chapter four




She & Him


chapter four







Dorcas Meadowes
, Casa dos Holbrooke, Notting Hill – Londres, 07:36




Go on go on go on, the stars are watching, just say, just say what are you felling, you know you know you know you gotta take a bow and do it your way, it’s okay-ay.




Pus a mão para fora do edredom mais preguiçosamente do que geralmente. Desde quando estava tão frio assim? Senti o choque térmico envolver minha mão, desliguei o despertador (daquele que suporta iPod), e voltei a mão para baixo das cobertas. Claro que eu não iria conseguir dormir de novo, mas eu poderia pelo menos esquentar minha mão de novo, antes de ir tomar banho para trabalhar.




Ouvi o despertador de Nate tocando e decidi que já era hora de levantar. Eu teria um dia bem cheio hoje e eu teria que acompanhar Peter na sessão de fotos da Rolling Stone, com o Remus, para variar. Ah, sem contar na propaganda no perfume novo da Hugo Boss. É, ele tirou a vaga daquele cara de August Rush, sabe? O Jonathan Rys Meyers, que sempre faz as campanhas da marca, enfim. Quem pode, pode, né não? E depois mais uma sessão de fotos para a Vogue desse vez. Por que eu tinha que acompanhar o Pete? Ah, que tédio.




Levantei e peguei meu vestido verde musgo, um cinto marrom, um corselete, e um scarpin marrom também. Claro que eu ia colocar um sobretudo... sobre tudo. Entrei no banheiro e fui tomar um banho bem quente, para esquentar meu ossos antes de sair de casa.




Eu não estava acostumada com esse negócio que os ingleses tinham de não tomar muitos banhos. Na verdade, para mim não me importava quanto frio estava, eu sempre tinha que tomar um banho de manhã. Mas, apesar disso, o pessoal da Vogue e todo esse meio, cheira bem. Talvez porque eles sejam ricos e tenham dinheiro para pagar a conta de água, sem ser porquinhos e tomar banho de perfume, isso sim.




Tomei um banho rápido, mas longo o suficiente para embaçar todinho o espelho do meu banheiro de uma forma irreversível, no momento. Coloquei minhas roupas e fiquei ali tremendo de frio, enquanto eu não colocava uma blusa por cima. Abri a porta do banheiro e fui até o mancebo pegar minha blusa, para então ver Nate me observando, deitado na minha cama.




O que raios ele está fazendo?




- Ai, Nate, que susto.




- Bom dia.




- Bom dia, primo. – eu disse, vestindo o meu sobre tudo e arrumando os cachinhos do meu cabelo com um produto japonês que eu tinha ganho para experimentar, lá na edição.




Ele ficou em silencio, mas continuou me olhando.




- O que foi? – perguntei meio constrangida com os olhares dele.




- Tô paquerando.¹




- QUE? – engasguei e comecei a tossir loucamente. Como assim o meu primo diz uma coisa dessas para mim? Ai meu Deus, que crime!




Vou ter um colapso nervoso. Ah não! Se acalma, Dorcas! É só o seu primo, te paquerando. Ah não de novo! Isso não pode estar acontecendo. Tô paquerando... não, não e não.




- É, te paquerando. Sabe? Flertando, tendo um affair com você,




- Nate, não, Nate, veja bem, eu sou sua prima e só, tudo bem? Além do quê, sou 6 anos mais velha que você, então, esquece isso tudo bem, não vai rolar... o lance da idade, e tal.




- Mas o amor não tem idade, prima. – ele me disse e veio até mim. Eu o encarei e pus minhas mãos em seu ombro. – Você tem outro? Ah não, você tem outro?




- O que— Nate, não! Não, não e não! Olha só, você é um garoto legal, bonito e inteligente, aporto que tem um montão de garotas atrás de você.




- Mas eu gosto de você!




- Eu também, Nate. Mas eu sou muito velha para você.




- Você tem outro! Se eu descobrir quem ele é... ele está frito! E eu estou falando sério. – ele começou a resmungar saindo do meu quarto.




Eu respirei fundo duas vezes e olhei do relógio. Ah, ótimo, eu estava atrasada. Estou sendo irônica, ok?




Eu não teria tempo nem de engolir uma torrada, então peguei a minha bolsa e minha agenda, vulga vida-material, e sai correndo, passando batom. Desci as escadas correndo e minha tia me olhou, com o mesmo olhar gentil de sempre.




- Não vai tomar café, meu anjo? – ela perguntou e eu peguei as chaves do meu carro, negando com a cabeça.




- Não dá tempo tia, desculpe, vou passar numa Starbucks e pegar um mocha. – eu falei, e sai correndo de casa, indo em direção ao meu 500, e estava estacionado na frente da garagem, que guardava um Omega preto.




Entrei no carro e dirigi o mais rápido que pude, sem sair da minha zona de conforto, claro, tentando não pensar na cena que tinha acabado de acontecer. Eu não podia acreditar. Como isso poderia estar acontecendo? Tudo bem, podia não ser algo tão demais assim, mas eu odiava partir corações, principalmente quando esse coração era do meu priminho. Tudo bem que ele não era nenhuma criança mais, mas o que eu poderia fazer? Para mim ele era meu priminho, entende?




Estacionei o carro na zona proibida mesmo, na frente da Starbucks, entrei e peguei o meu mocha. Menos de cinco minutos depois eu já estava dentro do meu carro novamente, dirigindo até a edição.




Ainda me perguntava como seria o meu encontro com Remus depois do que houve no fim de semana, quando eu quase fiquei bêbada e o chamei de merdinha. Eu não tenho culpa, realmente, não tenho culpa nenhuma de que ele me dedurou para Marlene, rum. Qual é! Ele achou mesmo que eu ia virar todas e depois ele ia ter que me carregar para casa? Se bem que não seria nada mal se carregada por Remus Lupin.




Ah não! Eu não posso estar pensando nisso. DORCAS! Para com isso agora!




Sério, eu ando percebendo que a cada dia que passa eu me torno mais e mais viciada em pensar nele. Por que isso? Talvez só porque eu esteja tendo uma paixão platônica, tipo a que adolescentes têm ao terminar de ler a Saga Crepúsculo pelo Edward Cullen.  




Eu me recuso a pensar nisso. Ai, que horror.




Deixei meu carro e minhas chaves com o manobrista e entrei no Edifício Ethan Cassay correndo, como de costume. Qual era o meu problema com cumprir horários? Ah, que merda.




Dei bom dia a Isabella, que falava no telefone e lixava as unhas, e fui até o elevador, onde encontrei com Marlene e Remus, também subindo. O que é isso? É uma conspiração, já sei.




Acenei e dei bom dia, também, aos dois. Logo Marlene começou a tagarelar sobre algo que eu não prestava atenção. Eu estava ocupada demais notando Remus me olhando de soslaio, enquanto Marlene argumentava. Eu reprimi um sorriso e apertei mais minha agenda contra o meu corpo. O sino no elevador tocou, indicando que tínhamos chego no nosso destino.




- Graças a Deus vocês chegaram! – Sirius falou me puxando pelo braço, assim que a porta abriu. – E você, Remus, está atrasado! O Peter ter que te passar os últimos detalhes antes de irem para o estúdio da Rolling Stone.




O estúdio da Rolling Stone era alguns andares para baixo o facilitava bastante o trabalho. Isso porque a editora da Vogue e da Rolling Stone era a mesma, entende? Então, o Ethan Cassay, o edifício quero dizer, comporta todas as revistas da editora. Inclusive a Car Magazine, o sonho do Sirius, haha.




- Não sei o que vai ser de mim hoje sem você, Dorcas. Mas tudo bem, eu sabia que você não seria minha exclusividade. Ah, droga, tudo bem. O Peter precisa mais de você do que eu. Por que tem dias que não tem nada para fazer e dias que temos absolutamente TUDO para fazer? Droga! Vem. – ele dizia me conduzindo para a sua sala.




Nós entramos na sala, e eu podia ouvir Emmeline conversando com alguém, histericamente, no telefone. Eu tinha medo dos possíveis danos auditivos que essa pessoa poderia ter.




- Certo, hoje eu passarei o dia todo fora, estarei verificando algumas coisas para o ensaio de primavera no jardim botânico, então tenho que conversar com os administradores dele e ainda passar nos ateliês da Chanel, Valentino e De La Renta pegar peças da nova coleção. Então, amanhã você é minha, e você vai me ajudar a montar os looks e a escolher as maquiagens e cabelos. E... – ele conferiu o relógio – você está 2 minutos atrasada!




- Obrigada por me avisar. – observei e sai correndo pela edição.




Vi Peter me encarando com o cenho franzido e sorri fraco. Merda, porque eu sempre tenho que estar atrasada para tudo?




- Prontinha. – falei, parando bem em cima da hora, na frente de Remus, que revirou os olhos rindo.




- Vamos! – Peter exclamou entrando no elevador juntos com Remus e eu.




- Onde está Marlene? – perguntei, checando minha agenda mais uma vez.




- Foi falar com Emmeline, antes de ir para o salão se arrumar para a premiere de Alice. – Remus falou, com a voz mais suave do que de costume, quando ele se dirige a mim.




Por que eu ainda tinha palpitações quando ele se dirigia a mim? Só pode ser loucura, só pode.




Chegamos no andar do estúdio, que era exatamente igual ao da Vogue. Qual era o problema em usar um único estúdio? Puro desperdício de dinheiro, mas se eles tinham, né, o que eu poderia fazer? Peter logo se afundou no estúdio, falando com todos, e dando coordenadas. Eu o observava, dando um jeito em tudo, antes de começarem a sessão, e quando eu me dei conta, Remus andava ao meu lado.




- Você ainda fica olhando para tudo e todos como se não conhecesse nada disso. – ouvi a voz de Remus e despertei do meu transe.




- Na verdade, eu não conheço. Eu trabalhei em redação de revistas, mas nunca vi nada parecido. Não como você e como Peter, quero dizer, parece que o mundo aqui gira ai redor de vocês. É como se as revistas respirassem vocês. Cada um com seu devido trabalho. – afirmei rindo, o fazendo rir em seguida.




- Você é engraçada. As pessoas não respiram a mim, elas só te necessidade de me ver porque... em suas concepções, eu sou a imagem de homem perfeito do momento, entende?




Eu balancei a cabeça e ele riu novamente. Desde quando Remus Lupin ria para mim? Minha concepção de homem perfeito ria para mim? Merda, estou fazendo de novo, não é?




- Hum, você não vai se arrumar? Você tem uma ensaio agora.




- Nigel ainda não chegou. Ele me mandou um sms dizendo que estava preso no transito. – ele suspirou e eu tentei me lembrar de alguém que se chamasse Nigel.




- Hunf...




- Ah, me desculpe, Nigel é o meu cabeleireiro particular. – ele disse – Então, esse atraso me rende alguns minutos de folga.




Remus se jogou num sofá fofo, ao lado de algumas araras com roupas infinitas. Ouvi alguns barulhos estranhos e quando me virei, me deparei com alguns caras carregando uma espécie de cenário, ou algo do tipo. Eu arregalei os olhos e ele riu mais uma vez.




- Vai ficar em pé feito uma estátua? – ele perguntou e eu o encarei confusa.




- Ah, para eu sentar. Ok. – falei e me sentei ao seu lado, desconfortável. Acho que ele percebeu quando ele soltou um muxoxo e eu o olhei. – O que houve?




- Você age como se eu fosse te morder a qualquer momento. – ele comentou e eu o encarei cética, com a boca aberta.  – Tudo bem, eu sei que fui idiota e tudo mais antes, mas não precisa ficar tão desconfortável ao meu lado...




- A questão é que você me traumatizou. Não mais que eu, quando parei o elevador, mas desconsidere aquilo. Você estava me deixando maluca.




- Me desculpe.




- Para com isso, que droga! – eu revirei os olhos. Ele estava me fazendo me sentir horrível.




Ele me encarou, confuso, apertando os olhos.




- Para de pedir desculpas. Estávamos os dois errados e pronto. Esquece aquilo, já nos apresentamos de novo, não? Então pronto! – eu disse e ele assentiu.




Eu não podia negar que eu não estava acreditando mesmo que depois daquele dia, no Leaky Cauldron tudo iria mudar como num passe de mágica, mas eu estava errada. Eu deveria saber que depois da nossa “segunda” apresentação, tudo mudaria, de certa forma. E, Remus Lupin está mesmo se desculpando para mim?




Inacreditável. Alguém me belisque!




- Sabe, eu tenho uma curiosidade... a seu respeito, quero dizer. – eu disse, o olhando. Ele levantou seus olhos e me encarou, suavemente.




- Pergunte.




- Quando você decidiu virar modelo? – perguntei e Remus ficou pensativo por um tempo.




Não soube muito bem quando tempo passou, desde que eu tinha terminado a pergunta, já que quando eu o olhava, eu perdia toda a noção do tempo. Talvez isso soe como uma adolescente falando sobre Edward Cullen, como se ela estivesse o vendo, ao vivo... Ou deveria dizer ao morto?




Ai, que horrível!




- Não foi exatamente uma decisão, acho que foi mais por... impulso, talvez, não sei. Eu tinha meus 13 anos, e quando o cara me achou e se ofereceu para me levar na agência eu achei o máximo... Então eu fui fazer o ensaio, me dei bem, e aqui estou.




- Eu diria que você nasceu com a bunda virada para a lua. Sem querer ofender, claro. – falei e ele riu da minha expressão.




- Talvez. Mas não é como se eu fosse diferente de você. Milhões de garotas dariam tu—




- Tudo para estar no meu lugar, já sei. – revirei os olhos e ri. – Mas, ao contrário de muitas delas, eu deixei muita coisa para trás... minha família, meu cachorro e meu namorado – ele arregalou os olhos e eu ri – ex-namorado, tudo bem.




- Vocês terminaram?




- Mais ou menos. Digo, para mim estava terminado, mas eu sabia que não era isso que nós queríamos. Só tinha terminado com ele porque eu ia vir para cá e... nós terminamos bem, sem muitos dramas. Foi um relacionamento longo. E eu não sei porque estou falando disso com você.




- Porque eu te perguntei, oras. – ela disse e eu sorri.




Eu não sabia se eu me matava agora ou se eu ficava feliz, por finalmente estar conseguindo ter uma conversa civilizada com Remus, nem que fosse um assunto tão desconfortável quando relações afetivas. Eu era do tipo que sofria em silêncio, então eu não me sentia a vontade falando com um quase estranho sobre minha vida amorosa... até hoje, claro. Agora, no caso.




E ainda me perguntava o que estava havendo comigo. Se havia uma coisa que, decididamente, não poderia acontecer, era me apaixonar por alguém, muito menos pelo cara mais disputado de toda a Grã-Bretanha. Além do mais, eu estava sendo idiota e imatura me apaixonando dessa maneira. E, bem, eu vim aqui para trabalhar e, quem sabe, se Deus quiser, eu conseguirei uma vaga definitiva na revista. Mas me apaixonar era a única coisa que não podia acontecer agora.




E não ia acontecer, se dependesse de mim, não. Da razão, quero dizer. Mesmo que a minha razão seja, na maioria das vezes, subjugada pelos meus sentimentos. Mas eu não ligo mesmo.




- Certo. E você?




- Eu o que? – ele falou meio que na defensiva e eu o encarei.




- Como assim, você o que? Fale sobre a sua ultima relação afetiva, ou você acha que só eu vou pagar esse mico? – eu ri e ele concordou.




- Na verdade, eu não consigo me lembrar do ultimo relacionamento sério que eu tive. Provavelmente faz muito tempo, eu deveria ter 17 ou 18 anos desde o ultimo. Ah, foi com Héstia Jones, mas não posso dizer que foi realmente um relacionamento sério.




- Héstia Jones, e atriz e modelo que afundou sua carreira nas drogas? – perguntei impressionada. Como assim ele tinha namorado Héstia Jones, a modelo/atriz mais vadia louca desde Lindsay Lohan.




- A própria.




- AAAAI cheguei, gato! – ouvi uma voz de homem mais... gay e presumi que fosse Nigel falando com Remus. – Vamos, vamos, estou muito atrasado, assim como você. Vamos, para dentro já! – Nigel mandou empurrando Remus para uma salinha que eu diria ser o camarim para os looks top secrets.




x




Eu já estava com uma dor nos pés horrenda, quando fomos para o estúdio da Hugo Boss, do outro lado da cidade. E eu já estava achando que, por uma ironia do destino, o meu dia seria inteiro destinado (?) a seguir a carreira de Remus, como se eu fosse sua assessora VIP.




Na verdade, hoje eu tinha sido a assessora do Pete, que estava por conta de Remus, então, direta, ou indiretamente, minha vida, hoje, foi dedicada ao Lupin.




Mas, de verdade, eu não estava nem me importando. Se isso fosse semana passada, eu estaria morrendo para que o dia acabasse, mas, por mais que me doesse dizer, eu estava até gostando de conhecer o inside Remus Lupin. E eu diria até que, apesar de tudo, ele era um cara bem legal.




E lindo.




Ok, pronto, falei o que todas queriam que eu dissesse. Eu sei, tudo bem? Não é como se eu não estivesse precisando de um babador, com aquela gravação. Não só um babador. Um babador ficaria molhado rápido demais. Oh céus, o que há comigo?




Depois daquelas fotos perfeitas para a capa da Rolling Stone, eu não sou eu (?) mais. Nunca mais. Elas ficaram tão perfeitas, é impossível explicar e eu devo estar parecendo idiota falando assim. Mas eu me sinto idiota. Perto dele. E se isso não são sintomas de paixonite aguda, eu não sei o que é.




Mas eu vou me conter, e isso vai passar assim que eu chegar em casa e ficar longe de trabalho e de tudo que seja relacionado à pessoa cujo nome começa com Re e termina com Mus.




Precisava me controlar.




O que não aconteceu, não da forma mais propícia, porque eu continuei pensando sobre o quão lindo ele era, ao longo de toda a gravação. Mesmo depois de tudo o que houve, toda aquela cena do elevador, e a coisa toda do americana terrorista e modelo arrogante e estúpido. Estou sendo contraditória agora... eu sei.




Cheguei  em casa, depois de um dia completamente estressante, não por causa do pessoal, mas sim porque eu tive que fazer tanta coisa em tão pouco tempo. O melhor é que quando mais cedo terminasse, mais cedo eu viria embora, e eu não posso reclamar disso.




Eles terminaram cedo, e eu vim para casa. Me despedi do pessoal e com direito e beijinho na bochecha e tudo. Estava me sentindo enturmada, eu me sentia bem. Principalmente depois que fiquei sabendo que a Marlene e o Sirius estavam juntos. Achei digno. Quero dizer, depois que Marlene me contou sobre como as coisas andavam com os dois, e depois de muito observar, eu cheguei a conclusão que eles se gostavam mesmo, e qual é o problema das pessoas?




Há algumas pessoas que se recusam a ser felizes, simplesmente. Acho isso a coisa mais... tosca forever. Digo, se você gosta de alguém, e esse alguém gosta de você, porque não investir? Isso me cansa.




Enfim, estava no meu quarto, com o meu melhor moletom largo, toalha enrolada no cabelo, chá de camomila na minha xícara do Mickey, lendo (ou pelo menos tentando) Vogue Fashion, o must-read para quem quer ser fashionista ou uma it, como eu (falei muito grego?).




E o que era pior? É que tudo, absolutamente tudo, me levava a pensar nele. E eu estava emo e obsessiva. Ai, que inferno.




Quero dizer, eu não posso negar que boa parte dessa obsessão é porque ele é bonito e famoso, mas é porque, depois que eu meio que “conheci” ele, de verdade, eu vi o quanto ele pode ser legal de se conversar, mesmo que eu tenho conversado com ele por apenas alguns momentos, antes de Nigel o confiscar para fazer o cabelo e a maquiagem.




Tenho que dizer que ele me surpreendeu com o interesse pela minha vida pessoal... Não que eu tenha feito por menos. Mas tudo bem.




Sorri com esse pensamento, e mordi o lábio, olhando para o nada e visualizando algumas cenas, quando meu Blackberry começou a tocar (o toque era muito parecido com o da Kim Possible) e eu me assustei, quase derrubando o meu chá em cima do livro.




Peguei o celular, que estava ao lado da cama, e atendendo.




- Alo?




- Dorcas? Ah, que bom. – ouvi a voz do Pete, que parecia estar aflito. – Finalmente achei sinal nessa porcaria de lugar. Enfim, Dorcas, preciso que você vá até o meu apartamento, sabe onde é né? – eu concordei, segurando uma bufadinha – Tá, então eu preciso de um material. São algumas fotos do editorial das its que eu precisava arquivar aqui na Vogue, e agora o Sirius está querendo reformular a matéria, então eu preciso delas. Estão em cima da cama, e a chave está debaixo do capacho.




- Tudo bem, vou lá e te levo o mais rápido possível. – eu disse.




- Muito obrigado. Acho que você é um anjo que caiu do céu.




- De nada, meu trabalho. – eu disse e ele desligou.




Tomei o ultimo gole do meu chá e enterrei minha cara nas mãos, criando coragem para sair de baixo das cobertas e ir para o apartamento de Pete. Eu tinha que me segurar para não amaldiçoar Deus e o mundo, afinal, eu amava o meu trabalho.




Ou era isso o que eu me dizia a todo o momento, tentando me convencer de que eu não poderia explodir... não agora.







Remus Lupin
, Edifício Callum Rhys, Cidade de Londres – Londres, 18:59




Duas coisas eu realmente não entendo. A primeira é porque o Nigel sente essa necessidade incrível de encher o meu cabelo com esses cremes e fixadores nojentos que eu não consigo tirar depois nem com sabão de coco... não que eu lave meu cabelo com sabão de coco. E a segunda é porque eu tenho tanta fome depois de um ensaio ou de uma gravação.




Claro que eu tenho que preservar o meu corpo, mas eu diria que eu não faço por merecê-lo. Eu sou praticamente uma draga. Adoro comer, principalmente porcarias, tipo chips.




Saí do banheiro, ainda enxugando meu cabelo molhado. Me sentei na cama e calcei meus tênis. Não sei porque, exatamente, eu tinha colocado tênis, mas tinha colocado. Peguei a toalha e fui até a lavanderia para estendê-la, me deparando com Aby, na cozinha.




- Boa noite, Remus! – ela cumprimentou, com seu sorriso gentil que me fazia sentir como se estivesse em casa.




Fui até ela e a abracei.




- Menino, vou perder o ponto do negócio! – ela exclamou e eu ri, a soltando e indo até a lavanderia. – Bem, sua mãe ligou hoje mais cedo e pediu para que você ligasse para ela quando pudesse. Ela queria saber algo sobre a campanha da Hugo Boss.




- Gravei hoje. – falei, pegando uma maçã da fruteira e me sentando no banco, apoiando no balcão que dava para a cozinha.




- Nigel ligou também.




- Estava com saudades? Às vezes acho que ele não vive sem mim. – falei revirando os olhos.




- Ele queria dizer algo sobre você não lavar o cabelo, senão o produto não faria efeito, e quando eu disse que você estava tomando banho ele quase teve uma síncope nervosa. – Aby disse rindo, me fazendo rir também.




- Mais alguém? – perguntei, mordendo novamente a maçã.




- Hum, não. – ela disse, voltando a mexer o que estava no fogão.




- Fazendo o que?




- Recheio de quiche. De queijo, aquele que você adora. – ela disse e eu sorri.




- Você me mima demais. Depois quando a imprensa sai por aí dizendo que eu não passo de um “bad boy” – fiz aspas com os dedos – mimado, que deixou a fama subir a cabeça, você não gosta nada.




- É claro, porque não é verdade. Eu sei que não é. – ela disse e eu dei de ombros.




- Talvez eu seja.




- Você não é, tudo bem? – ela me encarou e eu assenti, suspirando.




Me levantei e fui até o sofá, do meu loft, liguei a TV e comecei a passar os canais, procurando por algo que me interessasse. Não foi nenhuma novidade quando eu não encontrei nenhum programa interessante. Encontrei até um programa que comentava sobre a vida dos famosos, falando sobre mim. Acho que era no E!, talvez, não sei bem, não prestei muita atenção.




A imprensa daqui é bem o tipo que te difama se você não entra em um acordo com ela. Não cedo direito de imagem meu para ninguém, a não ser para os trabalhos para os quais eu sou pago. Quero dizer, não sou do tipo que quer sempre ganhar em tudo, só acho que uma emissora, revista ou jornal ganhando as minhas custas... nada mais justo do que eu ganhar também. E quando eu sei que essa emissora ou jornal não é das melhores, é óbvio que eu não vou ceder o meu direito de imagem de jeito nenhum.




Enfim, olhei para o meu celular e ainda era cedo para ir me deitar, ler, jantar, ou qualquer coisa do tipo, e se eu bem conhecia Aby, o jantar ainda ia demorar um bom tempo. Digo, Aby era do tipo que demorava mil anos para fazer comida, não que eu não gostasse disso. Na verdade, eram raros os dias que eu ficava em casa, para comer em casa, então quando eu ficava, ela parecia querer fazer algo caprichado.




Um ideia passou pela minha cabeça e no mesmo momento eu me levantei.




Eu poderia muito bem ir a casa de Pete e Sirius, sabe como é, beber cerveja, assistir rugby e falar bobagens. Algumas vezes eu sentia falta disso, mesmo que nunca tivesse tido isso, efetivamente. Algumas noites assim, mas nunca foi do tipo “sexta do rugby” ou “quinta do poker”. Talvez porque não éramos caras normais.




Na verdade, éramos workaholics.




Peguei a chave do carro e Aby me encarou.




- Vai sair de novo, Remus? – ela perguntou, com uma voz triste.




- Volto para jantar, Aby. Vou na casa do Sirius e do Peter conversar um pouco. Prometo que volto. – eu disse sorrindo e ela assentiu.




- Tudo bem. Vá com Deus. – eu acenei com a cabeça e entrei no elevador.




O elevador parou no 4º andar e uma garota que devia ter seus 16 ou 17 anos entrou, e me olhou. Na verdade, ela me encarou, como se fosse me agarrar. Eu pigarreei, desconfortável, e dei graças a Deus pelo elevador ser rápido e ela ter saído no térreo.




Me senti abusado agora.




Enfim, saí do elevador do subsolo e fui até meu carro, indo para a casa de Peter.




Londres podia ser uma cidade grande, mas eu ainda tinha minhas duvidas sobre isso. Quero dizer, todos nós morávamos tão perto, que era quase possível nos comunicarmos via código morse, ou sinais de fumaça. Certo, parei com as piadas sem graça.




Eu estava exausto, eu podia sentir meus músculos se soltando, e de certa forma, eu estava ficando bem relaxado, no clima agradável do meu carro com o som bem baixinho, tocando Say (All I Need), OneRepublic, que era uma das minhas bandas favoritas, mesmo que não superasse Tha Fray.




Sim, eu adorava The Fray.




Cheguei na frente do prédio de Peter e Sirius e estacionei ali. A rua estava deserta, e só havia luz vinda do prédio de ambos.




Acionei o alarme do carro e atravessei a rua. Toquei o interfone e o porteiro me deixou entrar. Ele me conhecia, e sabia onde eu iria, então eu só lhe dei boa noite e acenei, indo em direção ao elevador.




Entrei no elevador, que já estava no térreo e apertei o botão do andar deles, e diferentemente do meu prédio, nenhuma garotinha tarada entrou nele. Sorri com o pensamento, e o elevador parou, o que significava que eu tinha chego no andar deles.




Eu sei que deveria estar com trauma de elevador depois do que a Meadowes fez naquele dia, mas fazer o que? Eu não iria subir mil degraus para chegar nos lugares, não é?




Estranhei ao ver a porta do apartamento aberta, talvez Sirius e Peter estivessem querendo tomar a fresca, ou algo do tipo. Só espero que eles não estejam pelados. Sacudi a cabeça, espantando as imagens sórdidas que invadiam minha mente e afastei a porta, para entrar.




Olhei ao meu redor e não vi nada. Nenhum dos dois.




Espero que eles não tenham sido sequestrados, porque eu não vou pagar o resgate de ninguém. Devo parecer mau falando assim.




Espichei o pescoço para verificar a cozinha e nada. Fui até o quarto de Sirius e nada, mas quando entrei no quarto de Peter, vi Dorcas mexendo em suas gavetas, que estava reviradas já.




Ela se assustou quando me viu, e levou a mão ao peito, que eu podia ver pulando de longe.




- Que susto, Lupin! – ela disse, ficando vermelha – Tudo bem, já sei o que você pensou! Não é nada disso, ok?




- Na verdade, você não me deu muito tempo de pensar nada. Mas agora eu estou pensando. Tudo bem, me explique o que é então? Quero dizer, não é sempre que eu acho uma garota revirando as coisas do meu amigo e não as minhas. – eu ri e ele me encarou séria – Tudo bem, parei com as piadas.




- Ótimo. Pete me ligou aqui porque ele precisa de um envelope com fotos do editorial das It Girls. Ele disse que estavam em cima da cama, mas...




- Elas não estão em cima da cama. – eu disse, cruzando os braços e me escorando no batente da porta.




- Exato. Quero dizer, olha só meu estado, eu já estava na cama, tomando chá, com o cabelo molhado e lendo, de moletom velho e sem maquiagem!




- Pois é, que absurdo! – eu falei ironicamente, rindo.




- Haha, super engraçado. Pode rir, ri mesmo. Sabe do que mais? Acho que vou pedir penico! – ela disse e eu fiquei sério.




Pedir penico?




- Você é quem sabe. Chegou tão longe, ganhou de tantas garotas, e agora vai desistir do que eu achava que era o seu sonho. Bom, você é quem sabe, como eu disse. – falei, dando de ombros e ela me olhou.




Abriu a boca várias vezes, tentando falar algo, mas aparentemente, não conseguiu formular nada, antes de se concentrar novamente em procurar o que tinha que levar a Peter.




- Então? Vai cair fora? – eu perguntei.




- Algumas vezes essa é a minha vontade. Foi assim quando você ignorou a minha presença, foi assim quando eu tive que ir até a Calvin Klein a pé em menos de meia hora, e foi assim agora. Mas eu não vou o fazer. Como você disse, eu cheguei longe demais para sair agora. – ela disse, tirando um envelope de dentro de uma gaveta.




Eu concordei, com a cabeça e o a observei.




- Achei. – ela disse revirando os olhos e suspirando. – Finalmente.




- Viu só? – eu disse, sorrindo.




- Algumas vezes me pergunto se milagres realmente acontecem... – ela comentou, colocando as coisas de volta em seus lugares, nas gavetas de Peter.




- Isso seria por...?




- Você, me dando lição de moral e me incentivando a fica na Vogue. Se isso fosse há uma semana e meia atrás, você teria ido até o Vogue e arrumado minhas coisas por mim. – ela falou rindo e balançando a cabeça.




Eu ri e me fingi de pensativo.




- Talvez. Mas eu não sou tão mau assim.




- Ah você é. – ela falou rindo e passando por mim.




Eu me virei e a segui, em direção a sala, mas perguntando sobre o que ela quis dizer com aquele “ah você é”. Quer dizer, eu não fui tão mau assim com ela. Está certo, talvez tenha sido um pouco.




Ela pegou o celular e ligou para alguém, que mais tarde deduzi ser Peter. Ela falou algumas palavras baixo o suficiente para eu mão poder ouvir. Eu a observei, e minutos depois ela desligou e se virou para mim.




- Tenho que ir. Preciso levar isso aqui, parece que o Sirius quer reformular a matéria, ou algo assim. – ela falou rindo e revirando os olhos.




- Certo. Está de carro? – eu perguntei e ela negou.




- Vim de táxi.




- Quer que eu te leve? – eu perguntei. Sabe como é... cavalheiro.




Ela riu.




- Não precisa. Vou a pé até lá, é aqui pertinho, depois eu pego um táxi. – ela disse e eu revirei os olhos.




- Você vai fazer todo esse sacrifício, só para não pegar uma carona comigo? – eu falei, sorrindo e ela ruborizou.




- Não quero dar trabalho.




- Trabalho nenhum, vamos. – eu disse, pegando a chave do meu bolso.




Ela deu de ombros e sorriu. Saiu do apartamento, e deixou a chave sob o capacho, onde deveria estar quando ela chegou. Entramos no elevador, e eu apertei o térreo. Ela começou a encarar o teto e eu a porta.




Odiava esses silêncios constrangedores.




Assim que o elevador parou, nós saímos e eu deixei que ela fosse na minha frente. O porteiro abriu o portão e fomos em direção ao meu carro. Abri e abri a porta para ela, quando ela sibilou um “obrigada”.




- Sabe, nunca me imaginei num carro com Remus Lupin, e o pior, no carro de Remus Lupin... – ela comentou, quando eu dei a partida.




- Por? – perguntou rindo, e fazendo o retorno.




- Primeiro porque, quando eu era uma garota normal ainda, você era tipo o sonho de consumo das minhas amigas americanas, e depois, quando eu já era a estagiária sortuda da Vogue, porque você parecia completamente contra a minha presença. Eu percebia que você me odiava.




- Talvez eu ainda o faça.




- Talvez... mas então você não teria insistido em me dar uma carona.




- Talvez eu só queria te seqüestrar.




- Aham, claro. – ela disse sorrindo e revirando os olhos.




Eu liguei o rádio e ouvi Viva La Vida, Coldplay, tocando. Dorcas respirou fundo e eu vi seus olhos brilhando.




- Gosta da música? – ela gargalhou




- Se eu gosto? Eu amo essa música. É uma droga para mim. Sou viciada nela. – ela disse, e eu parei o carro na frente do prédio. – Ai não! Esqueci do crachá! Droga! E agora?




- Ei, relaxa. Vamos, eu entro com você, meu cartão está aqui. – eu disse, pegando meu crachá de dentro do porta luvas, e elas suspirou de alivio.




- Sério, você não precisa fazer isso.




- Cara, relaxa! – eu disse rindo – Você se preocupa demais.




- Não é para menos! Estou te dando trabalho. – ela disse preocupada, enquanto cruzávamos o saguão.




Eu revirei os olhos, mostrando minha credencial para o segurança, e ele nos deixou passar.




- Claro, claro.




- Pare com a ironia, ok? – ela disse, apertando o botão do andar de vogue.




- O que você quer que eu diga, oras? Se você insiste tanto que está me dando trabalho... – eu comentei.




- Ok, ok. – ela disse.




x




Cheguei em casa assoviando Viva La Vida, e girando a chave no dedo. Quando cheguei no andar antes do meu, já podia sentir o cheiro do quiche que Aby tinha feito, e não pude deixar de salivar.




Entrei em casa, coloquei as chaves sobre o buffet e continuei assoviando.




Dorcas era bem legal, quero dizer, nada do que eu pensei, e, acredite, me doía admitir isso, porque eu fui idiota. Simples assim. Talvez eu tivesse consertado as coisas muito rápido, mas ela tornou as coisas mais fáceis para mim, e eu tinha que agradecê-la por tornar minha culpa menos dolorosa.




Enfim.




- Bem na hora, Remus!













¹: todos os créditos à Laura –q hahaha



 

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