Atado ao inimigo



Capítulo segundo – Atado ao inimigo.


 


 


Em algum lugar da Itália, 14:30.


 


“Meia-noite”, foi o primeiro pensamento de Gina ao abrir os olhos.


Na verdade, poderia ser cinco da tarde ou duas da manhã. A escuridão no interior do caminhão onde ela estava não seria diferente, não havia nenhuma entrada de luz. Sua única companhia eram os solavancos do veículo em movimento...


- Hm, hrm.


... e alguém resmungando ao seu lado.


- Olá? – A ruiva perguntou, aterrorizada.


- Weasley?


- Malfoy! É você?


- Não, sou o Snape! Claro que sou eu! – Resmungou o sonserino.


- O que... o que é isso aqui? Onde estamos? Quem trouxe a gente aqui? Por que colocaram a gente aqui? – A cada pergunta, o pânico crescia na voz de Gina.


- Sei lá! Mas acho que estamos viajando.


- Viajando? Pra onde? E quem colocou a gente aqui? E por quê?


- Weasley, eu não sei! Fomos seqüestrados! Não deu pra perceber ainda? Quem quer que tenha nos pegado vai nos levar pra um lugar distante, nos torturar e talvez nos matar!


- Nossa, Malfoy, só mesmo sendo psicopata como você pra falar isso sem se alterar! Você não tem um pingo de medo, não?


- Claro que não! Você é uma bruxa ou não é? Pra mim, é óbvio que esses caras são trouxas, levando a gente desse jeito, se fossem bruxos teriam aparatado com os nossos corpos! É só você sacar a varinha, dar um jeito de abrir isso aqui e pronto, vamos estar livres!


- Varinha? Que mané varinha, Malfoy! Não tenho bolsa, não tenho capa, não tenho bolso, você acha que eu guardei a varinha onde? No...


- Chega, Weasley! Não quero ouvir esse vocabulário de pobre!


- Chega você, de me chamar de pobre! Seu imbecil!


- Não me chame de imbecil, você é imbecil! Por que não anda com a porcaria da varinha?


- E por que você não saca a sua maldita varinha e tira a gente daqui, sabidão?


Se estivessem sob a luz, Gina veria Draco empalidecer.


- Porque eu não trouxe a minha varinha! Se tivesse trazido, não ia me dar ao trabalho de pedir a sua, tinha saído daqui e deixado você na mão de seja lá quem nos seqüestrou!


- Argh! Seu... insuportável, Comensal, asqueroso! Eu prefiro que me matem a ter de continuar aqui respirando o mesmo ar que você!


O caminhão parou quase imediatamente, e Gina nunca desejou tanto passar mais tempo ao lado de Draco Malfoy.


- É Weasley, acho que alguém ouviu seu desejo. – Comentou o loiro, sarcástico.


Os ruídos do lado de fora se aproximavam à medida que a respiração dos dois diminuía. Gina estava em pânico absoluto, suando frio e prendendo a respiração sem perceber, cerrando os punhos sem saber o que lhe aguardava, e Draco tentava dominar o ritmo respiratório e o medo, procurando uma possível escapatória do que os tinha encarcerado ali – fosse o que fosse.


A luz do dia invadiu seus olhos repentinamente, e a sombra de duas figuras surgiu na porta do caminhão. Eram dois homens encapuzados, um deles era grande e forte, e o outro era magro e um pouco mais baixo. Gina mordeu o lábio inferior pra reprimir um gritinho e Draco soltou a respiração, um pouco aliviado – agora tinha certeza de que eram trouxas, e se fossem só aqueles dois, talvez houvesse um momento de distração em que ele pudesse fugir.


- Olá, crianças! – Disse o magrelo, num tom de voz que tinha uma nota irritante de zombaria. – Espero que tenham gostado da viagem! Receio que o roteiro das suas férias vá ser um pouco diferente daqui em diante, e infelizmente, não podemos lhes oferecer o conforto de um hotel cinco estrelas... mas vocês vão gostar das nossas instalações, ah, se vão.


- Vamos, saiam daí! – Falou o outro, com uma voz grave. – Tão pensando o que, que vamos levar vocês de volta? Andem logo!


Os dois obedeceram, assustados, e mal tinham posto os pés no chão, foram agarrados pelos braços – o magrelo dominou Gina, e o grande segurou Draco.


- Acho bom vocês dois também não tentarem fugir ou fazer qualquer outra gracinha, porque nós dois não estamos com paciência pra cuidar de moleques fujões.


- Se tentarem fugir, vamos fazer vocês dois nunca mais se mexerem. – Falou o mais alto, cutucando Draco com o cano da pistola.


- É aqui que vamos ficar, crianças! – Falou o outro, ao avistar uma casa velha, aparentemente muito mofada e com o aspecto de que poderia cair no próximo temporal.


- O quê? Que nojo! Vocês acham que vão confinar um Malfoy a um barraco desses? Eu...


- Claro que vamos, seu moleque arrogante! E vocês vão ficar presos aqui até recebermos dinheiro, muito dinheiro dos seus pais!


- Exatamente! Estamos pedindo trinta mil euros por cabeça, e ai de vocês se eles não pagarem!


Depois desse comentário, os dois jovens se calaram, enquanto foram arrastados pra dentro da frágil cabana. Os homens trancaram-nos dentro do que deveria ser um banheiro, com uma minúscula janela emperrada, que não poderia ser usada como rota de fuga.


- Acho bom que vocês não pensem em fugir, porque já vamos continuar nosso passeio, crianças! – Resmungou a voz irritante do magrelo.


- SEUS IMBECIS! Meu pai vai me resgatar logo! – Gritou Draco, numa tentativa de extravasar toda a raiva que sentia dentro de si. Raiva por estar preso com a idiota da Weasley, por não ter tido a competência de trazer a varinha, por ter sido vítima de um seqüestro e estar na mão de dois trouxas, completamente inferiores, e por não ter a certeza se seu pai realmente o buscaria.


- Cala a boca, Malfoy! – Resmungou a ruiva irritante ao seu lado. – Já pensou se esses caras perdem a paciência e resolvem nos matar?


- Matar? Com o que? Aquele cano de metal que eles carregam apontando pra nós? Você acha que eu sou o que, Weasley, uma bonequinha de pano?


- Seu cretino idiota, a Mione me disse que aquilo se chama revólver, e que dentro tem balas, que são como bombinhas, e elas rasgam a pele e explodem! É assim que eles vão te matar, imbecil, arrogante, estúpido!


- A Mione disse... Weasley, você é patética por depender tanto daquela sangue ruim! – Disse Draco, na defensiva, para não ter de admitir que precisava da informação de uma nascida trouxa. – A Mione isso, a Mione aquilo... AI! – Gritou o loiro, ao perceber que fora atingido por um chute na canela da ruiva. – Você é um animal, ou o quê? Nem aquele hipogrifo bestial que quase me matou no terceiro ano se comportava assim!


- Quer saber, Malfoy? Esses dois caras iam fazer um favor a humanidade, e principalmente a mim se matassem você agora!


Sem querer encerrar a discussão sem dar a última palavra, o sonserino se manifestou.


- Até parece que eu, lindo e loiro não ia fazer falta pra humanidade, Weasley. Já você...


A ruiva estava tendo ímpetos de voar no pescoço do rapaz e estrangulá-lo ali mesmo, e sem conseguir formular uma frase com nexo, de tanto ódio que sentia, se resignou a bufar no seu canto. O silêncio reinou por alguns minutos que pareceram horas, talvez, até que os dois homens voltaram para buscá-los, com a mesma brutalidade de antes.


- Vamos viajar mais um pouco, meninos! Vamos levar vocês pra um lugar com instalações muito melhores, dignas dos nossos hóspedes... só lamento que o transporte não seja tão confortável quanto o anterior!


Em seqüência a essas palavras, os dois foram jogados no porta-malas, e o barulho do motor indicou que iriam ter mais um longo trajeto pela estrada, rumo ao desconhecido.


 


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Hotel Gran Palacio, Roma, 13:40.


 


Arthur Weasley estava sentado nas poltronas da recepção do hotel, cercado pelos seis filhos, à espera de Molly, que ainda não tinha voltado do passeio com Narcisa e portanto, não estava a par do seqüestro da filha caçula do casal.


- Eu não me conformo ainda! Como assim? Um seqüestro? Os trouxas seqüestraram minha Gininha? – Repetia o patriarca Weasley, muito abalado. – Como vamos explicar isso pra sua mãe, por Merlin! A Molly vai ter um desmaio...


- Calma, pai! – Falou Carlinhos, que parecia ser o mais calmo dentre os irmãos. Precisamos falar com o Ministério da Magia e com a segurança dos trouxas, é a maneira de fazer com que alguém a encontre! Vou perguntar ao recepcionista do hotel como podemos pedir ajuda aos trouxas e você pode mandar uma coruja pro Departamento de Segurança do Ministério...


- Vou me comunicar com o Ministério Italiano, nós estamos sob jurisdição deles, é dever deles nos ajudar. – Disse Percy, seguindo para seu quarto, onde provavelmente escreveria uma coruja. Carlinhos encaminhou-se até a recepção e perguntou pelo gerente do hotel, Alonzo Lombardi, que também era bruxo e agia intermediando as relações de seus hóspedes especiais com os outros trouxas. O recepcionista assentiu e comunicou-se com o homem via rádio, que apareceu rapidamente.


- Senhor Lombardi, não sei se já foi informado, mas parece que minha irmã, Gina Weasley, foi vítima de um seqüestro. O recepcionista do seu hotel disse que foi avisado por trouxas que estavam na rua na hora, e que ela foi levada por um veículo trouxa... um caminhão...


- Sim, senhor Weasley, eu fui comunicado, e como me parece ser um ato de trouxas, a polícia deles já foi alertada, logo estarão aqui. Não podemos fazer nada além de esperar, mas o serviço deles costuma ser muito competente, e nós do hotel estaremos à disposição de sua família... sentimos muito pelo que ocorreu. Nosso Ministério da Magia também foi alertado e eles farão o possível para encontrar sua irmã.


- Muito obrigado, senhor Lombardi.


- Avisaremos o senhor e sua família de qualquer notícia, senhor.


Carlinhos voltou pra onde estavam os outros Weasley, tentando consolar Arthur, que tinha uma expressão desolada no rosto.


- Pai, não fique assim, ele me disse que chamou a segurança trouxa e avisou o Ministério Italiano, e logo ficaremos sabendo de algo. Além do mais, se foi um seqüestro, logo vão entrar em contato, não é assim que funciona?


- E se não for um seqüestro, meu filho? E se forem bruxos? Ah, Merlin, por que a minha filhinha, por quê?


Um silêncio pesado se instalou na recepção do hotel, enquanto um homem usando um uniforme azul entrava e se dirigia ao recepcionista.


- Fui chamado aqui pelo gerente, que me disse que houve um seqüestro. Vocês alguma testemunha com quem eu possa falar?


- Sim, temos o casal do quarto 304, irei chamá-los; enquanto isso, aqueles ali são parte da família de um dos seqüestrados.


O policial se dirigiu aos Weasley e fez sua apresentação.


- Oh, muito obrigado por vir até aqui, o senhor pode encontrar minha filha?


- Sim, senhor...?


- Weasley, Arthur Weasley.


- Sim, senhor Weasley, nossos serviços foram acionados para buscá-la, e eu gostaria de saber se vocês têm uma foto de sua filha, para podermos reconhecer seu rosto.


- Hm... – Todos os irmãos hesitaram por um momento, pois não poderiam entregar ao homem uma foto em movimento; quando Rony lembrou-se que tinha uma foto tirada com a irmã pela câmera trouxa de Mione (que ele julgou ser muito sem graça na época) e subiu ao quarto para buscá-la, no mesmo momento em que o gerente do hotel se encaminhava ao grupo com um casal.


- Olá, comandante, sou o gerente do hotel, Alonzo Lombardi. Esses são o casal Siqueira, são brasileiros e estavam chegando ao hotel quando a senhorita Weasley foi seqüestrada.


O policial cumprimentou-os e começou a perguntar.


- Então, vocês viram o seqüestro da jovem?


- Sim, sim! Nós tínhamos saído para uma volta, e quando estávamos quase chegando uma chuva começou a cair... ela estava conversando com um rapaz loiro, e de repente, dois homens, um era bem grande e o outro era magro, sairam de um caminhão e foram até os dois! Eu não tinha percebido o que eles iriam fazer até que anestesiaram os dois com clorofórmio e carregaram os dois pro caminhão! Foi tudo muito rápido, a rua parecia estar deserta, exceto por mim e pelo meu marido!


- Entendo. A senhora disse que eram dois homens, e como eram eles?


- Espere um instante. – Interrompeu o senhor Weasley. – Eles seqüestraram um rapaz loiro?


- Sim, senhor! Era um rapaz jovem, alto, pálido, com cabelos muito loiros...


- Malfoy! Só pode ser ele! – Falou Fred.


- Mas ele também foi levado?


- Sim, foi! – Continuou a mulher. – Os dois foram carregados pra dentro do caminhão e eles partiram!


- Como eram esses dois homens, senhora?


Um era alto, forte, bem grande... não parecia ser gordo, só muito grande. Tinha cabelo preto curto e barba, era branco, assim como o outro... o outro era magro, um pouco menor, mas não chegava a ser baixo, tinha um cabelo castanho liso e mais comprido, sem barba.


- E quanto ao caminhão?


- Era um caminhão simples, preto, mas não tinha nenhuma forma de identificação... não conseguimos anotar a placa, pois ele estava estacionado a uma certa distância de nós.


- Hm, entendo. E os senhores – disse o policial, se voltando para os Weasley – Estão aqui em férias, certo? De onde são?


- Sim, senhor... somos ingleses.


- Os senhores possuem algum tipo de inimigos, rivais ou alguém que poderia ter premeditado a execução deste crime?


- Não podemos pensar em ninguém, senhor.


- Certo, então. Vou ficar com a foto de sua filha. – disse o policial, tomando o retrato de Rony - E quanto ao outro rapaz vítima do seqüestro? Conhecem a família dele?


- Sim, conhecemos, vivemos na mesma região de Londres, temos muitos... contatos em comum.


- O senhor sabe onde estão os pais dele?


- A mãe dele saiu com minha esposa, creio que voltarão ao hotel logo, pois a tarde já está acabando... quanto ao pai dele, não sei onde está.


- Ok, muito obrigado, senhor Weasley. Manteremos o senhor e sua família informados de qualquer etapa de nossa investigação. Senhor e senhora Siqueira, por favor, gostaria de levá-los até o posto policial para que vocês conversassem com nosso escrivão e pudessem descrever o máximo da fisionomia dos homens que vocês viram.


O casal assentiu e acompanhou o policial em sua retirada, que antes de sair trocou mais algumas palavras com o gerente do hotel. Assim que os três foram embora, Alonzo Lombardi se aproximou da família Weasley.


- Draco Malfoy também foi seqüestrado?


- Sim, pelo que parece. A mãe dele saiu com minha esposa, mas não sabemos onde está Lucius.


- Creio que ele continua no hotel, eu me encarregarei de informá-lo.


- O senhor acha que esta ocorrência é algo dos trouxas ou...?


- Eu creio que sim, pode ter sido um caso de seqüestro comum, em que os seqüestradores têm o intuito de extorquir dinheiro de nossos hóspedes ricos. Com a ajuda do Ministério da Magia, poderemos solucionar este caso logo, logo.


 


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Em algum lugar mais ao sul da Itália, 16:00


 


Draco e Gina estavam acomodados de maneira nem um pouco confortável no porta-malas do carro, inconvenientemente um sobre o outro. O peso do corpo de Gina sobre seu peito fazia a respiração de Draco difícil, ainda mais naquele espaço onde o ar era limitado, e seus membros reclamavam da circulação dificultada. Os dois não tinham muito espaço pra se mover, e permanecer na mesma posição por uma hora, acompanhados pelos solavancos do carro, era realmente muito desagradável.


- Malfoy?


- Que foi?


- Acho que tá me dando enjôo!


- Ah, não! O cacete que tá te dando enjôo, você não vai vomitar em cima de mim, é só o que me faltava! Onde já se viu ter enjôo, tinha que ser a pobretona da Weasley mesmo!


- Chega de me chamar de pobre, Malfoy! Você é surdo, idiota ou o quê?


- Por favor, fecha essa boca, agora estou com medo de que você vomite em mim a qualquer momento.


Gina se calou, sabendo que se não o fizesse iria arrastar a discussão até que um dos dois estivesse com a boca tão seca que não pudesse mais falar, então voltou a se acomodar da melhor maneira que podia sobre o peito de Draco. Se fosse em outra situação, a grifinória jamais aceitaria se aproximar do corpo dele, mas já que estava ali a contragosto, sobre o tórax de Malfoy, ousou se aninhar contra ele pra obter um pouco mais de conforto. No silêncio que se instalou, ela podia ouvir o coração dele bater, sentir o sobe-e-desce de seus pulmões e o calor de sua pele... e todo aquele contato lhe trazia cada vez mais um pouco de sossego e tranqüilidade em meio aquele turbilhão de problemas que iam surgindo em suas tão esperadas férias. Ignorando tudo o que viveram juntos até então Gina se sentia já tão familiar a Draco, e mesmo sabendo que aquele sentimento não duraria até o próximo diálogo entre os dois, ela fechou os olhos e se aproximando o máximo que podia do corpo dele, acabou pegando no sono até sua próxima parada.


 


 


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Hotel Gran Palacio, Roma, 17:20


 


Narcisa e Molly tinham passado uma tarde agradável, visitando os diversos monumentos pelos quais os Weasley não tinham passado no dia anterior. As duas, que há alguns meses não trocavam uma palavra, tinham se tornado companheiras. Embora não aparentasse, no fundo, Narcisa era uma mulher gentil, pelo menos com aqueles que lhe fossem convenientes; e como Molly agora havia se tornado a mulher do Ministro e portanto, era rica e influente, parecia natural para a mãe de Draco que as duas começassem a estabelecer laços. A solidão que sentia também acabou motivando-a buscar a companhia da matriarca da família Weasley e ambas puderam obter bons frutos daquele relacionamento, descobrindo que tinham muito mais em comum do que deixavam transparecer.


Cada uma das duas foi para seu respectivo quarto, e Molly, ao adentrar a suíte onde estava, encontrou com seu marido com um ar extremamente abatido, Percy e Gui, bastante silenciosos.


- Olá, meus queridos! O que houve? Por que esse silêncio?


- É... mãe? Aconteceu algo que você precisa saber...


- O que foi?


- Sente-se, Molly. Bem... logo depois que você e Narcisa saíram de táxi, bem...


- Bem, a Gina foi atrás de você e uma dupla de trouxas seqüestrou ela. – Falou Percy, sem o menor senso de sensibilidade.


- Como é?


Segundo a previsão de Arthur, Molly desmaiou sobre a cama, recuperando seus sentidos em instantes depois que Gui a reanimou com o feitiço Enervate.


- Eu ouvi bem? Como assim seqüestraram a Gina? Arthur! Eles levaram a nossa filha, nossa filhinha! Ah, Merlin! O que eu vou fazer agora, nós precisamos encontrá-la! Eu não vou conseguir dormir essa noite sabendo que a minha filhinha está por ai, perdida!


- Molly! Calma, querida! Conversamos com a segurança dos trouxas, pois todos acreditam que foi um seqüestro comum deles... mas o Ministério já está ciente disso e disse que vai enviar agentes que possam encontrar nossa Gina... fique tranqüila, querida! Eles estão fazendo o possível!


 


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Hotel Gran Palacio, Roma, 17:30 – suíte 501


 


- Narcisa? Perguntou Lucius Malfoy, ao ver a mulher entrar pela porta depois de uma tarde toda ausente.


- Olá, Lucius, querido...


- Posso saber onde você passou sua tarde?


- Eu... eu queria visitar os monumentos da cidade... e como sabia que você não tinha intenções de sair comigo, fui sozinha...


- Eu espero que você não tenha estado na companhia daquela Weasley desagradável, Narcisa. – O tom de voz do homem era contido, mas demonstrava todo o seu ódio. – Você sabe que nós não devemos nos misturar com esse tipo de gente... pessoas asquerosas, que defendem os sangues-ruins e impedem o progresso dos planos do nosso Lorde... você sabe o que esse tipo de pessoa merece, não sabe?


- Sim, sim Lucius... eu sei...


- E também sabe que as pessoas que se misturam com elas perdem totalmente sua dignidade, assim como esses Weasleys... tão desagradáveis, deprimentes.


- Sim, Lucius... eu sei. Onde está Draco?


- Ah, sim... um homem da segurança trouxa veio me procurar esta tarde, enquanto você estava fora. Ele me disse que Draco foi seqüestrado por uma dupla de trouxas... argh.


- Draco? Foi seqüestrado? Como assim? – Em oposição a voz fria do marido, uma nota de desespero percorreu sua fala. – Ele disse mais alguma coisa?


- Disse que vão fazer de tudo para encontrar ele, como se o serviço deles fizesse alguma diferença... Draco tem uma varinha e é maior de idade, logo ele estará de volta para casa. Não há porque se preocupar...


- Sim... sim, Lucius, você está certo... logo ele voltará.


Narcisa, para não ter de trocar mais palavras com o marido, foi tomar um banho, e o medo pela situação em que seu único filho se encontrava a invadiu, fazendo com que ela derramasse lágrimas e mais lágrimas em seu único momento longe do olhar inquisidor de Lucius. Como ele podia ser tão insensível a ponto de não demonstrar a menor preocupação pelo desaparecimento de Draco? Quem era aquele homem, afinal? Ela não o reconhecia mais como o homem com o qual um dia se casou... mas agora era tarde e tudo o que ela podia fazer era prolongar seu tempo na grande banheira de espuma, retardando seu encontro com ele e aquele grande bloco de gelo entre os dois.


 


 


Em algum lugar ainda mais ao sul da Itália, 18:30


 


 


Depois de rodarem por mais um trecho de estrada, os quatro a bordo do carro pararam em frente a uma casa camuflada pela vegetação, também de aspecto duvidoso, porém mais sólida do que a anterior. Gina e Draco foram retirados do porta-malas e dominados como da primeira vez, arrastados até a cara e atirados no chão. O ambiente era extremamente pequeno e tudo pareça estar em condições um tanto precárias, desde o teto até a mesa com três cadeiras, uma das poucas mobílias existentes; junto com um fogão, uma geladeira e um armário. À esquerda havia uma porta que dava para um cômodo pequeno, sem janelas, nenhum móvel ou objeto, exceto pela lâmpada que pendia do teto e um cobertor imundo jogado a um canto.


- Esse vai ser o quarto de vocês enquanto estiverem conosco... espero que seja do vosso agrado a nossa suíte! – Falou o magrelo rindo, ainda segurando os dois. – Mas agora é hora do jantar, crianças! E adivinhem só, vocês vão cozinhar pra gente agora!


- Não tentem gracinhas, pois vamos vigiar vocês... e espero que saibam cozinhar direito! Senão... – Resmungou o seqüestrador alto e troncudo, exibindo a pistola na mão, convencendo Gina e Draco de que não teriam a menor escolha naquele lugar. Os dois suspiraram, resignados, enquanto os dois homens saíram e trancaram a porta atrás dos dois.


Sem outra alternativa, os dois jovens foram revirar os armários atrás de algo que fosse comestível, e a única coisa existente além de panelas e pratos eram um pacote de macarrão, uma lata de óleo, uma de molho de tomate, um pacote de pão e uma lata de manteiga, o que indicava que o prato da noite seria macarrão (eles tão na Itália, você não esperava arroz e feijão estocado né?).


O loiro abriu uma das portas e colocou algumas panelas em cima da pia, visivelmente sem pista do que fazer.


- Como eles querem que eu cozinhe? Eu nunca fiz isso na minha vida! Isso é serviço de elfo doméstico, ou desses Weasleys pobres, não meu!


- Em primeiro lugar, Malfoy, ninguém da minha família é pobre, em segundo, se você não sabe cozinhar, cala a boca, porque não sou obrigada a ouvir você reclamando!


- Parem de gritar moleques! – Resmungou um dos seqüestradores, que estavam do lado de fora da cabana, vigiando a porta trancada.


- Se vira aí, espero que você saiba fazer isso, porque eu não nasci pra ser empregado de trouxa!


- Ok Malfoy, me dá esse pacote de macarrão aí e pode deixar que eu aprendo como cozinhar, enquanto eles matam você e me deixam livre de ouvir essa sua voz de doninha esganiçada!


Draco rangeu os dentes em resposta, enquanto Gina arrancava de suas mãos o pacote de macarrão. Pra sua sorte, haviam instruções detalhadas na embalagem, e ela pôde respirar aliviada.


- Malfoy, coloca água nessa panela grande aí!


- Coloca você! Não sou seu empregado pra ficar recebendo suas ordens!


Aquela foi a gota d’água para a garota.


- Olha aqui Malfoy, acho bom você pôr água nessa panela agora e parar com essa sua grosseria de menino mimado, porque caso você não tenha percebido, aqui você não é nem rico nem importante, você não é ninguém! Seu dinheiro e seu paizinho Comensal não podem fazer nada por você agora! E se você continuar a me irritar dessa forma, eu juro que me encarrego de matar você até o próximo amanhecer!


- Cala essa boca, Weasley! Será que você não consegue fazer nada sem me incomodar com essa sua voz?


Gina bufou, praticamente arrancando a panela das mãos do loiro, com vontade de acertar sua cabeça. E então ambos, sem trocar uma palavra, seguindo as instruções do rótulo do macarrão, conseguiram preparar algo comestível para sua primeira tentativa culinária, chamando os homens logo depois de colocarem tudo na mesa.


- Hm, me parece comestível, pelo jeito vocês vão sobreviver por esta noite! Muito gentil da parte de vocês terem cozinhado pra nós, vocês devem estar exaustos agora... que tal irem para o quarto? – O outro, o homem grande, agarrou os dois pelos braços de repente e os atirou pra dentro do quatro sem janelas, trancando a porta e arrastando uma cadeira pra frente da mesma.


Gina buscou o interruptor e a luz se acendeu, iluminando as faces de ódio, cansaço e desespero dos dois. A noite já começava a cair e eles estavam suados, sujos e sem o menor indício de que um banho quente os esperaria em breve. O barulho de talheres e as risadas dos seqüestradores eram os únicos ruídos no lugar, pois nem Gina nem Draco ousavam dizer alguma coisa.


A garota se sentou sem cerimônias no chão, e fez a única coisa que lhe era possível naquele momento: chorar. De cansaço, fome, sono, solidão, desespero, medo, raiva, especialmente raiva, por ser tão azarada que não bastava ser seqüestrada na sua primeira viagem a um lugar tão bonito, ela tinha que ser levada junto com Draco Malfoy, a pior pessoa do universo. Ela soluçava baixo e as lágrimas corriam abundantemente pelo seu rosto, enquanto o sonserino, sem saber o que fazer, deitou-se de barriga no chão e fechou os olhos, morto de dor e cansaço, esperando obter algum alívio daquela situação. Sem saber quando, ele acabou pegando no sono, e foi reconfortante estar em um lugar morno, limpo e seguro, até o momento em que Luigi, o seqüestrador magrelo e sarcástico entrou no cômodo sujo, batendo a porta e falando alto:


- E aí, moleques, quando os pais de vocês vão pagar o resgate? Eles já devem ter recebido o nosso recadinho...


Draco não perdeu um instante pra recobrar sua arrogância típica:


- Meu pai não vai dar nem um nuque pra vocês, sua cambada de trouxas nojentos!


- Malfoy, cala essa boca!


- Não gostei do seu tom comigo, seu loiro arrogante! Se você continuar assim eu meto uma bala na sua cabeça antes de seus pais me pagarem, ouviu? Você é muito metido pra quem está nessa sua situação, mas eu tenho certeza que se atirar num braço ou numa perna sua essa sua arrogância acaba num instante!


Draco se calou, não sem antes lançar um olhar de ódio para o seqüestrador.


- Isso... assim que eu gosto, criança obediente...


E sem dizer mais nada ele saiu, trancando a porta


- Isso Malfoy, perfeito! Agora por sua culpa é capaz desse cara nos matar! Droga... você é mesmo um imprestável!


- Cala a boca! Eu não me lembro de ter pedido a sua opinião! Cara idiota... quem ele pensa que é pra me chamar de criança hein?


- Hahahaha!


- Do que você tá rindo hein?


- Não interessa! Hahahahahaha!


- Claro que me interessa, se eu estou perguntando!


- Ouvi boatos de que suas namoradinhas te chamam de Draquinho! Isso é verdade, Malfoy? Imagina que coisa meiga pra um sonserino malvadão, “ai Draquinho, vem cá, Draquinho!” Hahahahahahahah!


- Por Merlin, Weasley, vá pro inferno! Não estou suportando ouvir essa sua voz nem por mais um instante, especialmente me chamando desse apelido ridículo! Draquinho, hunf!


Gina não respondeu e Draco aceitou de bom grado o silêncio, encostando-se na parede oposta a que a ruiva se encontrava. Mas estranhamente, as próximas palavras trocadas que se seguiram não estavam carregadas de escárnio, raiva e ironia, e sim pequenas perguntas e respostas monossilábicas, talvez pelo cansaço que já os afetava e implicava o fim das discussões longas e enérgicas entre ambos.


O relógio já marcava 20:30, embora nenhum dos dois soubesse disso. Draco, em parte movido pelo tédio e em parte movido pela vontade de sair dali, acabou perguntando:


- Será que dá pra arrombar essa porta? – perguntou um Draco levemente alterado.


- Não sei, por que você não tenta? – Sugeriu Gina, esperando tanto ter uma porta arrombada rumo à liberdade ou um Malfoy com um ombro deslocado, e ambas as situações lhe seriam vantajosas.


O rapaz então tentou derrubar a porta, mas por mais velha que ela estivesse, não demonstrava sinais que iria cair... os seqüestradores, do outro lado perceberam o que Draco estava tentando fazer, e resolveram se divertir um pouco, arrastando o fogão pra frente da porta. Depois de inúmeras tentativas (e risadas dos seqüestradores, claro) Draco estava suado e levemente vermelho, mais acordado, e obviamente, dolorido.


- Desisto.


Ele então tirou a camisa e deitou-se no chão, ofegando. Gina distraidamente começou a olhá-lo, aquele corpo iluminado pela lâmpada fraquinha que pendia do teto; Draco estava realmente mais bonito, ele não usava mais aquele cabelo lambido como antes, e também estava mais forte. O quadribol tinha mudado muito o corpo do loiro, ele estava agora com o corpo mais definido, os ombros mais largos, as pernas mais grossas, e os braços, ah meu Deus, Draco tinha braços enormes...


“Merlin... o Malfoy tem braços enormes. Como ele pode ter ficado gostoso desse jeito? Ai, no que estou pensando? Acorda Gina... nossa... como ele tá diferente... bonito, Merlin, que pecado um cara tão bonitão ser esse insuportável do Malfoy, isso devia ser um crime!”


- Weasley?


- O que foi? – Disse Gina, sendo interrompida do seu “transe”.


- Você tá com uma cara esquisita.


- Uhn... é... eu só to pensando se temos alguma chance de sair daqui...


- Eu não vejo outra saída além dessa maldita porta... nem janela esse quarto tem...


- E se a gente escavasse o chão?


- Weasley? Qual é, não seja idiota! Iríamos escavar o chão com o quê? Esse chão não é feito daquela madeira podre...


- Droga... mas é que sei lá, tem umas rachaduras aqui onde eu to sentada e... ah, esquece. Tem um monte de plantinhas aqui...


- Plantinhas, é?


- Ahan... ai, posso jurar que estudamos elas em Herbologia! Mas eu não sei pra que servem... se pelo menos a Anna estivesse aqui!


Malfoy foi até onde Gina estava, curioso para olhar quais eram as plantas.


- Ei! Eu sei o que é isso!


- Sabe, é?


- Claro que sei! Minha mãe tem uma estufa nos fundos de casa... eu não sei pra que servem nenhuma daquelas plantas, mas dessa eu me lembro. Minha mãe me disse que era uma praga de jardim que crescia em todos lugares úmidos e sem iluminação, especialmente em casas abandonadas... e que era muito perigosa, porque provoca sonolência em doses pequenas, mas se for ingerida em grande quantidade pode até matar... Tá vendo essa folha do meio, aqui? É ela quem causa o efeito da sonolência...


- Malfoy! E se fizermos os caras comerem isso?


- Tá maluca, menina? Como vamos fazer isso? Chegar neles, oferecer capim e dizer: “oi, que tal se você der uma mastigadinha?”


- Claro que não, Malfoy! Olha, eu tenho certeza que vamos ser obrigados a preparar o café... podemos misturar isso na comida deles! Ou na água... Você sabe se ela perde o efeito? Qual é a dose suficiente?


- Eu acho que não... água! É isso, Weasley, pede um copo d’água pra eles, agora!


- Malfoy! Isso não é hora de pensar na sua sede!


- Presta atenção Weasley, essas plantinhas são sensíveis a água gelada, numa chuva elas se multiplicam como os gnomos do seu jardim... Então vai logo! Pede água pros caras!


- E por que você acha que eles vão me dar?


- Porque se eu fosse um bandido sujo e uma menininha gostosinha que estivesse nas minhas mãos batesse na porta e pedisse um copo de água, especialmente se ela desse um jeito de exibir o decote, eu daria a garrafa toda.


- EU não vou mostrar meu decote pra ninguém! – Disse Gina chocada, puxando o vestido pra cobrir os seios que não estavam sequer aparecendo.


- Você quer sair daqui? Porque eu quero!


- Pede você a maldita água!


- Anda logo Weasley, e vê se capricha na sua sensualidade, o que eu acho meio difícil você ter, ainda mais com esse vestidinho de segunda mão que é visivelmente menor que o seu tamanho.


- O vestido não é de segunda mão e não é menor que o meu tamanho, Malfoy.


Draco ficou de queixo caído.


Gina mexeu no vestido e nos cabelos e bateu na porta, chamou pelos seqüestradores até o mais baixo abrir.


- O que foi, garota?


- Senhor seqüestrador... – disse a garota, absolutamente sem ter a menor pista de como ser sexy, sem perceber que o cara estava estupefato só de olhar pras coxas dela, que eram mais indecentes do que ela jamais sonhara – será que o senhor poderia me arranjar um copo de água gelada?


- Claro que posso, docinho. - Paolo (o seqüestrador parrudão) foi até a geladeira pegar água, enquanto Draco observava Gina, com o queixo caindo pela segunda vez. Ele só tinha se dado conta agora, mas ela tinha crescido tanto em seis anos, e tinha ficado simplesmente... deliciosa, foi a primeira palavra que passou pela mente do loiro ao encarar fixamente o par de coxas grossas que apareciam sob o vestido, que na opinião do sonserino era curto até demais, mas ele não estava achando ruim, não enquanto analisava a cintura fina da ruiva, que o vestido marcava muito bem, assim como os quadris mais largos que o normal e o bumbum empinado em sua direção; e então ela se virou trazendo o bendito copo de água, e Draco teve tempo pra olhar de relance pro par de seios que insistia em saltar do decote, e a palavra gostosa também martelou sua mente... é claro, ela seria muito gostosa, um perigo pra sua sanidade, a própria Perdição, se não fosse uma Weasley, ruiva, pobretona, nojenta, traidora do sangue e ogra.


– Pronto, Malfoy. Satisfeito?


- Muito... – Respondeu ele, sem prestar atenção no contexto da fala dela.


- Ahn?


- Me dá isso aqui, agora nós vamos molhar essas belezinhas e amanhã vamos ter o dobro de ervas do sono! – Draco parecia muito satisfeito com sua idéia, sem considerar a participação de Gina no plano. – Acho que agora o que nos resta é dormir... então, pra você não dizer que eu sou estúpido, boa noite, Weasley. – Depois de molhar as plantas, Draco se embolou no cobertor imundo, que naquele momento lhe parecia excelente, considerando que ele ainda estava sem camisa e a temperatura tinha caído drasticamente desde a tarde.


- Malfoy?


- Que foi, Weasley? – Falou o loiro, aparentemente voltando a seu mau humor normal. – Você pode apagar a luz?


- Você não pode me dar um pedaço do cobertor? – O vestido de Gina não era nem um pouco apropriado pra aquela temperatura, e ela estava encolhida contra a parede, numa tentativa um tanto frustrada de obter calor.


- Ah, Weasley, por Merlin, e você acha que eu vou dividir um cobertor com você? Como se ele não fosse pequeno o suficiente!


- Mas você tem mais roupa que eu, e... você é maior do que eu!


- E daí? Apaga a luz, por favor.


- Malfoy! Não é justo, me dá um pedaço do cobertor, eu não vou ficar passando frio! – Falou a ruiva, ficando de pé e indo até onde ele estava, puxando um pedaço do tão precioso pedaço de pano.


- Larga, Weasley! Você não entendeu? Eu já peguei o cobertor e vou dormir com ele, você não!


- Claro que vou! – Ela parecia determinada a conseguir a coberta pra si. – Você é muito grosso, deveria ter um pouco de cavalheirismo e me deixar ficar com o cobertor!


- Não Weasley, solta!


- Não solto não!


- Solta sim! Você já deve ter dormido várias noites sem cobertor quando vocês eram pobres e aposto que não tinham dinheiro nem pra comprar mais de uma cama!


- Vai se fuder Malfoy! Me dá o cobertor, quem vai dormir com ele sou eu!


- Não Weasley, não vai! – Num gesto automático, Draco deu um empurrão em Gina, que caiu no chão e soltou a coberta. Malfoy apenas deitou-se e virou pra parede, satisfeito e pronto pra dormir um pouco, mas alguma coisa o impedia agora: Gina estava chorando.


- Weasley?


Não houve resposta?


- Weasley? Eu te machuquei?


- Vai pro inferno, Malfoy!


O rapaz voltou pra posição em que estava antes, mas algo o impeliu pra que olhasse a garota, e lá estava ela: deitada no outro canto do cômodo, com um vestido curto demais e encolhida como uma bolinha, tentando não congelar. Por um instante, ele não sentiu nada, mas no outro segundo, uma pontada em seu peito fez com que ele não conseguisse mais dormir.


Ele tinha empurrado Gina no chão.


Tinha agredido-a fisicamente.


Draco nunca tinha agredido uma mulher, e a consciência do que tinha acabado de fazer o enojou: quem agia dessa forma era seu pai... com sua mãe.


Lucius Malfoy tinha deixado de ser o modelo de homem que Draco queria seguir há algum tempo, quando ele tinha tomado consciência da forma como ele tratava Narcisa. E Narcisa era a única fonte de afeto de Draco, a única mulher que o tratava como uma pessoa normal...


A idéia de que ele estava se assemelhando ao seu carrasco o encheu de uma culpa indomável.


Em silêncio, Draco tentou contar os minutos, até imaginar que Gina já estivesse dormindo. E então, movido por um sentimento que ele nem imaginava que tinha, levantou-se, vestiu a camisa jogada no chão e levou consigo o cobertor para o lugar onde a ruiva estava encolhida. Ele não tinha certeza se ela estava acordada ou não, mas não rejeitou o toque do cobertor velho sobre seu corpo, assim como o calor do corpo de Malfoy, mais próximo do seu do que já estivera durante toda sua vida. E foi assim que ele finalmente conseguiu pegar no sono.


 


-x-


 


- Acordem, moleques, acordem! É hora do café! – Gritava a voz de Paolo, à guisa de despertador, com alguns socos na porta.


Gina abriu os olhos, sem se lembrar da noite anterior, quando ao se espreguiçar, sentiu um corpo próximo demais do dela.


- Malfoy?


- Não, sou Dumbledore. – Grunhiu o sonserino, que também acabava de acordar.


- O que é que você tá fazendo aqui do meu lado?!


- Ah... sem perguntas difíceis, Weasley. Vamos, levante-se. É hora de prepararmos um café pros nossos anfitriões...


Os dois olharam pro canto oposto do cômodo, e puderam ver que as ervas realmente se multiplicaram. De pé, Draco foi até lá e apanhou as folhas necessárias, escondendo-as no bolso da calça. Gina abriu a porta e lá estavam os dois, o mais alto com uma cara assustadora e o magrelo com seu sorriso de escárnio.


- Bom dia, crianças! Ou talvez não seja um dia tão bom assim... seus pais não nos mandaram uma resposta sobre o pedido de resgate que mandamos! Será que eles não estão sentindo falta dos filhinhos? Será que vocês vão terminar as férias aqui conosco? Pensando bem... eu acho que não vão terminar.


Gina estremeceu com esse pensamento. E se o plano dos dois desse errado?


- Vamos! Preparem nosso café da manhã. Estaremos aqui fora, vigiando vocês... e qualquer gracinha, meto uma bala nessas duas cabecinhas sem pensar duas vezes! Ouviram?


Como na noite anterior, os seqüestradores ficaram do lado de fora, vigiando a porta trancada, com a certeza de que os dois não poderiam fugir por janelas. Do lado de dentro, Gina e Draco cortavam os pães e espalhavam manteiga, colocando também três folhinhas de erva sonífera em cada pão, uma dose que Draco julgava ser o suficiente pra muitas horas de sono. Após terminarem, o loiro avisou os dois que o café estava pronto, tentando controlar sua expectativa: toda a chance deles estava ali.


Os dois comeram sem suspeitar de nada. Depois da refeição, voltaram a agarrar os dois jovens, prontos para atirá-los novamente ao porta-malas; mas estranhamente, o aperto no braço dos dois foi se afrouxando. Gradativamente, suas mãos eram soltas... e o baque de dois corpos caindo no chão, sem reação aos tapinhas dados pelos dois davam a certeza de que agora eles tinham a chance de fugir e voltar pra casa.


Não sem antes encontrar o caminho de volta.


 


 

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