Sempre há outra chance...

Sempre há outra chance...



De volta a Hogwarts, formatura.


 




Draco Foi anunciado e subiu ao palco para receber suas honras de Aluno Excelência. Foi saudado com aplausos e todo o tipo de comemoração da plateia. Hermione se encontrava na primeira fila, deslumbrante num vestido preto com detalhes de flores exóticas, intrincadas, numa renda verde profunda e escura.




Granger foi reconhecida como a Aluna Revelação da história de Hogwarts. Todos os seus amigos e admiradores a aclamaram, mas ninguém se sobrepôs mais que Draco, que já desistira de tentar conter toda sua graça de tê-la ao lado.




As festas em Hogwarts sempre são extremamente agradáveis e regadas a alegrias, paz e grandiosidade. Mas naquela noite, a festa em Hogwarts era requintada com energias de sentimentos como plenitude, completude, paz, união, amor. Era uma formatura diferenciada. Eram grupos de alunos que não apenas completaram seus estudos, mas sim alunos que cresceram como bruxos, como seres humanos, como criaturas repletas de magia e sabedoria.




Zabine, Eliza, Goyle e todos os outros amigos se juntaram no seu querido Salão Comunal pela última vez, mas sentiam como no primeiro dia em que chegaram lá. Hermione e Draco, pelo menos ali, não eram estrelas ou celebridades, eram apenas amigos dos demais.




“Gente! Eu queria falar algumas coisas!” – Zabine berrou. O silêncio foi feito para ele. “Quero dizer que me orgulho muito de ter pertencido a esta geração. Tenho orgulho por ter feito parte de tudo que nós fizemos. De ter compartilhado esses anos da minha vida com pessoas tão inesquecíveis! Viva a Sonserina!”.




“E por que Dracoe Hermione não dão seus depoimentos agora?” – Eliza falou com a câmera ainda empunhada.




“Eu já dei depoimento demais!” – Draco começou. Na verdade, estava fazendo oratórias desde que amanheceu o dia, no Ministério, na sua tese que estava tentando ser aprovada como lei, na escola, na festa... “Por que você não vai amor?”.




Hermione hesitou, mas sentiu que seu coração pedia para agradecer a tudo o que de bom ela teve ali. Então, subiu num banco com ajuda de Draco e começou:




“Gente, eu não poderia ser mais feliz! Vocês são muito importantes pra mim. Quero dizer pra vocês que... Cada um está dentro do meu coração. Que a Sonserina nunca foi tão boa como esta! Que devemos agradecer ao que quer que acreditemos, por toda nossa conquista. Alguém tem dúvidas de que somos especiais? Bem, eu não. Muito obrigada por tudo que vocês me proporcionaram!”.




Hermione sentiu o peito doer profundamente. Calou-se e permitiu o choro. Olhou para Draco à sua frente, reluzindo de admiração e amor. Ela não percebeu muito bem como, mas no segundo seguinte, seu corpo tombava para frente.




Os sonserinos a apararam assustados. Draco deu um jeito para afastar os curiosos de perto dela e tentava acordá-la a todo custo. Mas Hermione estava profundamente desacordada.




A preocupação tomou conta de todos os Sonserinos. Cego pelo medo de Hermione estar muito mal, Draco aparatou até o hospital e a festa aos poucos se dissolveu em Hogwarts, conforme a notícia do desmaio se disseminava.




Horas se passaram sem que ninguém fosse informado de nada. Os pais de Malfoy não ousavam se aproximar do rapaz, que chorava copiosamente ao pé da porta do quarto de Hermione. Os pais da garota tentavam se consolar compartilhando a dor com os Malfoy. Amigos e mais íntimos estavam velando o momento nas proximidades da sala de espera. Não queriam tumultuar ainda mais a ocasião.




Assim, dias se passaram. O Ministro Malfoy teve que voltar ao trabalho, com a cabeça no filho e na esposa que, desolados, se exilaram no hospital. Mas mesmo assim, a vida de certa forma não parava. Exceto, claro, para Draco.




Draco finalmente teve a permissão de entrar e ver Hermione. Ela estava pálida e de aparência frágil. Como um fino pedaço de cristal.




“Hermione...” – Draco disse.




Os olhos fechados dela pareciam uma terrível brincadeira sádica. Ele queria poder ver a promessa de amor recíproco lá de novo. Ele queria poder ouvir a voz dela batendo carinhosamente em seu coração outra vez.




“Mione...” – Ele chamou outra vez num fio de voz, pois sua garganta se fechava sob o silêncio dela.


O que a vida reservou com certeza não fora nem um pouco fácil.


 


 


Hogsmeade, doze anos depois.


 


“Parabéns, o acordo foi fechado e o imóvel é seu!” – Ele ouviu isso há uma hora.




“Você está promovido, sujeito a um aumento do dobro de seu salário!” – Ele ouviu há trinta minutos atrás.




Ele deveria estar feliz, como todo e qualquer bruxo estaria em sua condição. Mas, para Malfoy, nada disso significava felicidade. Hermione Granger. A única que soube perfeitamente ser tudo o que ele precisava, e tudo que ele merecia ao mesmo tempo. Esta mulher, a mesma que mudou sua vida, a mesma que o motivou a crescer, a mesma que o elevou até o topo, onde a visão era plena e linda, porém, o fez despencar no mais profundo abismo, o outro lado da moeda de tudo de bom que ele projetou.


 


Era exatamente isso. A elevação e a queda.


 


Ela dizia: “A queda nos dá a oportunidade de tentar se reerguer e ser forte!”. Mas como fazer isso nessa situação? Como a vida é capaz de te dar tudo que você sequer imaginou em conseguir para, de repente, tirar de você como se não se importasse. O que a vida espera com isso?


 


Revolta. Dor. Rebeldia. Desapego. Rancor.


 


Era uma luta constante dentro do coração de Draco contra esses sentimentos. Era frustrante ter que aceitar a dor e tentar fazer dela forças para prosseguir, por que toda noite, quando deitava a cabeça no travesseiro, tudo parecia ainda irreal, sem valor.


 


A fé se fazia presente num fio de esperança que ele mesmo não sabia de onde vinha. E era só por isso que ainda persistia nas coisas do mundo. Era como se Hermione sussurrasse no seu ouvido durante seus sonhos, aquela voz longínqua que o pedia para não desistir, por ela, por Deus, ou pelo que ele ainda acreditasse.


 


E era assim.


 


Sentado à mesa, Draco tomava um chocolate quente, olhando através do vidro da janela, no aconchegante Café Madame Puddifoot. Lá fora, a rua de Hogsmeade estava coberta de neve.


 


E ele lembrou daquela noite no hospital. Sua voz a chamando, mas Hermione não respondia, e apunhalava sem dó o coração de Draco com seu silêncio e seus olhos fechados. Apenas um movimento, apenas uma demonstração de presença: quando os dedos frios dela tocaram os dele como que por reflexo. Daí então, a luz daquela moça se extinguiu na frieza da morte. Uma morte instantânea, precoce. Como um coração tão bondoso e cheio de amor poderia ter traído uma criatura tão doce e bela como Hermione?


 


Se Draco pudesse ter sonhado que o coração dela a trairia daquela maneira, teria doado o dele literalmente. Mas infelizmente não deu para ser.


 


Hoje, as únicas coisas pelas quais ele ainda pregava algum valor, são as coisas feitas em nome dela. As conquistas alcançadas para a felicidade dela, como a luta na causa dos Nascidos-Trouxa, como a luta pela justiça no mundo bruxo, a luta contra a desesperança e o desespero que perturbava sua alma.


 


Draco terminou sua bebida, apático a tudo e todos. Levantou-se e pagou o que consumiu. Vestiu o capuz para poder sair discretamente pelas ruas e passou pela porta do Café. Uma ventania o atingiu, assim como aos poucos que enfrentavam o caminho nevado. Sem fugir do ataque do frio, Draco deu mais um passo à frente, porém, cambaleou para o lado e teve que se segurar no poste.


 


Do outro lado da calçada, no final da comprida Rua de Hogsmeade, uma figura feminina chamativa sofria com a ventania, tentando atravessar a rua e seguir seu caminho, mas a nevasca dificultava.


 


Tomado por um impulso de que isto era o certo a fazer, Draco correu rente às portas das lojas até alcançar a pobre moça na esquina. Parou perto dela, abraçada ao poste, e retirou o capuz para que ela pudesse reconhecê-lo e aceitar a ajuda.


 


“Moça, eu posso ajudá-la”. – Disse sem rodeios.


 


A moça retirou o véu do chapéu que lhe cobria a face e o que sucedeu foi e ainda é inexplicável.


 


A moça era, na verdade, uma mulher muito distinta. Pele pálida pelo frio, mas lábios vermelhos e vivos. Cabelos ondulados e escuros como noite. Ela olhou nos olhos de Draco e uma sensação desconcertante de déjà vu o atingiu. Estranhamente a ela também ocorreu.


 


“Sou Draco Malfoy”, – Disse ele estendendo a mão. “Venha, eu ajudo. Pode confiar em mim!”.


 


“Eu confio”. – Disse ela seguramente.


 


Havia algo de muito difícil descrição naquele par de olhos castanhos. Draco nunca soube o que era. Nunca quis entender nada mais além do que pôde discernir: não importava o motivo, mas se Hermione realmente achava que ele era merecedor de outra chance na vida, ele não era ninguém para duvidar.


 


Fim.


 


Autoria: Camila L. Guimarães

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