Ciúmes, doença e decisão



Capítulo 4: Ciúmes, doença e decisão


-Sinceramente, eu não sei como você consegue! – falou Natasha com um sorrisinho simpático e um tom de histeria na voz.


Natasha era uma garota gordinha, baixinha, de olhos miúdos e um cabelo cacheado preto e sedoso, parecia-se muito com a mãe Helga e era a única pessoa em que Helena confiava, além de sua mãe.


- Consigo o que? – perguntou Helena arqueando uma sobrancelha para olhar para amiga que a fitava com aqueles olhinhos miúdos e compassivos.


- Falar com coerência perto de toda... De toda... De toda aquela deusidade do Arthur... – falou com as bochechas absurdamente vermelhas, ao se sentar na cama de Helena e pegar o diário em que ela escrevia.


Helena tomou o diário de Natasha, o fechou e colocou dentro do armário onde guardava suas roupas. Natasha estava, por determinação de sua mãe aprendendo a ler, e Helena não queria que a amiga soubesse de certas coisas que ela escrevera em seu diário, como o pedido feito no dia anterior...


- Não é tão difícil – retrucou Helena pensando “Era só o que me restava, minha melhor amiga apaixonada pelo Arth” – Ele é muito mais que apenas músculos – falou e logo que as palavras saíram de sua boca se arrependeu, Natasha tinha, muitas vezes, conclusões precipitadas sobre os assuntos errados.


- Ah, é? – Natasha olhava para ela com um olhar acusador, nem se dando ao trabalho de disfarçar o tom de ciúme acentuado em sua voz – Imagino que a integilentissima Helena Ravenclaw saiba o que o poderoso Arthur Gryffindor esconde por detrás dos músculos.


Natasha tinha o péssimo vício de errar as palavras quando se alterava demais e Helena ao escutar o ‘integilentissima’ confirmou algo que já desconfiava, Natasha estava apaixonada pelo Arthur...


- O que eu quis dizer é que o Arthur tem uma mente aberta, e sabe opinar sobre os mais variados assuntos, eu quis dizer que ele conhece diversos assuntos e é uma pessoa, por mais incrível que isso possa parecer, inteligente...


- Eu sei – Natasha voltou ao seu tom de voz habitual, quase pulando de tanta empolgação na cama de Helena e abraçando um dos travesseiros – E existe alguma coisa que aquela obra de arte não saiba fazer...?


- Hm... – murmurou Helena escolhendo cada palavra com cuidado – pelo que eu saiba ele ainda não toca nenhum instrumento...


Natasha lançou o travesseiro em Helena que se desvencilhou rindo e disse com uma voz animada:


- Lena! Não estraga! Por favor, deixe-me fantasiar o perfeito sir Gryffindor a minha maneira...


- Se você deixar minha cama e meus travesseiros inteiros, claro! – respondeu Helena em um tom animado e sarcástico.


- Helena! Nat! Venham aqui em baixo! – gritou a voz aguda e suave de Helga Hufflepuff.


- Já estamos indo mamãe! – respondeu Natasha com um sorriso no rosto.


Elas desceram as escadas rapidamente, e, ao chegarem à sala se depararam com panos cobrindo as entradas de luz, permitindo que apenas alguns feixes de claridade iluminassem as partículas de poeira que dançavam no ar, como minúsculas bailarinas flutuantes.


Um candelabro com três velas era a única fonte de luz, na mesa os mais variados ingredientes se encontravam, a cera derretida das velas gotejava diretamente na madeira escura da mesa, Rowena cantarolava baixinho sentada no chão e com um pilão amassava algumas ervas com força e precisão.


- Nat nos ajude aqui; Helena preciso que você leve este frasco para o Godric o mais rápido possível, vá voando, literalmente, diga a ele que eu não tenho certeza se irá funcionar, mas foi o melhor que pude fazer.


Helga passou um delicado frasco a Helena com um líquido verde azulado, Helena queria perguntar o que era, mas de algum modo pressentiu que aquele não era o momento apropriado para perguntas, então apenas pegou o frasco e correu até estar longe o suficiente de qualquer olhar curioso, se transformou na águia alva e voou seguindo para a casa dos Gryffindor.


***


Vista de cima a propriedade do sir Gryffindor tinha um belo e colorido jardim, com flores das mais variadas e mais raras, logo a imensidão de cores inundou os olhos de Helena, ver aquele imenso jardim era algo que ela adorava desde muito pequena.


O casarão era muito bem cuidado, mas passava uma impressão de familiaridade e conforto, a fachada fora feita para se assemelhar aos mais belos castelos dos mais ricos príncipes, os tons de creme e branco davam um aspecto limpo e claro de toda a casa, as lustrosas árvores de copa alta pareciam uma moldura verde para todo aquele quadro.


Helena pousou bem próxima a porta e se destransformou, bateu a porta e esperou durante alguns segundos até uma elfa vir abrir a porta com uma mesura tão profunda que quase a fez tombar para frente.


-Olá Wishie – cumprimentou Helena entrando na casa, mas a elfa a fitou e Helena percebeu que aquela não era a velha elfa que a recebia quando criança, esta elfa tinha os olhos negros que pareciam duas grandes jabuticabas, e, suas vestes eram bem mais limpas e bem cuidadas que as da outra elfa.


- Eu não ser Wishie, senhora – falou a elfa com uma voz estridente – Meu nome é Pixie.


Helena concordou levemente com a cabeça e perguntou à miúda elfa:


- Onde está o senhor Godric?


-Estou aqui Helena! – falou uma voz rouca vinda do alto das escadas, Helena subiu rapidamente por aquelas escadas de pedra sabão, ao chegar ao andar superior viu uma porta entreaberta de onde não saia luz alguma, as janelas haviam sido cobertas, Godric se encontrava sentado, ao pé da cama.


Uma criança de cabelos ondulados e castanhos iguais ao do pai estava deitada com gotas de suor escorrendo por todo o seu corpo, a elfa que Helena logo reconheceu como sendo Wishie, devido aos cabelos ralos bem presos a um coque no alto da cabeça, segurava uma bacia com toalhas.


Helena viu que o garoto na cama era o Natanael, o irmão mais novo do Arthur, ele tinha uma aparência muito doente e tossia constantemente, Helena se aproximou sem saber ao certo o que fazer e olhou para Godric, seu rosto estava pálido e distante, ela entregou o frasquinho que Helga havia lhe dado e disse:


- A Helga disse que não tem certeza se vai funcionar, mas que fez o melhor que pode...


- Obrigado Helena – falou Godric com a voz rouca e abatida, seu rosto era tão vazio e distante – pelo menos posso ter alguma esperança... O Arthur está lá nos jardins, ele não suportou ver o irmão mais novo nesse estado, tente animá-lo por mim...


Helena fez uma menção com a cabeça, desceu as escadarias e passou rapidamente pela porta, nem ela agüentava ver o estado do pequeno Natanael, ela não precisava pensar muito para saber onde Arthur estava em toda a imensidão daquele jardim, simplesmente caminhou até as roseiras que Justine, a falecida esposa do Godric, havia plantado e cuidado com tanto zelo.


- Sabia que ia te encontrar aqui... – falou ao avistar o homem que se sentara perto de uma figueira na grama cuidadosamente aparada.


- Por que Helena? Por que nossa família? – Arthur a olhava com uma expressão indecifrável, mas seus olhos estavam tristes, mais vazios que os do pai.


Helena o observou e viu que seu rosto mostrava os sinais de que ele havia chorado, e muito, ela sabia que ele não suportaria perder o irmão mais novo, ainda mais fazendo tão pouco tempo que sua mãe havia morrido.


Ela simplesmente sentou-se ao lado dele sem dizer uma palavra, para isso não havia resposta, Natanael estava muito mal, mas Helga era a melhor curandeira que Helena conhecia em um raio de quilômetros, ela não sabia o que dizer, tudo ia ficar bem? Ela não poderia ter certeza absoluta disso...


-Arth... – começou buscando palavras no silêncio.


-Olhe para essas plantas – falou ele interrompendo-a – todas as criaturas morrem apenas quando se é para morrer, quando já não cumprem mais sua função e devem dar espaço para outra, cada folha da árvore só cai quando vai dar espaço para uma nova folha, nunca se vê na natureza uma folha verde caindo, a não ser que seja arrancada brutalmente pelas mãos do destino, essa criatura abominável e tenebrosa que leva aqueles que ainda exerciam sua função, levando aqueles que ainda tinham vários anos pela frente, a morte é uma senhora tão impiedosa e gananciosa que quer levar até aqueles que são tão novos, nem começaram a viver ainda, não viram o lado belo da vida, por que isso Helena? Se Deus existe mesmo como eles afirmam existir, por que há tanta dor e sofrimento no mundo? Será que merecemos tudo isso? – ele tinha um olhar perdido nos raios do pôr-do-sol, como se encontrasse naquele laranja as respostas para os problemas da humanidade.


Helena o abraçou, coisa que nunca havia feito, e sentiu, naquele momento, que se tivesse que se casar com alguém que este alguém fosse o Arthur ao Jhon.


Dessa vez foi ela que disse em um murmuro baixo:


- Vai ficar tudo bem... Daremos um jeito de tudo ficar bem...


Ele passou a mão delicadamente pelo rosto dela e deu-lhe um beijo na testa, era o máximo que podia fazer naquelas condições, foi nesse momento que decidiu que ia pedir a mão de Helena o mais cedo possível, e, no fundo, apesar de todo o temor que o rodeava, ele sabia que ela iria aceitar, não havia muito tempo, em uma semana o barão já estaria cansado de esperar por uma resposta e viria ele mesmo exigir o ‘aceito’, mesmo que não fosse isso que ela queria.

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