Capítulo 5



Capítulo 05
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Hermione:
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Um amigo.
Aquilo era bom, eu sei que era. Basta pensar em todas as coisas lindas que se ouve por aí sobre amizade. Aquela pessoa em quem confiar, um companheiro para a vida.
Não tinha porque aquilo me aborrecer, eu dizia não querer amigos porque os amigos não me queriam, mas Draco queria, não sabia até quando, mas queria.
Eu agora tinha um amigo. Alguém que ia fazer com que meus dias fossem menos escuros. De uma maneira tão louca quanto eu mesma, confiava nele, o queria por perto, todos aqueles sentimentos clichês estavam me dominando, então era difícil compreender porque naquele momento, eu estava sentada no chão do banheiro, com a água do chuveiro escorrendo vermelha até o ralo e os pulsos ardendo.
Talvez fosse a certeza de que ele se arrependeria um dia, ou o contrário, a certeza de que ele nunca ia se arrepender e permaneceria ao meu lado, caminhando para a escuridão junto comigo. Oh Deus! Ele não merecia.
O fato é que algo estava doendo, forte demais para que os cortes pudessem sobrepor tal dor. A consciência ainda estava ali, demorando demais para me deixar.
Eu sabia que aquele sangue logo coagularia, a coragem para o corte na vertical nunca vinha e provavelmente nunca viria, mas aquela sensação de angustia e temor pela própria vida, geralmente custava bastar até a consciência sumir e eu apagar colada nos azulejos frios do banheiro, mas agora não estavam servindo, aquilo, que eu sequer sabia o que era, continuava doendo.
Levantei-me e enrolei uma toalha nos pulsos, caminhei até o quarto e abri a gaveta do criado-mudo, uma nova cartela estava ali, a segunda opção de sempre.
O alumínio era rompido, quando a porta ao lado da minha fechou-se e eu soube que meu pai estava indo dormir. E foi a lembrança do meu pai, que me fez jogar a cartela intacta de volta na gaveta e depois jogar meu próprio corpo na cama e aos prantos, com uma dormência insuportável nos braços, corpo nu e os cabelos molhados encharcando o lençol, eu apaguei.


Por baixo das munhequeiras verdes, uma atadura cobria os cortes horizontais que na noite anterior não haviam servido para nada.
Cheguei na faculdade e muito consciente disto, meus olhos buscaram por ele, mesmo sabendo que ele não tinha porque estar ali, não era o espaço de medicina, aliás, este passava bem longe do de administração.
Enquanto meus olhos continuavam buscando tentei me concentrar naquele meu tema preferido.
“Já pensou em morte hoje Dona Hermione? Pois é, ela continua por aí”.
Sim, a minha idiotice atinge níveis excepcionais de mediocridade. É bastante comum eu me sentir uma completa otária, mas isso faz parte da vida, ou pelo menos da minha e é por essas e outras que eu mereço a morte. Que a vida seja privilégio daqueles que sabem viver.
Eu poderia dizer que a procura por ele tornaria a sua aparição menos surpreendente, mas não. Quando meus olhos o avistaram caminhando na minha direção, carregando a mochila em um dos ombros e aquele sorriso insistente no rosto, meu coração deu um pulo, bateu em minha garganta e voltou para o lugar, simples assim.
E mais uma vez, não há nenhuma explicação romântica aqui, foi exatamente assim que pareceu.   

Era o meu amigo vindo até mim, trazendo a lanterna e as pilhas extras.
- Bom dia Mione! – me deu um beijo no rosto.
E foi o beijo que me fez perder a fala que eu ainda estava elaborando.
- Algum problema com o apelido?
- Não é que... – e bobamente minha mão tocou o lugar que ele tinha beijado.
Aquele sorriso chato alargou-se e ganhou som. Rindo de mim de novo?
- Na minha terra amigos se cumprimentam assim.
Em segundos ele já estava com minha mochila no outro ombro e me conduzindo pela cintura até o banco mais próximo.
- Eu sei é que... – Resolvi ser sincera com ele. – Isso é novo para mim e...
- Tudo bem. – sentou-se e me sentei ao seu lado. – Que horas começa sua primeira aula?
- Daqui a vinte minutos. – E como se precisasse explicar. - Gosto de chegar cedo.
- Hum. Eu também gosto de chegar cedo, ainda mais agora que tenho uma amiga da administração.
Meu coração estava louco e minha mente provavelmente bêbada. Era felicidade demais. Tudo que vinha dele me animava absurdamente. A voz, o cheiro, o sorriso, o olhar, o tom arrastado, a maneira com que ele me fazia sentir importante. Independente de cortes verticais, horizontais e diagonais, feitos uma, duas ou mil vezes, meu sangue estava ali, circulando desesperadamente pelas minhas veias. Era vida demais para mim. E ainda não era suficiente, como mostrou a minha próxima frase, que de tão clichê o pegou de surpresa.
- Suas outras amigas vão ficar com raiva de você por estar aqui comigo.
Como eu desejei tantas vezes, o sorriso se foi e percebi que nunca deveria ter desejado aquilo. De alguma maneira o meu comentário o deixou sério, quase bravo, mas não comigo, ele não estava com raiva de mim, pois sua mão que estava segurando a beira do banco procurou a minha que estava fazendo o mesmo a poucos centímetros da dele.
O toque começou tímido e, então, seus dedos entrelaçaram os meus. Nenhum dos dois ousou dizer algo, eu estava constrangida e preocupada demais e ele apenas preocupado.
Se seus olhos e sua boca não podiam me dizer nada, suas mãos me diziam que ele estava temendo algo, suava frio e não estava calor, tinha um quase tremor, algo acontecia e ele não queria me dizer.
De repente ele soltou minha mão, levantou-se e deixou minha mochila no banco. Seus olhos buscaram os meus e ainda sem sorrir, ele me deu o motivo que eu buscava na noite anterior.
- Não pode confundir as coisas Hermione, não pode e não deve. Seja inteligente e procure a definição de amizade no dicionário.
E simplesmente foi embora e me deixou ali.


 




***


 




Draco:


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Eu temi aquilo, mas mais por mim do que por ela.
Aquilo era amizade, apenas isso.
Dane-se o fato de que ela atormentava todas as minhas idéias, de que a presença dela me fazia exageradamente bem, de que eu sempre queria tocá-la, estar com ela e etc.
Não havia espaço para mais nada na minha vida. Quase já não havia para amizade, mas que motivo eu daria para explicar a minha necessidade de aproximar-me dela? Ela com certeza fugiria de mim se eu aparecesse com papinho de aprendiz de médico que quer salvar a humanidade.
Que grande tonto eu estava sendo, Hermione precisava sim de mim, os últimos acontecimentos me mostraram que precisava ainda mais do que imaginei no inicio, mas havia uma verdade oculta em tudo isso.
Eu também precisava dela. E não era como amiga.
Mas era tão cedo, tão absurdo. Eu tinha que me controlar, tinha que tomar uma decisão. Se continuasse a vê-la, as coisas fugiriam do meu controle e, embora ela precisasse de mim, a hora do sacrifício havia chegado. Era abrir mão de Hermione e tudo que ela pudesse representar em minha vida e seguir com minhas metas e sonhos. O que era o meu sofrimento e o de Hermione, se comparado a todas as vidas que eu pretendia salvar no futuro?
Eu sei que estava sendo radical, mas a vida me mostraria como eu estava enganado.
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Nota: Oi gente, espero que gostem do capítulo!! O próximo não demora, eu juro. E tipo, se quiserem mandar um comentáriozinho, ficarei super feliz!! Bjs


 


 

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