escada. Gina botou a cabeça pra fora de seu quarto e, Harry reparou, que apesar dos olhos vermelhos por ter estado chorando, ela estava mais linda do que nunca. Vestia apenas um vestido leve branco, os pés descalços; ele poderia ficar só olhando para ela durante horas, admirando a sua beleza... Como tinha sentido falta dela! Levou um minuto, mas ele se recompôs e falou:


- Eu queria conversar com você, vamos caminhar um pouco?


- Peraí, só um minuto. – Gina entrou no quarto, voltou calçando uma sandália de verão e disse: - Vamos?


Foram descendo as escadas e caminhando para o jardim d’A Toca em silêncio. Quando chegaram à um ponto afastado o bastante da casa e Harry se virou para começar a falar foi surpreendido por um abraço de sua ex e uma enxurrada de lágrimas. Por mais que ele tentasse consolar ela, já que era meio óbvio o motivo do choro, nada que ele falasse a fazia se acalmar; o que fez com que ele ficasse com um grande peso na consciência. Por não ter podido evitar que isso acontecesse, por todas as pessoas que morreram por sua causa e, principalmente, por ter demorado tanto a ir consolar a garota que ele amava, quando claramente ela estava precisando dele. Mas no minuto em que ele começou a se desculpar, Gina parou de chorar, olhou para ele com a cara mais séria do mundo e falou com a voz ainda embargada:


- Não ouse se desculpar. Nada disso é sua culpa, muito pelo contrário... Se não fosse por você, provavelmente não teria sido só o Fred, mas todos nós. - Quando o menino fez menção de que iria interromper, ela disse: - E não me interrompa! Nós poderíamos viver um pouco mais de tempo, mas quanto acha que aguentaríamos viver escondidos, sem poder nem ao menos colocar o o nariz pra fora da nossa própria porta, era só uma questão de tempo. E, além do mais, eu estou convencida de que o Fred não iria querer todos nós tristes, ele sempre foi tão alegre...


Nesse ponto Harry, não podia mais aguentar, puxou ela pela cintura e lhe deu um beijo; um beijo que eles não conheciam, ansioso e ao mesmo tempo tenro, agressivo e ao mesmo tempo carinhoso...


- Eu senti tanto a sua falta Gina... você não tem idéia do quanto, pensava em você todos os dias, chegou a um ponto que eu olhava o Mapa do meu pai durante a noite só pra olhar o pontinho que você representava, e eu podia fazer isso por horas e mais horas, pensando nos momentos que nós passamos juntos e tudo que a gente poderia viver se não fosse por Voldemort e eu tentei parar de pensar em você, porque eu tinha medo, eu tive tanto medo Gina, dele descobrir e pegá-la para me atingir que era como uma dor física para mim; e depois eu vi todos vocês sofrendo tanto pela morte do Fred e eu me senti tão culpado, eu não queria isso, nada disso! Quando eu soube que eu teria que me entregar, que morrer de uma forma ou de outra, tudo que eu queria era te abraçar pela última vez mas eu sabia que se eu fizesse isso eu não teria forças para continuar e era preciso fazer alguma coisa para acabar com aquilo e então, quando eu voltei para o castelo, quando tudo acabou, o que eu mais queria era ficar sozinho com você desde o começo mas eu acreditei que você ia me perdooar, que nós ainda teríamos muito tempo juntos... Eu estava reunindo coragem pra vir conversar com você, o que eu queria mesmo saber é se você pode me aceitar de volta, porque eu te amo Gina, como eu tenho certeza que eu jamais vou amar alguém. E dessa vez foi Gina quem iniciou o beijo, um beijo mais tenro, cheio de saudade e amor e disse:


- Claro que eu posso, eu também te amo e eu esperaria por você mais 100 anos se fosse preciso. Nunca existiu outra pessoa em minha vida, sempre foi você e tudo que eu fiz sempre foi pra chamar a sua atenção.Você não deveria ter dúvidas, eu sempre fui e sempre vou ser sua... Meu futuro também nunca foi livre, eu jamais seria plenamente feliz sem você ao meu lado.


Após algum tempo matando as saudades, Harry conjurou uma toalha para que eles pudessem se sentar e conversar e, assim, contou tudo o que aconteceu durante o tempo que passou fora e quando chegaram em Hogwarts, sem poupar detalhes...


- … e agora eu não sei como vou fazer pra contar à comunidade bruxa tudo o que aconteceu, eu realmente não queria ter que dar uma entrevista, principalmente ao Profeta. Eu não conversei sobre isso nem com a Ordem ainda, nem McGonagall, ninguém, só com você. Quer dizer, o Ron e a Mione sabem, obviamente.


- Eu acho que você devia conversar com a Ordem primeiro, eles podem te ajudar e eu concordo com você... as pessoas merecem saber, entender o que aconteceu até para evitar que cometam o mesmo erro que ele. - Gina opinou sabiamente.


- Eu sei... Após algum tempo debatendo as possíveis maneiras de se pronunciar à comunidade bruxa, Ron e Hermione se juntaram a eles com duas garrafas de suco de abóbora gelado. Assim, passaram toda a tarde conversando sobre assuntos mais leves sob o sol delicioso sol de maio.


Harry, contudo, continuou a pensar, Gina estava certa sobre ele conversar com a Ordem primeiro. Eles com certeza saberiam o que fazer e dariam ótimas opiniões e mais do que ninguém mereciam saber da história por ele. Quando a Sra. Weasley os chamou para jantar, ele já tinha tomado a sua decisão.


Essa noite seriam apenas os Weasleys e Harry e Hermione, que haviam sido convidados para ficar n’A Toca já que os pais da menina ainda estavam sendo procurados na Austrália pelo Ministério para recuperar a sua memória e a matriarca da família foi veementemente contra a mudança do menino para o Largo Grimmauld:


- “Imagine, praticamente uma criança morando sozinho!! Isso é absurdo, de maneira alguma eu vou permitir isso, você fica aqui e fim de papo.”


Harry resolveu aproveitar a casa “vazia” para falar com o Sr. Weasley sobre a sua idéia, depois de contar o que havia pensado, perguntou:


- Então o que você acha?


- Acho ótimo Harry, sinceramente... Todos nós estávamos curiosíssimos para saber o que aconteceu de fato, só achamos que você merecia se recompor para falar sobre isso quando estivesse pronto. - Respondeu o patriarca.


- Eu pensei muito sobre isso, e eu acho que toda a comunidade bruxa deveria saber a história verdadeira, porém não sei como fazer isso e acho que a Ordem deveria saber em primeira mão.


- Tudo bem então, vou reunir todos os membros para um jantar amanhã aqui.


Após se despedir de Gina - longe o bastante de seu melhor amigo para não deixá-lo desconfortável, afinal ele já havia sido suficientemente tolerante para um dia só - e Ron se despedir de Hermione; os meninos seguiram para seu quarto e as meninas para o quarto delas.


Harry foi dormir mais relaxado e feliz do que se sentia em muito tempo sabendo que se tivesse o apoio de seus amigos e Gina, poderia resolver qualquer problema que surgisse. Afinal, com alguma sorte, a partir de agora, esses seriam poucos e de menor proporção.

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