Surpresa

SURPRESA

- E... E... E... E... E então, Hermi-mi-mi-one... Vo-vo-vo-cê já pensou se vai querer ir comigo ou não? Ah... Ah... no ba-bai-le...

- Ai, Pedro... Eu não sei como te dizer... Lamento... Mas eu só posso ir com uma pessoa e... – falei, tímida, com medo de magoar Pedro.

- Ah... Tu-tu-tu-do bem... Eu entendo. – falou ele, e saiu correndo para longe, antes que eu concluísse minha resposta.

Com o coração partido, endireitei meus pertences sobre a mesa e me virei para trás, procurando por Lily. E para minha surpresa, vi Severus em pé, parado olhando em minha direção. Me encarava com curiosidade, e a tão conhecida frustração com que eu já me acostumara.

Eu sustentei o olhar, surpresa, esperando que ele desviasse os olhos rapidamente. Mas, em vez disso ele continuou a olhar em meus olhos com intensidade, como se me sondasse.

- Sr. Snape? – chamou o professor Slughorn, que chegara a pouco. – Meus parabéns... Seu trabalho sobre Antídotos Elementares estava perfeito. Estive pensando inclusive se o senhor não gostaria de se juntar a mim e alguns outros alunos para um jantar neste sábado... – continuou ele, enquanto Severus se sentava.

- Ah, claro, professor!

Assim que os olhos dele me libertaram, eu baixei os meus para o livro à minha frente, tentando me situar. Com a mesma covardia de sempre, coloquei o cabelo sobre o ombro para esconder meu rosto. Não conseguia acreditar no jorro de emoção que pulsava em mim – só porque por acaso ele olhou para mim pela primeira vez em meia dúzia de semanas. Eu não permitiria que ele tivesse esse nível de influência sobre mim. Era ridículo. Mais do que ridículo, não era saudável.

- Ah... Srta. Granger. Terei o maior prazer de convidá-la para este jantar também. Espero que aceite!

- Ah... Claro, senhor. Farei o possível para estar lá.

A aula começou, mas eu precise me esforçar muito para não ficar atenta a Snape pelo resto da aula e, uma vez que era impossível, pelo menos tentei fazer com que ele não soubesse que eu estava atenta a ele. Quando a aula acabou, dei as costas a Severus a fim de pegar minhas coisas, esperando que ele saísse de imediato como sempre.

- Hermione? – chamou-me ele, para minha surpresa.

Eu me virei devagar, sem vontade nenhuma. Não queria sentir o que sabia que sentiria quando olhasse para seu rosto perfeito demais. Minha expressão era cautelosa, e quando finalmente me virei, a expressão dele era ilegível. Ele não disse nada.

- Que foi? Está falando comigo de novo? – perguntei por fim, com um tom involuntário de petulância.

Os lábios dele se retorceram, reprimindo um sorriso.

- Na verdade não – admitiu ele.

Fechei os olhos e inspirei lentamente pelo nariz, ciente de que estava trincando os dentes. Ele esperou.

- Então o que você quer, Severus? – perguntei, com a voz controlada, ainda de olhos fechados.

- Desculpe. – ele parecia sincero. – Tenho sido muito rude, eu sei. Mas é melhor assim, pode acreditar.

Abri os olhos, seu rosto estava muito sério.

- Não sei o que quer dizer. – falei, em tom petulante, encarando-o com frieza.

- É melhor não sermos amigos. – explicou ele. – Confie em mim.

Meus olhos se estreitaram. Eu já havia ouvido isso antes.

- É péssimo que você não tenha chegado a essa conclusão antes. – sibilei entredentes. – Podia ter se poupado de todo esse arrependimento.

- Arrependimento? – a palavra e meu tom de voz, certamente o pegaram na guarda baixa. – Arrependimento de quê?

- De não deixar, simplesmente, que o Salgueiro me matasse.

Ele ficou atônito. Olhou para mim sem acreditar. Quando finalmente falou, quase parecia irritado.

- Acha que me arrependo de ter salvado você?

- Eu sei que se arrepende.

- Você não sabe de nada! – sem dúvida ele estava irritado.

Virei a cabeça bruscamente, travando o queixo, para conter todas as acusações desvairadas que ia atirar na cara dele. Peguei meus livros, depois me levantei e fui para a porta. Eu pretendia disparar dramaticamente para fora da sala, mas é claro que a ponta de meu sapato ficou presa no batente e deixei cair todos os meus livros.

Fiquei parada ali, por um momento, pensando em deixá-los para trás. Depois suspirei e me abaixei para pegá-los. Severus já estava ali e já empilhara meus livros. Entregou-os a mim de cara amarrada.

- Obrigada. – eu disse friamente.

Os olhos dele se estreitaram.

- Não há de quê. – retrucou ele, tão frio como eu.

Me endireitei rapidamente, virei a cara de novo e sai imediatamente da classe.

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