Capítulo 10



Capítulo X


Flashback – Último semestre do último ano
Local: casa dos Evans
Horário: 16:41h
Quando: 29/Março – segunda-feira


Era um pouco impossível se concentrar ao lado de James. Desde a tarde em que ele tinha beijado Lily, ela achava que o garoto estava se portando um tanto quanto diferente. Mais apreensivo, talvez. James não parava de lançar a ela sorrisinhos sem graça e por mais que eles não carregassem nada de tão diferente, conseguiam mexer com o estômago de Lily. Borboletas habitavam seu estômago tanto quanto habitam uma floresta tropical.


- Como vai a questão dezoito? – a voz de James reverberou por conta do silêncio grandioso que tinha se instalado no quarto.


Lily tirou os olhos da folha quase totalmente preenchida um pouco tonta e confusa. Seus olhos bateram nele e esta repentinamente se recordou do por que James estar ali.


O trabalho de Álgebra.


- Hm, na verdade não sei – a voz de Lily ondulou sonolenta e devagar.


Por que não conseguia agir normalmente? Como é que James conseguia fazer-lhe esquecer do tempo e do espaço? Afinal, era apenas o James, seu amigo.


James apoiou na mesa, mais perto ainda de Lily, arrastando suavemente a lista de exercícios para si.


- Deixe-me ver – pediu ele, lendo a questão de modo calmo e concentrado. Lily esperou. O que diria se a resolução da questão fosse simples e ela não soubera entender? De repente, a situação confusa e estranha a fez gelar.


- Ah, você esqueceu-se de atribuir o valor da constante ex – James lhe disse, apontando para as letras e para os números.


Lily assentiu, perguntando-se por que seu coração estava tão acelerado. James sorriu maroto.


Algo tinha mudado na expressão séria de Lily. Agora seu rosto estava aflito e contido.


- O que foi? – James lhe perguntou; os olhos penetrando nos dela, quase como solidário. Lily olhou para o chão, desconcertada. Aquilo era tão insuportável, porém, ainda assim, tão bom. Aquele sentimento inexplicável e desconhecido que lhe invadia toda hora só de estar ao lado de James a estava deixando... louca? Ela nunca se sentira assim antes.


Lily não sabia por quê, mas estava hiperventilando. O ar entrava e saía de sua boca machucando sua garganta repentinamente seca, e seu coração tamborilava extasiado em seu peito. Esqueceu-se dos sintomas quando sentia uma das mãos quentes de James percorrendo a extensão de sua bochecha. Uma descarga elétrica verdadeiramente potente a fez ofegar mentalmente e fechar os olhos calmamente, mergulhada no momento enquanto experimentava pela segunda vez os lábios mornos e úmidos de James encostando-se aos dela.


James quebrou o beijo por alguns segundos e sorriu assim que ela abriu os próprios olhos e se deparou com ele. Fez seus dedos escorregarem para os dela, vagarosamente, e com extrema minúcia. Assim que ele juntou mais uma vez seus lábios inundados pelo desejo com os de Lily, continuou gentil, embora estivessem mais urgentes. As mãos desajeitadas de Lily na nuca de James tentavam aprofundar o contato. Ambos levantaram sem pressa de suas cadeiras fofas, ainda colados pelos lábios, e Lily sentiu seu corpo ser conduzido para algum lugar. Tinha certeza de que seu fôlego se esvaneceria e, então, fosse desmaiar, mas assim que sentiu seu corpo tombar com cuidado no colchão, pôde inspirar com força e continuar degustando aquela sensação que lhe assaltara segundos antes.


Apesar de tentar se convencer de que aquela era a atitude errada e praticamente inadmissível, Lily não conseguia parar de estar em sintonia com aquele corpo. Os beijos agora se encaminharam para uma intenção diferente; tão apaixonados, tão amorosos, tão sensuais – quase desesperados. Os dois se emaranharam em uma explosão emocional doce e indomável. Lily podia sentir o calor daquelas mãos em seu corpo. Os gemidos ecoados que tentavam ser reprimidos, agora estavam em uma nova velocidade confusa.


James não se permitiu perder um segundo sequer daquilo tudo, por isso fez força para permanecer com os olhos bem abertos. Ele soube desde o começo que Lily não era como Kelly. Com Kelly, o amor podia ser misturado a qualquer outro sentimento prazeroso e, com certeza, ir para cama com ela nunca tinha sido muito difícil. Porém, naquele primeiro beijo que dera em Lily no colégio, entendera: Lily era especial. Para ela, o amor deveria ser conquistado e experimentado aos poucos, sem presa.


Lily sentia a boca dele descobrindo cada centímetro da pele alva de seu pescoço, quando sentiu aquela sensação, que começava no meio de suas pernas e que se espalhava rapidamente para o resto de seu corpo, parte por parte. E percebeu que nada mais importava. Deixara de pensar na mãe, em Kelly, nos elogios de seus professores. Deixara até mesmo de lado o bom-senso. Tudo que queria era permanecer a suportar aqueles arrepios e a repentina moleza que atacou suas funções. Deu-se conta, então, que a vergonha e a satisfação estavam tão presentes naquele momento quanto jamais estiveram. Ainda que sensações não tão boas antes tivessem lhe feito quase parar, ser conspurcada daquele modo estava sendo muito bom.


x.x.x 


Contra toda a razão, um tempo depois, os lábios de James voltaram a procurar os de Lily, agora calmos e exaustos. Ela se aninhou em seu peito, deixando-o abraçá-la e acariciar seus cabelos. Ali na segurança daqueles braços quentes, entendeu já deixara de pensar nele como o James Potter. Não se importava se aquilo era certo ou errado, somente continuou experimentando a sensação explosiva de seu peito. Ouvia a respiração e os batimentos cardíacos descompassados de James e se permitiu fechar os olhos.


Ela tinha certeza de que James não fugiria.


- Você tem um cheiro muito bom, sabia? – a voz de James parecia vir de muito longe, um pouco sonolenta e rouca.


Lily tirou a cabeça do tórax dele e a deixou cair no colchão. Voltou seus olhos para ele, apaixonada por aquela sensação.


- Sabe o que acabou de fazer, não é? – ela lhe indagou.


- Sei o que acabamos de fazer – ele a corrigiu, rindo.


Lily fez que não com a cabeça e franziu a testa.


- Não, não é isso. É que você acabou de, você sabe. Aquilo – Lily esperou que as palavras pudessem lhe fazer sentido, pois achou que não iria conseguir suportar olhar para ele por muito tempo. Praguejou por saber que estava corando.


- Ah, sei. Aquilo. Entendo – ele disse, mas no segundo seguinte a estava beijando de novo.


Lily ficou aliviada por James não estar falando em um tom sarcástico ou de escárnio.


Ficaram em silêncio por muito tempo, até Lily decidir quebrá-lo:


- Você tem que me prometer uma coisa – sua voz estava séria.


James sorriu:


- Qualquer coisa que você quiser.


Lily sentou-se no colchão, sentindo um tanto desorientada.


- Não conte nada a Kelly, okay? O que aconteceu aqui apenas aconteceu. Tudo bem? – ela lhe disse.


James juntou as sobrancelhas.


- Como assim?


- Bem, você não pode largar a Kelly para ficar comigo. Prometa que não fará isso – os olhos que Lily estavam exigentes.


James sentiu seu estômago despencar.


- Não posso lhe prometer isso. Acho, verdadeiramente, que estou apaix...


- Não diga isso! – Lily mandou com a voz aguda – Caso você não se lembre, você tem namorada. Pare de ser idiota.


James suspirou, aborrecido.


- Lily, você sabe que o que aconteceu hoje não foi meramente uma tarde de sexo. Você sabe. Existe muito mais amor do que desejo entre nós. E você não pode querer fugir disso.


- Eu posso fugir de que eu quiser! Agora, se você quiser destruir a sua própria felicidade terminando com a Kelly, porque acha que eu sou uma menina fácil, vá em frente, mas não corra para mim se tudo der errado – Lily o olhava com raiva.


- Sei que você tem uma personalidade forte, mas você acabou de se render a mim.


- Você acabou de trair a sua namorada, James! – Lily gritou.


James riu.


- Ah, claro, como se ela não fizesse isso comigo todas as noites de sexta-feira – ele disse irônico.


- Espera, então você já a traiu mais vezes? – ela levou as mãos à boca.


- Não. Você foi a primeira menina que mexeu comigo desde que estou com Kelly – ele falou sincero. Suspirou – Lily, eu não amo mais a Kelly. Descobri isso muito tempo antes de lhe conhecer, aliás. De repente, fui me dando conta que tenho outros sonhos para realizar.


- Ah é? E que outros sonhos são esses? Ser odiado por todos na escola e namorar uma garota fracassada e sem atrativos?


- Sabia que existem caras que a amam exatamente do jeito que você é?


- É, os babacas – ela respondeu.


- Certo, não me incomodo por ser um babaca – James deu de ombros.


Lily ficou quieta. Como pôde deixar aquilo ir tão longe?


- É melhor você ir embora. Minha mãe está prestes a chegar e não vai ser legal se ela o vir, hm, assim – Lily disse com a voz mínima.


- Você deveria parar de ter vergonha das coisas que lhe faz feliz – ele a recomendou, vestindo a cueca.


X.X.X


Uma semana estava sendo suficiente. James pensou que talvez Lily tivesse razão, mas voltou a questionar suas próprias decisões. Seus sentimentos de nada valiam? Por que Lily sempre achava que seus caminhos eram os que mais estavam corretos?


Estava cansado de esperar.


Porém, por mais que desejasse fazer as coisas certas daquela vez, sabia que de nada adiantaria se Lily apenas o ficasse evitando, como se não o conhecesse. Às vezes era mesmo difícil conviver com alguém com tanta personalidade e por isso sentia falta de apenas “mandar”. Kelly, por mais birrenta que fosse, sempre acatava os desejos do namorado. Talvez tivesse sido isso. O namoro era fácil demais. Ele nunca tinha surpresas e jamais se deliciava ao olhar nos olhos da namorada. Talvez, um tempo isso tivesse sido possível, mas não depois de tanto tempo. O namoro se desgastara, tal como uma rocha sendo atingida por ondas gigantescas.


Ele tinha, James chegara à conclusão, se esforçado para não morrer na praia. Para depois de anos encontrar uma pessoa que realmente tinha conseguido fazer sentir tudo o que ele achava que experimentaria com Kelly.


Por isso, ele tinha decidido: aquilo tinha que terminar. Não queria um mau término, mas ansiava por ele. Não queria ver Kelly chorando ou correndo atrás dele. Mas era necessário cuidar de sua própria vida a partir daquele momento. 


~~~~ 


Narrado por: Lily Evans
Local: Prédio da Fifteen
Horário: 17:43h
Quando:
07/OUTUBRO – quinta 


Não era difícil de aceitar. Eu sabia por que a maioria das pessoas desprezava a minha profissão. Não que meus pais estivessem inclusos no pacote, porque eles foram os primeiros a me apoiar na busca da minha conquista. O negócio é que, ainda que todos saibam que a comunicação é a chave para um mundo globalizado, grande parte da sociedade não classifica o jornalismo como uma profissão muito promissora; acham que é mais robbie do que um emprego em si. Mas a minoria entendia que eu apenas estava fazendo o meu trabalho para a minha própria satisfação, não pelo dinheiro. Claro que o dinheiro é uma parcela importante na vida, mas não é completamente essencial.


E eu bem estava muito irritada com todos que apontavam para mim e, de alguma maneira, me rebaixavam a um verme, ou a alguém que não tinha muito prestígio na vida. Quero dizer, o que as pessoas que dão aula de Educação Física podem dizer quanto a isso? Será que eles são piores do que eu, apenas porque não vivem em uma salinha e não são mandados por uma chefa tirana?


Entendo que a cada mais ou menos cinco anos as requisições para empregos variam; em uma década o mundo precisa mais de engenheiros, em outra mais de farmacêuticos. Mas isso, de maneira alguma, significa que eu mereço menos do que um engenheiro aeronáutico.


E tudo bem, admito, o mês de outubro não estava sendo fácil, talvez por isso eu estivesse mais irritada do que o normal. Mal tínhamos começado o mês, e Maggie já tinha arremessado uma tonelada de mini-coisinhas para eu preparar (relatórios de outros setores, meus próprios relatórios, novos layouts e novas idéias; e tudo isso junto, se quer saber, é muita coisa para uma só pessoa fazer e se preocupar). Kath, que era muito calma na maioria do tempo, também estava começando a se estressar seriamente com todas as coisas que lhe rodeavam (principalmente com a Maddie, a menina que era encarregada de levar e trazer as papeladas de um departamento a outro, pois sempre estava mais do que confusa e sempre entregava correspondências e contratos trocados).


Nós estávamos trabalhando mais do que nosso metabolismo conseguia e mais do que suportávamos fisicamente. Não que eu já não estivesse habituada à correria diária, mas definitivamente sentia que estava esmorecendo aos pouco de tanto cansaço. Mal me permitia ligar a TV à noite ou conversar mais do que meia hora com meu namorado. Eu estava sempre fora de casa, caminhando feito uma gazela pronta para ser abatida por um leão e massageando as minhas têmporas com freqüência assustadora.


James e eu tínhamos saído algumas vezes para conversar em praças ou até mesmo em seu restaurante, porém ele nunca mais tinha tocado no assunto “passado”. Muito pelo contrário, parecia ter ficado feliz por ter ganhado uma explicação sincera de mim.


Eu até mesmo tinha ido visitar seu apartamento, que ficava quase ao lado oposto da cidade. O espaço era grande e bastante aconchegante. Parecia meio enorme demais para uma só pessoa, mas James disse que estava feliz ali.


Nós estávamos, de um modo muito absurdo, resgatando a pontinha de amizade que nutríamos um pelo outro. Eu estava, pela primeira vez desde o nosso reencontro, feliz por estarmos novamente convivendo em perfeita pacificação.


James já tinha me buscado no prédio da Fifteen umas duas vezes, depois das nove da noite, quando o meu carro foi para a revisão e o Max não iria conseguir sair de reuniões intermináveis.


Ainda que eu me sentisse alegre na maior parte do tempo que estivesse com James, não podia negar que aquela reaproximação mexia comigo e me fazia relembrar uma parte de minha vida que eu tentava a todo custo me desapegar.


~~~~ 


Narrado por: Lily Evans
Local: Prédio Lancelot
Horário: 18:09
Quando:
30/OUTUBRO – sábado


Naquela tarde, muita cansada, cheguei ao prédio, peguei as correspondências com o Ploo e logo sumi. O Ploo queria me contar sobre o novo jardim, mas não o escutei direito. Precisava me jogar em minha cama e dormir até o dia seguinte. Sábados, apesar de para alguns serem um dia que quase folga, para mim significava mais trabalho. Normalmente Maggie não podia nos segurar por muito tempo, mas desde que estivesse na Fifteen tudo deveria seguir as mesmas regras e continuar na plena perfeição e me pleno andamento.


Abri a porta do elevador e dei de cara com o Max de terno abrindo a porta de nosso apartamento.


Uma felicidade inexplicável tomou conta de minha canseira.


- Oi, Max – falei, juntando-me a ele.


Ele sorriu, abriu a porta e a segurou para eu passar.


- Como foi hoje? – ele quis saber.


- Cansativo e estressante. Como sempre.


- Maggie estava de mau-humor?


- Ela sempre está de mau-humor – rebati.


- Faz um suco para nós? Estou com um pouco de calor com esse terno – Max me pediu.


- Claro. De quê?


- Do que tiver – ele me respondeu, atirando a chave no balcão.


Fiz um suco de saquinho sabor morango. Eu, pessoalmente, nunca gostei de nada que levasse morango, nem mesmo tortas, mas fiz um copo para mim também. Precisava de um refresco para animar aquele fim de tarde.


- Precisamos conversar – Max me disse.


Gelei. O quê? Isso, com certeza, significava problemas.


- Sobre o quê? – perguntei.


- Sobre nós.


- O quê? – meu coração se acelerou, temeroso.


- Sobre nós – ele repetiu de boa vontade.


Pronto! Milhares de pensamentos passavam por meu cérebro.


Que ele descobriu sobre o meu passado e me odeia por eu ter escondido sobre o James.


Que ele não me ama mais.


Que a mãe dele o está tentando fazer com que ele me largue.


Tudo bem, na verdade eram só alguns pensamentos, mas nenhum deles eram positivos.


- Hoje reservei um restaurante para nós, para sua família e para a minha família. Quero que convide seus amigos, a Kath e o James – ele me disse, francamente.


- Mas... – tentei descobrir o que ele tinha em mente, gaguejando feito uma foca, mas desisti depois de cinco “mas”.


- É sério – ele riu, agarrando minha cintura com vontade – É uma comemoração.


- Do que está falando, Maxxie?


- Ligue para seus amigos e se arrume. O restaurante está marcado para as nove – ele me informou, rapidamente, deixando minhas mãos e indo para o escritório.


- Estaremos comemorando o quê? – perguntei.


- Nós – ele respondeu simplesmente e se foi.


Deixou-me sozinha na sala. Não sabia o que de fato pensar. Tudo estava fadado a algo bem ruim. Para mim.


Peguei meu celular e procurei o telefone de Kath. Ela atendeu na segunda chamada.


- Hey.


- Kath?


- Não, a Bela Adormecida. Sim, sou eu, Lily.


- Ah. É – fiz um silêncio rápido – Hm, olha, o Max quer... bem, não, eu quero lhe convidar para um jantar. O Max disse que é uma espécie de comemoração; a que eu não sei, mas seria de suma importância se você fosse e não deixasse com que eu caia no meio do restaurante, por exemplo – minha voz saiu apressada e descuidada.


- Ah. Nossa. Que estranho. O Max não é de fazer reservas, não é? – Kath estava muito surpresa.


- Ele me disse que se trata de nós – meu tom estava febril.


- De vocês? – Kath estava confusa e admirada – Uau.


- O que acha que ele quer?


- Bem, vocês já moram juntos... então... e ele nunca disse que quer se casar com você... então, vai ver ele quer comunicar à sua família que vocês adotarão um cachorrinho! – ela riu.


- Kathleen! – disse veemente.


- Não, sério. Eu não faço idéia – ela segurou um pouco o riso.


Puxei o ar para meus pulmões com barulho.


- Tem mais uma coisa – arrisquei.


- O quê?


- Max me disse para convidar o James também.


- E?


- Bem, e daí que não sei se é uma boa.


- Bem. Você não vive me dizendo que tenho minhocas na cabeça por pensar que você ainda é apaixonada pelo James? E se você realmente não é mais apaixonada por ele, qual é o problema em convidá-lo também?


Droga! A Kath sempre me coloca em um paredão.


- Tudo bem, entendi.


- Você ainda é apaixonada por ele, não é, Lily?


- Pelo amor de Deus, não fale bobagens! Claro que não sou!


- Hm. Sei.


- Certo, é melhor eu desligar. Tenho que telefonar para o James. Passe aqui em casa, certo?


- Combinado.


E ela desligou.


Fui até o escritório e perguntei o nome do restaurante que Max tinha reservado.


Alain Ducasse At Dorchester.


Caramba.


Cozinha francesa e pratos caros? Então era mesmo algo importante para ele. Porque Max não era de convidar a minha família e a dele para jantar fora. Juntamente com meus “amigos”.


Vai ver ele tinha sido enfeitiçado e achava que tinha caído no casamento errado, como aconteceu com o Nicholas Cage em Um Homem de Família.


Disquei o número do restaurante do James. Como ainda eram seis horas, achei que James ainda estivesse por lá. E caso não estivesse, Hannah estaria e poderia me dar o telefone da casa dele.


- Alô? – uma voz afobada me atendeu.


- James?


- Não, o James está conversando com o cara da Mojo. Quem quer falar com ele?


Como? Então existia mesmo um caro da Mojo? James não estava me querendo levar para cama fingindo poder arranjar um emprego à altura para mim?


- Hm, é a Lily – respondi, sentindo meu estômago se revirar de remorso.


- Lily? Lily Evans? – a mulher falou mais alto. Era a Hannah. Reconheceria aquela voz de esquilo a quilômetros.


- Sim.


- Ah, oi, Lily! – ela falou receptivamente – O James já vem. Vou chamá-lo.


- Ah, okay. Eu aguardo.


Ouvi conversas murmuradas e pratos batendo. Típico som de um restaurante lotado.


- Lily? – a voz grossa encheu minha cabeça.


- Oi, James.


- Oi.


Fiz um silêncio, enquanto tinha uma luta mental. Convidar ou não convidar? Aliás, o que ele tinha a ver comigo?


TUDO BEM. PAREI.


- Hm, quero convidá-lo para um jantar. Tudo bem? Pode ir? – perguntei.


Ele riu longamente.


- Claro. Eu já iria para casa. A que horas?


- Às nove. No Alain Ducasse At Dorchester.


- Uau, o quê? Sabe que nunca entrei lá?


- É, nem eu. O Max está convidando tudo mundo. Sei lá por quê.


- Alguma comemoração especial, talvez? – ele pensou alto.


- Ah, você acha? – falei sarcástica.


Ele riu mais uma vez.


- Tudo bem.


- Minha família e a dele também estarão lá. E a Kath. Não quero convidar muitas pessoas de fora, porque nunca sei o que o Max planeja, então quanto menos pessoas, melhor.


- Nossa. É isso que pensa do seu namorado? – ele soltou um risinho.


- Cala a boca – eu disse e desliguei.


Não sabia bem o que vestir. Algo com classe, talvez? Mas eu tinha classe. Deixara de vestir aquelas calças coloridas, não deixara? Quero dizer, eu não era nenhuma rockstar, de modo que tudo bem eu ter me livrado daquele meu passado tão estranho.


Deixei o telefone no gancho e fui para o banho.


Estava nervosa.


Max era muito esquisito. 


~~~~ 


Narrado por: James Potter
Local: Restaurante Alain Ducasse At Dorchester
Horário: 23:04h
Quando:
25/OUTUBRO – sábado


Lily estava à porta. Conversava assiduamente com Kathleen. Ambas estavam nervosamente belas. Lily, trajando um vestido vermelho curto, juntamente com um casaquinho de crochê e sapatos altos, assemelhava-se a alguém de muita importância à Hollywood. Sua amiga elegantemente tinha escolhido um vestido também, porém azul-escuro, de veludo e muito, muito pequeno. E seus sapatos continham bolinhas cor de carmim.


Lily me viu e tentou sair correndo para mim.


- Oi. Meus pais ainda estão a caminho. Pode ir sentar, se quiser. Eu estou conversando com a K...


- Lily – eu disse, tentando esconder o meu riso por sua afobação – Eu estou bem.


- Ah – ela logo deixou a tensão de lado e suspirou – Não repare se o Max querer que você beba junto a ele, okay? Ele parece estranhamente nervoso.


- Você também parece.


- Eu sei, mas não pretendo beber. Estou muito bem com a minha Coca Diet – ela me disse.


- Tudo bem – falei e segui em frente, caminhando em direção à grande mesa.


- James? – ela me fez parar com sua voz nervosa.


- O quê? – virei-me para encará-la.


- Obrigada – agradeceu.


Sorri. Algo muito quente e aconchegante invadiu meu peito.


- Não há de quê – falei e fui me sentar ao lado de um cara muito esquisito e que não parava de falar sobre a mulher.


 Lily continuou à porta por mais alguns minutos, até que seu namorado se levantou da mesa, fez um aceno para um amigo e foi de encontro a ela.


Conversaram por alguns instantes, mas Lily dizia algo como “não posso” e não saiu de lá da frente. Provavelmente aguardava os pais. Max retornou, comentou algo com alguém e voltou a entornar a garrafa de vinho cara em sua taça.


Vi Lily usar o celular, Kathleen cochichar algo e logo seus pais chegaram.


Fiquei surpreso ao constatar que nenhum deles tinha mudado muito. Especialmente a Sra. Evans. 


Lily, seus pais e Kath finalmente vieram se juntar a nós, após algumas trocas de cumprimentos gentis.


- James? – a mãe de Lily me perguntou, quando foi me dar boa-noite.


- Sim, olá – eu disse, sorrindo.


- É você mesmo? Achei que... bem, Lily nunca mais me disse sobre você! – a mãe de Lily me falou surpresa.


- É, eu ando um pouco ocupado, e há uns dois meses nos reencontramos.


- Trabalha em quê?


- Sou dono de um restaurante.


- Meus parabéns! – ela me congratulou.


- Obrigado – agradeci prontamente.


Ela continuou a saudar a todos, sendo muito cortês. O pai de Lily pareceu não se recordar muito de mim, mas fez questão de me cumprimentar, assim como sua mulher estava fazendo.


O jantar estava muito saboroso e agradável. Conversas vinham e iam e algumas vezes eu era incluído nelas.


Lily, sempre ao lado do namorado, às vezes se dirigia a mim, relembrando alguns episódios do passado (nada que chegasse muito perto de nosso namoro relâmpago) e eu adorava quando ela ria como se tudo estivesse tudo bem entre nós.  Aliás, adorava apenas vendo-a sorrir.


Depois de muitos risos e de muitas conversas divertidas, Max pediu nossa atenção. Lily escondeu o rosto e olhou para a amiga. Parecia estar torcendo para que sumisse para sempre.


- Mamãe, é sério, largue o suco. O champagne logo será servido.


- Para que o champagne, Max? – Lily quis saber, curiosa, mas sem deixar a expressão de desconforto.


Max a olhou, mas nada disse. Retornou à mesa.


- Bem, hoje quando acordei, achei que seria apenas mais um dia. Mais um sábado. Mas aí olhei para o lado e vi que Lily ainda dormia – ele olhou para Lily, que logo franziu a testa – E, de verdade, ela dorme de um jeito tão encantador – muitos da mesa riram – Tudo bem, não pedi a atenção de você para falar sobre o sono de Lily. Estou aqui, na frente de todos vocês... minha família, Sra e Sr Evans....amigos... para aproveitar a oportunidade para mostrar o quanto a Lily significa a mim, fazendo um pedido a ela – Max disse.


Bebi mais um gole da champagne que tinha acabado de ser servida.


Um pedido.


Haviam vários pedidos possíveis pipocando em minha mente. Mas nenhum deles realmente chegou perto da proposta de Max.


Lily levantou os olhou em expectativa.


- Lily... você quer se casar comigo?


Foi aí que a minha champagne se derramou na toalha de cetim perfeitamente bem colocada em cima da mesa redonda, provocando um gritinho de Kathleen.


- O quê? – sussurrei.


Mas eu não era o único a fazer essa pergunta. Os pais de Lily a ecoaram de maneira festiva e risonha.


Lily estava estática. Sua boca estava um pouco aberta e seus olhos piscavam de maneira precavida.


- Hm, o quê? – ela falou.


- Casar-se comigo, Lily. Você quer? – Max repetiu.


Meu coração pulsava rápido e desatinado.


- Eu... – seus olhos percorreram um por um dos convidados. Kathleen levou os dedos à boca, muito surpresa. Lily parecia enjoada e muito, mas muito corada.


Nisto, Max puxou uma caixinha de veludo preta de dentro do bolso inteiro no paletó. Ao abrir a caixinha, revelou um anel com uma pedra cristalina nele. Não era exatamente enorme, mas, em minha opinião, achei um tanto quanto extravagante para Lily. E ela não era desse tipo de coisa. Extravagante, sabe.


Lily arregalou os olhos verdes ainda mais. Palmas começaram a surgir, alegres e ritmadas. Olhei para o restante da mesa. Os pais de Lily e de Max e seus amigos estavam enlouquecidos. Expressavam extrema felicidade, assim como se tivéssemos ganhado a Copa do Mundo.


Max ainda sorria para Lily. Dava para analisar que ele estava muito feliz.


- Eu... – seus olhos pousaram em mim e logo ela esmoreceu – Hm, claro que sim – ela respondeu.


Grandioso.


Eu, enfim, queria morrer.


Então a mesa eclodiu em palmas altas de verdade. Assobios escaparam das bocas de alguns.


Lily olhou extasiada para todos, talvez, até mesmo demonstrando certa timidez.


Então, fizemos um brinde especial ao iminente casório.


E eu pedi licença e me retirei.


Simplesmente fui embora, porque comecei a ficar enjoado demais para permanecer naquele local. 


____

 N/a: vamos combinar que dez dias não arranca pedaço de ninguém, né. Eu só não postei antes porque faltava uma parte que eu tinha escrito no papel e tinha que estar em casa para passá-la ao word. Então, aí está. Beijos e queijos ;* 
ps: omg, eu estou surtando por causa do show do Paramore aqui em RS *-* É na terça e parece que já é amanhã *--* Bem, só queria compartilhar o momento com você, hum.
 
Nina H.
 


18/02/2011

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