Desejos



Capítulo 2: Desejos


- C-como? – gaguejou Helena surpresa com o pedido e olhando para o anel posto delicadamente na caixinha que Jhon segurava


- Por favor, Lena – ele a chamou pelo apelido que usavam quando eram crianças – Torne-se minha esposa, você sabe que te darei o mundo se pedires assim, eu a quero desposar...


- Jhon – interrompeu Helena ao recuperar a fala – eu fui pega de surpresa e essa não é uma decisão que se toma assim, preciso de um tempo para pensar e refletir sobre o seu pedido...


- Tome o tempo que for necessário, mas se não for favor demais use o anel enquanto isso ele lhe pertence de todo jeito, foi feito exclusivamente para você – ele a olhou e pegou a sua mão como se tivesse medo de quebrá-la tirou o anel da caixa e o colocou na mão de Helena.


Jhon Slytherin saiu da casa de Helena com um sorriso secreto no rosto pensando.


“Ela não ousaria recusar, é a melhor oferta que pode receber, além do título de baronesa, não demorará muito e Rowena se ainda tiver algum juízo a obrigará a casar, quem melhor nesses tempos se não um dos filhos dos fundadores...”


- Senhor, senhor barão, sua carruagem já está pronta, senhor, a espera de sua baronesidade...


O barão estava tão absorto em seus próprios pensamentos que nem se deteve ao erro do criado apenas caminhou até a carruagem que o esperava, já era de noite e no céu uma lua redonda e prateava brilhava absoluta ao fundo, uivos ainda se ouviam ao longe, não eram uivos de lobos ou coiotes como tantos achavam, aquela ululação vinha de dois lobisomens, um de identidade desconhecida, o outro era o motivo de várias pesquisas no mundo bruxo referente ao tema...


- Será que esses malditos retardados não podem se quer parar com essa lamentação – reclamou Jhon subindo na carruagem preta com o brasão da cobra feito de prata na porta – esses berros estão me dando nos nervos...


- Senhor, eles não tem culpa essa é a condição deles, eles não têm... – começou o criado que agora estava em seu lugar de cocheiro.


- Não me venha com impertinências Rodolphus – interrompeu o barão – ou você acha que eu não sei o modo que as criadas o chamam, vamos Pirraça, você não pretende voltar aquele sanatório do qual meu pai com tamanha misericórdia o tirou? – provocou Jhon.


- Não, não senhor barão – respondeu timidamente o servo.


- Então não me corrija! Agora me leve logo ao meu pai, estou cansado de seus comentários maçantes.


Sem emitir nenhum outro som Rodolphus guiou a carruagem dos Slytherin até o belo casarão nos arredores da cidade, o servo era um homem de baixa estatura e com algum peso extra, os botões de sua camisa pareciam querer pular para fora e sua calça continha as marcas da costura feita para adaptação das roupas usadas pela família sonserina, ele não se importava com suas vestimentas, nem com o modo como era tratado por todos daquela nobre e rabugenta família, na verdade estava grato pela chance que haviam lhe oferecido para poder sair do sanatório que anos antes morara, apenas de pensar naqueles tenebrosos e obscuros dias ele tinha calafrios, como horrível fora quando seu pai trouxa o mandou para aquele lugar, sua mãe havia morrido sem dizer o que era, e ao manifestar os primeiros sinais de magia o pai o denunciou de heresia e disse entre lágrimas falsas que seu único filho havia sido possuído por um demônio, o que levou Rodolphus não a fogueira, por sorte, mas ao sanatório da cidade, onde era tratado como uma espécie de leproso.


Ao longe na estrada já se observava a imponência e o poder da família Slytherin, os jardins da vistosa casa tinham um complicado labirinto formado por cercas vivas por onde apenas aqueles dotados de magia conseguiam passar pronunciando algumas palavras em latim, os trouxas diziam que os galhos dos arbustos já engoliram vários ladrões e pessoas que não foram convidadas devorando-lhes a carne e escondendo os ossos. A verdade era que eles se perdiam e não conseguiam sair mais daquele delicado sistema de vielas verdes.


Os portões de prata pura exibiam o brasão da família envolto em filigranas e floreios detalhadamente entalhados por um dos melhores ourives da época, as estatuas pareciam ter saído do jardim da Medusa de tão reais, anjos com expressões tão tristes que pareciam descobrir um apocalipse antecipado adornavam uma fonte que ficava exatamente na frente da escadaria que levava a porta da mansão.


Os degraus de mármore reluziam do polimento constante que os elfos domésticos faziam diariamente, e o corrimão não ficava para trás em termos da perfeição assustadora que rodeava a mansão Slytherin.


O Barão entrou sem ao menos recuar, passou pela enorme porta de madeira alva ao entrar na enorme sala tudo exaltava a mesma grandeza exterior, o preto, o verde e a prata dominavam móveis e paredes, a sala era ampla e bem iluminada por castiçais de cristal, os sofás eram de um couro preto brilhante coberto com mantas verdes com o brasão da família, uma mesinha baixa ao centro da sala contendo diversas edições de livros raros e bem quistos naquela época, ao fundo, uma enorme árvore genealógica que os ligava a Herpo, o sujo, o primeiro bruxo ofidioglota que se tinha conhecimento da história, com algumas manchas que se assemelhavam a queimaduras nos locais daqueles que haviam se casado com trouxas ou nascidos trouxas.


O pai de Jhon, Salazar Slytherin, se encontrava sentado confortavelmente com um roupão negro como seus olhos, seu cabelo já indiciava os primeiros anos de sua velhice, com alguns persistentes grisalhos aqui e acolá; ao perceber a presença do filho mais novo Salazar ergueu os olhos e murmurou um ‘olá’ bem humorado.


- Veja só isso meu filho – falou passando-lhe um delicado manuscrito – essa criatura obedece apenas aqueles que são dotados de poderes iguais aos nossos, pena que o conhecimento de como produzir tal criatura se perdeu ante os séculos...


Jhon leu brevemente as folhas de papiro que seu pai havia lhe passado e sentou-se ao seu lado com pensamentos distantes.


- Então – perguntou curiosamente a voz rouca do patriarca – como foi?


- Como foi o que?


- Ora, meu filho, não tente me enganar, há dias que sei que tem alguma jovem bruxa mexendo com teu coração... E sei que suas supostas cavalgadas a noite te cavalos não tem nada...


- Meu pai você deve estar imaginando coisas...


- Não senhor, Jhon, tu podes enganar a todos, mas seu velho pai sabe das coisas, fostes propô-la em casamento, não?


Jhon olhou para o pai e arqueou uma sobrancelha, como ele havia descoberto? Será que seu pai sabia quem era a misteriosa bruxa? E, se soubesse, será que estava feliz ou abatido com o fato do seu filho mais novo ir se casar com uma corvina e não com uma sonserina, como era de costume?


- Desculpe pai, vou deitar-me, estou muito cansado... – falou por fim, subindo uma escadaria espiralada rapidamente deixando seu pai sozinho na sala.


- Claro, Claro... – murmurou Salazar com um olhar desconfiado e voltou a sua pesquisa murmurando desta vez algo que se assemelhava a – Se eu tivesse aquele diadema...


***


Ainda em sua casa Helena observava o céu da janela do seu quarto, pensando, havia tão pouco tempo para aceitar o pedido do Barão e se casar com ele, ou, negá-lo e decidir de uma vez entrar para um convento, mas como entrar para um convento sendo bruxa? Seria um tanto quanto contraditório, olhou mais uma vez para o anel em seu dedo, o complexo padrão de safiras e esmeraldas formava um desenho que se assemelhava a uma águia envolta numa cobra.


                - Se não tiver outro pretendente em um mês, me casarei – murmurou por fim e se lançou na cama demorando em adormecer, mas ao dormir sonhando com uma pacifica floresta na Albânia, onde estivera há muito tempo com sua mãe e irmã.

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