Um Mundo novo

Tudo estava ficando melhor, afinal eu não estava sozinho nesse barco de aberrações. Meus amigos e “inimigos” mais próximos estavam indo para o castelo dos horrores. Seria muito mais fácil tentar acreditar num sonho se eu tivesse do meu lado pessoas do meu dia-a-dia.

No dia seguinte ao do recebimento da carta, papai chegou da Austrália, onde estava desde o fim de semana representando a empresa em que trabalhava. Eu estava como sempre, esparramado no sofá e papai apareceu com a sua única e gigantesca mala e com algumas sacolas com presentes: miniatura de pontos turísticos como a Torre Telstra, a Ópera de Sidney, entre outras coisas minúsculas; achei-os RIDICULOS, mas fazer o quê né?! Foi de coração que ele trouxe.  Ele todo amoroso, na verdade meloso, chegou e me deu um beijo na testa e começou a conversar comigo. Então, eu comecei a me perguntar a quanto tempo a gente não fazia isso. Eu já sabia a resposta. Cerca de seis anos. Foi ai que comecei a culpá-lo dentro da minha cabeça por não saber que eu era do jeito que eu sou. Resolvi tirar a história a limpo e acabei por explodir.

-Papai, por que não me contou que você e todas as pessoas da nossa familia eram, ou melhor, SÃO BRUXAS?-falava exaltado, não chegava a ser um grito- Você que fiquei bem sabendo agora dias antes de entrar naquele trem fantasma?-indaguei.

Papai, que antes da minha investida contra ele estava sorrindo e brincando, fechou-se mostrando o semblante que eu não havia conhecido ainda.  Uma mistura de preocupação e desapontamento estava estampada em seu rosto. Pela sua cara não contava que eu me rebelaria de tal forma e sabia que não podia me deixar sem respostas.

-Bom filho... Eu realmente estou surpreso por te ver dessa forma. Pra um menino de onze anos, você é bem questionador sobre as decisões de seus pais mas, não vou te deixar sem respostas e vou te explicar o porque de não vivermos no mundo que você é acha que são de aberrações - começou ele calmo como sempre- Há exatamente onze anos atrás, quando você era um bebezinho, um bruxo que estudou comigo e com sua mãe tinha ido para o outro lado...o lado mal do mundo bruxo. E ele uniu seguidores, que receberam o nome de Comensais da Morte, que espalhavam o terror por todo o mundo. Alguns de nossos amigos foram pegos por eles. Alguns torturados e outros foram mortos. Como éramos muito próximos a essas pessoas resolvemos fugir para o Brasil, com a intenção de fugir do Lord Vold... Bom, pra fugir desse bruxo maligno e para proteger você. Não queríamos testar a sorte como fizeram Lilian e Thiago, amigos nossos que morreram e deixaram seu filho órfão-papai explicava tudo nos mínimos detalhes-Esse menino foi o único que sobreviveu a maldição da morte. Não tínhamos certeza do que poderia acontecer conosco, então decidimos esconder tudo isso de vocês, mas chega uma hora que não da mais pra esconder e, à hora chegou. Entendo perfeitamente a sua revolta, agiria da mesma forma. Mas entenda que foi para o seu bem, foi para salvar a nossa e principalmente a sua vida – terminou papai-Bom, é isso! Satisfeito?-perguntou com o sorriso amigável de sempre.

-Ah! Acho que entendo né!- respondi meio sem jeito por ter bombardeado meu pai de uma maneira terrível.

-Então, já que é só isso, o papai vai subir, tirar essa roupa de homem sério[Era assim que ele chamava a roupa de executivo dele ^^], tomar um banho e dormir um pouco,ok?! Te amo filhão! –disse ele dando-me outro beijo na testa e subindo as escada.

Agora, tudo fazia sentido ou não né?! Enfim, agora eu poderia ficar menos revoltado com meus pais por me esconderem um segredo gigantesco desses. Eu só não entendia uma coisa, porque meu pai não terminou de falar o nome do tal bruxo do outro lado. Ele deveria ser realmente muito temido pelos “bruxos bons” do mundo que eu desconhecia. Enfim, esse cara não me importava, não fazia a mínima diferença na minha vidinha medíocre.

Uma coisa me preocupava, eu tinha que comprar milhões de coisas que eu nunca ouvira antes e que provavelmente não encontraria na famosa rua 25 de março, em São Paulo[uashuahsua]. A única coisa a fazer era esperar papai acordar porque se dependesse da minha mãe eu iria pra escola sem material algum. Enquanto papai dormia eu fiquei pensando como seria o mundo bruxo enquanto jogava vídeo game. A cada fase que eu esperava o “loading” eu imaginava as bruxas com nariz grande e uma verruga na ponta, andando todas de preto e com uma vassoura. Isso durou a tarde toda.Quando digo a tarde toda é TODA MESMO! Papai deitou-se as 13h e 30min e só foi acordar as 19h.

Eu estava na cozinha nesse momento, fazendo algo para comer e para meu irmão que iria chegar de viagem.Ele chegaria de Londres, seus avós, os únicos que restaram da familia moravam lá. Eu estava cozinhando macarrão e preparando o molho para o mesmo. Era única coisa que eu me arriscava a fazer enquanto as empregadas não estavam em casa. Papai desceu a escada lendo um livro e tomando chá, e parou na porta da cozinha usando um dos 5 sentidos que temos para perceber que algo estava exalando um cheiro agradável.

-Ainda bem que você aprendeu a cozinhar! Eu passaria fome sem você aqui- falava rindo sem tirar os olhos de seu livro - Macarrão?-perguntou e eu respondi positivamente com a cabeça.

Eu estava concentrado demais para olhar para ele. Ainda pensava na lista de compras para Hogwarts e pensava no meu irmão que estava para chegar. Fiquei pensando na reação dele quando soubesse que é um bruxo e que vai para uma escola em outro mundo no ano que vem.Talvez reagisse melhor do que eu, já que era um menino muito calmo. Minutos depois papai fechou o livro e sentou num banco apoiando os cotovelos na bancada de mármore da cozinha.

-Há que horas o Gabriel chega?-perguntou ele comendo pipoca que restara da minha sessão de filme as 18h.

-Está marcado para o vôo dele chegar as 19h! De taxi, do aeroporto até aqui deve ser uns vinte minutos. Agora são 19h e 10min, então, ele deve estar chegando entre cinco e dez minutos- respondi colocando água no molho de tomate.

-Ah! Graças a Deus!-disse ele num tom aliviado- Não gosto quando ele vai para Londres sozinho. Alias você tem que ir a Londres - disse papai

-Pra quê?-perguntei sem entender

-Você quer comprar seus matérias de magia onde? Na 25 de março?- disse irônico - Você precisa ir ao Beco Diagonal.

-Tá! Beco Diagonal!De onde vocês tiram esses nomes? AUSHAUSUAHSA- brinquei- Posso ir amanhã? Tem algum teletransporte também?-perguntei caçoando.

-Haha! Não digo que seja teletransporte! Mas tem uma maneira rápida e fácil de chegar lá...com o pó de flu!- exclamou papai.

Nessa hora eu fiquei sem entender o que ele estava falando mais uma vez e então meu irmão chegou. Gritando o apelido carinhoso que acho que todo irmão mais novo fala pro mais velho. Foi direto para cozinha, jogando suas malas pela sala e veio me dar um abraço e no papai também.

-Maninho! Que saudade! – falou me abraçando e abrindo o armário pra pegar um prato – Papai! Como é bom revê-los – agora ele falava e servia o macarrão – O que me conta de novo maninho?-perguntou sorridente.

-Ah! Nós somos bruxos e estou indo pra uma escola de bruxos daqui 3 dias- contei o que ele deveria saber e ele ficou petrificado. Só não deixou o prato cair porque já estava apoiado na bancada.

Ele ficou ali parado esperando explicações do papai. Então, papai contou toda a história novamente para ele e eu fiquei ali comendo, ouvindo de novo e percebendo que ele não falara o nome do bruxo do mau e do menino que sobreviveu. Então papai me explicou sobre o tal treco que ele chamava de “flu” e eu me empolguei e tentei descobrir onde tinha uma lareira em casa, até que o papai me contou que estava na dispensa fora da casa, a qual nunca tive contato.

Depois de conversar bastante e de Gabriel contar todos os dias das férias dele, nós decidimos que já era tarde demais para ficar acordado afinal, amanhã iríamos viajar e fazer compras tinha que descansar. A noite foi tranqüila, sem nenhum sonho estranho, apenas o de sempre, sonho com namorada e amigos. 

Às oito horas de sono necessárias para um humano passaram e acordamos. Eram mais ou menos umas dez horas da manhã. Todos se levantaram e foram para o banho se arrumar. À medida que terminavam iam descendo para a cozinha para tomar o café da manhã. Terminado o ritual de todas as manhãs, papai nos levou para a lareira escondida e nos deu um pó estranho e nos explicou o que tínhamos que fazer.

-Vocês entenderam? Joguem o pó no chão e digam BECO DIAGONAL ! –explicou novamente- Eu vou primeiro para vocês verem como é! Não fiquem com medo! Tchau!- disse papai jogando o pó e falando bem alto:BECO DIAGONAL! E uma chama verde esmeralda o consumiu e não havia mais sinal dele. Fiquei muito assustado, mas não tinha outro jeito. Gabriel foi primeiro porque estava com medo e não queria ficar sozinho e eu fui logo em seguida.

Como num passe de mágica[que ironia] encontrei papai e Gabriel numa loja bruxa.Parecia uma livraria. Papai cumprimentou alguns homens de terno e me chamou para perto dele e saímos para rua. Eu acabara de encontrar Nárnia praticamente, um mundo perdido. Tenho que admitir que era FANTÁTICO! Totalmente diferente do que eu imaginava, na verdade parcialmente, pois havia bruxas feias e com verruga grotesca na ponta do nariz e tinha bruxas e bruxos voando com vassouras a cima das nossas cabeças. Papai virou pra mim e sorriu, percebendo o quão encantado eu estava com tudo aquilo.

-Luis! Gabriel! Sejam Bem Vindos ao Beco Diagonal!- disse abrindo os braços como numa cena de filme- Tome o dinheiro que você vai precisar. As de ouro são galeões; as pratas são sicles e as de bronze são nuques. Divirta-se e leve seu irmão, vou resolver algumas coisas do trabalho- disse ele seguindo para o lado oposto.

-Bom acho que é isso! Vamos Gabriel!-disse pegando a lista de materiais e puxando meu irmão. Agora era só descobrir muito mais coisas do mundo fantástico que agora eu participava.

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