III



Ginny desceu a Diagon Alley lentamente, respirou fundo várias vezes de modo a acalmar-se e conseguir pensar sobre a situação em que se encontrava.


Sentia o coração apertado, e a garganta arranhava quando o ar entrava, e as mãos fechadas em punho para as impedir de tremer. Já tinham passado vários anos desde que Ginny estivera envolvida com a memória de Lord Voldemort, e depois de tudo o que passara, das lutas, das mortes… a ruiva tinha a certeza que a o medo apavorante que sentira depois da Câmara tinha sido controlado para sempre e que nunca mais a voltaria a dominar.


Estava obviamente enganada, e além de assustada também conseguia estar confusa, Ginny tinha conhecido o Tom Riddle de 16 anos melhor do que ele queria acreditar que ela conhecia, o rapaz que ela conhecia era cruel, e quando ela o começara a ver frente a frente, ele lutava constantemente contra essa sua natureza perturbada de modo a conseguir encanta-la.


Obviamente que conseguiu, mas não era esse ponto do pensamento de Ginny, a questão era que a parte cruel estava cada vez mais cruel com o passar do tempo e mais difícil de ocultar, poderia ser devido ao facto do ponto alto do objectivo daquele Tom estar a chegar, ou então ele seguia o mesmo desenvolvimento emocional do rapaz que lhe dera origem.


A dúvida de Ginny era: qual o nível de crueldade do Tom com quem ela se acabara de cruzar na loja, e também importante, será que o horcrux tinha alguma ligação com o seu criador. No seu 6º ano, quando se dera a última luta entre Harry e Voldemort, ele olhara-a de uma forma demasiado intensa, falava com Harry mas olhava para ela. Ginny ficou imediatamente a pensar que ele a estava a reconhecer de algum outro lado para lá da associação que todos faziam aos Weasley.


Mas paranóia ou não, era uma impressão que tinha ficado.


Ginny chutou uma pedra invisível e ficou com o pé preso num monte de neve.


Se calhar ele tinha olhado para ela porque a estava a reconhecer do tempo que ela estava agora a passar com ele.


Não conseguiu reter um suspiro de desespero, se isso fosse assim quanto tempo estaria ela presa ali. Deveria ser bastante tempo para deixar uma impressão tão forte no Senhor das Trevas, para ele a reconhecer tanto tempo depois.


Ao olhar à sua volta, Ginny reparou que as pessoas que passavam por ela estavam a começar a olha-la de forma estranha, o que fez a ruiva finalmente reparar que ainda tinha o pé preso na neve.


Com um movimento seco tirou-o da neve e deu umas pancadinhas com ele na canela de modo a conseguir tirar a neve da bota, o som das moedas a bater umas nas outras com o movimento que estava a fazer, fê-la despertar para um dos seus objectivos ao sair da loja.


Ginny começou a andar novamente olhando à sua volta em busca de um pronto a vestir com ar de não ser muito caro. No entanto à montra de Madama Labell cujos manequins apresentavam uma roupa parecida aquela que por vezes vestia quando ia visitar a família à Irlanda e não conseguiu resistir a entrar ignorando a necessidade de procurar uma loja com roupa em segunda mão.


Ginny não se conseguia lembrar da última vez que fizera algo tão feminino como comprar roupa, desde que a guerra se tinha tornado oficial, apenas comprava o uniforme e os livros para as aulas, não havia tempo para mais nada, nem valia a pena fazer nada quando os amigos e família estavam a morrer à sua volta.


Entrou na loja e foi imediatamente abordada por uma mulher por volta dos trinta anos, com uma provável veia de Vella, e que lhe perguntou o que ela desejava.


Quase que naturalmente, mentiu, e agradeceu mentalmente a Hermione por todas as aulas extra e apontamentos de História da Magia que esta lhe havia dado.


- Sabe, acabei de chegar de Dublin, a minha casa foi atacada por… - Ginny fez uma pausa e olhou de forma dramática para a rua através do vidro da montra. – Perdi tudo.


A mulher fez um aceno de compreensão, como se aquilo acontece-se todos os dias. – Quanto dinheiro tem? – Perguntou num murmúrio.


- Não mais que 40 galeões…


- É mais do que suficiente! Temos algumas roupas que ficaram de colecções passadas que cabem perfeitamente no seu orçamento! – Com um breve olhar de desprezo para as calças de ganga e camisa de gola alta de Ginny, a empregada pegou-lhe no braço e levou-a para a zona dos provadores.


Depois de duas horas, ou vários séculos na opinião de Ginny, saiu da loja cheia de toda a roupa a que uma rapariga tem direito e ainda várias moedas a tilintar no bolso, mais algumas ofertas por parte da gerência, por a acharem encantadora.


Ginny desconfiava que isso se devia ao facto de ela durante o período que esteve na loja se ter transformado numa boneca, que foi vestida e despida a bel-prazer de todas as empregadas.


Carregada de sacos das mais variadas formas e feitios, Ginny dirigiu-se ao Caldeirão Escoante e sentou-se no canto mais afastado das outras pessoas que encontrou e pediu uma cerveja amanteigada para acompanhar alguma carne e pão.


Um relógio ao longe deu as duas da tarde, e Ginny lembrou-se do Relógio. Retirou-o do bolso e colocou em cima da mesa ao seu lado.


Tinham ficado várias peças no bolso, e à sua frente estava uma amálgama de metal e vidro, apontou a varinha ao relógio e murmurou um reparo, mas não aconteceu nada.


O Relógio estava para lá dos seus conhecimentos mágicos, voltou a colocar o relógio no bolso e acabou de comer. Pediu mais uma cerveja amanteigada e recostou-se na cadeira a observar os outros clientes.


Ginny estivera tanto tempo no Caldeirão que quando voltou para a loja, encontrou Tom à porta a virar o sinal de Aberto para Fechado, e com a varinha na mão pronto para trancar a porta.


Tom olhou para Ginny, e ela olhou para ele, e assim continuaram durante muito tempo até a ruiva decidir intervir de forma sarcástica. – Posso entrar? – Pergunto apenas alto o suficiente para Tom a ouvir através do vidro.


O futuro senhor das trevas franziu as sobrancelhas e abriu a porta. Olhou Ginny de alto a baixo e esta inconscientemente recuou. – Trazes demasiados sacos… Onde pensas que vais por essas coisas?


- Num sítio onde possam ser arrumadas… - Tom deu uma gargalhada, o que arrepiou a ruiva, pois esta havia muito que tinha aprendido a temer os seus divertimentos. – Duvido que consigas. – Disse ele.


Num movimento simples, Tom desviou-se para o lado de modo a deixar Ginny entrar, depois trancou a porta da rua.


- Não era melhor ficares no Caldeirão? – Perguntou levantando uma sobrancelha.


- Eu gostava Riddle, mas infelizmente não tenho essa possibilidade… monetária. – Respondeu tensa.


Tom virou as costas a dirigiu-se para o fundo da loja onde se encontravam umas escadas em caracol que prontamente começou a subir sem olhar para trás uma única vez.


A algum custo, Ginny conseguiu subir com todos os seus sacos sem perder o equilíbrio.


Subiram três andares até chegarem a um sótão, não era o maior do mundo, mas conseguia ser melhor que o d'A Toca, tinha apenas uma grande janela redonda na parede que estava virada para a rua.


Coloquei as coisas no meio da divisão e virei-me para as escadas. As mesmas eram a única forma de sair da divisão, e Tom sorria de forma suspeita para Ginny, encostado ao corrimão.


- Ali, - Apontou. - é a casa de banho, e isto aqui é o… - Fez um gesto largo com a mão e o sorriso desapareceu, o que não fez o desconforto desaparecer. – É o nosso quarto.


Olhei em volta, havia uma estante com livros, uma secretária de aspecto muito velho e usado com um monte desorganizado de papeis em cima, um roupeiro com um pequeno sofá ao lado, e claro, para grande felicidade de Ginny, duas camas, uma em cada parede.


- Não existem regras aqui em Inglaterra sobre duas pessoas não relacionadas de forma alguma, que as impeçam de dormir na mesma divisão? – Ginny olhou para Tom com as sobrancelhas franzidas.


- Aqui também, mas infelizmente para nós Mr. Borgin tem umas ideias muito estranhas… e agora estamos aqui os dois.


- Como podes ver apenas um roupeiro, e está bastante cheio… - Cometou Tom enquanto Ginny abria as portas do mesmo.


O seu interior estava de facto cheio de uma ponta à outra, não era um conjunto muito colorido, mantedo os tons entre o preto e o verde escuro com uma prateleira cheia de camisas brancas.


A analisar a roupa de Tom, Ginny não se paercebeu que este se aproximava dela. Tom colocou uma mão no ombro dela e a outra que segurava a varinha no meio da roupa. A ruiva foi imediatamente rodeada por um aroma doce com um toque de menta, mais ou menos o que ela se lembrava dele.


Sem pronunciar uma palavra aumentou o roupeiro, deixando a roupa dele de um lado e espaço para Ginny no lado oposto.


Tom afastou-se rapidamente de Ginny e desceu as escadas, deixando Ginny sozinha a ocupar-se de arrumar as suas coisas, quando terminou mudou-se para um pijama, apagou as velas e deitou-se.


Pela primeira vez em muitos anos chorou.

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