Capítulo 5



28/JANEIRO – 19:56h – TERÇA-FEIRA - CASA
Eu estava com os fones de ouvido no volume máximo, tentando esquecer toda a minha ira para com a minha avó. Eu estava cantando baixinho, enquanto lia o último livro do Diário da Princesa, quando minha mãe apareceu abrindo a porta de meu quarto, trazendo consigo, a reboque, a D. Julia.


- Ei, cheguei, viu? – mamãe disse, olhando feio para minha avó, porque ela estava tentando passar para dentro do meu quarto.


- Ah. Oi – eu disse, tirando um dos fones do ouvido, mas continuando ainda com o outro, balançando a cabeça no ritmo da música – Mande-a sair daqui, por favor, e nunca mais abrir a boca? – indiquei o cabeção louro, olhando-a torto.


- Ah Deus. O que aconteceu, dessa vez? – minha mãe suspirou e olhou para nós duas.


- Pergunte a ela – praticamente berrei.


- Não seja estúpida, menina. Eu nem fiz nada – ela rolou os olhos e se virou para minha mãe, brilhando – A Lily fez amizade com um menino que não tem nada de esportista ou arrogante. Qual é o nome dele mesmo? – ela olhou para mim. Olhei-a feio – Ah, James. Ele faz aquelas aulas de violino ou sei lá com ela.


- Ah, é mesmo? – minha mãe perguntou, mas não pareceu muito impressionada.


- Nós fazemos aula de violão. Ele é o meu par do mês. Mas ele veio aqui somente para me trazer os deveres e para me ensinar a canção da aula de guitarra – falei.


- Eles ficaram a tarde toda trancados aqui dentro – informou D. Julia, em um tom totalmente sugestivo. 


Minha mãe fez cara de quem estava se preocupando muito (NÃO) e então fez uma expressão feliz.


- Ah, então... agora você está salva dessa coisa de guitarra – ela falou.


- É, ele é ótimo nisso – decretei, e percebi que não deveria ter dito nada, porque D. Julia levantou a sobrancelha direita com um sorrisinho irritante na boca – O quê? Ele gosta de Nirvana, tá bom? – comentei, como se isso fosse resolver tudo. Quero dizer, que porcaria foi essa? O que tem a ver o fato de ele ser fã da banda influenciar no fato de ele ser um ótimo guitarrista e professor?


Minha avó e minha mãe fizeram cara de quem não estavam entendendo nada. Bom, nem eu entendi o que eu disse.


- Acho realmente que você deveria largar aquele Johnny e sair em pouco com o James – comentou D. Julia.


- É Jason, caramba. E que coisa é essa? Você andou fumando drogas escondida no banheiro? Eu amo o Jason e o James é somente meu amigo, tá legal? Vá arrumar outro alguém para incomodar – agora eu me descontrolei geral. Tinha até mesmo arrancado o outro fone de ouvido e minha cara estava rosa de raiva.


- Qual é o problema desse James ser amigo da Lily, mãe? – mamãe quis saber.


- Ela está perdendo uma ótima oportunidade de ser alguém menos medíocre – ela disse, como se a razão estivesse totalmente com ela e como se isso fizesse todo o sentido do mundo.


- Humm, dá licença, mas eu decido quem namoro – falei - E por que namorar o Jason é tão ruim assim? – agora eu estava até mesmo um pouco ofendida e magoada. Odeio quando ela começa a falar sobre mim e o Jason juntos. Ela simplesmente o detesta sem motivos fortes aparentes.


- Ele joga Basquete, sendo que nem é negro para fazer esse esporte; usa aqueles bonés ridículos e nunca os tira na hora da refeição; me chama de “Avó da Lily”, como se eu fosse o cachorro da família; mastiga de boca aberta; usa aquelas roupas cinco vezes maior do que seu tamanho real; ouve aquelas músicas de gueto; fala como aqueles caras estranhos e bandidos da TV e não sabe nem um pouco sobre o que está estudando no colégio – D. Julia desandou a fazer a lista – Isso é o suficiente? – ela me perguntou.


- SAI DAQUI AGORA! – berrei, atirando minhas almofadas da cama em cima dela. Bem que no lugar de almofadas podiam ser tijolos ou aqueles sapatos de salto fino que ela vive tacando em mim.


- Lily! – exclamaram as duas, juntas. Minha mãe ria e minha avó parecia extremamente chocada.


Mamãe conseguiu colocar o cabeção no corredor e fechou a minha porta, rindo.


- Eu deveria dopá-la para ter mais sossego – ela comentou.


- Por que ela é assim, hein? – perguntei, aborrecida.


- Faço essa pergunta todos os dias. Então... esse James vai aparecer por aqui mais vezes?


- Mãe! Você também não, né! – bufei.


 29/JANEIRO – 08:53h – QUARTA-FEIRA – ANTES DO SINAL BATER
Eu praticamente fugi de casa de bicicleta. Nem esperei a carona da minha mãe. Sabia que se visse minha avó e se ela falasse alguma coisa sobre a tarde de ontem, eu voaria totalmente naquela cabeleira platinada dela. Não estava com o bom-humor de fingir que estava tudo bem e que não aquilo não fez diferença. Porque é claro que fez. Agora eu a desgosto mais ainda. Parece que esse é o dom dela: falar babaquices e me deixar fula da vida. Daí ela age como se não tivesse feito ou falado nada. Acho que fui roubada da maternidade e estou sendo criada em uma família de orangotangos metamorfoseados de humanos. Quero dizer, é só olhar para a D. Julia que você vai sacar a semelhança. Claro, com peruca falsa de loira.


Mas, bom, ir para a aula nem foi um sacrifício. Tudo bem que no momento em que vi a Taylor e todas aquelas meninas usando roupas como se estivéssemos no verão, senti-me um pouco estúpida, mas e daí? Eu não ligo mais para isso.


- Não, vamos trocar – Sirius dizia para o Peter, no segundo em que cheguei perto deles e de James. Parecia que Peter não parecia muito feliz.


- Sai daqui, Sirius. Como você é chato – Peter retrucou.


- Ei, o que foi? – perguntei e os três me olharam. James sorriu para mim, mas logo esqueci isso.


- O Sirius é que é um babaca e quer fazer uma aposta idiota e quer trocar o prêmio para o vencedor – Pete explicou, rolando os olhos, impaciente.


- Ah, que aposta é essa? – eu quis saber, com um humor renovado – Cadê a Alex?


- Na biblioteca. Foi alugar um livro para a resenha de literatura – James me respondeu.


- Ela nunca leu Shakespeare? – fiz cara de assombro.


- Já, mas só Romeu e Julieta. Ainda assim, ela diz que já se esqueceu da história e que precisa ler de novo. Vai saber – James deu de ombros, desencanado.


Quando eu e James nos focamos novamente em Peter, para ouvir que tal aposta era aquela, Sirius foi atrás de Kelly, uma das amigas de Taylor, que faz parte do time das populares que influenciam todo mundo à hora que querem e precisam.


- A aposta é justamente essa. Ele ir atrás de Kelly – Peter parecia cansado de seguir o amigo com os olhos. Talvez pudesse ser inveja, mas não disse isso em voz alta, claro.


- Só isso? Mas por que ele quer trocar o prêmio? – duvidei. Era tão simples.


- Ele não vai atrás dela – ele riu de um modo como se eu fosse a pessoa mais ingênua do mundo – Ele quer trocar o prêmio porque quer o novo game do Left For Dead. E eu sei que ele vai totalmente ganhar a aposta e não quero gastar o meu dinheiro com um jogo besta. Se fosse a nova versão do Rock Band, até tudo bem.


- Uh, eu não jogo videogames – falei como se pudesse servir de consolo.


- Eu só jogo Rock Band. Tenho aquele do Aerosmith e do Green Day. É muito legal. A Alex quer comprar aquela versão para vocalistas – James me disse.


- Nossa. Eu sou péssima vocalista. Não mando bem nem em karaokê – ri. Peter se animou um pouquinho e sorriu – Quando eu era criança gostava de jogar Mário – de repente a lembrança me fez sorrir. Eu passava a tarde na frente da TV jogando aquilo. Minha mãe chegava do trabalho, encontrava-me lá e desligava a TV da tomada.


- Jogar Mário é clássico. Toda criança já gostou dele – James concordou.


- Ei, adivinha quem vai precisar de reforço em matemática? – Zora pulou em mim, antes mesmo de me dar tempo para identificá-la.


- Uau, você está tentando seqüelar a Lily? – James riu.


- Shhh, vocês irão adorar. Cadê o resto? Eu preciso de Sirius aqui. Ele é o fofoqueiro mais eficiente que conheço! – Zora olhou ao redor.


- Depois você conta a ele – fiz sinal de “esquece isso” e a olhei, ansiosa.


- Tá. Tipo, adivinha quem vai precisar de reforço em matemática? – Zora repetiu.


- Você? – James arriscou. Zora rolou os olhos, aborrecida.


- Não! Claro que não! Não sou tão burra assim. De novo – ela reagiu.


- A sua mãe? – Pete lançou, totalmente sem paciência.


- Ah é. Esqueci que a minha mãe é minha colega de matemática – ironizou ela – Mas, não. Errou de novo – seus olhos focaram todos nós, com uma ponta de decepção, então, reclamou – Ai, que porcaria. Vou contar, já que vocês são uns acefalados – suspense – A Taylor – agora ela parecia o gato fofo de Alice no País das Maravilhas, dirigido por Tim Burton. Seu sorriso poderia rasgar seus lábios, mas ela não pareceu se importar.


- Uau – foi tudo o que eu disse. Não estava com vontade de rir nem estava pensando em rir. Quero dizer, não é tanta surpresa assim, considerando que a média dela é até mesmo pior do que a minha.


- Ai, ela vai fazer você comer as provas de matemática – Peter me disse, com uma expressão sofrida.


Não entendi.


- O que eu tenho a ver com as notas vermelhas dela? – cochichei um tanto chocada e ofendida.


- Nada, mas ela vai arranjar um jeito de fazer você ser responsável por qualquer coisa que a faça infeliz – ele me explicou.


- Uau, Peter, como você é cruel – Zora balançou os cabelos castanhos ondulados, inconformada.


- É a simples verdade, oras. Quero dizer, é melhor eu avisar antes de a Lily dar de cara com a Loira do Inferno nos corredores – Peter deu de ombros, como se fosse a coisa mais óbvia que estivesse explicando.


- Loira do Inferno – repeti e ri. Todo mundo me olhou como se eu estivesse querendo arrancar as minhas meias dos pés e estivesse disposta a comê-las.


Logo o sinal tocou e a Alex veio correndo de algum lugar (provavelmente da biblioteca, como James me dissera).


- Por que o Sr Avezed não podia ter pedido uma resenha sobre qualquer livro da Meg Cabot ou do Dan Brown? – ela chegou reclamando, com “Romeu e Julieta” nas mãos.


- Porque nem a Meg nem o Dan fazem parte da literatura Renascentista – James falou.


- Odeio esses livros nada a ver – insistiu Alex.


Conferi meu horário e desanimei ao perceber que não teria nem uma aula com qualquer um deles. Só com Zora, no período da Sra. Yene, de Biologia. Que, por acaso, é juntamente com a Taylor.


 29/JANEIRO – 12:11h - QUARTA-FEIRA - ALMOÇO
Você começa a perceber que entrou em um universo paralelo de existência quando:


A) Seu namorado de quase três anos fala: “Mark, espera. E que o foi que o Sr R lhe disse depois disso? Vamos para a Liga? Lily, depois a gente se fala”, quando você lhe diz um oi no corredor, antes de ir para o refeitório.


B) Ouve cochicharem sobre você e com certeza não é porque você acidentalmente se esqueceu de tirar a calça do pijama; é por algo bem pior.


C) A sua ex-melhor amiga berra, na saída da aula de Cálculo, para todos os que estão no corredor, que você é uma babaca traidora


D) Começa a achar que estar no meio de pessoas que você sempre riu pelas costas junto com a sua ex-melhor amiga é mais divertido do que se sentar à mesa dos populares para ficar ouvindo sobre a nova tendência da estação.


E) O irmão da sua nova melhor amiga (impopular) a convida para ir ao show do Oasis e começa a ter um acesso de risos na frente do refeitório inteiro assim que você sente o sangue subir para seu rosto.


- Oasis é lenda, cara – Sirius comentou, depois de James me convidar. E, sinceramente, o convite dele parecia mais uma proposta de “Quer ir assistir ao novo filme do Tom Cruise?”.


- Oasis é um lixo – Peter declarou, que logo foi socado por Sirius – Ai – berrou ele.


- Eu gosto do Oasis – falei, em tom de desculpa – Mas... como vocês conseguiram os ingressos? Em todos os sites estão falando que já esgotaram!


- Nosso pai é organizador de eventos e nos mandou ingressos lá da França, onde está passando esse mês, por causa do show do David Cook em Dijon – James me disse e Alex confirmou com a cabeça.


- Uau – eu exclamei.


- Mas, tipo, eu não vou – Alex me disse.


- Como assim não vai? É o Oasis – arregalei os olhos.


- Justamente por ser o Oasis. Não sou tão fã dos caras. Com certeza prefiro o David Cook, não só pela voz, mas também por tudo nele – Alex fez cara de “nhami, eu o quero para mim” e James e todos os outros meninos a olharam tipo “qual é o seu problema?” – Mas, bom, como não vou, e você nos disse que depois do Paramore, No Doubt, Nirvana e Foo Figthers, o Oasis entra na sua lista de bandas preferidas, achei que fosse gostar do convite.


Bom, preciso admitir que ir a um show do Oasis não está na minha lista de Coisas Importantes a Se Fazer Antes de Morrer, apesar de amar terminantemente a canção “Wonderwall”, porque é regra saber a letra dela, igualmente como “With or Without You”, do U2, ou “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana, ou “I Don’t Wanna Miss A Thing”, do Aerosmith.


- Então, quer ir ou não? – James sorriu.


- Eu quero – Sirius levantou a mão. Nós o ignoramos.


- Bom, eu tenho que falar com a minha mãe, primeiro – falei, encolhendo os ombros, sentindo-me um pouco acuada com todos aqueles olhos em cima de mim.


- O que eu perdi? – Zora acabara de se juntar a nós – o Sr. Regan nos prendeu na sala por causa daquela avaliação pessoal do semestre – virou-se para Sirius com uma cara de conspiração e disse: - Sirius, tenho a tarefa do ano para você, meu caro. Você vai adorar.


- Parece que a Lily foi convidada para ir ao show do Oasis e está pensando se vai ou não – Sirius respondeu, não desgrudando os olhos de mim – Mas o que você tem para mim? – olhou para Zora.


- Mika é melhor – Zora declarou com um tom de fim de papo.


- O cara é gay – Sirius disse.


- Pode ser, mas é bem melhor do que você – ela retrucou e Sirius não encontrou nenhum comentário para atirar.


- Ai – falou Remus, largando o seu livro por um segundo. Sirius fez uma careta para ele.


- Qual é o seu último plano para assassinar o mundo, hein? – Sirius ignorou o comentário lançado e ficou na expectativa, olhando para Zora. Dá totalmente para ver tudo o que a mente dele processa quando o assunto é espalhar confusão por aí.


- Preciso da sua qualidade super-ninja de fofoqueiro. A Taylor vai ter aulas de reforço de matemática até o final do semestre – Zora quase quicava na cadeira.


- Wooou. Mas achei que ela já fosse ruim o bastante nisso para todos saberem – ele não pareceu tão impressionado assim.


- Você não está entendendo. Nós vamos trabalhar nisso juntos e você não está nem um pouquinho sendo positivo – ela retrucou com uma visível impaciência.


- O que você tem em mente, ó Grande Mente da Confusão? – Sirius agora adquiriu um humor melhor para a tarefa.


- Depois chegaremos a um plano perfeito. Comece a colocar a cabecinha para funcionar – Zora lhe piscou.


- Então, qual é o plano? – eu perguntei. O que eles querem tramar? Que medo.


- Shhhh. Nossos planos são secretos. Vocês saberão quando tudo estiver concluído e na hora certa – Zora cruzou os olhos com Sirius e zipou os lábios.


- Vocês serão expulsos – Remus repreendeu, mas sem tirar os olhos famintos do livro.


- Ok. Estamos sempre dispostos a correr este risco, não é mesmo? – Zora perguntou para Sirius.


- Sabe, quando se é uma das pessoas que mais ganha detenções por mau comportamento, a vida não é muito boa, mas sempre vale à pena – Sirius me disse, sorrindo todo malandro.


- Bom... Vocês não podem ser mesmo expulsos, não é? Quero dizer, você vive aprontando desde a sétima série e as coisas nunca chegaram a esse ponto, não é? – perguntei um pouco pensativa.


- Tem gente bem pior aqui e ninguém faz nada. Se eu for expulso, todo o grupinho do euamoumaervinha tem de ser igualmente – ele falou.


- É verdade – balancei a cabeça, concordando.


- Tá bem, tá bem. Sirius e Zora juntem as cabeças bem longe de nós – Alex disse e não se esqueceu de mim: - E então? E o show?


Voltei a olhar os Potter. Ah, o show *-*


- Acho que você vai gostar, sabe. Vamos ficar no camarote – James explicou.


- Chegamos à conclusão – Alex apontou para o irmão – de que você precisa se distrair e achamos que o Oasis pode ajudar o seu humor e tudo o mais. Quero dizer, não é Paramore ou Gwen Stefani, mas é música.


- Eu estou muito a fim de ir, sério mesmo, mas tenho que falar com a minha mãe – eu sorri.


- O show é no sábado, em Beadlow, mas minha mãe disse que podemos ir de trem, que deve durar umas 4 horas de viajem, mas o show só começa às dez da noite – falou James.


- Mas então... não voltaremos no mesmo dia. Tipo, a gente vai dormir lá em Beadlow? – fiquei confusa.


- Humm... é muito ruim?


- Bom... Tenho de falar com a minha mãe – repeti. Isso complica um pouco as coisas.


Então me lembrei que esse fim de semana está reservado para o Jason. Nós fizemos um acordo de que os fins de semanas são nossos (só nossos) de quinze em quinze dias. E o nosso fim de semana, que provavelmente o Jason iria me levar para um restaurante ou um jogo de basquete, não vai mais rolar. Opa. Problema Número 105 Da Vida De Lily Evans.


Eu preciso falar com o Jason. Acho que ele não vai ficar muito feliz.


 29/JANEIRO – 12:56h – QUARTA-FEIRA – CORREDOR, RUMO À AULA DA SRA. YENE
Meu Deus. Será que a Taylor nunca vai parar? Quero dizer, eu não me importo se ela quer berrar comigo na frente das pessoas mais populares do colégio, mas totalmente não pode ser uma Regina George (de “Meninas Malvadas” ) quadruplicada com uma caloura totalmente indefesa.


- Você saiu do Mundo dos Mortos? – foi a primeira coisa que a ouvi dizer (bem alto, para que todos ali presentes a escutassem), e não resisti e me virei para ver com quem ela falava. Achei que pudesse ser comigo, apesar de que o Mundo dos Mortos não combina com o tipo de roupa colorida que costumo usar.


Então me deparei com a Taylor, a Jamie, a Kelly e a Sam paradas na frente de uma menina vestida toda de preto. Saia rodada com umas coisas esquisitas penduradas nela, coturno, meia fio 80 e um casaco estilo anos 70 por cima da blusa de lã. Se não estivéssemos dentro da Bedford High School, acharia totalmente que estava na frente da Amy Lee.


- Roubou esse casaco da sua avó, foi? – Sam disse, as outras riram.


- Você é menino ou menina? – Taylor tornou a falar.


- Ah, não acredito que essa... – Zora explodiu cochichando para si mesma.


A menina gótica estava tão vermelha quanto eu poderia ficar.


- Hum, dá para dar licença? – ela pediu, com muita educação.


- Nós estamos falando com você, sabia? Não responder é a maior falta de respeito – Sam retrucou.


Agora um bolinho de estudantes estava ali na frente da sala do Sr. Lewis, rindo e cochichando com caras maldosas.


- E aí, Taylor? Quantos animaizinhos você precisou matar para estar vestindo esse casaco de pêlos? – Zora não se agüentou, ergueu a cabeça e foi lá.


Ai, não.


- Não estou falando com você, sua... Ah, sei lá – Taylor respondeu com descaso e sem demonstrar muita surpresa.


- Deixe a menina em paz, Taylor. O que ela lhe fez? – Sirius, como sempre, se pronunciou.


- Nasceu errada – Taylor falou como se fosse a coisa mais clara do mundo. Mas não é. Quero dizer, ninguém tem o direito de infernizar a vida de alguém só porque a pessoa não usa as saias da moda ou não gosta da saga Crepúsculo.


- Mas isso também lhe aconteceu. Ou você acha que esse seu veneno é certo? – Sirius retrucou.


- Ei, cala a boca aí, ô cara dos cabelos idiotas – Jamie lhe disse.


- Meu cabelo não é idiota – Sirius pareceu ficar ofendido.


- Não sabia que você era capaz de ser tão ridícula – minha voz saiu por entre minha boca, mas acho que não tive muita consciência disso na hora. Só notei que falara algo, porque todo mundo olhou para mim.


- Ah, Lily. Você – ela disse com um menosprezo enorme – Já veio salvar outra impopular, igualzinha a você? – ela riu.


- Não. Eu vim lhe mostrar que nem sempre o que você quer vai acabar conseguindo – respondi. Sério? Por que ninguém me chutava e me arrastava dali?


- Ah, é mesmo? – Taylor riu com desdém. As outras a seguiram no riso.


- Opa, pode parar aí, cara – Sam falou para Sirius, quando ele chegou perto demais da menina gótica.


- Vai lixar as unhas, Samantha – ele reagiu em maus modos. Taylor pareceu perder o foco na gótica. Agora eu era sua nova vítima. Oh, não. Isso é péssimo.


- Tudo legal? – ouvi Sirius perguntar para alguém. Provavelmente era para a menina-Tim Burton.


Então, a massa foi se dissipando e a Sra. Klin (tipo a zeladora) apareceu com as mãos na cintura e com uma cara muito muito feia.


- O que vocês estão esperando para irem para a aula? Uma detenção? – gritou a velha.


- Ah, o urubu chegou. Vamos Tay – Jamie disse. Taylor apertou os olhos cobertos de sombra azul para combinar com seus olhos cor de cristal-azulado e se mandou junto com Kelly, Jamie e Sam.


- Que aula você tem agora? – Alex me perguntou, de olho na menina de cabelos negros se afastando.


- Biologia com a Sra. Yene – Zora respondeu, já que fazemos essa aula juntas – Ei, acho que ela também vai para lá – e indicou a gótica.


- Uh – foi tudo o que Alex conseguiu disse, depois da Sra Klin berrar mais um pouco conosco.


Eu e Zora corremos para alcançá-la.


- Ei, você é nova por aqui, não é? – comecei, tocando seu ombro. Ele se virou e parou.


- É e acho que já passei pelas boas-vindas daquela loirinha – ela falou. Ela não parecia tímida.


- Não liga. Ela é assim com todo mundo. Bem, exceto com os da turma idiota dela – Zora lhe disse – Você vai para Biologia?


- Sim. Acho que é a última porta do corredor, não é?


- Não, é a antepenúltima. Nós a levamos até lá. Acho que somos colegas de disciplina – Eu disse sorrindo. Awn, ela não era tão estranha.


- Ah, que bom. Já me perdi umas três vezes só hoje – recomeçamos a andar, agora em direção á aula de Bio – Eu sou a Nichole. Eu sou de Londres, sabe, mas meus pais receberam uma proposta de preservar a mata dos Coqueiros daqui. Eles são ambientalistas.


- Uau. Minha mãe trabalha em uma firma que mal a paga direito e meu pai constrói edifícios. Eu sou a Zora – Zo se apresentou.


- Eu sou a pessoa mais odiada da escola no momento, então, se você quiser saindo correndo para longe de mim, juro que não vou lhe impedir – falei brincando.


- Ah, você é a Lily – Ela sorriu, mas não de um jeito “ok, correr!”, só... acolhedora – Olá, meninas, prazem em conhecê-las. 


- Então, qual o nome da loja que você compra essas roupas super Amy Lee-Tim Burton? Achei demais o coturno. Minha mãe diz que isso é coisa de menino e nunca me deixou usar um – Zora disse.


- Depois lhe falo – Nichole piscou feliz, antes de batermos na porta e pedirmos licença e autorização para entrarmos, por causa do atraso.


- Então... mais uma mascote? – Zora riu em meu ouvido. Levei uma advertência por não conseguir engolir a gargalhada.


 29/JANEIRO – 15:19h – QUARTA-FEIRA – SAÍDA
- Eu disse que você iria errar. Nossa, Peter, errar isso é muito coisa de gente sem cultura – Sirius falou rindo.


- Mais da metade da turma errou essa questão, ok? – Peter revidou.


- Deixe eu ver – Remus pediu.


- Sai, mas como vocês são uns babacas! – Peter guardou a prova de volta na mochila, irritado ao cubo. Pobre Peter.


- Dã – Sirius fez, mas aí viu a Nichole chegar com a Zora (elas tinham ido até à biblioteca, para Nichole alugar Hamlet) e disse: - Ei, garota dos coturnos, você vai andar conosco também? – daí se virou para Zora: - Por que no nosso grupo só tem gente esquisita?


- Não sei, mas acho que você deveria se olhar no espelho um dia desses. Você é o mais esquisito do todos nós – ela falou e James riu. Olhei-o e coloquei a mão na boca.


- Ah, sim, sou bem eu que tenho um apelido chamado “Arco-Íris” – zombou ele.


- Não se preocupe, até o final do semestre você receberá o seu e terá tanta vergonha dele que preferirá andar sem roupas somente com um bacalhau na cabeça a ouvir alguém o chamar por ele – Zora mandou um beijo para Sirius.


- Hahaha, super hilário – Sirius fechou a cara – Então, você tem nome ou posso chamá-la de “Morte”? – ele perguntou para Nichole, que conversava com Remus e Alex.


- Claro que ela tem nome – Alex o censurou – É Nichole.


- Ah. Posso preferir o apelido? – ele sorriu.


- Humm, acho que não – Nichole respondeu.


- Por que ninguém tem senso de humor aqui? – Sirius exclamou.


James me cutucou nas costelas e eu dei um pulinho.


- Ai. O que foi? – olhei para ele.


- As aulas de guitarra. Você ainda quer a minha ajuda? – ele me perguntou.


- Claro. Até parece que vou ficar boa até no dia da apresentação sem você. Sem contar que temos de ensaiar juntos My Hero no violão – falei, demonstrando muito entusiasmo. Awn, ele é tão legal.


- Então... que dia podemos ensaiar de novo? – James passou a mão do cabelo de um modo esquisito. De repente, seus fios negros reluziam por causa do Sol que neles batia.


- Hum, o quê? – fiquei olhando para sua cabeça e fiquei um pouco tonta.


- Tá tudo bem?


- Claro. O que você disse?


- Que dia podemos ensaiar de novo?


- Ah. Não sei – lembrei-me de D. Julia e meu estômago se revirou – Hum, e se você fosse lá para a minha casa agora? Aposto como ainda tem o bolo da minha avó drogada, quero dizer, da minha avó e eu podia ensinar a você “My Hero”.


- Ah, pode ser. Você toca essa música muito?


- Totalmente.


Ele sorriu para mim e pescou seu celular de dentro do bolso da calça. Olhei para a rua, enquanto ele falava com a mãe ou sei lá quem. Bom, não era com o pai, já que ele está na França.


- Boas notícias: vou comer o bolo da sua avó e vamos ensaiar a toda inteira – seus dentes brilhavam.


- A tarde inteira também não, né – soquei seu braço, rindo.


- Alex, eu vou para a casa da Lily. Ensaiar – James avisou.


- Nossa, por que já não leva o travesseiro e o pijama? – Sirius zombou – Cuida, Lily. Ele é do mal.


- É, cuida – James concordou rindo, sem dar muito crédito ao amigo.


- Ok – Alex disse.


- Então podemos indo, pessoa do mal?– falei, olhando o visor do meu celular para conferir a hora.  


- Alex, você lava a louça para mim? – James perguntou, enquanto eu o puxava em direção ao bicicletário.


- Você me deve cinco libras por isso – ela disse.


- Uau. Ainda bem que não tenho irmã ou irmão – comentei.


- A Alex até que é boazinha – James me disse, enquanto tirávamos as correntes de nossas bicicletas.


- Ela é bem legal, sim – sorri – Espero que minha avó tenha ido às compras e que não esteja em casa.


- Eu não me importo, sério mesmo.


- Mas eu me importo. Ela faz o Darth Vader parecer o melhor tio do mundo – assinalei.


- Luke, eu sou seu pai – imitou James. Tive um ataque de riso.


 29/JANEIRO – 16h – QUARTA-FEIRA - CASA
Minha mãe estava em casa quando eu e James chegamos. Ela estava na sala e o sofá abrigava pilhas e pilhas de papéis.


- Mãe? O que são essas coisas?


- Lixo – respondeu-me e então se deteve em James, ao meu lado.


- Esse é o James – falei – Ele veio ensaiar comigo.


- Ah, você é o ótimo guitarrista do qual a Lily me contou – mamãe apertou a mãos de James, sorrindo.


- Não foi bem assim, mãe – protestei, corando um pouco.


- Olá, senhora. Acho que é meio estranho eu estar aqui de novo, mas...


- Não se preocupe. É bom alguém dividir a casa com a Lily. Às vezes ela fica tão sozinha.


- É, minha mãe acha que tenho medo do Monstro do Armário – ri, sem graça.


- Quando eu era criança achava que tinham monstros no armário do meu quarto – James nos contou.


- Ah, verdade? A Lily sempre corria para o meu quarto por conta disso! – minha mãe ficou feliz por encontrar alguém tão problemático quanto eu.


- Tá, mãe... sem Momento Nostalgia, por favor – rolei os olhos, evitando olhar para James.


Quando não é a D. Julia me irritando e me constrangendo, é a minha mãe. Será que não existe ninguém nesta casa que não queira acabar com a minha vida (exceto o meu avô, claro)?


- Vamos subir. Cadê ela? – perguntei, olhando ao redor.


- Está no telefone com o empreiteiro da casa de Londres lá no jardim – mamãe apontou para os fundos da casa - Você soube que ela quer entrar na justiça por causa daquele muro idiota? – cochichou.


- Mas o terreno não tem estrutura para suportar o maldito muro. É um processo que vai para o lixo – argumentei.


- Aaah, vá tentar convencê-la – minha mãe riu, voltando a remexer nos papéis em cima do sofá.


- Eu não. Posso acabar no hospital respirando com a ajuda de aparelhos para sempre – brinquei. Minha mãe e James riram.


Eu e James subimos para meu quarto. Rezei para que D. Julia ficasse lá nos jardins até ao anoitecer.


 29/JANEIRO – 16:32h – QUARTA-FEIRA – CASA
- LILY! – eu posso reconhecer esta voz de cachorro engasgando até mesmo do inferno, que provavelmente não é para vou, considerando tudo o que tenho de suportar por conta dessa bruxa-avó.


- Shh. Não diga nada. Uma hora ela pára – falei para James – Ou assim espero.


Eu e ele estávamos sentados no chão, sob o Sol que entrava pela janela, tentando consertar a corda da minha guitarra. Flame estava ali conosco, o que é um pouco estranho já que ele praticamente me odeia. Uns segundos depois, pude escutar aquele “toc toc” percorrendo cada degrau da escada. Que porcaria. O que ela queria dessa vez?


- Lily! Não me está ouvind... – ela abriu a porta de um jeito como se estivesse querendo arrancá-la das dobradiças, mas parou ao olhar para nós. Sua expressão nublada se desanuviou. – Oi, James. Ninguém me avisou que você estava aqui. Como vai?


Acho que James não soube o que fazer. Primeiro sorriu e abanou a mão e então disse:


- Oi, Senhora. Estamos ensaiando. A apresentação é a daqui há três semanas – seu tom estava meio afobado.


- Oh, boa sorte para vocês. Não querem fazer um intervalo? Posso preparar um suco e faz... – ela começou a falar, mas eu a interrompi. Fala sério. Por que a casa de Londres já não está pronta?!


- Não, não queremos nada. Acabamos de nos sentar aqui para a coisa toda. Por que você não liga a TV? Quem sabe está passando aquele programa sobre gatos no Animal Planet – sugeri.


- Sabe o que eu estava pensando? Que quando a Lily for boa nesse negócio, vocês podiam tocar para mim essa canção da apresentação – ela me ignorou.


Eeei. Que história é essa de “quando a Lily for boa nesse negócio”? Eu sou boa nisso! Pelo menos no violão. E o que ela pode falar? D. Julia nem sabe qual é a diferença entre uma guitarra maciça e uma guitarra semi-acústica! E quem disse que eu vou tocar para ela qualquer coisa? Eu virei o quê? A Boba da Corte? Preciso ficar interagindo a minha avó só porque acha que tem algum poder em cima de mim? Desculpe, mas essa eu passo, vovó.


- Eu sou boa nisso – retruquei entre dentes, querendo atirar a minha guitarra em cima dela. Mas coitada da minha guitarra, não merece ser amparada por cabelos falsos e um rosto todo plastificado. Além de tudo, ela é a minha única guitarra, que ganhei de Natal aos 10 anos, depois de muita insistência. Minha mãe disse que eu ficaria sem presentes de Natal por uns três anos, mas não deu muito certo, porque no Natal seguinte pedi um violão. Mas aí comecei a freqüentar as aulas do Sr. Martin e minha mãe viu que fizera um bom negócio, pelo menos (já que sempre que ele a encontra diz que sou a melhor aluna das classes). Vai saber.


Mas, bom. Eu tinha que atirar alguma coisa em cima da D. Julia. Alguma coisa que a espantasse dali pelo resto da tarde. No momento em que pensei em lançar um dos meus All Stars, James disse:


- Ela é ótima mesmo. Só que nunca tocou essa música, então fica difícil. Ela só tem de aprender.


- Ah – D. Julia não pareceu se impressionar. Na verdade agiu como se ele tivesse lhe falando sobre o clima ou sobre as rochas. Até parece que ela se importa se sou boa em algo. Ela mesma diz que sou a maior ociosa e preguiçosa do mundo, mas só porque não aceita o fato de que não me ligo em roupas ou em sapatos ou em jóias da Tiffany & Co .


- Certo. Então... quem sabe vocês possam tocar isso para mim. Antes de eu ir embora.


- Para quê? Você só gosta daquelas músicas de baleia. E eu nem vou cantar, porque não canto – ataquei-a. Alguém pisa no pé dela, por favor?


- Mas eu posso cantar – James disse. O quê?


Caramba. Isso James, alimente o dragão! O que você está fazendo? Ou querendo?


Olhei-o com cara de “Fique quieto, seu babaca!”, mas ele me ignorou totalmente.


- Maravilha. Então está combinado – D. Julia sorria como se estivesse na frente do Presidente. Sendo que ela odeia política. Tudo bem, talvez como se estivesse na frente da Coco Chanel, se ainda estivesse viva. D. Julia diz que as mulheres do mundo todo deveriam agradecer a Coco por terem liberdade para algo. Como trabalhar e usar vestidos decotados. E, apesar de tudo, concordo com ela, mas só porque vi aquele filme que conta a sua história: “Coco antes de Chanel”. Porém, deixe-me voltar a minha avó.


Tipo, o que ela quer, afinal? Acha que vai poder planejar alguma artimanha nos fazendo cantar e tocar para ela? O que ela espera? Que eu largue o Jason para ficar com o James (um cara que eu conheço há exatamente 6 dias) só porque ele sabe manusear um violão e uma guitarra? E tudo bem, as habilidades de Jason não abrangem algum instrumento musical, mas com certeza tem outras qualidades além de saber jogar basquete – que nunca descobri. Tipo, eu não vou tocar My Hero para ela. É a minha música. Eu nunca a tocaria para D. Julia. É a mesma coisa que agora eu querer fazer com que ela ouça Paramore. Não rola. Bom, primeiro porque ela detesta qualquer banda que carregue uma menina no vocal (“é tão vulgar!”) e depois tem toda a coisa de simplesmente torcer o nariz para qualquer gosto meu.


Ah, D. Julia é o leão da minha vida. E o leão sempre está correndo atrás de mim (se ele usasse roupas Pink e salto alto), como um louco ou como o rei da selva, realmente. Pobre de mim. Posso ser devorada no próximo minuto. Alguém chuta a bunda desse felino maquiado para longe de mim? Por favor?


Bom, e então que acho que ela conseguiu o que queria, porque sorriu de um modo todo especial, todo “pensante”, como Sirius e Zora se olham quando têm mais um plano do mal em mentes. Não gostei disso. O que passava pela cabeça platinada dela? Será que é hoje que vai atacar meu cabelo pela noite com um tesourão?


- Têm certeza de que não estão com fome? Posso tentar fazer torta de limão. Acho que ainda me lembro da receita – D. Julia continuou como se tudo estivesse bem. Só que nada está bem quando sei que ela está tentando fazer alguma coisa que detone a minha vida. Eu fiz uma cara de criança birrenta. Ela tinha de sair imediatamente dali.


- Não queremos nada. Agora temos de ensaiar – falei em um tom que deixasse claro o quanto aquilo era sério.


- Ok, madame – ela ironizou, fazendo uma dancinha com a cintura. Então sorriu para James e se virou para o corredor. Finalmente foi embora, deixando-me com muita raiva e bastante aliviada.


- Ok, nós não vamos tocar nada para ela – atirei, assim que D. Julia fechou a porta.


- Qual é o problema? Tipo, talvez ela tenha visto o seu talento – James me disse.


- Não, claro que não! Você não a entende! Até parece que ela viu algo em mim – exclamei.


- Não custa dar uma chance, não é?


- Custa, custa sim – retruquei. Quem ele acha que é para saber mais do que eu quando o assunto é a minha avó? Se fosse a avó dele, eu nunca entraria no jogo nem muito menos sugeriria uma apresentação de violão. Ainda assim, duvido que a avó dele seja tão malvada quanto a minha. Provavelmente a avó dele é uma daquelas fofas que passam a tarde fazendo crochê e cozinhando para o cachorro. Gostaria que a minha também fosse assim. Oh, por que nasci em uma família amaldiçoada? Por quê? O que eu fiz antes de nascer para merecer ser tão traumatizada por essa mulher?


- Ok, então.


- Tá, conserta isso logo, vai – eu disse, cansada de brigar.


- Ok, calma – ele segurava a minha guitarra e apertava em cima. Estava quase consertada – Você não vai falar com a sua mãe?


- Sobre o quê? – franzi a testa.


- Sobre o show do Oasis.


- Ah, é verdade. Nós podemos esperar a minha avó estar bem longe dela, e então nós falamos com ela.


- Bom plano – ele me sorriu.


 29/JANEIRO – 18:24h – QUARTA-FEIRA – CASA
Meus dedos já estavam doendo quando minha mãe me perguntou se o James não é fã do Will Smith. Eu respondi que não sabia, então ela disse que estava perguntando, porque estava passando “MIB – Homens de Preto” em um dos canais de filme. Então eu subi novamente até meu quarto e perguntei ao James.


- Eu adoro esse filme. É tão engraçado – ele me disse.


- Vamos ver? A minha avó, incrivelmente, deixou a TV e está no quarto descansando, então vamos poder ficar lá – eu estava torcendo para que ele aceitasse, porque não suportava mais segurar minha guitarra.


- Vamos, sim, totalmente – James se levantou da minha cama e descemos juntos até a sala.


Eu podia até mesmo estar vendo Crepúsculo, que tudo estava bem. Qualquer coisa para descansar um pouco.


O filme não durou muito, porque o pegamos para mais da metade, o que foi bom, já que tínhamos de conversar com minha mãe. Eu e James fomos atrás dela nos jardins do fundo e meu avô ficou ali na sala caçando mais canais de filmes.


- Mãe? Eu, quero dizer, nós - apontei para James - podemos falar sobre uma coisa com você? – eu comecei, sem saber ao certo como lançar o assunto.


- Claro, o que foi? O que a sua avó aprontou dessa vez? – ela se empertigou, com os olhos atentos em nós.


- Não tem nada a ver com a D. Julia. É só que... bom... o James me convidou para ir a um show.


- Ah. De quem? – ela quis saber.


- Oasis.


- Hum. É bom – decretou ela, sorrindo para nós.


- Sim, é sim, mas... não é aqui em Bedford. É em Beadlow.


Ela nos olhou tipo “pode esquecer”, mas não expressou nada. Acho que não o fez porque o James estava ali também.


- Não sei se é uma boa idéia – ela se limitou a dizer. Olhei para James, fazendo um sinal desesperado com as mãos como um pedido de socorro, quando mamãe olhou por um momento para a rua.


- Senhora Evans...


Minha mãe contorceu o pescoço na direção de James, surpresa.


- Oh, querido, assim me sinto uma velha – ela brincou.


- Certo. Hummm... – James se perdeu, sem saber do que chamá-la.


- Kristen – mamãe lhe disse, com um sorriso.


- Kristen. Ok. Olha, meu pai organiza eventos, sabe? E então ele mandou para mim e para minha irmã os ingressos, mas minha irmã não vai, por isso convidei a Lily. Sei que o fato do show não ser aqui na cidade é um empecilho, mas eu conheço Beadlow muito bem, porque, às vezes, aos fins de semana, meus pais, eu e minha irmã vamos para lá visitar meus avós paternos – James falou isso muito rápido. Olhei para minha mãe: ela também parecia um pouco tonta.


- Humm. Ok, isso é muito bom, mas...


- Mãe, só vai ser uma noite fora de casa! – implorei.


- O quê? Vocês não mencionaram nada sobre uma noite fora de casa! – mamãe colocou as mãos na cintura – Não, negativo – virou-se para James – Não é por nada, mas eu mal o conheço e muito menos seus pais. Não posso deixar Lily viajar com um menino que ela acabou de conhecer – virou-se para mim: - Se fosse com o Jason, tudo bem. Quero dizer, não, não tem nada de tudo bem, mas eu aceitaria com maior facilidade.


- Mãe. Eu não sou mais amiga da Taylor, ok? E o James e todos os outros são meus novos amigos, sabe. Finalmente vou passar um fim de semana mais a ver comigo do que com a Taylor – eu falei muito chateada.


- Eu sinto muito pela Taylor, mas não posso simplesmente deixá-la...


- Se a senhora quiser, pode falar com meus pais. Quero dizer, meu pai está na França, mas pode conversar com a minha mãe – James falou começando a ficar aborrecido.


Minha mãe suspirou. Acho que ela sabe que não tem muita saída.


- Tudo bem. Dê-me o telefone de sua mãe, que até a noite eu resolvo isso – ela falou para James. Eu e ele nos olhamos um tanto mais esperançosos.


Fomos para o interior da casa e minha mãe anotou o telefone da casa de James e Alex na folha de recados pregada na porta da geladeira.


- Não prometo nada, mas vou conversar com ela – mamãe avisou.


- Tudo bem – eu e ele falamos juntos. Minha mãe voltou para os jardins regar as rosas incrustadas na sebe.


- Você acha que vai dar certo? – ele me perguntou em um cochicho, ainda na cozinha.


- Pode apostar que sim. Quero dizer, a sua mãe é boa em convencer as pessoas?


- Claro, ela vive convencendo aquelas mulheres de cachorrinhos Chiuauas no colo a comprar as baboseiras mais caras que ela vende na empresa – ele me confirmou.


- Beleza, então acho que vamos para Beadlow – sorri.


 
29/JANEIRO – 18:44h – QUARTA-FEIRA – CASA
Voltamos para a TV, mas somente porque meu avô me disse que estava passando “Piratas 2” na Disney (e ele – e todo mundo que convive comigo – sabe que sou viciada no Johnny Depp). Eu não queria parecer muito retardada vendo o filme, mas não pude evitar. Quero dizer, não me lembro de nenhum outro ator que saiba ser tão versátil quanto o Johnny. Porém, antes mesmo do Cap. Jack Sparrow ir até àquela ilha para procurar o Baú da Morte, a campainha soou. Minha mãe foi atender.


- O que essee cara está fazendo aqui? Quem é ele, por sinal? – senti uma presença suficientemente grande atrás de mim e de James, que estávamos no sofá de frente para a TV. Reconheci a voz grave. Jason.


- Oi, Jason – apertei os olhos um pouco aborrecida. Ei. Que tal falar como uma pessoa normal?


- Quem é esse daí? – ele me perguntou novamente, indicando James com a cabeça louro-queimada.


- Eu sou o James – ele se apresentou, como se Jason tivesse sido super educado. Jason me olhou interrogativo e insatisfeito.


- Ele é da minha aula de violão. Vamos tocar uma canção juntos na manhã de Boas-Vindas à Reitora Flor – expliquei. Certo, o que ele está fazendo aqui?


- Ah. Sei – ele pareceu ainda extremamente desconfiado, encarando James de um modo bruto.


- É sério, cara – James notou a cara de cachorro com dor de dente do meu namorado e se apressou a confirmar.


- Sei – repetiu Jason.


Rolei os olhos, mas ele não notou. Estava ocupado demais analisando James pedacinho por pedacinho.


- Então... o que veio fazer aqui? – perguntei. Droga. Eu queria voltar para os piratas.


- Dã. De quarta-feira os treinos acabam mais cedo, lembra? – ele me respondeu de má vontade.


Tudo bem, estou acostumada com esse jeito do “gueto” – como diria minha avó – de Jason falar e agir, mas preciso comentar que agora ele estava me irritando. E sabe de uma coisa? Ele nunca me irritou antes. Bom, só quando eu estou de TPM.


- Ah, sim. É... Então... senta aí. Estamos assistindo ao Johnny Depp de pirata – falei, tentando amenizar a explosão de um sentimento não muito bom e não muito inteligível em meu peito.


- Não vou perder a minha tarde vendo a um filme tosco de piratas, não é? – retrucou ele.


Uau. Custa ser mais educado? O que o Jason tinha? Que porcaria é essa?


- Ah. Sei. Então pode ir embora, porque eu vou perder a minha tarde assistindo a um filme tosco de piratas – exclamei.


Mau humor. Era tudo o que eu sentia.


- Bom, em todo caso, você já encontrou companhia melhor, não é mesmo? – Jason comentou de um jeito totalmente maldoso, olhando para James.


- Jason... – fala sério. Quantos anos ele tem? 10?


- Cara, não é nad... – James começou, em vão, claro.


- Opa, crianças. Eu estou aqui, lembram? – meu avô disse.


Salva pelo avô! Bate aí, vô! Não, é melhor não.


- Tchau, Lily, nós nos falamos amanhã – Jason me disse, virando-se para a porta.


Quer saber? Estou cansada. Estou cansada demais para ir até ele e impedi-lo de agir como criança.


- Jason – chamei.


- Falamo-nos mais tarde. Eu ligo para você – ele me disse, sem sorrir ou demonstrar alguma reação boa.


- Ok – falei.


E ele foi embora. Nem disse “Eu amo você” ou “Eu adoro você”. Simplesmente se retirou da sala e se foi.


- Acho que ele precisa descansar um pouco – James me falou, escolhendo seu desconforto.


- Desculpe por isso. Jason é um pouco... temperamental – eu lhe disse, voltando a olhar o Johnny Depp.


- Bem, espero que ele não encontre ninguém pelo caminho de volta. Acho que seria o fim para a pessoa – ele brincou.


Eu não tive vontade de rir. Eu queria gritar com Jason.


Em pouco tempo o filme tornou a me entreter novamente.


Isso foi bom.


Mas como vou conversar com Jason sobre a minha viagem até Beadlow com James? Ah meu Deus. Acho que vou precisar de um escudo e de uma armadura. Será que isso é o bastante? Tomara que sim. Bom, tanto faz. Não tenho uma armadura nem um escudo guardados na garagem.


 29/JANEIRO – 20:20h – QUARTA-FEIRA – CASA
O James saiu daqui agora a pouco. Mas somente porque a mãe dele ligou dizendo que o jantar estava na mesa e que se não fosse para casa naquele minuto, ela e a Alex morreriam de fome até ele aparecer. Minha avó até mesmo gralhou para ele que jantasse aqui, mas não foi possível. Ainda bem que ele não ficou para jantar: tem uma meleca verde em cima do macarrão. Minha mãe diz que é molho de brócolis. Eu e minha avó dizemos que é o que o Flame vomitou à tarde. Dá licença, mas acho que vou ali ao banheiro rapidinho.


 29/ JANEIRO – 21:14h – QUARTA-FEIRA – CASA
Tudo começou com (mais) um grito. Adivinha de quem? Meu é que não foi.


- MAS VOCÊ TEM DE DEIXÁ-LA IR!


- Como é que é? Não é você que diz que não estabeleço limites para a Lily? Então, acho que isso é um limite. Mãe, não é porque você adorou o menino que vou deixar a minha filha viajar com ele para outra cidade, totalmente sozinha – minha mãe respondeu.


Sinto muito, mas D. Julia não é do tipo de pessoa que desiste fácil. Sabe aqueles cachorros que quando pegam um osso não soltam nunca mais? Apresento a você a minha avó.


- Ele é um bom garoto. Pelo menos não me chama de “Avó da Lily”, como aquele moleque horroroso – D. Julia retrucou. Bom, às vezes, preciso admitir que a personalidade chata e perseguidora de minha avó acaba me ajudando em algumas situações, apesar de ela não precisar ficar comparando o meu namorado com o meu novo amigo toda hora.


- Ele só é amigo da Lily há sei lá, no máximo uma semana! Não existe confiança em um relacionamento de uma semana – justificou mamãe.


- É claro que existe. Só você não é capaz de ver o quanto eles já são próximos o bastante para cuidarem das próprias vidas – disse o cabeção. Talvez ela esteja certa: eu já sou próxima o suficiente para viajar com James. Quero dizer, se já tenho a liberdade de chamá-lo de “babaca” e de socá-lo quando quero, acho que já estamos prontos para dividirmos uma cabine de trem até Beadlow. Não é?


- Mãe, pare com isso! A Lily já deixou bem claro que tipo de relação tem com esse menino!


- Ora, então se é justamente assim, qual é o problema de eles viajarem?


- Eu não conheço a família dele! Quando ela saía com a Taylor, eu sabia o nome até mesmo o nome da madrasta da prima de terceiro grau dela. Eu não sei nem o nome da irmã desse James! – mamãe atacou.


- É Alex. Ela é super fofa. É bem do tipo de amiga que você sempre sonhou para mim – eu entrei na conversa. Ela me olhou fulminante.


- Ligue para a mãe do rapaz e converse com ela. Quem sabe assim, você consegue achar o que estava faltando nisso tudo – minha avó mandou, entregando-lhe o telefone. Ela revirou os olhos, muito irritada, mas discou o número e passou praticamente meia hora com a mãe do James na linha. Tudo o que minha mãe falava na maioria das vezes era: “claro, você está certíssima” ou então “você tem razão”. Acho que no final, a conversa não foi de toda muito ruim. Ao colocar o telefone no gancho, não parecia extremamente satisfeita, mas aparentava algum tipo de sacrifício e derrota.


- E então? – eu e minha avó perguntamos juntas.


- Se seu pai estivesse aqui, certamente a colocaria de castigo por uma semana, mas...


- Mas...??


- Parece que a mãe do James aparenta ser verdadeira. Ela disse que vai reservar quartos de hotel para você amanhã e que paga a sua passagem também – minha mãe disse, com os olhos nervosos.


- Sério? – eu grasnei. 


- Sério, Lily – ela revirou os olhos, falando com uma nítida amargura.


- Eu lhe disse para confiar em mim – D. Julia disse, mas não para mim. Foi para minha mãe.


- Ha, eu vou ouvir o Oasis ao vivo! – falei.


- É, não se esqueça das fotos, porque senão vou achar que não tem show nenhum e que vocês só foram para lá para comprarem armas nucleares – falou minha mãe, sentando-se no sofá e abrindo uma de suas revistas de Design.


Não digo que fiquei com vontade de beijar a minha avó pela ajudinha, mas acho que, pela primeira vez desde que tenho uns 12 anos, quis dizer um “Obrigada” a ela.


Corri para meu quarto e escrevi a seguinte mensagem:


ADIVINHA QUEM VAI PARA BEADLOW?


E então enviei para James. 



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N/A: Oi, pessoal! : ) Sei que o cap tá meio tosco, mas eu não estava com muita inspiração e tive de estudar muito por esses dias e tal. Desculpaê ;/ Escrevam suas sugestões que prometo que farei o possível para deixar o próximo cap melhor.  Bjobjo ;*

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