A CERCA FANTASMA




Todos se curvaram obedientemente quando a mulher de longos cabelos loiros entrou. Ela era magra e tinha uma aparência frágil, mas todos sabiam que era uma mulher forte, apaixonada e vingativa. Ela andou calmamente até o corpo do faraó estendido em um catre ricamente trabalhado. Ela abaixou o capuz da capa e sentiu todos os olhares cravados nela. Os cabelos loiros extremamente claros estavam soltos, emoldurando seu rosto de boneca. Tinha os olhos muito azuis, nariz e boca pequenos. Ela sorriu divertida. Os homens sempre admiravam e queriam apenas o que não podiam ter.
— Deixem-nos. – Ordenou.

Rapidamente os homens abandonaram a câmara. O olhar dela se fixou demoradamente por onde eles tinham acabado de sair e em seguida olhou para Seth. Seu olhar nunca esteve tão meigo em anos.
— Meu querido... – Ela passou a mão levemente por seu rosto e o beijou na testa. Em seguida, pegou a mão dele e levou ao seu próprio rosto. – Sou eu, Liz. Agora poderemos ficar juntos! Falta tão pouco meu amor... Tão pouco! Você vai ver. – Ela soltou uma gargalhada demoníaca. – Acredita que a última sacrificada está apresentando os estigmas? Sou obrigada a dizer que Lucio Malfoy está desempenhando um ótimo trabalho. Ele fez um neferti da garota e o usa para manipular o filho. E o tal menino Malfoy está tão desesperado em salvar a Weasley que vai acabar fazendo exatamente aquilo que desejamos: matá-la.



Quando Gina se levantou naquela linda manhã foi até a janela e deixou o sol inundar sua alma. Foi um gesto impensado, ela apenas sentiu necessidade de olhar para o sol e sentir seu calor.

Seus olhos ainda estavam embaçados quando caminhou até o pé da cama e pegou o robe. Assim que se curvou, uma gota de sangue pingou na cama. Automaticamente passou a mão no nariz: Limpo. Olhou para a faixa na cintura: Empapada de sangue. Foi então que seus olhos ficaram ainda mais embaçados. Ela os esfregou, olhou para suas mãos, e gritou.



Arthur Weasley estava sentado na sala de Cornélio Fudge.
— Você sabe que não pode continuar o que está fazendo, Arthur. – Fudge falava com a voz mansa e calma. – Está para acontecer uma coisa absolutamente maravilhosa, e não posso deixar que ninguém estrague isso. - Alguns quadros vaiaram e outros deram vivas a Cornélio, mas ele nem ao menos olhou para as paredes. Seus olhos estavam fixos em Arthur. – A nação bruxa não pode se dar ao luxo de continuar vivendo da forma que está. Será que você não entende? Não fui eu quem envolvi sua preciosa filha nisso. – Ele piscou e suspirou longamente. Imperius!



O mordomo entrou no imenso quarto e, sem nem ao menos olhar para o corpo adormecido na cama, abriu as cortinas e escancarou as janelas. O sol iluminou todo o quarto e bateu no rosto do rapaz, que levantou assustado.
— Por Merlim! O que está acontecendo? – Ele gritou revoltado.
— Seu pai deseja vê-lo, senhor. – O mordomo respondeu fazendo uma leve reverência.
— Pois diga ao meu pai que eu não quero vê-lo. – Ele disse apertando os olhos por causa da claridade e colocando uma camisa. Neste instante a porta do quarto se abriu novamente.
— Draco, Draco, Draco... – Lucio entrou segurando seu belo cajado de ouro branco cravejado de esmeraldas. – Você não escolhe se vai ou não atender um chamado meu. Você simplesmente o atende.
— O que foi dessa vez? – Draco perguntou levantando da cama e olhando para o pai com todo o desprezo do mundo.
— Ora meu filho. – Ele sorriu satisfeito. – É hora do show!



Molly, Hermione e Harry entraram no quarto como animais desembestados. Gina estava de costas para a cama, ainda olhando para as mãos.
— Querida, o que foi? – Molly se aproximou lentamente, falando com a voz doce. – Ouvimos você gritar, aconteceu alguma coisa?

Foi então que a garota se virou. Os três a olharam chocados. Seus olhos estavam vermelhos, e escorria sangue tanto por dentro quanto por fora.
— Hermione, chame um curandeiro. Agora!! – Molly gritou desesperada enquanto tentava convencer a filha a se deitar. – Harry, um lenço e um pouco de água morna.

Em segundos os dois estavam de volta e Gina estava deitada no colo da mãe, que a embalava para frente e para trás como se fosse um bebê. Harry lhe entregou o lenço molhado e, com todo o cuidado do mundo, passou levemente pelos olhos da filha. Molly chorava baixinho de tristeza, enquanto Gina chorava de dor.
— Está ardendo, mamãe. – Sussurrou baixinho. – Está ardendo muito.
— Já vai passar meu amor. – Ela respondeu secando as lágrimas. – Agora pare de chorar.

Mas a verdade era que Gina chorava sangue. Quanto mais seus olhos lacrimejassem ou que ela chorasse, mais difícil seria fazer o sangue estancar.

Harry e Hermione assistiam tudo da porta, mãos atadas, desesperados. Foi então que Gina fez sinal para que se aproximassem.
— O que vocês sabem sobre estigmas? – Perguntou num fio de voz, tentando abrir os olhos. Molly ralhou com ela, que concordou em permanecer com os olhos fechados.
— Por que a pergunta, Gina? – Harry perguntou confuso.
— Porque Jack Myers, o monstro que fez isso acontecer comigo, me alertou que eu estava apresentando os estigmas. Preciso saber o que está acontecendo. – Ela suspirou – E tenho certeza que curandeiro nenhum poderá me ajudar.

Um breve silêncio no quarto e Hermione respirou fundo.
— Isso não tinha me passado pela cabeça, como pude ser tão burra!! – Ela começou a andar de um lado para o outro. – Estigmas são marcas. Pessoas que tiveram contato com divindades apresentam estigmas. Até onde eu sei sobre Egito Antigo, Seth era um deus. Se você teve contato com esse deus e não morreu – Harry e Molly lançaram um olhar congelante à garota, que pareceu não se importar – era mais do que óbvio que fosse apresentar os estigmas. Mas eu não sei muita coisa, preciso pesquisar. – E logo em seguida completou - Não é um assunto muito discutido, por isso nunca li nada mais específico sobre o assunto. – Olhou para Harry. – Precisamos ir até a Biblioteca Nacional de Bruxaria de Londres. Se existe alguma coisa sobre estigmas com toda a certeza do mundo estará lá. – Antes mesmo de terminar a frase os dois já tinham aparatado.

Alguns minutos depois Molly já tinha terminado de limpar o redor dos olhos e o rosto da filha. Ela colocou o lenço dentro da vasilha com a água avermelhada e estremeceu. Em seguida embalou novamente a menina e beijou-lhe levemente a testa. Gina abriu os olhos lentamente. Não estavam mais embaçados. Por dentro estavam vermelhos. Por fora, apresentavam uma mancha roxa, quase preta. Parecia que ela usava óculos escuros com lentes vermelhas.
— Querida, preciso encontrar o seu pai. Fique deitada, feche os olhos. – Ela a olhou bondosamente – Eles ainda doem?
— Não. – Gina respondeu confusa – Eles pararam de arder, ou doer, ou qualquer coisa do tipo. Nem embaçados estão.

A Sra. Weasley sorriu bondosamente e caminhou até a porta.
— Mamãe... – Gina chamou. A Sra. Weasley voltou e sentou na beirada da cama, passando a mão pelos cabelos da filha. – Eu vou morrer?
— Não! – Foi um grito. Ela sentiu as lágrimas voltarem aos olhos e lutou para não chorar. – É claro que não querida. Os curandeiros vão descobrir o que está acontecendo, você vai ver. Tudo ficará bem. – Ela beijou a testa da filha e se levantou - Agora descanse.

Gina virou para o lado e Molly saiu do quarto. Fechou a porta, encostou na parede, e chorou.



— Senhora – Um homem entrou na câmara segurando várias estacas. Ela preparava alguma poção mal-cheirosa no caldeirão, e nem ao menos olhou para trás. – Conseguimos encontrar os nove sacrificados. Eles estavam vagando pelas câmaras como monstros, exatamente como a senhora os tinha transformado. – O homem parecia nervoso e fez uma careta quando chegou mais perto do caldeirão. – Preciso saber onde a senhora quer que eu finque essas estacas.

Ela o olhou com desprezo e o homem se remexeu apreensivo. Não fazia muito tempo que ela tinha lançado Avada Kedrava em um dos seus por ter feito uma pergunta indiscreta. O homem tinha morrido sem nem ao menos saber o motivo.
— Eu ainda serei recompensada por ter que trabalhar com bruxos podres como vocês. Leve as estacas e os sacrificados à Esfinge, e os deixe na Sala de Registros. Aposto minha eternidade que é para lá que a menininha Weasley vai.

Assim que a poção ficou pronta Liz pegou pequenos frascos etiquetados. Em cada um deles constava nome e uma data aleatória, mas todas muito próximas. Com todo o cuidado e paciência do mundo, ela encheu cada um dos frascos com a poção fedida. Assim que entrava em contato com o que estava dentro do frasco a poção adquiria uma cor diferente. Ela sorriu satisfeita. Guardou todos os frascos no bolso interno da capa e, sem fazer barulho algum, atravessou a câmara e caminhou até a esfinge.

Não era a primeira vez que entrava na sala, mas toda vez que o fazia sentia uma emoção indescritível. Todo o conhecimento da Magia Negra Bruxa, acumulada durante milhares de anos estava ali, naqueles papiros. E ela tinha a inominável sorte de poder desfrutar de todo aquele conhecimento. Emocionada, lembrou-se de quando descobriu que poderia buscar seu amor no inferno e livra-lo das mãos de Chesmu. E então ela se lembrou que isso tinha acontecido há 10 anos, e que em breve ele estaria ao seu lado, sorrindo. Era um pesadelo que chegava ao fim.

Liz saiu do devaneio e olhou para o centro da imensa sala. As nove estacas estavam fincadas no chão, com as pontas para cima. Em um canto um pouco mais escuro estavam os monstros, todos sob a maldição imperius. Ela olhou para as criaturas e sorriu. Era o seu jardim particular. Tirou os frascos do bolso da capa e os entregou a cada um dos monstros, tomando todo o cuidado do mundo para não se confundir. Mandou que abrissem o frasco e bebessem a poção, coisa que fizeram imediatamente. Em segundos, Liz não estava mais diante de criaturas repugnantes, e sim de bruxos maltrapilhos. Eram homens e mulheres com idades diferentes. Alguns estavam nus, mas nem ao menos pareciam se dar conta disso. Olhavam fixamente para a frente.

Liz fez sinal para uma mulher que devia ter cerca de 30 anos. A mulher caminhou obedientemente até onde a poderosa bruxa estava e virou de costas, exatamente como esta ordenou. Ela nem ao menos viu quando a faca prateada cortou sua garganta de fora a fora, separando sua cabeça do corpo.

A bruxa fez isso mais oito vezes. Parecia que seu prazer crescia cada vez mais. Suas roupas, mão e até mesmo rosto estavam sujos de sangue. Mas ela não se importava. Quando matou o último sacrificado empilhou os corpos e lançou Incendio, para que fossem queimados. Em segundos não restava nada além de pó.

Em seguida Liz voltou sua atenção para as cabeças e começou o ritual. Dizendo encantamentos egípcios antigos, reuniu todas as cabeças, sentou-se, limpou o sangue de cada uma delas e em seguida fez pinturas diferentes. Como se a situação não estivesse mórbida o suficiente, ela se levantou e segurou a primeira cabeça pelos cabelos. Invocando os deuses bruxos, pediu proteção. Assim que terminou a última palavra, fincou a cabeça da pessoa na estaca. E fez isso até que não restasse nenhuma cabeça ou estaca.

Aquela era uma cerca fantasma. A única no mundo atual. Ninguém que não tivesse ligação com qualquer daquelas pessoas ou situação poderia passar. Virginia Weasley estaria absolutamente sozinha.

N/A: Alguém sabe quem é a Liz? Alguém? Alguém? (eheheheh). No próximo capítulo eu conto. A propósito, desculpem pelo sangue nesse capítulo. Mas é que a cerca fantasma dá o tom sombrio e sinistro que preciso para rumar essa fic para os capítulos finais. COMENTEM POR FAVOR!!

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