A carta de amor



 


Eu sei que Lilian nunca vai ler isso, eu vou rasgar e queimar esses pergaminhos no segundo seguinte em que terminar este desabafo. Bem, a verdade é que a amo.


Desde o quarto ano já começo a vê-la com aquele ridículo Snape, que além de se tornar seu melhor amigo também se tornou seu “protegido”. Com isso, a minha vontade de atacá-lo apenas aumentou, e conseqüentemente a facilidade de estar gritando palavrões para aquela garota.


A uma semana atrás, eu os vi sentados conversando. Tinham mais algumas garotas que eu não sabia o nome, mas que sempre estavam com Lilian. Eu me aproximei e comecei a gritar para o Snape, que fatou o óleo na cozinha novamente, e que Dumbledore mandou perguntar se o garoto havia usado o óleo como shampoo. Não deu outra, no mesmo momento quatro varinhas foram apontadas para mim, e eu recebi azaração atrás de azaração. Eu não me importei, mas depois percebi que inconscientemente eu havia fugido dos feitiços lançados das duas garotas e de Snape. Porém quando Lilian apontou a varinha para mim, eu quem fiquei na frente dela. Senti prazer em ser acertado por ela, como se um masoquismo repentino tivesse dominado o meu corpo.


Simplesmente não consigo entender isso, e acho que não quero. Diziam antigamente que entender o amor, é a mesma coisa que destruí-lo. É uma coisa química totalmente mágica. Talvez seja por isso que trouxas e bruxos consigam manipulá-lo, porém de forma diferente.


Meu coração agora está acelerado. Minhas mãos estão fazendo com que minha grafia normalmente impecável se torne obscura e quase incompreensível. Tudo isso por causa de uma sangue-ruim idiota. Uma sangue-ruim fedorenta, que nem deveria estar aqui. Deveria estar se enlouquecendo ao fazer feitiços sem querer, namorando com um trouxa gordo e retardado, que apenas estaria com ela pois ninguém mais iria querer ficar com a louca.


E então ela morreria. E talvez agora eu não estivesse pálido e suando frio.


Senti uma dor no peito ao imaginar o mundo sem ela. O simples pensar de que ela poderia não estar no mundo, fez com que tudo ao meu redor girasse. Talvez deva respirar fundo e me concentrar. Preciso desabafar para um rolo de pergaminho, antes que Sirius pergunte o que está acontecendo e logo após comece a rir da minha cara. Ele não iria me compreender. Nunca se apaixonou. Nunca amou.


Devo assumir que roubei uma foto dela. Entrei clandestinamente no dormitório feminino no quarto dela e roubei a primeira fotografia que vi. Ela está sentada, não se movendo, o que era estranho. Possuía um sorriso qualquer, e ao redor dela tinham mais três pessoas, uma garota que deveria ser sua irmã e talvez seu pai e sua mãe. Não importavam as outras pessoas, apenas o fato de que eu poderia vê-la quando quisesse, e ela nesses momentos não estaria de nariz empinado me chamando de retardado.


Mas eu gosto disso. Dessa infinita briga entre nós, desse inconstante fogo. Faz com que todo o meu corpo se anime, que toda a minha áurea fique de uma cor feliz. Porra, estou tão fora de mim que até de áurea estou falando.


Às vezes eu sinto que ela me olha diferente, quando estamos próximos demais, mas no segundo depois ela me estupora. Eu não ligo, eu já disse isso.


Porém teve uma vez, que eu recebi quatro feitiços ao mesmo tempo. Eu fechei os olhos nesse instante, e acabei ficando quase desmaiado no chão, sem nem ao menos conseguir enxergar o que acontecia ao meu redor. Foi então que eu senti alguém se aproximando, se sentando ao meu lado e então passando a mão em meu rosto. No segundo seguinte ouvi um suspiro, um suspiro triste, de lamentação, como se não gostasse daquilo que acontecia. Como se quisesse que tudo aquilo fosse mudado.


Isso certamente havia me deixado abalado. Comecei então a pensar nela, a sonhar com ela, a escrever o nome dela e finalmente fazer esta declaração de amor que ela jamais receberá. Penso que deveria ser assim. Meus pensamentos apenas cabem a mim, e a mais ninguém.


Nossa, sinto como se meu corpo inteiro estivesse sendo espetado com uma agulha. Mas meu coração certamente está sendo espetado com uma flecha.


E essa sensação dói, porque não era para eu amá-la. Era para que eu me apaixonasse por uma garota rica e sangue-puro. Que eu tivesse filhos bonitos e que se parecessem comigo. Talvez eles tenham o nome de meus pais, para que assim a tradição de minha família continue. E quem sabe uma de minhas filhas tenha de nome Lilian, e quando perguntassem o motivo eu apenas diga que acho o nome bonito.


Pensei então como seriam nossos filhos. Se eles existissem. Acho que ela seria irritante o bastante para falar que não gostaria de um filho com o nome de meu pai. Charlus realmente não seria um nome apropriado para um filho nosso. Teria de ser um nome comum, porém forte. Um nome que se mostre simples de início mas que no final revelasse uma pessoa forte e determinada. Tenho certeza de que Lilian já decidiu esse nome.


O nome de seu filho, digo. Não o nome de seu filho comigo. Isso seria me gabar demais, seria achar que sou digno de tudo aquilo. Mas às vezes penso que não sou, já que ela me trata como escória. Sim, eu a provoco. Mas isso me deixa no centro de sua atenção. Talvez ela pense em mim mais do que ela mesmo no dia-a-dia.


Isso porquê ela me odeia, porque ela deve pesquisar novas azarações todos os dias apenas para testá-las em mim. Tenho certeza de que aquela verruga foi tirada de algum livro antigo de magia celta. Demorei semanas para tirá-la. Porém quando a enfermeira perguntou se queria que tirasse a cicatriz, eu disse que não. Queria aquela recordação. E eu quero aquela garota.

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