II



Tom Riddle apressou-se a esconder a expressão de surpresa, mas o ar começou a encher-se de uma estranha tensão. Ginny olhava-o assustada pois sabia quem ele era e quem viria a ser... E do que era capaz. Tom por sua vez olhava-a porque se deparava com algo absolutamente estranho, a forma como a rapariga ruiva chegara e o ar estranho q tinha.


- Posso ajuda-la? - Perguntou fazendo um brevíssimo sorriso e levantando uma sobrancelha.


O primeiro impulso de Ginny foi, obviamente, começar a rir às gargalhadas, mas como também é obvio, ela não o fez. Tal deveu-se a duas coisas muito simples, a primeira era que Lord Voldemort estava a perguntar a Ginny Wesley se ela precisava de alguma coisa, se ela pudesse responder sinceramente teria respondido que sim, que precisava... Que ele nunca tivesse existido.


Este pensamento leva-nos ao segundo motivo, aquele era Lord Voldemort, podia ser novo... um pouco encantador, mas mesmo assim era Lord Voldemort, e ele nunca foi conhecido por ninguém pela sua encantadora misericórdia.


Que poderia Ginny fazer? Poderia virar costas e fugir para Hogwarts, mas isso provavelmente queria dizer que iria misturar-se com os alunos e provavelmente corromper alguma memória, as hipóteses eram infinitas e a melhor pessoa para abalar de alguma forma era o jovem à sua frente.


Ginny começou acreditar que talvez tivesse boas hipóteses, afinal fora bem treinada na área da oclomencia e... A sua linha de raciocínio foi interrompida com o olhar desconfiado que Tom lhe lançava, e ela começou a sentir as mãos a ficarem úmidas, Tom estava à espera de uma resposta.


Eu... Bom... - Ginny olhou em volta em busca de inspiração para a salvar daquele momento.


Sim... - Tom não transpareceu uma emoção, aguardando a resposta do cliente como um bom empregado.


Olhei mais uma vez à minha volta e vi a minha salvação encostada ao vidro da porta ainda aberta que pedia empregados.


Venho por causa do emprego! - Disse Ginny usando um tom mais alto do que o normal.


Tom fintou-a em silêncio, era bastante obvio que ele não acreditava, e que só estava a tolerar aquilo porque estava terrivelmente curioso para perceber o que se estava a passar com a ruiva.


Muito bem, Mr. Borger de momento não está, saiu para terminar um negócio, sente-se ali, - Apontou para duas poltronas enormes e surradas perto da lareira acesa. - acredito que ele esteja quase a chegar.


Ginny fez um breve aceno mas não disse nada, dirigiu-se o mais rapidamente que pode para a poltrona, sentou-se na que estava mais perto da porta e fez por desaparecer.


Com um gesto com a mão, Tom usou um feitiço para fechar a porta lançando um último olhar para a neve intocada, e voltou a sua atenção para o que estava a fazer antes de ser interrompido. Pegou nalguns livros que deixara cair da pilha que transportava quando a porta se abrira subitamente, e começou a coloca-los numa estante baixa de onde conseguia ver a lareira. Se não fossem as botas castanhas, não haveria nenhuma indicação de que aquela área estava a ser ocupada, mas os pés bem assentes no chão transmitiam a mensagem de que a poltrona da esquerda estava a ser usada por uma mulher bastante tensa e pronta para a acção.


Por seu lado, Ginny apenas pensava em como voltar ao seu tempo, estava fora de questão ela conseguir arranjar o relógio já que os seus conhecimentos sobre o funcionamento de um relógio se resumiam a dar à corda par o por a fazer aquele barulho irritante do tic tac. Por isso só havia outra opção, escrever a Dumbledore, que visto ainda estar vivo, e sendo o homem mais inteligente que Ginny conhecia, era um bom recurso. O relógio pesava dramaticamente no seu bolso, e a ruiva não conseguiu evitar um suspiro ansioso.


Mander-lhe-ia uma coruja a expor a situação, e faria figas para que o relógio não tivesse perdido a sua essência mágica.


Um som agudo saiu da lareira, e Ginny saltou assustada levando a mão ao interior da manga esquerda onde escondia a varinha, quase que não teve tempo de perceber que o barulho viera de uma chaleira que flutuava calmamente sobre o fogo, nem de disfarçar o reflexo com um leve espreguiçar, mas não adiantou de muito porque Tom reparou imediatamente do outro lado da loja.


Sem pronunciar uma palavra, aproximou-se da lareira e com um movimento fez a chaleira deslizar para fora das chamas e pousar na mesinha entre as poltronas.


Tom! Meu rapaz! - Um homem magro e de aspecto sujo irrompeu pela porta da loja a exibir um grande embrulho sobre a cabeça. - Consegui fazer o negócio!


Ninguém lhe resiste Mr.. Borgin. - Disse Tom num tom desinteressado colocando alguma madeira na lareira.


Mr. Borgin colocou-o embrulho sobre o balcão enquanto fazia planos para ele e o jovem empregado para aquela noite, quando finalmente olhou para Tom com um grande sorriso que apenas aumentou ao ver Ginny. - É claro que podes trazer a namorada.


Ginny ficou vermelha como um tomate, mas, Tom não pareceu incomodado e apenas se virou para o chefe quando terminou de por a madeira no lugar que queria. - Não tenho qualquer relação com esta senhora Mr.. Borgin, ela veio candidatar-se ao trabalho.


Oh! A sério? - Mr. Borgin aproximou-se a sentou-se numa das poltronas indicando a Ginny que fizesse o mesmo. - E o que a faz querer trabalhar aqui? - Ginny foi automaticamente atingida pelo cheiro a álcool e suor que emanava dele.


Bom, eu...


Não interessa! Uma cara tão bonita como a sua não vai trazer qualquer mal ao negocio! Está contratada! São trinta galeões por mês e fica encarregada das limpezas desta espelunca.


Sem querer ser indelicada. - Começou Ginny mal acreditando na sua sorte. - Gostaria de lhe pedir assim uma adiantamento, visto que cheguei aqui sem nada e preciso de comprar alguma roupa...


Claro, claro! - Tirou uma bolsa e contou trinta galeões que estendeu a Ginny, esta apreçou-se a coloca-los no bolso.


Tom já se havia afastado para continuar a arrumar livros, mas Mr. Borgin chamou-o de novo.


- Rapaz, vem conhecer a tua nova colega. - Tom aproximou-se sem uma expressão no rosto. - Esta é Miss... Como é que disse que se chamava? - Ginny recebeu um olhar confuso.


Ginevra, mas todos me chamam de Ginny. - Mr. Borgin habituado a lidar com todo o género de pessoas não perguntou o apelido. Mas ele não era ignorante, mandaria alguém investiga-la, ver no que andava metida, ou no que se havia metido para chegar ali sem nada além da roupa que tinha vestida.


Espero que tenhas o quarto arrumado rapaz, ela vai ter de ficar no sótão.


Tom piscou os olhos algumas vezes, pensando que talvez não tivesse percebido bem. - Mas porque não fica num dos quartos de visitas no primeiro andar?


Porque a minha mulher me matava se descobrisse. Amanhã mostra-lhe como isto funciona, eu tenho de ir para Paris ver a Anne Marie e o miúdo. - Levantou-se da poltrona pegou na encomenda e desapareceu para outra divisão.


Ginny olhou para o relógio em cima da lareira, apontava as 17h.


- Posso oferecer-te um chá... Colega... - A oferta foi feita num tom frio e de uma falsa gentileza, características que ocultavam um certo ódio... mas Ginny não consegui identificar exactamente o que se passava por trás daqueles olhos azuis.


Não obrigada, vou aproveitar o resto da luz do dia para ir comprar algumas coisas.


Hum... - Tom olhou-a duvidosamente.


Ginny ficou vermelha.


- Até parece que vou muito longe com tão pouco dinheiro! - Na verdade Ginny nunca tivera tantos galeões no bolso como naquele dia, mas ele não precisava de saber isso.


Tom puxou o colete para baixo, e endireitou as costas como se estivesse muito ofendido.


Eu não disse nada disso! Mas se queres saber, fazias-me um favor se fugisses.


Olhando-o de alto a baixo, Ginny viu como ele era naquele momento, apenas Tom Riddle, podia já ter morto algumas pessoas, mas ainda não era a maquina assassina que ela conhecia. Ali estava ele, com um colete simples de um verde muito escuro sobre uma camisa branca engomada enfiada num par de calças pretas vincadas que terminavam num par de sapatos pretos brilhantes mas com claros sinais de uso. Aquele era o Tom Riddle antes da Albania, antes de desaparecer e voltar como Lord Voldermort.


Sem uma única palavra Ginny virou costas e saiu, não vendo o ar irritado com que deixara o seu pesadelo, o mesmo olhar que ele lhe lançara vezes sem conta quando ela tinha onze anos.

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