Entre velhos amigos



Antes do novo capítulo, uma explicação, para que vocês não fiquem ansiosos ou confusos:
Esta fic não tem nenhuma relação com as fics "O Paciente Ingles" e "Close to You". Como propus no título, é uma história diferente, com personagens diferentes das demais. E é escrita a partir do livro 7, sendo, portanto, fiel ao final dado por JK Rowling aos personagens, a não ser pela suposição de que Minerva McGonagall também esteja morta, 21 anos depois da batalha de Hogwarts.
Tem, inclusive, gênero diferente, embora eu tente fazer humor (humor britânico, diga-se de passagem...) é uma fic angust.

Bem, vamos lá. Espero que gostem, mesmo assim.

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Entre Velhos Amigos

A conversa com Schackebolt fora a mais estranha que Harry já tivera.


O velho auror rira sem parar, enquanto Harry contava as peripécias de Rita Skeeter. Só deixara de rir ao ouvir a descrição da bruxa que a atacara, ficando infinitamente sério ao saber como a repórter enxerida fora atingida.


- Você disse que ela usou um feitiço de uso exclusivo nosso? Não é possível! Apenas os aurores mais graduados o aprendem, sob voto de sigilo. Não é um feitiço que seja de conhecimento geral, foi o desejo de quem o criou.


- E quem o criou? Eu nunca soube...


Mas o homem mais velho o interrompeu com um gesto. Uma vistosa coruja acabara de entrar voando e pousava suavemente na mesa entre os dois. Era cinzenta, quase negra, a não ser pelo que parecia um colar de penas flamejantes em volta do pescoço, algo tão incomum que Harry estendeu a mão para tocar.


Ao contrário do que se poderia esperar, a coruja não recuou ao seu toque, nem o bicou. Apenas o fitou com seus grandes olhos, fazendo-o por um minuto sentir saudades de sua velha Edwiges. Suspirando, Harry olhou para seu mentor, que sorria estranhamente, balançando o pequeno pergaminho que a coruja trouxera em sua pata:


- Você tem uma reunião importante esta tarde, Harry. Às cinco horas, não se atrase.


- Reunião? Com quem?


- Com a Ministra da Magia.


**** 


Na hora marcada, envergando sua melhor veste de trabalho e sua capa de auror, Harry Potter chegou ao Gabinete da Ministra da Magia. Há muitos anos atravessava aqueles corredores todos os dias e as lembranças do seu quinto ano já haviam se desvanecido, mas algo o fazia sentir-se de novo como um adolescente, e isso o incomodava um pouco.


Bateu à porta e uma voz quase juvenil mandara entrar. Girou a maçaneta levemente, tentando entrar o mais respeitosamente que pode, mas só o que viu foi uma pequena sala de espera, cheia de puffes e almofadas. Na parece em frente, uma pintura representava um vagão do Expresso Hogwarts com sua porta de entrada e uma janela, da qual uma jovem estudante parecia acenar eternamente para alguém na plataforma. “Hora da partida”, era o nome escrito na pequena tabuleta ao lado do quadro.


Sem saber o que fazer, Harry esperou, até que a garota risonha pareceu cansar-se de acenar e se virou para ele – já que logicamente se tratava de uma pintura bruxa.


- Quem é você?


- Harry Potter. E você?


- Sou a guardiã do Gabinete. – ela sorriu – Meu nome é Alice.


Harry sorriu gentilmente para a menina que lhe parecia vagamente familiar e se virou, procurando um lugar apropriado para se sentar, já que teria que esperar que a Ministra ou qualquer outra pessoa aparecesse...


- Ei! Não vai entrar? Ela pediu que você entrasse assim que chegasse. – a menina piscou e apontou para a porta pintada.


Atônito, Harry a fitou por alguns instantes. Então se lembrou de um outro quadro que se transformava em passagem, e avançou para a porta pintada. Tocou a maçaneta pintada, que magicamente ganhou volume sob seus dedos... e a porta se abriu.


No instante seguinte, já estava entrando em uma sala não muito grande, decorada em estilo vitoriano, mas com alguns objetos que em qualquer outro lugar pareceriam deslocados mas que ali se encaixavam perfeitamente ao ambiente, como uma guitarra espanhola sobre uma almofada colorida.


A sala estava vazia e ele se sentiu perdido novamente, até que uma voz conhecida lhe falou:


- Sente-se meu rapaz, ela teve um contratempo no Ministério dos trouxas, mas já vai chegar.


- Professor Dumbledore? – Harry procurou à sua volta, até ver que a voz viera de um retrato do velho diretor.


Harry se aproximou, e seu espanto foi ainda maior ao constatar que mais três rostos conhecidos o fitavam de suas telas: Minerva McGonagall, Olho Tonto Moody e... Severus Snape.


- Professores... – ele titubeou.


- Ora, Potter, sente-se logo. – a voz de Olho Tonto era incisiva, e ele obedeceu prontamente.


Nem poderia se lembrar da última vez que vira os quatro juntos com vida, e isso o perturbava.


- Ah, garoto! – a voz de Moody o despertou de seu devaneio – Obrigado.


- Por que?


- Por resgatar meu olho – o ex-auror apontou para seu olho mágico e sorriu.


Harry ia agradecer, mas uma voz roufenha, vindo de um outro quadro – um homenzinho com cara de sapo e peruca prateada – anunciou:


- A Ministra da Magia está retornando.


Em seguida, a lareira faiscou em chamas verdes e dela surgiu uma mulher, balançando elegantemente as cinzas de seu terninho escuro, enquanto tirava a capa de viagem.


- Por Merlin, fica cada vez mais chato isso. Se ao menos ele fosse realmente Hugh Grant...


- Regina! – a voz chocada de Minerva McGonagall-retrato assustou o jovem auror, mas a mulher apenas deu uma risada.


- Ora, tia! Eu sabia que ser Ministra não é divertido, mas... francamente! Certas coisas poderiam melhorar...


Um raspar de garganta soou do quadro de Severus Snape.


- O que? – a mulher fitou o retrato e então olhou em torno – Ah, Harry! Você já chegou. Vejo que Alice já o recebeu... Que tal um chá enquanto eu me ajeito?


Imediatamente, uma xícara de chá surgiu flutuando à frente de Harry. Ele olhou meio acanhado, incerto do que fazer.


- Ela não vai bater na sua cabeça se você não quiser... – a Ministra disse, enquanto Dumbledore piscava para Harry.


Antes que Harry pensasse em algo pra dizer, ela já transformara o elegante terninho de tweed que a fazia se parecer uma executiva trouxa por vestes “normais”, que no seu caso eram saias amplas e uma blusa de manga longa, além do infalível cachecol da Grifinória, o mesmo que Harry a vira usando após a batalha em Hogwarts. Era sem dúvida uma peça muito, muito velha.


A mulher sentou-se, tomou o próprio chá, observando Harry em silêncio.


O auror não se sentia assim desde os tempos de escola, quando Dumbledore o chamava em seu escritório. A lembrança o fez fitar o velho professor, que lhe sorriu tranqüilizador.


Mas Harry não conseguia se sentir tranqüilo. Não na presença da Ministra da Magia – mesmo a tendo conhecido durante seu treinamento de auror, pois ela substituíra Schakebolt. Sua mente devaneou um pouco sobre o estranho costume que a Suprema Corte dos Bruxos tinha adotado de só nomear ex-aurores para o Ministério, como se temesse que um novo bruxo das trevas pudesse surgir a qualquer momento e esperasse que aurores fossem melhores dirigentes por isso.


- Também pensou nisso de vez em quando, por isso tenho conversado muito com Kinsley sobre meu sucessor... Você gostaria da ideia, Harry?


- Na verdade, não. – Harry espantou-se com a pergunta, ainda mais por perceber que ela sabia no que ele estava pensando. Não erguera seu escudo de oclumência, nem pensara ser necessário, mas também não sentira nenhuma invasão...


- Vigilância constante! Não é isso mesmo, Tio Moody?


- Isso mesmo. Potter, você anda sendo descuidado... – a repreensão não foi mais estranha do que ouvi-la chamar o velho auror de tio.


- Não se espante, Harry. – a Ministra sorriu e fez um gesto abrangendo os quatro retratos – Eles são a minha família, desde há muito tempo. Alastor nem tinha ainda seu olho mágico, quando o conheci. Ele e Tia Minerva são meus padrinhos.


- Sério? Eu só o vi antes de ter o olho mágico em uma...


- Memória em minha penseira. – Dumbledore completou por ele.


Harry se sentiu ainda mais desconfortável, mas a Ministra pareceu não notar. Ao invés disso, ela falou:


- Recebi um relatório do St Mungus antes de ir à reunião com o Primeiro Ministro dos Trouxas. Eles diziam que a nossa amiga repórter seria liberada agora à tarde. Mas, não se preocupe, ela não voltará a Spinners End. O curandeiro que a atendeu relata que ela só se recorda de ter entrevistado um famoso apanhador sobre algum escândalo de sua vida pessoal, esta manhã. Portanto, você está liberado da vigilância da casa.


Harry a olhou sem entender. Se aquilo era o que ela tinha pra lhe dizer, poderia ter dito na mensagem que a coruja levara a Schakebolt.


- Você viu bem a bruxa que enfeitiçou-a? Seria o caso de a procurarmos por uso de um feitiço tão forte, ou você pode afirmar com segurança que foi em sua própria defesa?


- Eu... – Harry hesitou por um segundo, enquanto recordava toda a cena estranha no cemitério. – Bom, eu acredito que a mulher agiu defensivamente. Rita Skeeter agiu abusivamente, aliás, como sempre fez. No seu lugar, eu talvez causasse mais danos que um Olvido estuporum...


- Verdade? – a Ministra sorriu, enquanto provava seu chá, aparentemente muito à vontade em sua cadeira de trabalho, as pernas esticadas sob a mesa.


- Senhora... – Harry tinha os olhos fixos no cachecol, e uma idéia repentina surgiu à sua mente – Há registros de parentes do Sn... do Professor Snape na casa Grifinória?


A xícara foi parada no ar e o silêncio durou alguns segundos. Os retratos pareciam inquietos, enquanto a Ministra pousava cuidadosamente a xícara sobre a mesa. Olhou para os retratos um por um, e depois perguntou a Minerva McGonagall:


- Tia Minerva, algum Snape...


- Ou Prince – Harry completou rapidamente, e ela o fitou por um instante, antes de continuar.


- Sim. Algum Snape... ou Prince, já pertenceu à Grifinória?


- Não. Não que eu me lembre. – Minerva respondeu em voz baixa, e Dumbledore confirmou com um gesto de cabeça.


- Por que pergunta, Potter? – o retrato de Snape parecia guardar toda a antiga postura rancorosa contra o ex-aluno. Será que ele nem sabia que Harry dera seu nome ao filho mais novo?


- Ele sabe disso, Harry. E se sente honrado. Não ligue pros maus modos dele, velhos hábitos... você sabe...


Sem ligar para o que parecia ser novamente uso de Legilimência por parte da Ministra, ele assentiu com a cabeça. E respirou profundamente, antes de responder à pergunta do ex-professor.


- Eu deduzi que fosse uma parente do Professor Snape, não apenas por ter acesso à casa, mas também por se parecer muito com ele. E imaginei que pudesse ter sido da Grifinória, porque usava um cachecol da casa, como este que a senhora usa...


- Este cachecol? – a Ministra pareceu só perceber que trazia um cachecol ao pescoço neste momento. – Nossa, eu nem noto mais se o coloquei ou tirei do pescoço... acho que já faz parte de mim, ainda mais com esse frio todo... – ela fitou o auror com um sorriso estranho – Quer dizer que apenas quem pertenceu à Grifinória estaria usando um cachecol vermelho e amarelo?


- Bem... – Harry se sentiu ainda mais infantil. Será possível que não conseguiria agir como adulto na frente desta mulher? O que ela pensaria dele? Só podia ser o choque de reencontrar de uma vez, ainda que em retrato, os quatro maiores mentores que ele tivera na vida. Sim, porque já reconhecera para si mesmo, e após a lógica irrefutável de Hermione a lhe mostrar como e porque disto, que Severus Snape fora um de seus mentores na juventude.


A Ministra percebeu seu desassossego, e falou com voz triste.


- Me perdoe, Harry.devia ter-lhe avisado com antecedência que gozo da feliz companhia desses quatro. Eles me intimidam também.


- Agora deu pra mentir... – Severus Snape pareceu furioso – Depois reclama que os jovens aurores não agem com naturalidade. Não sabe mais agir como uma bruxa normal.


- Eu nunca fui uma bruxa normal, meu caro. Você sabe disso mais do que ninguém.


- “Esqueci”. – foi a resposta em tom irônico do ex-professor de poções.


Isso despertou um alarme dentro de Harry.


- O que ele quis dizer?


A Ministra pareceu pensar bastante. Então, com um longo suspiro, abriu uma gaveta de sua mesa, tirando de lá uma pequena penseira.


- O que você prefere? Ouvir uma longa história, ou visualizar algumas memórias?


Sem entender, Harry olhava da bacia prateada para a bruxa à sua frente, que agora parecia despojada de qualquer aura de autoridade. Era apenas uma mulher normal, com a expressão de quem passara por grandes sofrimentos.


Pela primeira vez, Harry se viu pensando em quem ela seria realmente. Ninguém sabia nada de sua vida pessoal, ela comparecia a poucos eventos sociais, mesmo celebrações oficiais, e tinha uma lista de poucos amigos conhecidos. Seus contatos pareciam ser exclusivamente de trabalho, que lhe dava uma certa fama de arrogante e anti-social.


Mas, mesmo sob o efeito de algum feitiço intimidante – como ficara sugerido pela intervenção de Snape – ele pudera ver uma mulher agindo com naturalidade e até certo ponto divertida. Citara até o nome de um conhecido ator inglês, embora Harry desconhecesse o que ele teria a ver com o governo britânico. Acompanhava as notícias trouxas o suficiente para saber que não tinham nomeado um ator para Primeiro Ministro. Os americanos faziam isso, não os ingleses...


Ma foi tirado de seu devaneio pela voz da Ministra.


- Então? O que vai ser?


- O que vamos ver? – ele arriscou-se a perguntar.


- A resposta para a pergunta que me fazem todos os dias...


- Que é...


- Qual foi a minha casa em Hogwarts... se é que estive mesmo lá! – ela piscou divertida.

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