Convites



CONVITES


O mês seguinte ao acidente foi inquietante, tenso e, no início, constrangedor.


Para minha consternação eu me vi no centro das atenções pelo resto da semana. Lilian e os marotos estavam mais sufocantes do que nunca, sempre preocupados comigo. Eu insistia em dizer que estava perfeitamente bem, mas eles acreditavam que a qualquer momento eu poderia ter um surto, devido à batida na cabeça.


- Hermione... Admita! Você não está bem! Outro dia insistiu na idéia de que tinha vindo do futuro...


- Eu o quê? – indaguei com raiva.


- Olha ai... Nem se lembra mais...


- Tiago... Eu já disse que estou ótima. E se vocês fizerem o favor de acreditar em mim, vou agradecer. – falei irritada, antes de me levantar da mesa e sair às pressas trovejando reclamações.


Agora eu entendia porque todos eles fizeram tão pouco caso da grande revelação de meu segredo... Eles não acreditaram! E só me observavam curiosos porque pensavam que eu estava definitivamente louca. Mas era exagero em demasia por causa de uma simples batidinha na cabeça... Desconsiderando o fato de que me foi recomendado um período de observação e descanso, é claro...


Mas o que me deixava mais irritada é que ninguém parecia preocupado com Severus, embora eu tivesse explicado repetidas vezes que o herói era ele. Eu havia dito isso a todos os meus colegas da Grifinória que vieram me interrogar, inclusive aos marotos, mas eles nem fizeram questão de ouvir. Acreditavam que estava aquém das capacidades de um sonserino, coragem suficiente para salvar uma colega de outra casa.


Logo, ele sempre tinha a sorte de ser evitado por todos e nunca foi cercado por uma multidão curiosa atrás de seus relatos sobre o meu acidente.


Severus, como sempre, andava sempre acompanhado de seu grupinho misterioso, formado pelos estudantes, que eu sabia que no futuro tornar-se-iam comensais da morte. Seu olhar não procurava mais o meu nos horários de almoço ou janta e eu não tinha mais o prazer de mergulhar em sua longínqua, mas profunda e misteriosa escuridão.


Nas aulas, ele também não olhava para mim. E nas classes de poções (quando finalmente eu podia sentar ao seu lado), ele mantinha a maior distância possível de mim e parecia sempre inconsciente de minha presença.


Em pouco tempo, conclui que a única conclusão que poderia admitir é que ele estava arrependido por ter me salvado do Salgueiro Lutador.


Agora eu queria, mais do que tudo no mundo, falar com ele. E inclusive havia tentado, no dia após o acidente: Cheguei à classe de Poções e ele já estava sentado em sua carteira, olhando para frente. Eu me sentei, esperando que ele se virasse para mim, mas ele não deu sinais de ter percebido minha presença.


- Oi, Severus. – eu disse de um jeito agradável, para lhe mostrar que não estava mais chateada, como antes.


Ele se virou só um pouquinho para mim, sem me olhar nos olhos, balançou a cabeça uma vez e desviou o rosto. E ponto final. Este havia sido o último contato que tivemos, embora nos dias seguintes ele continuasse sentado a trinta centímetros de mim, todos os dias.


Em qualquer lugar que eu fosse, eu sempre procurava por sua presença, sem me conter. E à medida que eu o observava, podia perceber que a cada dia, seus olhos azul-escuros ficavam mais e mais negros. Mas nas aulas, eu não prestava atenção nele, mais do que ele permitia. Eu estava infeliz. E os sonhos continuaram.


Voltei a falar com Lilian, Tiago, Sirius, Pedro e Lupin depois de um tempo. Eu tinha certeza de que eles estavam desconfiados de minha depressão, mas pelo menos estavam satisfeitos quanto à frieza evidente entre mim e meu parceiro sonserino, nas aulas de Poções e agora não me perturbavam mais com a idéia de que eu estava com problemas mentais.


Quando me dei conta, já estávamos em dezembro. A neve estava mais forte que nas semanas anteriores e o baile de natal se aproximava.


- Nem sabe quem me convidou para o baile... – disse Lilian animada.


- Quem? – indaguei curiosa.


- O Tiago! – respondeu ela, contente.


- Que bom! Mas isso significa que...?


Agora Lily estava corada. Eu tinha certeza de que Tiago e ela estavam apaixonados, mas não sabia como falar sobre isso com ela.


- Sim! – ela respondeu mais corada ainda e começamos a rir em comemoração.


Em compensação, se Lilian e Tiago tinham um par, Sirius, Lupin e Pedro recorreram a mim e eu não sabia exatamente se queria ir com algum deles. No fundo eu ainda tinha esperanças de ir com a única pessoa que amava.


- Preciso te dizer uma coisa. – sibilou Lilian, um dia, no salão comunal, quando estávamos sozinhas.


- E o que é?


- Bom... É um segredo. Estou guardando há um bom tempo, mas acho que você tem o direito de saber.


- Pois então me fale! Estou curiosa! – falei, sinceramente.


- É que... O Lupin está...


- Está??


- Ele gosta de você, Hermione. Pediu-me para não contar, mas...


Imediatamente, senti minhas bochechas corarem. Lupin não podia gostar de mim...


- Ah... Não... Você tem certeza disso?


- Sim... Ele me contou, Hermione. E... Eu acho que não é o único.


- Como assim?


- Olha... Eu conheço o Sirius há anos... E nunca o vi olhar para uma garota do jeito que olha pra você.


- Ah... Tenho certeza de que é só uma impressão, Lily. Somos apenas amigos.


- Você que pensa, Mi! Ainda não percebeu? Há uma centena de garotos aqui em Hogwarts afim de você!


- Claro que não...


- Estou falando sério...


Eu jamais havia imaginado algo como o que Lily me contou. Não fazia sentido... Eu nem era tão bonita assim. Mas, afinal... Se eu interessava a tantos garotos... Por que Snape nem sequer olhava para mim? Era no mínimo frustrante...

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