A DECEPÇÃO



A DECEPÇÃO

— O que? – Gina perguntou colocando o casaco e fechando a porta do quarto ao sair. – Como assim, o livro sumiu? – Abaixou o tom de voz.
— Eu não sei! – Draco estava apavorado. – Fui buscá-lo para você, quando olhei não estava mais lá.

Os dois sussurravam enquanto andavam a passos rápidos até o quarto dele. Quando entraram o armário estava escancarado e as roupas jogadas no chão.
— Quando entrou estava assim?
— Não. Aliás, estava. – Ele pensou por alguns segundos. – Eu baguncei mais procurando o livro.
— Quem tinha acesso ao seu quarto?
— Só eu. E os elfos, claro. Como em Hogwarts.
— Pense Draco. – Gina se aproximou e o segurou pelos ombros. – Quem mais tinha acesso ao seu quarto?

Draco pensou por vários minutos, sentou na cama em frente o armário e abaixou a cabeça.
— Myrian. Ela tinha acesso livre. Gostava muito de vir me visitar de madrugada.
— E quando terminou por que não bloqueou o acesso ou mudou a senha?
— Porque foi no dia que fomos para a pirâmide. De lá para cá minha vida tem sido muito tumultuada – Ele a olhou e sorriu de lado – Está com ciúmes, é?
— Claro que não! – Ela respondeu furiosa. – Só acho que ela pode ter entrado e pegado o livro por vingança. Ela falou que se vingaria!
— Duvido muito. Ela não é o que podemos chamar de criatura inteligente. Na verdade, acho improvável que ela saiba a diferença entre o Livro dos Mortos e O Pequeno Príncipe.
— Quero morrer sua amiga. – Ela o olhou seca.
— Ô meu bem... – Ele disse tentando abraçá-la, mas ela não deixou.
— Draco, você já parou para pensar na gravidade da situação?
— Posso pensar te abraçando?
— Por Merlin! – Ela explodiu. – O que está acontecendo com você? De repente tudo virou brincadeira?
— Claro que não!
— Pois parece! – Gina sentou na cama emburrada e segurou sua varinha.

Foi então que Draco ficou estranho. Começou a catar as roupas murmurando palavras desconexas e olhando para Gina com um olhar suplicante.
— Amor... – ela disse se levantando e o abraçando carinhosamente – Você quer me contar alguma coisa?
— Não! – Ele respondeu de imediato, quase um grito. - E ela percebeu, nesse imediatismo, um desespero profundo e uma rápida piscadela. – Não tem nada a ser dito. – Ele repetiu firme.
— Amor... Draco. – Ela disse novamente e ele a encarou nos olhos. – Desculpe.

Foi então que ele sentiu uma ponta fina encostar no seu peito. Antes que pudesse dizer qualquer coisa Gina sussurrou “Vertate” e ele sentiu os músculos do peito incharem. A dor era insuportável e ele pensou que suas costelas fossem explodir a qualquer segundo. Ele a olhou com os olhos arregalados, um misto de espanto, medo e surpresa.
— O livro foi roubado? – Ela perguntou.
— Não. – Ele respondeu e ergueu as sobrancelhas, surpreso com a própria resposta. Gina estava usando um feitiço fortíssimo, onde a pessoa só poderia dizer a verdade.
— Quem o pegou? – Ela sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto.
— Eu.
— O que fez com ele?
— Entreguei para uma pessoa. – Ele sentia o desespero tomar conta até da ponta dos seus dedos, mas não conseguia mentir de forma alguma.
— Essa pessoa esteve no seu quarto?
— Sim.
— Quem é?
— O meu pai.
— O que ele quer com o livro?
— Me proteger.
— Do que?
— De nada.
— De quem Draco?
— De você.

A essa altura ambos estavam soluçando de chorar. A cada pergunta dela ele arregalava mais os olhos. Desesperado. Sem ter para onde ir. Só podia dizer a verdade.
— Isso é parte de algum plano?
— Sim. – Ele respondeu soluçando. – Gin, por favor, pare!!
— Uma última pergunta Draco. – Ela secou o rosto com as mãos - Você está envolvido nisso?
— Sim.

Foi um soco na boca do estômago. Ela encostou a varinha no peito dele e sussurrou um inaudível “Finite Incantatem”. Deixou seu corpo cair pesadamente na cama, incrédula. Ele sentou ao seu lado.
— Gin, me desculpa. Deixe-me explicar.

Mas ela não escutou. Olhava para ele, mas simplesmente não o enxergava. Era como se não tivesse mais chão, teto ou mundo. Ninguém. Mentiras, ilusão, falsidade. Uma marionete. Uma lágrima formou-se no canto do olho dela, mas não era uma lágrima normal. Era de sangue. Ele tentou se aproximar, mas ela voltou para a realidade e o impediu. Levantou-se da cama e ficou parada no meio do quarto, cambaleante. A lágrima escorreu pelo seu rosto e pingou no tapete. Ela deu as costas e saiu do quarto.



Draco continuou sentado na cama e deixou as lágrimas rolarem livremente pelo seu rosto. Estava arrasado. Como pôde? Mas ele sabia. Era seu fardo, e teria que carrega-lo até o final. Som de palmas. Draco olhou para os lados, amaldiçoando a si próprio até a próxima geração.
— Não entendo como pode ser meu filho. – Um homem usando uma longa capa preta saiu de dentro do banheiro.
— Eu me pergunto isso todos os dias.
— Você é um fraco! – O homem gritou – Um bruxo fraco, covarde, que tem tudo para vencer na vida, ser forte, poderoso.
— Sai daqui pai! – Draco gritou – Sai daqui!

Lucius andou até ele e se abaixou, de forma que seus rostos ficassem no mesmo nível.
— Filho – Não tinha nenhuma ternura em sua voz – Você tem um destino a cumprir. Não adianta ir contra. – Ele mostrou um pingente de cristal com um líquido vermelho. – Se você a ama de verdade deixe de ser tão trouxa e faça o que tem que ser feito.

Com um estalar de dedos, Lucius sumiu. A única coisa que Draco conseguia olhar era para a pequena gota de sangue no tapete.

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