Conversa entre pai e filha



Capítulo 4
Conversa entre pai e filha


 


Primeiro dia de setembro. São exatamente oito horas da manhã. Todos já estávamos de pé, até porque, mamãe não deixaria que perdêssemos o trem para Hogwarts. 


Levantei e tomei um banho antes de deixar meu malão ao lado da porta de entrada. Subi a escada correndo para pegar mimoso. Ele havia sumido. Odeia viajar em sua caixa, talvez porque seja apertado. 


- Mimoso. – Chamei várias vezes por seu nome e nada. Procurei por todo o meu quarto, mais ele não estava lá. Ele estava ficando bom com essa “brincadeira”. 


Sentei na cama que já estava toda arrumada e suspirei. “Aonde ele se meteu?”. Ouvi alguns miados e não estavam longe. Deitei no chão e olhei debaixo da minha cama. 


- Seu danado você esta ai. – Estiquei meu braço e o peguei. – Estava te procurando. – Coloquei-o na caixinha e a fechei. 


Desci e o deixei perto do meu malão. 


- Não se atrase para o café. – Mamãe avisou da cozinha. – Sairemos em menos de uma hora. 


- Vou ver se esta tudo pronto. – Subi a escada devagar. 


Entrei no meu quarto e olhei o banheiro. Tudo certo”. Voltei para meu quarto e olhei uma última vez. Apaguei a luz e sai deixando a porta aberta. 


- Pronta para mais um ano em Hogwarts irmãzinha? – Luan saiu do quarto seguido por David que sorria. 


- Sempre estou pronta. – Sorri. 


- Acho melhor você ver o que a coruja quer. – David colocou a mão no meu ombro. 


- Mais eu não tenho coruja. – Levantei uma de minhas sobrancelhas. 


- Então você recebeu uma carta. – Ele apontou para a janela de meu quarto onde havia uma coruja cinza que bicava o vidro sem parar. 


Revirei os olhos e caminhei até a janela. Abri e deixei à coruja entrar. Olhei para a carta que ela carregava e a peguei. 


- Então... De quem é a carta? – David se aproximou e eu escondi. 


- Como você é curioso. – Disse empurrando-o e fechando a porta do meu quarto. 


Virei à carta para ver quem tinha me mandado. Um sorriso se formou em meu rosto quando vi aquelas letras que diziam “Robert Colin”. Apertei a carta em meio peito e sentei na cama. 


- Já estava mais do que na hora. – Abri a carta e comecei a ler. 


“Melissa,
Estive pensando as férias inteiras enquanto lia a cada carta que você me mandava, não as respondi por que não queria criar esperanças. Você talvez não esteja entendendo o que eu quero dizer, mas serei o mais breve possível.
Não podemos mais ficar juntos. Esta sendo difícil para mim e tenho certeza que será difícil para você. Nós brigávamos muito, mas não me esqueço dos momentos bons que passamos juntos e espero que você também não esqueça. Foram bons. Mais não o suficiente para me fazer feliz. Sinto muito, muito mesmo.
Podia dizer tudo isso quando chegássemos a Hogwarts, mas acho que devemos seguir o nosso caminho agora. Separados. Beijos, Robert!” 


As lágrimas já tomavam conta de todo o meu rosto. Meus olhos ainda estavam fixos no pergaminho a minha frente. Os soluços podiam ser ouvidos de fora, mais eu não me importava. 


Sequei as lágrimas e logo elas estavam em meu rosto novamente. Como ele pode? Como ele pode terminar por uma carta? Não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Solucei mais algumas vezes e me assustei quando ouvi batidas na porta. 


- Melissa sua mãe pediu para você ir tomar café. Sairemos daqui alguns minutos - Não respondi. Sua voz ainda ecoava na minha cabeça. – Melissa? – Ele me chamou mais uma vez. Respirei fundo tomando coragem para que as palavras saíssem de minha boca. 


- Eu não quero café. Não quero ir para Hogwarts. Não quero ver ninguém. – Gritei secando as lágrimas. 


- Você esta chorando? – O ouvi pegando na maçaneta da porta. 


- Eu quero ficar sozinha. – Gritei. – Me deixa em paz. – Gritei pegando uma almofada lilás e tacando na porta. 


- Tudo bem. – Ele disse por fim. 


Olhei novamente para a carta e novas lágrimas se formaram em meus olhos. Deitei na cama e comecei a chorar. Por várias vezes o ar sumia. Os soluços eram fortes. Reli a carta várias vezes e cada vez chorava mais. 


- Melissa, o que esta acontecendo? – Não respondi. Eu não queria falar com ninguém. Ninguém. – David falou que você estava chorando... É por causa da carta? – Olhei para a porta e não respondi. Ouvi seus passos sumirem pelo corredor. Suspirei e sequei as lágrimas finas que insistiam em cair. 


Não demorou muito para que outra pessoa batesse na porta de meu quarto avisando que íamos sair. Mais eu não me movi. 


- Posso entrar. – Sua voz fez com que eu saísse do transe que eu estava. Olhei para a porta e o vi entrando. Ele se abaixou para pegar a almofada que eu havia jogado há pouco tempo e a deixou em cima da cômoda. 


Tentei esconder meu rosto mais era impossível. Ele já havia visto que eu estava chorando. Ele se sentou ao meu lado da cama e passou a sua mão tirando os cabelos que haviam grudado com as lágrimas. 


- Porque esta chorando? – Ele sorriu gentilmente mais eu não respondi. 


- Não quero falar sobre isso. – Sussurrei. 


- Tem certeza? – Assenti sem olhar em seus olhos. 


Apertei mais a carta que estava em minha mão, o que não passou despercebido por ele que a pegou gentilmente. Observei sua expressão enquanto lia a carta. Ele não sabia que eu estava namorando, talvez esteja bravo comigo agora. Não queria escutar o que ele tinha para me dizer.  


- Por favor, não brigue comigo. – Pedi em meio ao choro. 


- Filha eu jamais brigaria com você por isso. – O olhei surpresa. Sentei na cama e olhei para a carta em sua mão. 


- Eu não sei por que ele fez isso... – Não consegui terminar. Meus olhos começaram a arder novamente. 


- Com certeza não foi você quem saiu perdendo nessa história. – Ele secou minhas lágrimas. – A pior maneira de se terminar um namoro é por carta. - Ele deixou a carta na cabeceira perto da cama. – Não acredito que ele teve coragem de fazer isso com você. 


- Eu não quero ir para Hogwarts. – Voltei a deitar na cama. 


- Você não pode simplesmente se esconder do ‘mundo’ por causa do... – Ele olhou para a carta. – Robert. 


- Eu não quero me encontrar com ele em Hogwarts. – Suspirei. – Você sabe muito bem que vou sempre esbarrar com ele pelos corredores. 


- Tenho certeza que você será forte o suficiente para lidar com isso. – Sorri. 


- Talvez. – Ele sorriu e me puxou para um abraço. Me senti segura em seus braços. E meus olhos começaram a arder novamente. Enquanto eu chorava ele afaga meu cabelo. 


- Vai ser difícil mais você vai superar. – Ele me abraçou mais forte. – Se ele te fizer algo, mande uma carta que eu estarei lá em alguns segundos para cuidar dele. – Ele sorriu. 


- Não quero que você seja o causador da morte dele. – Sequei minhas lágrimas. 


- Acho que sua mãe não gostaria muito disso. – Ele disse pensativo. – Falando em Hermione, nós deveríamos estar a caminho da estação. – Ele levantou da cama. – Vamos. – Ele pegou em minha mão e me puxou. 


- Tudo bem, vamos. – Ele me abraçou e juntos caminhamos até o jardim.
 


**


 
Todos pararam o que estavam fazendo, assim que nós passamos a porta de entrada. Sim, eu estava com os olhos inchados de tanto chorar. E não, eu não queria que ninguém me fizesse qualquer tipo de pergunta. 


Entramos no carro sem dizer nada. Lily estava no colo de Luan quando puxou conversa comigo. 


- Você esta bem? – Ela colocou sua pequena mãozinha em meu braço. Assenti sorrindo amarelo. – Quando estou triste mamãe fala para eu pensar em coisas legais. Sempre da certo. – Ela sorriu. 


- Bom saber. – Foi à única coisa que disse. 


Embora eu estivesse olhando para o lado de fora minha mente estava em outro lugar. Ou melhor, em uma pessoa. Robert Colin para ser mais exata. Como ele pode ser tão insensível e terminar por carta. Fui muito tola de pensar que ele fosse o homem certo para mim. 


- Chegamos. – Luan disse saindo do carro. David me ajudou com o malão enquanto pegava mimoso que dormia. 


Por várias vezes tentaram puxar assunto, mais eu apenas concordava sem prestar a mínima atenção. Eu realmente queria ficar sozinha do mundo.


 


**


 


Como sempre estávamos na plataforma 9 ¾ e a única pessoal a qual eu queria conversar era a Fernanda. Minha melhor amiga resolveu sumir. Suspirei colocando a mão em minha cintura. Olhei para todos os lados e finalmente a encontrei. 


- Era só o que me faltava. – Revirei os olhos e comecei a caminhar. – Um bando de meninas chatas. – Sim, Fernanda estava com suas queridas primas. Nós nunca nos demos muito bem, sempre estamos brigando por qualquer coisinha inútil. Estão sempre falando de unhas, cabelos, e o assunto principal delas são os garotos. 


Qualquer menina fala sobre esses assuntos, até eu para ser sincera. Mais elas não fazem nada, além disso. Por que elas não pegam um livro e se dedicam mais aos estudos? Já disse para a Fernanda que o cérebro delas é do tamanho de uma ervilha. Ela disse que eu estava sendo muito má, mas concordou comigo. Se a própria prima delas concorda com isso não quero nem saber o que as outras pessoas pensam. 


Estava no território do inimigo, qualquer passo em falso eu poderia me dar mal. Estiquei meu braço para chamar apenas a atenção de Fernanda, mas levei um susto quando Victorie, Dominique, Molly e Roxanne Weasley começaram a rir iguais a hienas. 


Em fração de segundos todas olharam para mim. Me senti como um animal prestes a ser devorado. Peguei no braço de Fernanda, que por sorte era a única que não ria, e a levei para bem longe daquelas hienas chatas. 


- O que foi? – Ela perguntou quando paramos bem longe de suas primas. 


- Não agüento as suas primas. Elas me assustaram com aquelas risadas. – Revirei os olhos e ela riu. 


- Por... Isso... Você... Deu... Aquele... gritinho? – Ela colocou a mão na boca tentando parar de rir. 


- Eu não gritei. 


- Gritou sim. – Ela gargalhou. Graças a Merlin minha amiga não ria que nem uma hiena. 


- Acabou a palhaçada? – A olhei brava. 


- Mal-humorada. – Ela disse mostrando a língua. – O que aconteceu para... – Ela parou de falar e seus olhos ficaram fixos em alguma coisa atrás de mim. 


- Fernanda. – A chamei e ela ao menos se moveu. – O que você esta olhando? – Quando eu estava me virando ela segurou meus braços impedindo. – O que você esta fazendo? 


- Nada. – Ela sorriu amarelo e percebi quando ela olhou novamente pelos meus ombros. 


- Então porque você não me deixa virar também quero ver o que você esta vendo. – E novamente ela não me deixou ver. 


- Acho melhor não. - O que poderia ser tão ruim assim depois de receber uma carta de seu namorado terminando tudo? 


- Eu agüento qualquer coisa. – Sorri e finalmente ela me deixou ver o que estava acontecendo. – Menos aquilo.


E lá estava ele. A poucos metros de mim. Ele continuava o mesmo, com seu lindo cabelo loiro-escuro todo bagunçado. Sua pele branca. Seus olhos castanhos. E o seu lindo sorriso. 


Mais nada poderia ser pior do que vê-lo com outra garota. Ela estava ao seu lado sorrindo e ele a abraçava pela cintura. Ele havia terminado comigo a essa manhã e já estava com outra. Agora eu sei o quanto esta sendo difícil o termino do nosso namoro. 


- Talvez eles sejam apenas amigos. – Fernanda sussurrou. 


- Amigos? – Dei uma risada irônica. – Nós não estamos mais namorando. – Disse sentindo meus olhos arderem. Não choraria mais por ele. 


- O que? Como? Por quê? – Ela perguntou como se fosse à coisa mais horrível do mundo. 


- Depois eu te conto direito. – Revirei os olhos. – Eu quero ir lá e ver o que esta acontecendo. 


- Ou, ou, ou, acho melhor não. – Ela segurou meu braço. – Eles devem ser apenas amigos, juntos, abraçados e... 


- Estão se beijando. – Completei antes que meu queixo caísse completamente. – Não agüento mais ver isso. – Dei meia volta e comecei a caminhar. 


- Então... – Ela começou a falar quando me alcançou. - Obrigada por me tirar de perto das minhas primas. – Ela sorriu sem jeito mexendo na unha. 


- Por quê? 


- Elas estavam falando que o Luan não era a pessoa ideal para ficar comigo e blá blá blá. – Ele forçou um sorriso, mas eu sabia que ela estava triste por isso. Ela sempre ficava. – Sempre a mesma coisa. 


- Imagina. – Eu disse incrédula. – Vocês são perfeitos juntos. – Ela sorriu. – Até de mais. – Eu sorri enquanto ela se animava novamente. - Vocês nasceram um para o outro. 


- Falando nele, aonde será que ele está? – Ela olhava em meio à multidão. 


- Serve aquele ali? – Apontei para ele que estava próximo de meus pais e agora com Luna e Rony. 


A reação dela não poderia ser outra. Ela correu em sua direção o abraçando e beijando em seguida e Rony, como sempre, separou os dois. Ele diz sempre a mesma coisa “Vocês precisam se agarrar desse jeito no meio de todo mundo?”. A única coisa que eu sempre digo a Fernanda é que: Ele sempre será um pai ciumento. 


Depois de algumas trocas de olhares entre Fernanda e Rony começamos a nos despedir. Mamãe, como sempre, listou varias coisas que não podíamos fazer enquanto estivéssemos em Hogwarts. 


Não que isso não fosse necessário, mas nós já escutamos esse mesmo discurso desde o segundo ano. Depois fomos aos beijos e abraços, digno de uma mãe protetora. 


- Vou sentir falta de vocês. – Ela passou a mão em meus cabelos. – Se cuidem. – Assenti enquanto Luan a abraçava de novo. 


- Já estou com saudades. – Papai me abraçou. – Estou parecendo a sua mãe. – Sorri enquanto ele ainda me abraçava. 


- Não sei se ainda estou preparada. – Suspirei. 


- Você sempre esteve. – Ele segurou meu rosto com as duas mãos. – Você vai ficar bem e eu sei disso. – Sussurrei um “ok” e mamãe se aproximou. 


- Devo me preocupar? – Ela perguntou. Com certeza estava querendo saber o que tinha acontecido hoje de manhã, mas agora, não tinha tempo para contá-la. 


- Não. – Dei um beijo estalado na bochecha dos dois. – Papai te conta depois. – Sorri enquanto Lily me abraçava dizendo que sentiria minha falta. Estranho. Ela jamais diria isso e principalmente para mim. Despedi-me rapidamente de Luna e Rony e corremos para o trem. 


Nós já não podíamos mais ver nossos pais, mas não poderia ser de outra forma. Não lembrar da carta que Robert tinha me mandado essa manhã foi impossível e a partir daquele momento eu tive certeza de que esse seria um longo ano em Hogwarts.




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