A aula.



Eu tinha dez segundos para agir. O professor tinha acabado de falar que o trabalho seria em dupla, e todos já começavam a se mover. Encarei as amigas de Lilian, suplicando, e elas entenderam.


Já estava naquela fase de loucura em que chegava a agir como panaca sempre que a visse. Meu coração acelerava, minhas mãos suavam e minhas pernas tremiam. Até então achava que Shakespeare estava mentindo. Bem, não estava. Todo aquele sentimento era real, era inclusive melhor. Como se todo o meu corpo e minha mente entrassem em colapso ao simples pensamento que a envolvesse, e então finalmente explodissem quando ela estivesse por perto.


Eu amo Lilian Evans.


Aquela ruiva ridícula que não sabe ficar quieta, que nem sempre tenta ser a melhor, mas mesmo assim nunca é a pior. Que anda de um lado para o outro procurando por encrenqueiros. Procurando na maioria das vezes por mim, e conseguindo às vezes mentir perfeitamente dizendo que estava ali por acaso. Mas aqueles olhos verdes não me enganam.


Quando a observo, o que ultimamente já se tornou constante, ela age de forma totalmente boba. Fica espionando com o canto dos olhos, procurando desesperadamente por alguém. Aperta a mão de suas amigas, e até mesmo começa a falar nervosamente com seu amiguinho ranhoso. Então eu grito, fazendo gracinha, e ela se acalma. Por que seus olhos verdes encontram os meus, e então nos transmitimos que estávamos mentindo em nossos últimos palavrões. Dizemos que nos amamos, mas que não podemos assumir isso. E então desviamos o olhar, pois a dor da distância, pequena e ao mesmo tempo grande, nos faz surtar.


Eu me levantei, Lilian estava sentada sozinha. Olhei para o lado, Snape ia em sua direção. Você não vai ganhar de mim dessa vez ranhoso. Acelerei o passo e então me sentei ao lado de Lilian, ela arregalou os olhos, e fez uma careta. Snape parou de andar, totalmente desnorteado.


– Faz dupla comigo? – A garota deixou o queixo cair. Mordi meus lábios, ela gaguejou algo, tentando responder. Seus olhos procuravam por ajuda, mas ao mesmo tempo procuravam por algo mais. Por impulso coloquei minha mão sobre a dela. Lilian tirou sua mão da minha e sussurrou baixo, para que ninguém mais ouvisse.


– Na primeira gracinha eu caio fora ok? – Eu fiz que sim com a cabeça. Não iria ter gracinhas ali. Me virei, Snape se sentou e no segundo seguinte uma garota da Sonserina foi falar com ele pedindo para que fosse sua dupla.


O professor começou a passar os dados da poção. Ingredientes, modo de preparo, tempo... Eu não prestava muita atenção, apenas olhava fixamente para baixo, para a mão de Lilian ao lado da minha. Para o seu dedão que coçava a pele de sua palma, desesperado. Movi um pouco minha mão, encostando-a na de Lilian. A garota arfou. Com o susto retirei minha mão.


Começamos a preparar a poção, eu cortei devagar as cabeças de formiga de lava e a garota ralava um rim de dragão. Toda a sala conversava de forma animada, menos nós dois. Para mim, tudo estava silencioso, e era insuportável, mas mesmo assim perfeito. Me perguntava se ela achava muito estranho o fato de que pela primeira vez eu não a incomodava. Com certeza já havia percebido algo.


Quando terminei então de espremer uma planta roxa, joguei todo o pus dentro do caldeirão e ela arregalou os olhos.


– SEU IDIOTA! – Eu virei meu rosto, estávamos próximos demais. – V-você tinha que ter deixado ferver primeiro... – Fiz que não com a cabeça. Ela apontou para as instruções no quadro. Apenas sorri.


– Não faz diferença, acredite. – Ela respirou fundo. Eu era mais inteligente que ela, era mais inteligente do que todos os alunos ali.


– Se essa gosma não ficar amarela em três minutos, é porque deu errado. – Colei os olhos no caldeirão. O silêncio voltou, enquanto o resto da sala gritava. A coloração roxa começou a ficar vermelha, passando para a laranja, e depois de muito tempo amarelando. Ela sorriu, passando a mão em uma mecha de cabelo solta e a colocando no lugar. Eu estava certo. Slughorn apareceu no segundo seguinte, observando a poção.


– Muito bem Potter, 10 pontos para a Grifinória por serem a primeira dupla a terminar. Estão dispensados. – Olhei para Lilian, ela ficou vermelha e então começou a arrumar seus materiais. Apenas peguei minha mochila e me levantei, a esperando. Ela percebeu, começando a ficar nervosa.


Saímos da sala e ela se encostou na parede. Alguns alunos do primeiro ano estavam esperando pela sua aula.


– Obrigada. – Eu a fitei.


– Pelo que? –A garota revirou os olhos.


– Nada. – Ela piscou um olho, e no momento seguinte Almofadinhas saiu da sala com Aluado. Os dois estavam desesperados.


– ANDA, ANDA! – Eles começaram a me puxar em direção ao Salão Principal. Quando chegamos na esquina do corredor eu virei meu rosto, ela me olhava, rindo da situação.


– O que foi? – Sirius me puxou com força, forçando a subir as escadas.


– A MERDA EXPLODIU NA CARA DO SLUGHORN! – Típico. Passei os olhos uma última vez pela cabeleira ruiva de Lilian que olhava curiosa para dentro da sala e então comecei a correr com os marotos.

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