Encontro de Família



Eles andaram algum tempo pela lateral do castelo, o terreno naquele trecho era bastante acidentado e devido a chuva que desabava, o solo estava lamacento e escorregadio.


_Não existem guardas vigiando essa parte do castelo? _ perguntou Dumbledore ao príncipe.


_Sim _ respondeu ele _ mas acho que muito difícil que eles consigam enxergar algo nessa escuridão.


_Ainda assim creio que estamos nos arriscando muito.


_Espere um pouco _ disse Alvo _ professor, Doni está conosco!


_Você só percebeu isso agora? _ disse o garoto.


_Não! Mas só agora me lembrei de seus poderes.


_É claro! _ disse Dumbledore satisfeito _ Muito bem pensado Alvo.


_Do que é que vocês estão falando afinal de contas?


_Você pode ficar invisível! _ disse Alvo.


_Invisível?! _ repetiu Doni sem entender.


_Sim! _ disse Alvo _ Invisível! Sem que as outras pessoas possam lhe ver!


_Eu sei o que é ficar invisível, mas eu não sei fazer isso.


_Não?! _ disse Alvo surpreso _ Como pode ser professor?


_Nós estamos em outra dimensão, não sabemos ao certo...


Alvo não conseguiu mais ouvir, pois a voz de Dumbledore foi substituída por um ruído ensurdecedor, ele também já não estava do lado de fora do castelo.


_PROFESSOR! _ gritou Alvo para tentar se fazer audível, o barulho era impressionante, a escuridão era total, mas apesar disso Alvo sabia muito bem onde estava.


 _ALVO! COMO VOCÊ ESTÁ?


__EU ESTOU PRESO! TEM ALGUMA COISA PESADA EM CIMA DE MIM!


_FIQUE CALMO! LOGO VAI ACABAR!


Mas a verdade é que não acabava. Alvo ouviu pancadas mais fortes nas laterais do elevador, algo pesado parecia ter se desprendido.


_PROFESSOR! O QUE ACONTECEU?


Mas ele não obteve resposta.


_PROFESSOR! ESTÁ ME OUVINDO?


Novamente ele não obteve nenhuma palavra de Dumbledore; o garoto tentou se levantar; queria chegar até o professor, mas não conseguiu se mover nem um centímetro.


Passado algum tempo Alvo avistou um pontinho de luz muito distante; num primeiro momento ele acreditou que se tratava de um delírio, algo produzido por sua mente à beira da inconsciência; ainda assim ele continuou observando atentamente. A luz estaria se aproximando? Alvo tinha a impressão que sim. O que significava aquilo? Seria uma salvação? Alvo se encheu de esperança, talvez eles ainda saíssem vivos daquela enrascada...


 Eles estavam cada vez mais próximos, a escuridão já não se fazia presente no local...


_Professor! Veja! Professor...


Alvo olhou ao redor, o elevador havia se transformado num monte de ferro retorcido; uma grande estrutura de metal estava sobre o seu corpo, enquanto uma barra de ferro havia perfurado seu braço; era uma visão muito perturbadora, mas o pior ainda estava por vir...


_Professor! _ quando Alvo olhou para Dumbledore e teve o maior choque de sua vida; um grande pedaço de ferro estava cravado no peito do professor; seus penetrantes olhos azuis estavam vidrados e sem vida.


_PROF. DUMBLEDORE! FALE COMIGO! _ para grande alívio de Alvo, ele viu que Dumbledore ainda respirava, embora fosse uma respiração lenta e pesada.


A luz se tornou muito forte, Alvo novamente não conseguia enxergar nada a sua volta, o barulho atingiu seu ápice e de repente...


_PROFESSOR! PROFESSOR!


_Fique quieto garoto! Você quer que o castelo inteiro saiba que estamos aqui!


Alvo olhou em volta e viu que estava novamente no terreno lamacento da lateral castelo. Ele avistou Dumbledore deitado à sua direita, estava inconsciente e parecia muito pálido e abatido.


_O que aconteceu? _ perguntou Alvo.


_Eu é te pergunto isso! _ disse o príncipe que estava muito agitado.


_Nós fomos... fomos para... o que foi que vocês viram?


_Bem... você e o Sr. Dumbledore simplesmente desabaram, depois começaram a se contorcer a falar coisas sem sentido...


_Foi como se estivessem enfeitiçados _ disse Doni.


_Professor! Acorde professor _ disse Alvo que havia se aproximado de Dumbledore e estava batendo de leve em seu rosto.


_Ah...A-alvo... _ disse Dumbledore com a voz muito fraca _ o-onde estamos?


_Nós voltamos professor, não estamos mais no elevador. Como o senhor se sente?


_Estou muito fraco...


_Nós precisamos dessa Pedra! _ disse Alvo se virando para Guelvim.


_Eu vou entregá-la, mas primeiro...


_Você não está entendendo _ disse Alvo muito exaltado _ nós precisamos agora! Ou então o Prof. Dumbledore vai morrer!


_Nada feito! Não foi esse o combinado!


Seguiu-se um momento de grande tensão entra Alvo e Guelvim, eles se encararam como se fossem lutar a qualquer momento.


_E-ele... está certo... Alvo _ disse Dumbledore com grande esforço.


_O quê?! _ falou o garoto sem a menor preocupação em controlar o seu tom de voz _ Professor, o senhor precisa...


_Nós... fizemos... um... acordo _ voltou a falar Dumbledore parando a cada palavra para recuperar o fôlego _ ele... precisa ser... cumprido.


_Mas professor...


_Isso é assunto encerrado _ disse Dumbledore recuperando um pouco de suas forças _ me ajude a levantar, por favor.


Alvo lançou um último olhar de ódio para o príncipe e se abaixou para ajudar o professor, o corpo de Dumbledore lhe pareceu muito frágil e debilitado, mas seu olhar havia recuperado a sua costumeira áurea de confiança.


_Vamos nos apressar _ disse Dumbledore ainda apoiado no corpo de Alvo _ nós devemos ter chamado muito atenção.


_O senhor está certo _ disse Guelvim _ vamos antes que alguém apareça.


Eles seguiram pelo caminho que se tornava mais acidentado a cada passo, Guelvim que seguia na frente parando de vez em quando para tentar ouvir se alguém se aproximava; Alvo continuava ajudando Dumbledore, ele temia que o professor desabasse novamente.


_Falta pouco! _ disse Guelvim _ Apenas mais alguns metros.


Ele se adiantou do grupo e alcançou uma área mais plana, então se agachou e começou a procurar alguma coisa em meio à vegetação rasteira que tomava conta do lugar.


_Me ajudem! _ disse o príncipe _ O alçapão que leva ao castelo está por aqui em algum lugar!


Doni se juntou a ele enquanto Alvo continuou escorando Dumbledore.


_Achei! _ disse Doni depois de algum tempo.


_Excelente! _ disse Guelvim.


Alvo se aproximou e viu o pequeno alçapão com tampo de madeira semi-obstruído pelo mato que crescia.


_Está trancado _ disse Doni forçando a fechadura.


_Não deve ser difícil arrombar _ disse Guelvim _ com certeza essa madeira já está apodrecida.


Junto com Doni ele começou a bater com o pé no tampo que logo se partiu em dois desobstruindo a passagem.


_Pronto! Vamos entrar!


_Eu acho que não, majestade...


Eles olharam para trás e viram um homem alto e robusto, trajando uma capa negra e segurando uma ameaçadora lança parado a poucos metros do lugar onde eles estavam


_Melenes! _ disse Guelvim _ Eu ordeno que você não nos atrapalhe!


_Infelizmente eu não poderei acatar a sua ordem, majestade.


_Como você ousa!


_Bem... digamos que isso se chama hierarquia, o senhor ainda não é o rei não é mesmo? E seu pai deu ordens muito claras...


_Pois saiba que se você tentar nos impedir, nós teremos que usar de força bruta!


_É mesmo? E o que um príncipe mimado, um moribundo e duas crianças vão fazer contra nós?


_Nós? Eu sempre suspeitei que você não soubesse contar seu guarda ignorante, você está sozinho.


_Vossa majestade acha mesmo?


Um grupo com mais de dez homens também trajando capas negras e segurando grandes lanças surgiu das sombras e se aproximou de Melenes.


_Você ainda pretende... ah... usar de força bruta, majestade? _ disse o guarda com um sorriso de escárnio.


 


_Majestade! Nós encontramos o príncipe!


_O que você quer dizer com isso? A essa altura meu filho já deve estar...


_Ele está bem aqui, majestade.


Guelvim e os outros haviam sido capturados pelos guardas e levados para o interior do castelo. O rei estava postado no topo da escadaria que ficava no hall de entrada, exatamente no mesmo lugar em que Guelvim estava quando Alvo, Dumbledore e Doni entraram naquele castelo pela primeira vez.


_Jonathan! _ exclamou o rei surpreso _ O que... o que você está fazendo aqui?


_Você sabe muito bem porque eu estou aqui, meu pai.


_Mas... nosso acordo... eu conversei tanto com você!


_Eu sei muito bem que o senhor estava mentindo.


_Do que é que você está falando?


_O senhor acha que eu sou idiota! Toda aquela conversa de: “viaje um pouco, pense melhor, se quando você voltar ainda quiser ficar com a moça, eu não criarei empecilhos...” isso é tudo mentira!


_Porque você está falando isso Jonathan? Hoje mesmo nós conversamos e você acreditou...


_VOCÊ A PRENDEU! _ disse Guelvim perdendo completamente o controle _ E EU SEI QUE VOCÊ VAI MANDAR MATÁ-LA!


O rei ficou sem palavras, desviou o olhar do filho e andou de um lado para o outro durante algum tempo; todos os presentes ficaram estáticos, acompanhando cada passo do homem; quando ele se virou novamente para o príncipe estava com uma expressão doentia, cada parte do seu corpo tremia descontroladamente.


_AQUELA DESGRAÇADA! VOCÊ... NUNCA PERMITIREI... _ ele estava com tanto ódio que tinha dificuldades para articular as palavras _ VOCÊ QUER... A VERDADE?! SIM! EU VOU MATÁ-LA! SIM!


_VAI TER QUE ME MATAR PRIMEIRO! _ berrou de volta o príncipe.


_SE FOR PRECISO, EU LHE MATO TAMBÉM! MAS NÃO PERMITIREI UMA VERGONHA DESSAS NA MINHA FAMÍLIA!


_POIS SAIBA QUE EU NÃO SOU MAIS DA SUA FAMÍLIA! _ o príncipe cuspiu no chão e começou a se contorcer tentando se soltar do guarda que o segurava.


_E QUEM SÃO SEUS NOVOS AMIGOS? VOCÊ PARECE TER CONSEGUIDO GRANDES ALIADOS!


_POIS SAIBA QUE ELES VÃO ME AJUDAR A TIRAR A DOROTHY DAQUI!


_AH! MAS ESSA EU GOSTARIA DE VER! GUARDAS! LEVEM ESSES TRÊS PARA O CALABOUÇO, ELES PODEM FAZER COMPANHIA A NOSSA QUERIDA DOROTHY; E LEVEM MEU FILHO PARA O QUARTO DELE, NÃO DEIXEM-O SAIR POR NADA NO MUNDO! ENTENDERAM! COM SORTE ELE VAIR CONSEGUIR OUVIR OS GRITOS DE SUA AMADA A NOITE INTEIRA... ISSO SE ELA DURAR TANTO TEMPO. PODEM IR!


_Sim majestade _ disse Melenes fazendo uma reverencia ao rei.


 


Alvo, Dumbledore e Doni foram “convidados” a entrar em um uma passagem estreita na ala norte do castelo, onde desceram por uma escada íngreme e tortuosa; as paredes feitas de pedra estavam cobertas de teias de aranhas e a iluminação era gerada por tochas rudimentares que deixavam o local sufocante.


À medida que desciam, gritos desesperados começaram a chegar aos seus ouvidos; Alvo sentiu um arrepio quando se deparou com um esqueleto que pendia acorrentado no teto.


 _Espero que vocês estejam gostando da decoração _ disse Melenes para o deleite dos outros guardas que riram com vontade _ afinal vocês ficarão hospedados aqui por um longo tempo...


Quando a descida terminou, eles alcançaram um estreito corredor que parecia não ter fim; em ambos os lados, havia celas imundas e mal-cheirosas; nenhuma das primeiras estava ocupada, mas os gritos estavam cada vez mais próximos...


_Ah! _ gemeu Dumbledore.


_Professor! _ disse Alvo tentando se libertar do guarda que o prendia.


_A-alvo!


_O que está acontecendo com ele? _ disse Melenes.


Dumbledore desmaiou; o guarda que o segurava o soltou e ele desabou no chão.


_Ah! Mais que pena! _ disse Melenes _ parece que um de nossos convidados vai morrer sem nem ao menos precisar de nossa ajuda!


_Professor! _ disse Alvo novamente.


_Fique quieto moleque, senão... _ o guarda não pode completar sua frase, porque naquele momento um feitiço o acertou bem no meio do peito.


Antes que Alvo entendesse como, todos os outros guardas ao redor também haviam sido atingidos e estavam inconscientes. Quando Alvo olhou novamente para Dumbledore, viu que ele estava acordado e com a varinha bem firme na mão.


_Fantástico barbudão! _ disse Doni.


_Prof. Dumbledore! _ disse Alvo _ Como... como o senhor fez isso?


_Um pouco de dissimulação pode ser útil quando lidamos com pessoas como estas Alvo, me ajude a levantar, por favor, antes que outros deles cheguem.


_O que faremos agora, professor?


_Vamos encontrar a musa de nosso amigo príncipe, para que possamos resolver logo essa história.


Eles seguiram pelo corredor por mais uns cem metros; nesse ponto eles viram uma mesa postada em frente à uma cela; sobre ela havia uma variedade incrível de comida; frutas suculentas, frangos assados, purê de batatas...


_Esse é o lugar _ disse Dumbledore muito sério.


Alvo reparou então na cela que estava em frente ao banquete; o garoto ficou chocado. Dezenas de mulheres imundas e vestindo farrapos estavam exprimidas no lugar de pouco mais de dois metros de diâmetro; elas estavam esqueléticas, com os corpos repletos de feridas; gritavam e choravam incessantemente.


_Comida! _ gritou uma delas quando viu Dumbledore e os garotos _ Nos dê comida!


As outras viram que os três estranhos estavam próximos à mesa e imediatamente, também começaram a implorar pelos alimentos.


_Por favor! – disse outra delas _ Estamos há semanas sem comer! Vendo toda essa comida o dia inteiro...


Alvo imediatamente se dirigiu para a mesa e já estava pegando algum alimento para entregar às mulheres quando foi detido por Dumbledore.


_O que foi professor?


_Você não pode alimentá-las Alvo.


_Mais elas estão famintas!


_Eu sei.


_Se nós não ajudarmos, elas vão morrer professor!


_Você se lembra de nossa conversa antes de entrarmos naquele elevador, Alvo.


Alvo não achava que aquele era o momento ideal para discutir aquele assunto.


_Professor...


_Eu lhe avisei que você não poderia alimentar as natilives, Alvo...


 


 


 

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