Terror entre paredes










 



Estava em uma noite nublada de verão, um nevoeiro pairava colado a rua rústica e estreita. Uma porção de árvores secas e magras balançavam com um leve vento que batia em seus galhos. Do nada fui adentrando cada vez mais no nevoeiro denso, sem ao menos conseguir ver um palmo sequer diante de mim. Parecia nunca ter fim. Foi quando avistei um borrão alto mais adiante.


Um casarão esguio de madeira antiga e desgastada rangia a cada folha que o tocava e balançava minimamente com a brisa. Quanto mais me aproximava, mais ele aparentava ser assustador, como a casa de terror de algum parque temático ou pior. A madeira úmida e gasta, as janelas quebradas e as cortinas pretas rasgadas e corroídas, o ranger da construção e a estranha sensação de ter alguém lá dentro, por mais improvável que seja.


Foi quando um fortíssimo vento, muito diferente de seu antecessor, tomou conta do lugar. As árvores começaram a se curvar, algumas quase a serem arrancadas das raízes de tão fracas e o matagal atrás delas chacoalhava fortemente com a ventania. Logo o céu tornou-se ainda mais escuro que antes e gotas de chuva começaram a estalar no chão. Junto com ela, um ar extremamente frio fez o próprio vidro das janelas partidas se congelarem e a criar na madeira um gelo deslizante.


A chuva lenta se intensificou, tornando-se rapidamente uma tempestade forte, que acompanhava o vendaval. E no meio dele, um outro som pairou em meus ouvidos.


 - Venham! Venham! É logo ali!


Um vulto encapuzado e de silhueta feminina vinha correndo em meio a estrada, cujo barro que colava as rochas sujava as barras das vestes e capa pretas. Parecia ansiosa, os cabelos ondulados e longos que eram protegidos pelo capuz que havia sob a sua cabeça, mesmo tão escorridos, não conseguiam esconder seu rosto com sorriso frio, a pele branquela, talvez de frio ou pelo natural, e os olhos cinzentos e grandes brilhando de malícia que apareciam mais claramente enquanto ela corria em direção à porta do casarão, saindo do forte nevoeiro. Mas não estava sozinha.


Logo atrás dela, igualando a sua pressa com a dela, mais treze vultos vieram correndo para fora do nevoeiro e mais dez que flutuavam sombriamente sobre o solo, as vestes rasgadas, as mãos magras cobertas de feridas e uma aparência tão fria, tão desumana, que era impossível confundir tal criatura com outra qualquer: Dementadores.


Com agilidade, a mulher na dianteira subiu rápido o lance velho e gasto de escadas em direção a porta de entrada, cuja maçaneta era tão enferrujada que parecia que qualquer coisa que a toca-se a derrubaria. Logo que ela parou diante da porta, toda a aglomeração grudada em seus calcanhares, a mulher virou a cabeça para eles e puxou algo longo e fino de sua manga, dizendo em voz fria:


 - Acabem com eles – e deu um chute fortíssimo contra a porta velha.


Esta escancarou-se de uma vez com o coice que havia levado, a maçaneta se explodiu de uma vez e lascas de madeira e uma quantia de poeira voaram por todo lado do interior da casa. Com o choque, a parede agitou-se como se estive-se prestes a despencar.


O bando inteiro invadiu o casarão sem o menor ressentimento e com violência, a maioria  empunhando objetos de madeira longa, destruindo e congelando cada centímetro que percorriam com seus passos em trovoada, lançando lampejos azuis e avermelhados por toda parte, furando as paredes deixando a chuva entrar, explodindo vidros e janelas e destruindo todos os objetos que lá havia, desde vasos até criados mudos. Foi quando uma voz masculina bradou aterrorizada no andar de cima.


 - São eles! – e berrou o nome da esposa, mas que foi indecifrável por conta de um armário explodindo – SÃO ELES! TIRE TODOS DAQUI! PEGUE OS MENINOS E DÊ O FORA DAQUI! Eu vou tentar cuidar deles! – e puxou fortemente uma varinha do bolso do roupão de barra rasgada. Mas no mesmo instante, antes mesmo que pude-se agarrar o objeto em punho direito, um enorme Dementador avançou para o homem com selvagenia, deixando o capuz cair de sua cabeça antes mesmo de chegar lá, com rapidez e sede de dor.


 - NÃO! – gritou uma mulher que acabara de sair de um quarto próximo, em um berro tão forte quanto ao do marido, desesperada, já com a varinha em punho – Expectro... – mas antes que pude-se sequer completar a frase, um homem que trajava de aparência bruta e trajado de preto surgira diante da mulher e logo a atacara com o lampejo vermelho de algum feitiço, porém esta se protegeu a tempo de não ser afetada por um triz.


Não faço ideia como, mas acabei acompanhando o deslocamento daquele homem com a mesma velocidade, parando ao lado dele. Assisti a luta inteira, e ao mesmo tempo, a mulher que liderara o grupo para o arrombamento da casa, subir apressada os degraus podres e parar bem ao outro lado do duelador, apontando com rapidez a varinha para a mulher a sua frente.


 - Avada Kedavra! – disse logo de chofre, sem dar tempo nem para a esposa do homem, agora vazio como uma concha por conta do Dementador, reparar na sua presença.


Por mais que quisesse, não consegui fechar os olhos, por mais que força-se, ou se quer virar de costas para evitar ver a cena da mulher morrendo na minha frente, gritando, desabando direto para o corrimão ao seu lado e despencando do segundo andar, por conta do mainel podre que se partira com o peso dela. Fora forçada a assistir tal assassinato e a ouvir aquele baque surdo de dar náuseas que ela fez ao bater pesadamente no chão com a cabeça, os olhos vidrados em meio os Comensais e Dementadores no andar debaixo.


 - Mãe? Mãe, o que tá acontecendo? – ouviu-se uma menina falar preocupada de dentro de um dos inúmeros quartos do lugar.


 - Ora, ora, quer dizer que há mais gente nessa toca imunda, heim? – disse outra moça que destruía um armário de vassouras embaixo – Eu achei que era só estes – e indicou satisfatoriamente a mulher jogada na madeira.


 - Todos poderão se fartar – disse sorrindo friamente a outra – Ninguém aqui irá embora sem matar pelo menos um desta casa.


 - Matar?! – exclamou a mesma menina de antes, que agora botava a cabeça para fora do quarto mais próximo.


Logo que fez isso, um outro Comensal da Morte aparatou bem na sua frente, e antes que ela pude-se soltar qualquer palavra de medo ou receio de sua boca, este já exclamava:


 - Avada Kedavra! – e ela era atirada com força para trás, rodopiando em meio a luz verde do feitiço e batendo no armário do quarto com força.


Um a um, cada pessoa e ser maligno se deslocava para o andar de cima junto com os outros companheiros, invadindo de uma vez só todos os quartos e salas do lugar, atirando lampejos vermelhos, verdes, azuis e escudos brancos eram lançados para todo o lado. Gritos femininos e alguns poucos masculinos enchiam o local cada vez que uma luz verde jazia de dentro do aposento. Vários demoraram a aparecer, sendo que outros logo surgiam, mas mesmo resistindo fortemente, sempre alguém acabava cedendo ao assassino frio, causando cada vez mais uma sensação meio nauseante dentro de mim.


Era a vontade, o impulso, quase que o desespero de querer ajudar, mas não conseguia. Estava impossibilitada. Mas por quê? Porque não sentia nada do meu corpo. Nada. Nem sequer conseguia vê-lo ou fazer algum movimento por vontade própria, tampouco. Apenas observava. Nada mais. Por mais que quisesse, por mais que tenta-se ou por maior que fosse o peso que sentia na consciência e no coração, não adiantava. A única coisa que eu podia fazer era observar. Ver mais de dez jovens e crianças serem mortas, terem a vida arrancada de si em meio a um duelo terreno em seus aposentos.


Mas o que me chamou mesmo a atenção foi que, no meio do alvoroço intenso e dos feitiços que voavam, a mulher ainda encapuzada foi de encontro ao outro homem que a havia chamado para dentro de uma acomodação.


Logo aconteceu comigo o que havia acontecido anteriormente com o outro grandalhão: a segui sem ao menos sentir minhas pernas, como se flutuasse. Assim que entramos, vimos de supetão uma jovem jogada no chão, o rosto sem expressão, a varinha ainda permanecendo em sua mão esquerda.


 - O que foi agora? – reclamou a mulher que acabara de chegar – Estava torturando o meu irmão idiotinha, para descontar os anos de encheção de saco...


 - Acontece que temos um alvo muito mais importante que seu irmão fedelho – ele rezingou grosseiramente – A sub.


 - O quê? Vocês ainda não a encontraram? – perguntou a outra com raiva e uma ponta de decepção em sua voz gélica.


 - Não, o que você acha?! – retrucou igualando a sua raiva com a dela – Aquela vadia consegue escapar muito bem quando quer, e você sabe disso. Pelo que eu entendi aquele imprestável do Ryceboll a teve nas mãos junto com um outro garoto. O menino foi morto de vez, mas aquela coisa escapou! Parecia que queria pegar alguma coisa antes de dar o fora.


- Pegar alguma coisa, é? – repetiu para si própria, profundamente pensativa em meios aos gritos e luzes do lado de fora que ecoavam pelo lugar – Então já sei pra onde ela foi – e avançou correndo para fora do quarto, mas antes parando no meio do caminho e pedindo ao companheiro para torturar o seu irmão por ela.


Ela correu numa velocidade muito grande pelo corredor estreito com tábuas faltando e salas que lotavam ambos os lados com sua movimentação de luta, dementação e tentativas que eram considerados inúteis de resistência. Logo no final do corredor longo e estreito, onde ela já raspava o corpo e as vestes entre as paredes com molduras de quadros vazios, se encontrava uma escadaria igualmente apertada e velha em caracol, a qual subiu com pressa, levantando, com uma das mãos, um centímetro a roupa para não acabar tropeçando na própria barra no meio da subida, a varinha segura firmemente na outra mão. O seu final não dava a nada mais, nada menos, que a uma única porta de madeira cheia repleta de cupins e maçaneta de bronze desgastado, a qual foi só dar um soco que se escancarou, revelando o que a aguardava no seu interior.


Era um cômodo minúsculo, onde só se encontrava um berço de ferro, uma janela e um velho móbile que girava lentamente, enfeitado com uma longa pena vermelha e dourada que o fazia ganhar certo destaque em meio o quarto velho, enquanto era refletido num pedaço de espelho grudado à parede. Mas o que mais chamava atenção era o fato de ter mais duas pessoas naquele quarto: um bebê, que tinha pelo menos um ano de idade e uma mulher, também encapuzada e de capa preta, cujos braços agora envolviam cuidadosamente a criança em panos.


 - Eu sabia que você estaria aqui, sua tonta – disse a mulher que empunhava a varinha com força em frente à porta, em um tom de fria satisfação ao vê-la assustar-se com sua voz e voltar-se para ela de repente.


Logo esta enfiou a mão no bolso da capa e também puxou o seu pertence idêntico a da outra, segurando-o com firmeza ao mesmo tempo em que permanecia com o bebê em um dos braços.


 - Você! – exclamou enquanto empunhava a varinha e logo que a teve em mãos, tornou a exclamar – Expelliarmus!


 - Protego! – a outra gritou, impedindo, com o feitiço escudo, que o lampejo avermelhado que fora atirado com rapidez ao seu encontro a atingi-se, esboçando um sorriso maldoso que deu um ar sombrio ao seu rosto jovem – Você não achou mesmo que isso iria me deter, não é? – caçoou – Como você pode ser tão burra, irmãzinha. Você não era a perfeita? A mais inteligente? A mais importante?


 - Nunca fui – respondeu a mulher que aparentava ser a mais velha das duas, firmemente. Agora ambas se encaravam fortemente, enquanto andavam lentamente em círculos pelo local – Você que colocou essa imagem na sua cabeça. Desde quando eu fui a mais importante? Desde quando a perfeita, a inteligente?


 - SEMPRE! – berrou raivosa – SEMPRE você foi isso... Sempre desde que você entrou naquela ralé...  Detestável... E agora, olha só, você ainda se considera a mais forte, mais importante do que EU...


 - Blasfêmia! – berrou a mulher como bebê no braço.


 - NÃO, NÃO É! – advertiu em brado – Você sempre se achou certa,sempre! Não ouse negar!


 - Você está trilhando o caminho errado... – falou sombriamente – Ouça o que estou dizendo... Isso não trará bons resultados para você!


 - Ah, trará... – desdenhou a outra maliciosamente – Trará por que nada disso importa mais... É medíocre! Hoje... eu sou bem mais poderosa... Bem melhor que você e aquele seu povinho idiota que a fez gerar esse resto que está no seu braço!


A mão da outra irmã, que segurava a varinha, cortou o ar lançando um lampejo tão forte e avermelhado contra a outra, que me fez cegar um instante antes da mais moça lançar o feitiço-escudo contra o feitiço com uma facilidade que me surpreendeu. Parecia que estava apenas se protegendo de uma bolinha de papel. Esta, pois, continuou indiferente.


 - Oh, sim...– disse friamente ao ver o rosto contorcido de raiva da mais velha –Agora, estou junto ao meu mestre... O mais forte, poderoso e jovem como eu... Ele está dominando... Até você admite isso, não é, queridinha? Ou é mentira? Não... não é não...


“Pare para pensar: se vocês não o temessem tanto, não precisariam se preparar tanto contra ele, não? Evitar dizer seu nome... É, é sim... Covardes... Isso que vocês são... Principalmente aquele idiota que se diz capaz de ajudar você e aquele povo imundo!”


 - CALE A BOCA! – berrou novamente, atirando outro raio avermelhado na esperança inútil de tentar atingi-la, pois esta novamente se protegeu com sucesso, infelizmente.


Eu acompanhava cada movimento das duas mulheres desde que acontecera o arrombamento do quarto, minha cabeça virando para cada pessoa que falava ou mudava de expressão, acompanhando seus passos e cada palavra que falavam, e logo me tocando que elas nem reparavam minha presença. Parecia simplesmente que eu não existia! Que não estava ali.


 - Ora, ora, - debochou a mais nova das duas – o amor é lindo mesmo...


 - Você enlouqueceu... ENLOUQUECEU!


 - Ah, não. Pelo contrário. Eu tomei juízo, isso sim. – discordou serenamente – Tomei juízo, pois me juntei ao lado verdadeiramente forte e vencedor... ou quase.


A mulher que tinha o bebê deitado em seu braço esquerdo, que dormia em sono profundo, estado que não consegui entender completamente em nenhum sentido, pareceu confusa com o término da frase.


 - Confusa, é? Pois bem, vou explicar por que quase, irmãzinha...


“Pouco antes de virmos para cá, tivemos uma pequena reunião entre nós, sabe? Depois de certo tempo discutindo, logo notamos que só estávamos a dois passos do poder supremo.


“O primeiro: matar aquele nojento que mais ousa agir dcontra meu lorde, e tirá-lo de uma vez por todas de nosso caminho.”


Os olhos pequenos da dona da criança se arregalaram de receio, o que fez um sorriso malicioso de satisfação surgir no rosto branquelo da mais nova e fazê-la aumentar a velocidade de seus passos, fazendo os da outra a acompanhar.


 - Você está com medo... – continuou sorrindo – Como é bom saber disso, sentir tal temor... Teme a vidinha podre dele, não? Pois é, se isso a assustou, imagina o passo dois, que resultado que irá dar.


“Segundo passo: matar você.”


Os olhos da sua irmã se tornaram ainda mais arregalados, enormes, ainda maiores que anteriormente, numa mistura, de temor e surpresa extrema com a declaração feroz e o aumento de velocidade dos passos da sua rival enquanto andavam. Ela olhou para a porta podre do quarto. Não adiantava. A solução para tal problema não poderia ser uma rápida retirada, simplesmente porque poderia muito bem ser atingida pelo ataque da jovem no meio do caminho, seja lá o que fosse. Após isso, em meio a uma caminhada apressada, ela olhou para a criança deitada em seu braço e apertou-a contra o peito, atirando um terceiro raio contra a irmã, que se protegeu novamente com sucesso, mas desta vez parecendo refletir uma ideia qualquer.


 - Humm... Mas vejam só... – disse serenamente, diminuindo um pouco o passo – Até que você me ajuda em alguma coisa, afinal... Acabei de ter uma ideia ótima... para mim, é claro. Você irá sofrer tanto, coitadinha... – e soltou uma breve risada fria – Por que não pensei nisso antes? Se eu matar a coisa “mais preciosa que existe para você”, você ficará tão fraquinha... Fato que facilitará ainda mais a sua morte de ralé...


Seu olhar fixou-se maliciosamente em cima da criança adormecida.


 - Não... – falou a mais velha nervosamente, quase que num sussurro – Você não pode...


 - Ah, posso... – cochichou maldosamente, e logo avançou de modo feroz para cima da criança – Me dê ela aqui! Já!


 - Não! Não!


Os gritos de desespero não trouxeram solução nenhuma para o problema. Todo o andar de baixo parecia ignorá-la, incapazes de prestar-lhe socorro, por estarem lutando pela vida contra outros bem mais habilidosos e em maioria no local, por muitas vezes, de modo covarde. Ela tentou proteger a criança da mão que a agarrava com tanta ferocidade, queria meter a varinha na barriga da irmã e fazê-la ser atirada inconsciente no chão para poder fugir, mas a mulher agarra sua mão com a varinha também, impedindo ela de tal ação, forçando-a a manter a varinha acima da própria cabeça. As duas mulheres quase que brigavam com apenas uma das mãos, cada qual mais forte do que a outra. A mais nova, tentando a força arrancar o bebê do braço da outra, e esta, tentava ao máximo segurá-lo enquanto gritava e começava a chorar desesperada, pois notava que a irmã ia vencendo a luta: o pequeno ser já escapava de seu braço capturado pela comensal.


Meu estômago pareceu desmanchar-se nesse meio tempo, em ância de querer ajudar a resgatar uma vida, ao mesmo tempo poupando o sofrimento de outra, mas estava negativamente impossibilitada, não sentia praticamente nada, nem mesmo o vento que fazia a cortina rasgada da janela balançar violentamente. Contudo, o verdadeiro peso da incompetência que fez meu coração se tornar um verdadeiro tijolo dentro de mim, despencou na consciência com o peso de um cofre de Gringotes, quando a criança finalmente, entre uma torrente enorme de lágrimas de sua mãe, ou pelo menos assim supus, foi removida com força dela, sendo agarrada pela outra mulher e erguida pelos panos costurados, no ar, a varinha da comensal apontando ameaçadoramente para o corpo que balançava e dormia pesadamente como se tivesse recebido um carinho caloroso de alguém, um casulo de lagarta prestes a ser esmagado.


 - Acci... – a mais velha tentou dizer entre lágrimas de se afogar, na tentativa de recuperar o bebê, mas a outra, ao notar seu movimento brusco, foi mais rápida.


 - Diffinto! – disse fortemente, e um raio avermelhado imediatamente foi cuspido de sua varinha com força, atingindo e jogando a outra varinha para trás com força total, fazendo-a espetar a ponta da parede de madeira e a mão de sua irmã sofrer um longo corte pelo raio, que a fez gemer e soluçar de dor, tudo ao mesmo tempo.


 - Ai...! Ai...! – soluçou entre o choro descontrolado, tentando segurar a mão com uma parte da capa negra, enquanto erguia a cabeça para a irmã. – Você não pode... Por favor, não pode fazer isso... Me leve... Não a mate... Por favor... Eu imploro...


Mas a outra mulher, porém, sorriu maldosamente ao ver o estado da mais velha.


 - Ah... Não se preocupe... Quem disse que eu não vou te levar também?... – disse coberta de malícia – Acontece que já perdi muito tempo com o resto da família para gastar minha preciosa energia com uma qualquer como você... Então por que não enfraquecê-la de uma vez, heim? Que tal? Me poupará tanto trabalho, ralé... – e riu debochando da aparência drástica da irmã que se derramava em lágrimas, e apontou com força o bico da esguia varinha para o pescoço da criança, até pouco escondido pela cabecinha mole e sonolenta do bebezinho.


Antes que qualquer pessoa pude-se mover um único músculo, apenas fixar os olhos vidrados no bebê na tentativa de socorrê-lo no último segundo, a maldosa mulher já falava firme e fria a maldição letal contra a indefesa vítima em suas mãos.


Por um milésimo de segundo, pareceu que tudo havia acabado. Chegara o momento funesto em que não se podia nada mais fazer, o momento em que uma vida serena seria arrancada covardemente do corpo para toda a eternidade, mas na hora, alguma coisa deu errado.


O único objeto em punho estremeceu feito uma bomba nuclear, que explodiu com um estrondo imenso e um raio gigantesco e esverdeado que cegou todos os olhos que haviam se arregalado com o tremor forte da varinha.


A partir daí, não pude ver mais nada, a não ser a explosão verde da maldição. Não pude ouvir mais nada, a não ser ouvir dois gritos desesperados, apavorados, cobertos de horror, ou qualquer palavra que substitua o pior som amargo que se pode ouvir em uma vida, juntamente com uma risada fria. Mas entre os berros aterrados, estranhamente uma voz conhecida cortou o acontecimento.


 - SunShine! – uma voz exclamou, mas esta foi abafada logo a seguir gritos contínuos e sons de objetos se estralhaçando.


 - Srta. Kingsplay! – uma outra exclamou ainda mais forte – Srta. Kingsplay, acorde, por favor! Acorde!


A luz retornou aos meus olhos subitamente e pude ver a professora e a cozinheira debruçadas sobre mim.

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