Capítulo 2



24/JANEIRO – 13:34h – COLÉGIO (AULA DE GEOGRAFIA HUMANA)
Sabe quando, de repente, você é notada por todos que a desprezam? E não a olham tipo “Oh, Lily, quer ser minha nova melhor amiga?”, mas algo mais perto de “OOOH, você é a cachorra que traiu a sua melhor amiga”. Então, se todo mundo lhe lança olhares furiosos ou surpresos, você não deve achar que é porque está arrasando com a sua nova calça skinny xadrez ou porque seu cabelo é a coisa mais legal que todos à sua volta já viram, porque, se pensar assim, a próxima coisa que você irá presenciar será um tapa na cara da sua melhor amiga ou a promessa de uma briga no banheiro feminino com todas as meninas que você denunciou no jornal e que agora querem uma vingancinha leve. Provavelmente algo que envolva golpes ninjas ou o seu rosto em um dos vasos sanitários.   


Todo mundo está horrorizado. Quero dizer, todos que não têm envolvimento algum com o que eu redigi. Se bem que os que praticam tal ação flagrada e publicada por mim também estão muito, mas muito horrorizados (além de apavorados e furiosos), mas claro, por motivos próprios. A diretora Rings está histérica e com cara de quem enfrentou um daqueles atiradores especializados do Jack Bauer. Ela não pára de repetir que transformou a escola em um beco, pela falta de maior vigilância, entretanto, eu estou com muita pena dela, porque não é a verdade. Apesar de todas as câmeras que nos seguem por onde passemos – e que, ano passado, Taylor, quando ainda era a presidente do conselho estudantil, estava tentando convencer a diretora de que aquilo era invasão de privacidade e que deveriam arrancá-las dos corredores e das entradas da escola -, elas não são o suficiente para monitorar tudo o que todos fazem. E, além de tudo, os infratores que desencobri têm suas técnicas para controlar os olhos da diretoria. A maioria dos alunos não tem noção que a escada do quarto andar dá acesso a uma escadinha que desemboca quase no final do estádio dos esportes.


Não sei por que achei que a minha vida permaneceria praticamente intacta e feliz. Achei que o meu desespero quanto ao que foi escrito na minha coluna fosse somente um desespero comum de começo de semestre, mas claro que não. Quando saí para os jardins da minha casa, rumo à escola, pensei: “Calma, Lily, não vai ser tão ruim. Tudo vai ficar bem. Ninguém vai ligar para a sua traição”. Assim que cruzei com o Sr Excluído do Mundo, antes de entrar para a primeira aula, nós nos olhamos, e ele acenou e sorriu, e meu estômago se embrulhou, mas não de um jeito como se eu fosse vomitar. Era mais como se as minhas expectativas fossem se realizar após esse meu rápido encontro com o James (nota pessoal: lembrar de parar de chamá-lo de Sr Excluído do Mundo ou de Tobi, porque agora ele não é mais aquele cara rejeitado por mim).


O jornal começa a ser distribuído logo no primeiro período, mas, às sextas-feiras, não tenho nenhuma aula com a Taylor antes do almoço, de modo que eu não sabia se ela já queria fazer picadinho de mim e servir a minha carne aos porcos da fazenda da sua família. Entretanto, pelos olhares que recebi por Jamie, Zack e Emma, deduzi que eu estava mais do que esquartejada. E as minhas suspeitas se confirmaram assim que entrei no refeitório e TODO MUNDO olhou para mim e não pude mais me sentar à mesa que divido com a Taylor, o Zack e os outros popularzinhos. Não pude me sentar, porque a minha cadeira não existia mais entre eles.


Antes que eu tentasse dizer algo – qualquer coisa – a Taylor antecedeu a minha voz:


 - Era ESSA a porcaria da sua surpresa, sua traidora? – sua voz saiu incrivelmente alta e aguda, mas não como se estivesse gritando. E parecia que ela queria que eu engolisse as folhas do jornal, porque quase as esfregava em meu rosto, de tão fora de si que estava.


Sabe, achei que conseguiríamos resolver isso como sempre fazemos: conversando. Tudo bem que a Taylor não é o tipo de pessoa que aceita discutir sobre algo que não envolva suas preferências – como um dos atores de Skins ou de Gossip Girl, ou qual dos caras que ela já beijou tem o melhor beijo ou qualquer outra coisa fútil -, mas ela faz um esforcinho, pelo menos. E é verdade, nunca brigamos e eu estou começando a duvidar se isso vai ser somente uma briga. Mas, pelo jeito, T não estava muito a fim de conversas, estava mais propensa a enfiar uma faca na minha barriga e me deixar estrebuchando no chão até eu morrer na frente de todos.


- T, eu não queria ferrar você e nem ninguém, eu juro, mas, você tem que entender que esse é o meu trabalho. Não podia não escrever sobre isso somente porque você está na jogada também – a minha voz saiu tão baixa que nem tive certeza se eu estava mesmo falando.


E eu tinha a perfeita consciência de que o refeitório todo estava observando a minha explicação estúpida, porque a Taylor é praticamente a menina mais linda de toda a escola e todos prestam a atenção nela, mesmo quando ela não quer ser notada. “Então, como vai ser, Lily?”, eu pensei, “Você vai continuar aí em pé com essa cara de ratinho que foi pego pela ratoeira ou vai agir de acordo com a sua idade e vontade?”.


- Cala essa boca. Não tente jogar mais comigo, não vai mais funcionar. Guarde as suas desculpas fracassadas para qualquer um, mas não as despeja em mim – Taylor fez sua voz meiga e doce se transformar na de alguém que eu não mais conhecia. Seu tom era pior do que o da minha avó quando eu me recuso a fazer algo a ela, tipo passear com o gato fedorento dela ou lhe trazer chás de laranja.


- Taylor, você sabe que isso é errado, e muito, muito ruim. Eu me preocupo com você e não quero que você seja a Lindsay Lohan da escola. Você não precisa dessas coisas para ter uma vida perfeita, pois ela é, e fumando aquelas porcarias só vai fazer com que você a estrague. Eu TINHA de fazer isso. Pelo seu bem e de todos os outros – eu cheguei mais perto dela, para que deixasse bem claro o quão sério era aquele nosso papo.


- Eu lhe pedi para zelar por minha vida? Ou para ser a minha babá? Acho que não, não é mesmo? E que porcaria é essa de que você “fez isso pelo meu bem e de todos os outros”? Você quis mesmo é nos ferrar. Até parece que você se importa com quem está atacando nessa coluna idiota sua. Tudo o que lhe interessa é tentar ser menos iestúpida fingindo ser uma jornalistinha de quinta categoria – a Taylor ria com tanta amargura e tanto desprezo que agora as lágrimas se formavam em meus olhos e eu não conseguia me livrar delas ou as disfarçar.


“Tudo o que lhe interessa é tentar ser menos estúpida fingindo ser uma jornalistinha de quinta categoria”. Isso penetrou em meu cérebro e o foco da conversa me pareceu um tanto insignificante.


Uau. Ela estava pegando um pouco pesado demais. Quero dizer, não é só porque ela não tem nenhuma aspiração concreta na vida, que ela pode detonar com os sonhos dos outros com as palavras. Pode até ser que não fosse isso o que ela gostaria de ter me dito, mas, com certeza, palavras magoam muito mais do que gestos, porque, além daquilo ser uma mentira total, não era muito justo ou compreensível. A Taylor sempre odiou ter de redigir redações ou ler livros, então acho que ela desconta nas pessoas que são capazes de se dar bem realizando tais tarefas. Ou pior ainda: nem acho que seja questão de descontar, é mais zombar, realmente. E creio que ela faça isso como uma defesa pessoal, porque a Sra. Prince, desde o quinto ano, aconselha-lhe a ler mais ou a prestar a devida atenção nas aulas de Inglês e de Redação.


- Taylor, você já tem tudo o que uma menina sempre deseja... – eu pensei muito antes de continuar naquela batalha desnecessária, mas ela me cortou, agora, com um legítimo grito de raiva.


- CALA A BOCA! – ela mandou. Não que T não me mande calar a boca nenhuma vez; na verdade, me diz isso praticamente todos os dias, mas desta vez, seu tom parecia o de uma bruxa do mal ou de alguém assim, tipo a minha avó.  


Meus braços não estavam mais suportando o peso da bandeja e temi que a largasse no chão. Eu queria colocar meus cabelos um pouco mais perto dos olhos para encobrir o meu pré-choro, mas sabia que não conseguiria segurar o meu almoço em uma só mão. Eu mal sabia se era capaz de me mover dali.


- Lily, nós vamos nos ferrar por sua causa. Podem querer nossas expulsões. Você pensou nisso? – a voz de Zack entrou por meus ouvidos, distante e igualmente furiosa, como a da namorada. Mas, pelo menos, ele não parecia prestes a querer meter um soco em mim.


Admito: não pensei em conseqüência alguma para o que fiz. Não achei que devesse dar tanta importância àquilo, achei que ninguém fosse pirar do modo que todos piraram.


- Não, não pensei, é verdade, mas somente porque achei... – mais uma vez a Taylor me atropelou. Não que tivesse sido tão ruim, porque minha voz estava tão embargada e baixa que creio que ninguém a entendeu.


- Você nunca pensa nas conseqüências, não é, Lily? Você só faz e acabou, e então vem com uma explicação tão tola que o meu irmãozinho de cinco anos poderia tê-la bolado. Cara, até hoje não sei por que ainda acho que você é uma pessoa ingênua e inofensiva, porque você se finge de cachorrinho que caiu da mudança e todo mundo acredita que nada é sua culpa, que nada você fez por mal. Sabe, eu estou muito cansada de ter que lidar com pessoas falsas e egoístas como você, Lily. Eu pensei que tinha uma melhor amiga, mas acho que nem nunca tive – eu jurava que a Taylor estava ficando vermelha de raiva. Ela não estava mais gritando, mas o refeitório todo era capaz de ouvir suas palavras. Sua voz estava tão recheada de desdém que só faltou ela cuspir em mim. Nunca me senti tão desprezada e desprezível em toda a minha vida.


Com meus olhos pregados no chão branco, afogados de lágrimas que eu tentava em vão esconder, tentei raciocinar algo que pudesse atirar nela, mas tudo o que me veio em mente foi: “Parabéns, Lily, agora você entrou de vez para o Clube dos Odiados Para Sempre Por Todos da Escola. Sua fracassada traidora”. Claro que eu não pretendia falar isso alto. Ergui os olhos e somente enxerguei borrões. Acho que, pelo silêncio descomunal, todos ali presentes desejavam também ter uns minutinhos preciosos comigo para me dizer mais palavras que me fizessem me sentir ainda mais estúpida. Então, Taylor virou as costas cobertas pelo casaquinho de lã rosa para mim e se retirou com aquele andar de princesa, como se fosse uma sobrevivente do vulcão Krakatoa Sumatra que entrou em erupção em 1883. Logo em seguida, todos do grupinho viciados.com se juntaram a ela. Não tive coragem de olhar para as expressões deles. Aliás, não precisava: eu sabia que se olhasse veria raiva e desprezo, exatamente como vi nos olhos da Taylor.


Ainda que todos eles tivessem deixado o recinto, não tive forças para me sentar a mesa à minha frente; somente permaneci no mesmo lugar, de pé, olhando para todos os outros que ficaram e me olhavam tipo “ha, sua babaca”, até que mãos tocaram meus ombros, por trás. Não me pergunte por quê, mas realmente pensei que fosse Taylor que tivesse voltado. Pensei que ela podia ter se arrependido, mas não era a Taylor. Quando girei para encarar a pessoa, deparei-me com uma menina bonitinha, de cabelos castanho-escuros, lisos e compridos, magra e praticamente da minha altura.


- Vai ficar tudo bem. Não ligue para isso agora – ela me disse em um tom de consolo. Suas mãos eram quentes e escorregaram para as minhas, tirando-me minha bandeja e carregando-a com a mão esquerda. Com a direita fez seus dedos compridos puxarem os meus para algum lugar. Eu peguei as minhas lágrimas e assim que foquei seu rosto melhor, descobri que era a Alex, minha colega de laboratório de química. Eu e ela nunca nos falamos na vida, mas eu adoro observá-la, porque ela parece ser o tipo de pessoa atrapalhada e fofa que todo mundo gosta, tipo o Kevin Jonas.


Uau. Nunca pensei que ALEX, uma pessoa que sempre ignorei, exatamente como fiz todo esse tempo com o James Potter, fosse querer me ajudar. Geralmente você não está disposta a ajudar uma pessoa que nem ao menos conhece, não é? Nunca pensei que ela fosse tão fofa DESSE jeito.


- Venha, venha se sentar conosco. Esqueça-se da Taylor – ela sorriu de um modo que me fez pensar que nem tudo estava tão ruim assim. Ela estava me conduzindo à outra mesa, com a maior naturalidade. Agora os rostos alheios pareciam ainda mais chocados e surpresos, como se eu tivesse aceitado me juntar à Al Qaeda ou à Opus Dei.


Fico me perguntando como esse tipo de coisa só acontece comigo. Não o fato de uma pessoa tão impopular como a Alex, e tão invisível, querer me consolar, porque sei que no fundo, ela é uma pessoa querida e que não liga para a opinião dos outros. O tipo de coisa a que estou me referindo é o massacre público que a Taylor me proporcionou tão friamente.


Falando sério, como, de modo tão drástico, a minha vida se tornou tão vazia e insignificante?


Quando me dei conta, eu estava encarando o James, que estava sentado na mesa que Alex me conduziu. Eu pisquei muitas vezes antes de franzir a testa e fiz uma “cara-de-sol”.


(n/a: cara-de-sol é aquela cara que a gente faz quando olhamos para o Sol, sabe? É uma expressão que um professor de português usava e eu me rachava de rir sempre que ele a falava, haha)


Alex e todos que estavam sentados na mesa riram do meu comportamento.


- Acho que você já conhece o James, não é? Da aula de violão – Alex me perguntou, ainda em pé, assim como eu.


- Sim, nós... Mas... Então quer dizer que você tem amigos? – eu estava muito confusa, mas me dirigi a ele. Ele riu daquele modo descontraído que eu já percebera ontem.


- Todos têm amigos, não é? – ele me devolveu, sorrindo e arrastando a cadeira ao seu lado para me indicar que eu deveria sentar.


Eu me sentei um tanto desorientada e contrariada.


Deus, o que estava acontecendo?


- Acho que você não sabe, não é? – Alex me perguntou, com um jeito de amiga.


- Sei do quê? Quero dizer... – não estava à vontade com James, Alex e aqueles três caras curiosos me encarando como se eu fosse a nova descoberta da NASA.


- James é meu irmão – Alex me disse, apontando para ele.


Eu arregalei os olhos. Irmãos? O Sr. Excluído do Mundo tem uma irmã? E a irmã é a Alex? A menina das roupas customizadas que Taylor adora falar mal? Certo, pára mundo que eu quero descer! AGORA!


- O-o quê? – eu me senti uma idiota, mas eu estava muito surpresa.


Uau, então, além do James ter amigos ele tem uma irmã. Isso não é nem um pouco a história que eu e Taylor criamos para ele. No nosso mundinho, James é último cara que alguém se lembra de existir e que não tem vida social, porque provavelmente vive trancado em casa jogando videogame para ter o que fazer quando todos são convidados para a festa do ano e ele está na Lista das Pessoas Que Nem Sob Plástica ou Sob Fama Podem Entrar na Festa.


Olhei de Alex para James. É obvio o quão semelhante eles são. Ambos têm o mesmo sorriso, as mesmas covinhas e a mesma cor de olhos.


- Ei, não precisa nos apresentar, não, deixe que a menina pense que somos gnomos de enfeite – um dos meninos que não abrira a boca até agora falou com um escárnio transparente. Ele era um tanto atraente; seus cabelos negros davam a impressão de que não os penteou ao acordar, mas era bastante cativante.


Todos na mesa riram, inclusive eu.


- Esse é o Peter – James o apresentou. Era um garoto um tanto gordinho, daqueles que batemos os olhos e deduzimos que seu hobbie preferido é ir atrás de rosquinhas e cookies. – Esse é o Remus – o garoto magro com o livro intitulado “100 Cientistas Contra Albert Einstein” fez um sinal de positivo com os dedos e voltou sua atenção para as linhas. Parecia o típico aluno nota A e certinho.


Antes que James falasse o nome do terceiro e último amigo, eu pensei “Opa, eu conheço esse cara”.


- Ei, você não é o cara que jogou anilina rosa na piscina no último torneio de natação, no fim do semestre passado? – eu perguntei surpresa novamente. Ele me olhou feliz.


- Exato. Sou eu mesmo – ele estendeu o braço direito e apertou a mão na minha – Eu queria anilina preta, mas só encontrei rosa. Ainda me lembro da diretora Rings gritando comigo e da Treinadora Mason chorando na saleta da Enfermaria – Ele riu da lembrança – Meu nome é Sirius. Sirius Black.


É. Acho que ninguém em sã consciência devesse andar com Sirius, mas quem disse que eu tenho, ao menos, consciência? E pedi-la sã é como dizer que a Megan Fox é um pouco bonita ou que todos acreditam no governo. Simplesmente não rola.


- Hum, oi para todo mundo – eu falei, um pouco mais à vontade.


- Você vai começar a andar com a gente? – Sirius me perguntou ainda aparentando felicidade.


- Hum. Não sei. Foi só... – eu parei e pensei. Opa, agora eu faço parte da mesa de James?


- Não esquenta com isso. E, fique quieto, Sirius – James mandou.


Sirius lançou uma bolinha de guardanapo no amigo, que a mandou de volta.


- Ei, James me contou sobre a música da aula de violão – Alex falou com um tom todo animado.


- Ah, é só uma música que eu gosto e tal, mas... – eu comecei, achando que devesse me explicar.


- Eu não acredito que você conhece My Hero. Eu sou apaixonada por ela desde que descobri que o Paramore fez um cover dela – Alex se animou ainda mais, como se fosse fundamental eu saber do por que adora a música.


Pisquei. Quando alguém – não importa quem – menciona o nome da minha banda favorita é meio tenso. Geralmente eu fico tipo “Aham, Cláudia, senta lá”, porque se mencionam ou é para debochar (o caso mais clássico e corriqueiro é a Taylor) ou é para comunicar que “amam” a banda, mas, no máximo, só conhecem cinco músicas. E sério, se existe algo que totalmente me tira a paciência são pessoas que acham que sabem tudo sobre bandas. Não que eu saiba tudo sobre o Paramore, mas definitivamente não suporto essa gente que acha que gosta da banda só porque a vocalista tem o cabelo colorido ou porque a banda tem duas canções na trilha sonora de Crepúsculo.


Mas, ali com aquela gente totalmente diferente, eu percebi que não preciso me preocupar com isso, porque Alex falou da banda exatamente do mesmo modo com que eu falo: com entusiasmo e amor.


- Uau, você conhece o Paramore – só faltou eu abraçá-la, sério mesmo, porque ninguém com quem eu convivo – ou devo falar agora convivia? - acha que eu tenho um bom gosto para a música e, com certeza, ninguém quer saber de me ouvir falar do Paramore. E nem de escutar as músicas. Dividir o meu i-pod com a Taylor é um sacrifício enooorne, porque ela sempre diz “fracasso, passa” para tudo o que tem dentro dele. E, sabe, ninguém gosta quando alguém fala mal da sua banda preferida. É como falar mal da sua mãe ou do seu cachorrinho de estimação.


- Olha, é melhor você parar de se bandear para o lado eco eco eco da força e se juntar a nós – Sirius me disse, cruzando os braços.


- Humm, “lado eco eco eco da força”? – eu indaguei, querendo rir.


- É, sabe como é, o lado apático e vazio. Essa gente aí que se acha demais só porque os pais podem comprar um carro para elas por mês – ele explicou como se estivéssemos falando da maior bobagem do mundo.


Ok, eu sabia do que ele estava falando. O lado eco eco eco da força é o grupinho com quem eu andava. A Taylor e todo mundo que a ama.


- Ah, é. Todo mundo acha que aquela sua amiga é a Lady Gaga da parada. De repente eu vou começar a andar com um colar de alho pendurado no pescoço ou com um crucifixo para ver se ela some ou pára de zombar de todos – Peter disse, com um ar desgostoso.


- Hum, Pete, ela não é uma vampira, não. Acho que o alho e o crucifixo não adiantariam em nada – Riu Alex.


- Ah, eu estou até mesmo tentando fazer macumba para a resolução desse caso. O caso “Loira do Inferno”. – Peter devolveu, rindo também.  


- Peter! – Remus exclamou, olhando-o feio.


Peter parou de rir.


- Opa, foi mal – ele me disse, sorrindo amarelo.


Aaaah, então quer dizer que a Taylor tem um apelido?


A Loira do Inferno?


Uh, não era tão pior quanto todos os outros que ela própria já inventou para praticamente cada aluno que cruza seu caminho.


Eu tive um ataque de risos. Os cinco me encararam como se eu estivesse tendo um choque anafilático.


- Cara, você tem os melhores amigos do mundo – eu disse para James, balançando a cabeça e repetindo “Loira do inferno”, mentalmente.


Depois desse episódio, Sirius começou a tagarelar sobre o Ting Tings e percebi que nada mais importa. Não importa se o restante da escola está me odiando ou me achando uma esquisita maior ainda. Tudo o que eu pensava naquele momento era como, às vezes, as coisas acontecem ao acaso. Existem situações que achamos que é o fim do mundo e um tempo depois descobrimos que há males que vêm para bens, que podem gerar resultados positivos, no final. Quero dizer, imagine viver em um mundo onde tudo que o que você quer acontece ou que tudo que você tem você simplesmente tem. Não teria o porquê existir a ambição ou a esperança ou até mesmo a compaixão. E uma hora a perfeição nos cansaria. Quem, de fato, quer viver em um mundo perfeito, onde não há obstáculos para se ultrapassar ou pessoas para se admirar?


Ao final do almoço, Alex e eu fomos para a aula de Geografia Humana juntas, após nos despedirmos dos meninos. James e Remus tinham aula de Psicologia, Sirius, de Educação Física, e Peter, de Trigonometria. Quando eu me sentei na carteira da sala (e Alex na carteira à minha frente), falávamos sobre o visual gótico-emo dos filmes de Tim Burton. Taylor, que estava retocando a maquiagem na primeira fila, quando me viu, lançou-me um olhar de puro ódio e veneno. Ela não pareceu muito satisfeita com o fato de que, minutos após ela ter me nocauteado na frente do colégio inteiro, eu estava conversando com alguém. E com alguém que ela considera um verme.


Mas sabe de uma coisa? Eu não fiquei com remorso ou achei que estava agindo de forma errada, porque começou a nascer dentro de mim um sentimento de liberdade. Um sentimento que me permitia estar conversando com Alex de cabeça erguida na frente de Taylor. E, se quer saber, a liberdade é muito boa, muito boa mesmo.


 24/JANEIRO – 23:51h –SEXTA-FEIRA - CASA
Parece que a tortura nunca acaba, exatamente como aqueles rituais de masoquismo que li uma vez na internet ou como aquele filme “Jogos Mortais”.


Ainda que eu estivesse me recuperado um pouco da briga no refeitório com a Taylor e agora estivesse me sentindo como uma sortuda por ter sido ajudada por Alex, James e seus amigos, eu não deveria ter esperado mais do que isso. Tudo bem que a tarde no pet shop não foi uma das piores, mas eu estava me sentindo um queijinho processado e empacotado, no final do dia. Tudo o que conseguia pensar, assim que fechei o caixa, era: “Eu quero comida, um banho e a minha cama”, e achei que não estava pedindo muito. Realmente achava que depois desse dia totalmente anormal e insano eu merecia um bom descanso. E também seria bom se meu namorado aparecesse e me abraçasse, mas creio que Jason evaporou da cidade. Quero dizer, ele nem ao menos me defendeu lá no refeitório! Ele simplesmente deixou com que todos assistissem a minha queda perante a minha ex-melhor amiga.


Mas, bom, a tortura que nunca acaba não envolve o Jason. Envolve a última pessoa do mundo que eu desejava ver nesse final de dia. Na verdade, a última pessoa que achei que veria em toda a minha vida. Aconteceu que, assim que entrei em casa, gritei um “Oi” para a minha mãe como sempre faço, porque às vezes ela está no sótão ou nos jardins do fundo e o único modo de anunciar a minha chegada é à base do grito mesmo, e quase tive uma embolia pulmonar no momento que me deparei com aqueles dois intrusos na sala. O senhor lia o jornal da manhã, quietamente, e a senhora, com aquele chapéu horrendo e enorme, segurava uma das xícaras de rosas da coleção preferida da minha mãe.


Por um momento pensei que tivesse entrado na casa errada, pois totalmente achei que a Lady Gaga estava ali, sentada no sofázinho azul. Não que aquela senhora toda perua pudesse ser confundida com a pobre da Lady Gaga, mas o que me fez pensar assim foi aquele chapéu chocante e bizarro. E coitada da Lady Gaga se algum dia for confundida ou comparada à minha avó.


Quero dizer, eu sei que ela é a minha avó – a minha única avó, que não vejo a praticamente dois anos (não que isso seja motivo para eu entrar em depressão, porque quanto mais longe dela eu estiver, melhor eu ficarei) –, mas chegar em casa depois dessa manhã ninja e tudo o mais que eu tive de superar durante a tarde para tentar não deixar a minha mente escapar de mim e ver aquele cabeção louro no meio da minha sala, tomando chá com a minha mãe, quase me fez crer que eu estava no programa “Punk’d” e que o Ashton Kutcher logo logo sairia da cozinha e diria “HA, PEGAMOS VOCÊ!”. Eu juro que esperei o Ashton aparecer, mas então percebi que não era brincadeira nenhuma: D. Julia estava de fato ali. E pensei desesperada: “Beleza, mãe, obrigada por me avisar que receberíamos a versão feminina do Darth Vader em casa”. E eu pensei que aquela aberração loura e fumante amasse Londres demais para vir a Bedford, uma cidade que ela considera completamente atrasada, mas só porque ela não sabe nada sobre a história daqui.


Nem mesmo a minha mãe sabe, mas a verdade é que eu tenho muito medo da minha avó. Não somente porque ela parece uma chaminé ambulante, sempre veste roupas esquisitas de 1ª dama ou de alguém assim e já se submeteu a oito cirurgias plásticas e a três aplicações de botox. O meu profundo medo é alimentado pela capacidade que ela tem de ser a pior pessoa do mundo com as suas críticas e mandamentos. E, claro, suas críticas e sua autoridade não são jogadas em qualquer um, não, elas têm de ser lançadas em mim, pois eu sou a única que lhe dou o gosto de ser tão bruxa. Porque, acredite, D. Julia é tão assustadora e maléfica quanto todos os supervilões que foram parar nas telas de cinema juntos. Ela me amedronta mais do que o Marilyn Manson e pensei que nunca conheceria alguém mais macabro quanto o Marilyn.


Além do chapéu, que já me fez querer sair correndo dali no momento em que entrei, seus sapatos de salto alto, de marca (sei lá qual; nunca entendi disso), exibiam enormes laços negros nas pontas. Não eram lacinhos fofos, tipo Alice no País das Maravilhas: era algo mais inclinado a laços de filmes de terror. Para terminar o incrível look, obviamente, ela vestia rosa-pink. Não estou brincando: rosa- PINK. Ela nunca usa outro tom de rosa, pois diz que qualquer tom mais claro cansa o olhar das pessoas (mas, definitivamente, rosa-pink queima a retina de qualquer um).


Quero dizer, eu fico pensando: “Se nem mesmo eu uso rosa-pink, COMO deixam a D. Julia usar?”.


Bom, tanto faz. Não era com suas roupas que eu estava me preocupando, no momento, era mais com o que ela estava fazendo ali. Na minha casa. Sem aviso prévio algum.


Então, quando eu pensei que fosse desmaiar ou ter um ataque de falta de ar (coisa que às vezes me acontece quando eu fico muito nervosa, como na vez em que o Sr. Bener, nosso vizinho da frente, chamou a polícia porque a Taylor foi pegar o jornal, pela manhã, de calcinha e camiseta), D. Julia me notou parada no hall e, ao invés, de vir até mim, cumprimentar-me com beijos e presentear-me com uma caixa de bombons, como as avós normais, ela somente contorceu o rosto – ou o que sobrou de seu rosto original, que é tipo 3%, por conta das plásticas e do botox, que não a deixam demonstrar os sentimentos muito bem – e falou, naquela voz rouca, mas ao mesmo tempo aguda, de tanto exercitar os gritos com todos à sua volta:


- Céus, é você, Lily? Por que você ainda parece uma órfã da Guatemala de 10 anos? E que camiseta horrorosa é essa? Ah, não venha me dizer que esse tênis é o mesmo que a vi usando há dois anos! E o que você está esperando para largar essa mochila velha, arrumar o cabelo e vir dar um beijo em mim? – ela pareceu muito chocada ao me ver, como se eu tivesse me transformado na mulher-árvore.


Eu olhei para minha mãe, e ela me devolveu um olhar sério, como se dissesse: “Ande logo, acabe com isso, beija-a agora” e deixei minha mochila no baú velho, onde sempre a deixo. Até parece que eu estava super animadinha para chegar mais perto ainda daquele perfume fedorento que minha avó toma banho, praticamente. Andei até ela, em passos pequenos, como se quisesse, ao máximo, adiar o contato. Não precisei ficar nas pontas dos pés para alcançar seu rosto maquiado, porque ela é quase da minha altura – e eu até que tenho pouca altura. Beijei suas duas bochechas tentando esconder o meu nojo e, logo após, beijei-lhe suas mãos macias. Suas mãos nunca estão ressecadas, porque ela passa creme à base de manteiga de cacau nelas antes de se deitar; quando eu era criança, quando íamos para a casa do lago, ela tentou incutir essa mania em mim, mas eu odiava cremes (e ainda odeio), pois me sentia melecada e suja.


Olha, sem querer ofendê-la nem nada, mas muitas vezes eu me pergunto o que o meu avô viu nela, porque, se eu fosse um homem, nunquinha que me casaria com uma mulher que usa casacos de pele de animais e nem qualquer outro tipo de vestimenta que envolva pêlos de gambazinhos ou chinchilas.


Após, beijá-la, beijei vovô, que é um amor de pessoa e que sempre quero ter por perto, mas como ele é marido da minha avó do mal, evito fingir que amo a presença deles.


- Como está tudo, minha pequena? – vovô me perguntou, sorrindo aliviado.


Sabe, meu avô deveria ser canonizado. Ou então ser transformado em uma estátua de cera e ser colocado junto àqueles famosos naquele museu.


Pensei na pergunta. Nossa, é a pergunta mais irônica do dia. Eu realmente tive vontade de rir, mas não o fiz porque ninguém entenderia e não estava a fim de dar explicações posteriores.


- Ah, tudo igual. Tudo bem – respondi, dando de ombros. O que poderia falar? Que a Loira do Inferno tinha acabado comigo?


- Robert, pare de falar com ela como se ela tivesse cinco anos – mandou minha avó.


Eu revirei os olhos, mas ela não viu.


- Humm, vocês irão se comportar, não é? Então vou preparar mais café ao senhor, pai – minha mãe furou meus olhos com o olhar que me lançou e foi para a cozinha.


- Humm, então... Vieram nos visitar? – perguntei, sem tem idéia de que assunto puxar.


- Não, claro que não. Não viríamos até aqui só para passar a tarde – minha avó abanou a mão direita com descaso.


Não, claro que ela não se deslocaria de Londres somente para nos fazer uma visitinha básica e rápida, porque A) D. Julia odeia Bedford e B) ama demais Londres.


- Sei, então por que... – eu comecei, mas ela me interpelou.


- Eu e seu avô iremos passar uns dias com você e sua mãe. Eu ganhei no consórcio e decidi fazer umas reformas básicas na casa, então, ficaremos aqui até elas serem finalizadas. Eu quero cortinas violetas e amarelo-Sol nas paredes da sala... Muito melhor do que... Esse lugar – ela terminou com uma cara de quem estava sentindo cheiro de porco sendo carneado.


Bem, vou torcer para que a casa dela não termine no estilo do clipe de “Nine In The Afternoon”, do Panic At The Disco.


Pronto, ela iria começar a falar minha casa. E eu iria começar a me irritar.


- Eu estou pensando seriamente em tirar você daqui, dessa cidade tão cafona e atrasada. Em Londres é tudo muito grande, mais agitado, mais chique... – ela começou, mas não parou por aí, não. Ela falou, falou, falou e mais falou.


D. Julia adora ficar falando de como é a vida Londrina, de como as pessoas se portam lá, de como elas se vestem lá. Na verdade, tudo parece bem legal, sim, mas eu não trocaria Bedford por nenhum lugar do mundo. Ela gosta de tagarelar sobre isso porque é do mal, aquele tipo de gente que tem prazer em ter tudo do bom o do melhor. Normalmente, ela parece a Taylor, quando atingir a velhice. E deve ser por isso que as duas se dão tão bem. Quando minha avó vinha nos visitar com mais freqüência, entrava em êxtase sempre que se encontrava com Taylor, pois sempre resultavam conversas produtivas (para elas, não para mim), mas como faz dois anos que não vem para cá, Taylor sempre fica me perguntando se “a minha avó rosa” irá aparecer em casa.


Então, dei-me conta do que ela disse com “Eu e seu avô iremos passar uns dias com você e sua mãe”.


- Espera. Você vai ficar aqui mesmo? Tipo eu vou ter que dividir a geladeira com você e ter que conviver com esse seu gato esquizofrênico? – eu estava querendo ter um acesso de raiva.


- Flame não é esquizofrênico. Ele é alérgico – respondeu-me ela.


- MAS VOCÊ NÃO PODE FICAR AQUI! – eu berrei.


D. Julia arreganhou a boca de um modo que a lembrava um cachorro rosnando. Opa, esqueci-me que ela odeia gritos – a não ser que os gritos estejam sendo proferidos dela mesma, o que é bastante comum, já que vive berrando com meu avô e com as empregadas. Falando sério, não suporto nem mesmo passar uma hora em sua companhia. Como meu avô está casado com ela há 40 anos? Como ele agüenta acordar e dar de cara com uma D. Julia verde, por causa da máscara de limpar os poros?


- Por que está gritando, Lily? Eu ainda ouço muito bem, obrigada.  Tenha modos comigo, moçinha. Você não está lidando com aqueles seus amigos sujos, de jeans rasgados, pinos no rosto e palavreados obscenos! E que história é essa de que “não posso ficar aqui”? Quem é você para decidir tal assunto? Pelo o que eu saiba, a dona da casa é a sua mãe, que é a minha única filha e que não me deixaria dormir em qualquer outro lugar – ela me apontou o dedo e sua voz ficou muito tensa e muito do mal.


- Mas... E a casa da fazenda? A senhora ainda a tem, não é? – sugeri com cautela. Eu não queria apanhar de minha avó.


Todavia, pela expressão de seu rosto plastificado, eu não devia ter aberto a boca. Oooops, esqueci do quanto ela odeia a casa do campo e do quanto ela odeia o mato, mas não tenho culpa se a minha mãe tem pavor de cidade grande e da poluição de cidade grande.


- A casa do campo está cheia de cupim e aranhas – ela me falou.


É verdade, a casa da fazenda está fechada desde que eu tinha 11 anos. Até mesmo achei que D. Julia a tinha vendido para algum fazendeiro magnata.


- Enfim, a sua mãe nos disse que há um quarto vago no sótão, então nos usufruiremos dele por algumas semanas – sua voz estava tingida de cansaço. Ela odeia interrogatórios; isso a chateia.


- Humm, por quantas semanas, exatamente? – deixei escapar.


Seus olhos turvos e acinzentados analisavam as paredes azul-petróleo e as flores das cortinas. Seu nariz estava franzido tal como narizes de ratinhos.


- O tempo que for preciso, por quê? Há algum problema para você? – ela deixou as paredes e me encarou.


- Ainda não sei. Você só está aqui por alguns minutos... – eu retruquei.


Meu avô deu uma risadinha discreta e praticamente imperceptível. Eu pisquei para ele, e ele rebateu a ação.


Graças a Deus, antes que minha avó pudesse formular uma resposta, minha mãe surgiu da cozinha, trazendo-nos cookies caseiros e o café do vovô.


- Oh, obrigada, Kristen – disse minha avó, alcançando os cookies da bandeja e molhando um deles no chá de erva-doce.


Olhei para o relógio de pessoas famosas, que fica em cima da do balcão de contas a serem pagas: 22:08h. Fiz uma careta. Eu devia estar fazendo os deveres.


- Humm, mãe, eu vou subir e tomar um banho – eu disse.


- Claro que não vai. Você vai me ajudar com as malas e o quarto monstro – minha avó me falou em tom de censura.


- Mas D. Julia... – eu tentei explicar.


- Não, não, nada disso. Sem explicações. Eu enfrentei 3 horas de carro até aqui e não posso me virar sozinha. Você, que é jovem, deveria se envergonhar por parecer uma pessoa da minha idade. Não quero ter uma neta que reclama de tudo – D. Julia se empertigou.


Olhei para a minha mãe.


- Ajude a sua avó só um pouquinho, Lily. Por favor – minha mãe me pediu. Estava claro que não estava a fim de contrariar a mãe e também receber uma resposta grossa e curta.


- Tudo bem, então – eu me levantei furiosa, revirando os olhos.


Demorou praticamente uma hora para eu conseguir ir para o quarto e ir para debaixo do chuveiro. Ela tagarelou sobre as milhares de reformas que a casa de Londres irá se submeter, antes de partir para o assunto que mais gosta: eu. Reclamou sobre a minha aparência (“porque seu cabelo continua com essa cor horrorosa?”), sobre meu jeito grotesco de falar, de andar, de me portar e de me vestir – principalmente sobre isso. Enquanto arrastava uns móveis do quarto do sótão de lugar, tive de me esforçar muito para não largá-la sozinha e ir para meu quarto. D. Julia estava me conduzindo como um cãozinho de concurso, e eu não pude dizer uma única palavra de contrariedade, porque segundo seus berros – que começaram assim que eu lhe informei que não sou uma de suas empregadas – “ela já não tem mais idade para ouvir as reclamações alheias”; ainda mais se as “importunações” estão vindo de sua neta, porque é minha obrigação sacrificar um pouco do meu tempo a ela. Ha, como se fosse.


Ah, sem contar que D. Julia berrou mais um pouco para usar o MEU banheiro. Recusou-se terminantemente a chegar perto do banheiro do corredor, por causa da cortina de borracha de patinhos do box. Ela diz que é ultrapassado e anti-higiênico. Bom, eu e mamãe nunca nem entramos lá, mas só porque temos nossos próprios banheiros em nossos quartos. Não tenho culpa se nossa casa tem duas suítes. E foi exatamente por conta disso que transformamos o sótão em um terceiro quarto. Tudo bem que não é uma suíte, mas é bem bonzinho, sim. Não fede, não prolifera aracnídeos nem tem goteira. Do que minha avó pode reclamar?


Agora que tudo está direitinho e no lugar, vou dar boa-noite para meus avós e minha mãe e ir deitar, totalmente exausta, sem nem ao menos ter tocado nos deveres solicitados pelo Sr. Regan e pela Sra. Prince.


Alguém, por favor, faz-me acordar desse pesadelo antes que eu comece a acreditar que ele é real?
 



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N/A: Cadê os comentários? :O
Sério, o cap 3 não vai aparecer do além, não, hein. Por isso os comentários são tão importantes. Vamo lá, gente, comentar não vai arrancar pedaço não (promeeto que não ;~)
Bjobjo :* 

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