Dementadores



Capítulo 3
Dementadores


 


Lily se agarrou no pescoço de Luan e começou a chorar mais pedindo para que ele não deixasse o homem de preto leva - lá. 


- Eu não vou deixar ele levar você. – Ela começou a se acalmar. – Eu vou lá em cima ver o que esta acontecendo. – Ela assentiu secando as lágrimas. – Fique aqui com Melissa e o David. – Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa ele subiu as escadas em direção ao quarto dela. 


Não conseguia se mexer. Assustada talvez. Ela subiu no sofá e se encolheu como se estivesse com frio. Olhei para David que dava um longo bocejo. 


- Que foi? – Ele perguntou, eu neguei. – Eu to com sono. 


- Então vai dormir. – Revirei os olhos. 


- Eu não. – Eu sorri. – E se você estiver em perigo quem vai te salvar? – Revirei os olhos novamente. 


- Eu to com frio. – Olhei para Lily que tremia. – Eu to com frio. – Ela disse de novo. 


- Mais a lareira esta acesa. – Apontei para a lareira que se apagou de repente. 


- Como você fez isso. – David sussurrou como se alguém pudesse nos ouvir. 


- Não fui eu. – Meu olhar ainda estava na lareira. – Lily foi você? – Ela negou. – Ainda esta com frio? – Ela disse um “sim”


- Não tem ninguém lá em cima. – Levei um susto quando Luan apareceu na sala. – Que foi? 


- A lareira se apagou sozinha e sua irmã esta morrendo de frio. – Luan gargalhou, mas parou assim que nossos rostos continuaram assustados. – E quer saber? Eu também estou sentindo um friozinho. 


Foi como se estivéssemos no natal. Podíamos ver a respiração de cada um. Corri para a janela e olhei para céu. Vultos pretos tomavam conta de todo o céu estrelado. Um arrepio percorreu minha espinha. E eles estavam cada vez mais próximos. 


- Dementadores. – Sussurrei. 


- O que? – David gritou. 


- Dementadores. Dementadores. – Eu gritei. – Tem um monte deles. – Apontei para a janela e vi um vulto preto passando. 


- O que eles querem? – Luan perguntou e eu gargalhei. 


- Eles querem saber se você quer ir à festinha particular deles. 


- Eu quero o papai. – Lily sussurrou se encolhendo mais no sofá. – Eu quero o papai. – Ela repetiu. 


- Todos querem. – Gritei. 


- Aonde a mamãe esconde as nossas varinhas? – Luan se aproximou um pouco da janela e mais um vulto preto nos assustou. 


- Não podemos usar magia e... Espera! A mãe de vocês esconde as varinhas? – David começou a rir. Sinceramente essa não é a melhor hora para brincadeiras. 


- No quarto. – Antes que pudesse terminar de falar um enorme barulho fez com que eu colocasse as mãos nos ouvidos. A porta tinha sido arremessada e batera na parede se quebrando. – Pega a Lily. – Gritei. 


Subimos a escada aos tropeços. A sala estava invadida por dementadores e a casa estava cada vez mais fria. Meus dedos estavam congelando e estava difícil de respirar. Nossos lábios estavam roxos pelo frio e podíamos ver a nossa respiração. 


Entramos no quarto e começamos a revirar tudo. Gavetas. Caixas. Banheiro. Nada de varinhas. O medo percorria todo o meu corpo. Sinceramente eu nunca pensei que fosse passar por isso. 


- Já reviramos o quarto inteiro. – Gritei. Luan pegou um dos cobertores e enrolou no corpo de Lily que estava tremendo. 


Segundos se passaram até que os dementadores tomaram conta do quarto. Gritei por ajuda. Impossível. Olhei para os lados e vi David que estava deitado no chão. Gritei de desespero. Não conseguia ver onde estava Luan e Lily, apenas escutava seus gritos. Os dementadores estavam cada vez mais rápidos, até que eu não consegui mais ficar em pé. 


Cai de joelhos no chão. Minha alma estava se dividindo aos poucos. Apenas lembranças ruins estavam em minha mente. Era como historias de terror. Não conseguia mais me firmar no chão. Uma lágrima percorreu meu rosto tentei gritar mais foi como se estivesse alguma coisa em minha garganta impedindo. E então tudo ficou escuro.
 


**


 


Os gritos de Melissa pararam e eu tive a certeza de que as coisas estavam piorando. Minha visão estava totalmente embaçada. Vultos. Apenas vultos. Agarrei mais forte Lily que ainda tremia. Podia escutar ao fundo seus soluços. Estavam cada vez mais distantes. 


Eu podia ver uma luz branca. Então era verdade? Quando você estava morrendo via realmente uma luz no fim do túnel. Mas... Eu estou morrendo? Não poderia estar morrendo. Poderia? 


Comecei a ouvir gritos. Gritos de terror. O que esta acontecendo? Podia ver coisas se mexendo. Algo se aproximou de mim, estava bem próximo do meu rosto. 


- Você esta bem? – Ele perguntava várias vezes. Eu não podia responder. Não conseguia. 


Eu conseguia ouvir choro. Um choro de desespero. 


- Consegue comer isto? – Tentei ver o que era, mas não consegui. Balancei minha cabeça negando. 


Senti sua mão abrir minha boca e colocar alguma coisa. Ele me ajudou a mastigar e engoli. Foi como se estivesse engolido aboboras inteira. Tossi um pouco. Nunca pensei que ficar com os olhos abertos pudesse ser tão difícil. 


- Ela não acorda. – Ouvi outra voz. Parecia triste. Aflita. Desesperada. 


- Ele vai ficar bem, mamãe? – As vozes que eu escutava eram dos meus pais? E agora a voz da Lilian? 


- Vai sim meu amor. – Senti uma mão em minhas costas e meu braço passou em volta do pescoço de alguém. – Consegue andar? 


- Um pouco. – Sussurrei. 


Senti um alivio quando me deitaram na cama macia. Abri meus olhos e o quarto estava escuro. Não havia mais ninguém ali. Apenas eu e a... Olhei para o lado e Melissa ainda estava com os olhos fechados. Suspirei. Tomara que não tenha acontecido nada de grave. Percorri meu olhar pelo quarto e não vi sinal de David. 


Levantei da cama e corri para o corredor que estava totalmente escuro. Uma luz fraca vinha do meu quarto. Andei até meu quarto em passos rápidos e quando cheguei à porta vi David deitado em minha cama. 


- O que aconteceu com ele? – Perguntei olhando para minha mãe que se virou e correu me abraçar. 


- Você esta bem meu filho? – Assenti sem tirar meus olhos de David. 


- Não se preocupe. – Papai se levantou da cama onde estava sentado ao lado dele. – Agora, ele esta apenas dormindo. Amanhã ele acordara melhor. – Assenti sem tirar meus olhos dele. – Embora tenha acontecido muitas coisas com vocês apenas esta noite, acho melhor irem dormir. 


- Você tem mesmo que ir? – Mamãe apertou forte em minha mão. 


- É preciso. – Ele sussurrou. Se aproximou dando-lhe um breve selinho e sorrindo para mim. 


- Tome cuidado. – Ele assentiu e sumiu pela escuridão do corredor. Pude ouvir seus passos pelos destroços da porta. E então mergulhamos em um profundo silêncio. – Acho melhor dormirmos juntos esta noite. – Ela se aproximou da janela por onde entrava uma leve brisa. 


- O que aconteceu? Quero dizer... – Engoli seco. – Porque os dementadores nos atacaram. O que fizemos... 


- Ainda não sabemos. – Ela me cortou fechando a janela. – O teatro também foi atacado por dementadores. – Ela se virou e pude ver seu vestido todo rasgado e sujo. 


- Para onde ele foi? – Perguntei me aproximando da cama. Mamãe pegou um cobertor e cobriu David. 


- Ministério. – Ela pegou sua varinha e seguiu em direção ao corredor. Eu a segui. 


- Porque devemos dormir juntos esta noite? – Entramos em seu quarto onde Melissa ainda dormia. 


- Seu pai acha que os dementadores podem voltar. – O que? – E talvez ele passe a noite toda no ministério. – Com um simples aceno de varinha o quarto estava limpo. Perfeito. Como se não estivesse acontecido nada. Quando tudo estava em seu devido lugar ela se virou olhando para mim. – Podemos dormir em seu quarto? – Assenti com um sorriso. – Aonde esta Lily? – Seu olhar percorreu todo o quarto. 


Olhei pelo corredor e vi a porta do quarto de Lily entreaberta. Me aproximei e a vi dormindo tranquilamente em sua cama. Parecia que nada havia acontecido. Dormia como um anjo. 


- Graças a Deus. – Mamãe apareceu na porta com a mão no peito. – Leve-a para seu quarto e depois me ajude com Melissa. Vou arrumar a porta da sala e dar uma olhada pela casa. – Assenti enquanto ela sumia pelo corredor. 


Peguei Lily no colo e a levei até meu quarto. David estava deitado na minha cama e havia alguns colchões pelo chão. Deitei Lily no colchão afastado da janela e a cobri. Olhei para David mais uma vez e suspirei. 


- Ele esta apenas dormindo filho, pode ficar tranqüilo. – Mamãe colocou a mão em meu ombro. – Vamos... Me ajude com a Melissa. - Ela saiu e eu a segui. 


Cheguei à porta do quarto e mamãe estava tentando levantar Melissa. Me aproximei ajudando-a a caminhar até meu quarto. 


Colocamos no colchão perto da janela. Mamãe a cobriu e olhou os outros dois que dormiam tranquilamente. Ela se aproximou de Lily onde depositou um beijo em sua testa. Fez o mesmo com Melissa e depois em mim. 


- Acho melhor ir dormir. – Ela me abraçou. – Vou tomar um banho rápido e venho ficar com vocês. – Sorri enquanto ela saia do quarto. 


Depois de tantos anos ela continua a mesma. Lembrar de seus gritos há minutos atrás foi desesperador. Imaginar o modo como ela se sentiu quando nos viu desmaiados me deixou triste. 


Suspirei enquanto colocava meu pijama e entrava no quarto. Ele estava iluminado apenas pelo luar como toda a casa. Deitei no colchão perto de Melissa e me cobri. Embora não estivesse com sono fechei meus olhos e a única imagem que veio em minha cabeça foi a de Fernanda. Céus! Graças a Rony, que não a deixou dormir aqui, ela não estava quando os dementadores apareceram. 


Abri meus olhos quando escutei passos. Mamãe entrou no quarto, com um livro na mão, em passos leves. 


- Desculpe se te acordei. – Ela sussurrou sentando-se na poltrona. 


- Não, eu não estava dormindo. – Sentei na cama e a observei abrir o livro. Ela estava com o pijama de frio do papai. Calça e blusa de moletom. Ficamos um bom tempo em silêncio. Ela lia o livro e eu tentava achar alguma coisa para me distrair. 


Não me surpreendi quando os primeiros raios de sol ultrapassaram a janela iluminando o quarto. Observei meus dedos por alguns instantes até criar coragem para falar. 


- Mãe. – A chamei e ela respondeu com um “hum”. – Ontem à noite levei a Lily para o quarto e desci para acordar Luan que estava dormindo no sofá.    


- Aonde você quer chegar? – Ela fechou o livro e me lançou um olhar duvidoso. 


- Desci e em poucos minutos a Lily desceu praticamente correndo atrás de mim... Ela estava chorando. Dizia que tinha um homem de preto no quarto dela querendo leva - lá para algum lugar. No começo eu pensei que fosse um pesadelo, mas depois percebi que não era. 


- Tinha um homem aqui dentro? – Ela se ajeitou na poltrona. 


- Eu subi apenas para ver que não tinha ninguém e tranqüilizar Lily. Mas, acho que ela estava certa... Quando cheguei ao quarto dela a janela estava aberta e tinha coisas caídas por todo o chão. Coloquei cada coisa em seu lugar e fechei a janela. Não mexi em mais nada e desci... 


- Você contou para eles? – Ela sussurrou. 


- Não. Eles não sabem. – Levantei do colchão e caminhei até o banheiro. 


- Acho melhor não contar nada para eles. – Assenti antes de fechar a porta do banheiro e ir tomar um banho.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.