Uma raiva controlável



Os quatro amigos ficaram conversando em meio aquela linda paisagem por um bom tempo. A conversa fluía naturalmente, além de que, tanto Harry quanto Luna, tinham várias perguntas a respeito do plano bem sucedido de Rony e Hermione de se juntarem a Harry na reunião da Ordem da Fênix.
- Será que Lupin não vai se importar? - perguntou Luna preocupada – Quero dizer, será que ele não vai mandar vocês de volta para casa?
- Não creio. – respondeu Hermione com seu belo português – Mas caso tente, não vai dar certo.
- O que você vai fazer? – perguntou Rony surpreso.
- Bem, na verdade eu não sei... – admitiu ela – Mas eu vou pensar em algo.
- Algo como estuporar o professor? – retrucou Harry lembrando de como a amiga fora delicada ao pedir sua ajuda para socorrer Rony da bolsinha de contas.
- Não! – exclamou Hermione rapidamente – Só faria isso se fosse muito necessário...
- Hermione! – repreendeu Luna – Você não pode estuporar um professor!
- Eu acho que ela já sabia disso, Luna... – comentou Rony.
- Vamos trocar de assunto? – pediu Hermione desconfortável.
Harry olhou para Rony que se limitou a dar de ombros. Aquela Hermione decididamente não era mais a garota certinha que eles haviam conhecido no primeiro ano, pois além de ela ter evoluído consideravelmente em termos de aparência, a amiga continuava com sua inteligência superior, porém, agora aprendera a se encaixar na aventurosa vida de Harry e Rony. Os dois meninos também aprenderam a aceitá-la, ou seja, respeitar seu jeito singular e muitas vezes mandão.
Era com orgulho que podia-se afirmar que os três já estavam em completa sintonia juntos, Harry e Hermione como grandes amigos, e Rony e Hermione como um provável casal, pois estava mais que óbvio o sentimento que ambos compartilhavam. No entanto, aqueles dois não davam sinal de que iriam se entregar a verdade que os rondava incansavelmente.
- Lupin está demorando um bocado... – disse Luna observando o interior da mansão branca neve – Será que está tudo bem por lá?
- Só há um jeito de descobrir. – respondeu Harry fazendo menção para que os amigos o seguissem para dentro da mansão para onde Lupin fora minutos atrás.
Assim que entraram, logo perceberam uma fileira de sapatos empilhados um ao lado do outro, e entre vários tênis, pantufas e até sapatos de salto agulha, estava a bota de viagem do professor Lupin. Não querendo desobedecer as normas de etiqueta da casa, os quatro amigos tiraram seus sapatos e os juntaram aos outros.
- Nunca vou entender essa gente rica... – comentou Rony enquanto recebia a surpresa de que sua meia do pé direito estava furada e de que seu dedão do pé estava a mostra.
Os outros simplesmente ignoraram Rony e logo continuaram a adentrar a mansão, mesmo não sabendo direito para onde eles deveriam ir.
Assim como do lado de fora, tudo dentro da mansão era exageradamente branco, desde a cor das paredes, dos móveis e das cortinas até o piso, os tapetes e grande parte da decoração.
- Aqui é tão branco que parece o lugar para onde os semimortos vão... – comentou Rony indelicadamente.
- O que? – retrucou Hermione totalmente confusa com a reflexão do amigo.
- Você sabe... – começou ele – A dimensão que fica entre o mundo dos mortos e o mundo dos vivos... Dizem que lá não existe nada, dizem que tudo é branco.
- Tudo branco? – retrucou Luna – Assim como essa casa você, quer dizer?
- Não... – respondeu Rony – Tudo é branco porque não existe nada. É um espaço vazio.
- Quem te disse isso? – perguntou Harry, duvidando da hipótese de um meio termo entre a vida e a morte, para onde as pessoas vão e não encontram absolutamente nada.
- Bem, na verdade, eu não sei muito bem de onde eu tirei isso... – admitiu ele – Mas é uma coisa que faz sentido, não faz?
- Não. Isso não faz sentido nenhum. – disse Hermione rispidamente – Mas agora vamos parar de falar bobagens e nós concentrarmos em achar o professor Lupin.
- Pessoal! – chamou Luna do outro lado do corredor por onde eles passavam – Venham aqui, acho que encontrei!
Todos foram rapidamente ao encontro de Luna, que estava perto de uma grande porta fechada, que parecia guardar uma sala de reuniões, pois diversas vozes provinham daquele lugar.
- Você só pode estar louco! – bradou Lupin de dentro da sala.
- Não estou louco, você que está fora de sua normalidade... – rebateu outro homem, cuja voz ninguém reconhecera – Você sabe que ele pode ser perigoso para nós.
- Perigoso? – questionou Lupin furioso – Desde quando um garoto de 16 anos pode ser perigoso?
- Desde quando esse garoto for ninguém menos do que Harry Potter. – respondeu o homem friamente.
Até então, Harry estava escutando atentamente a conversa do lado de fora, porém, quando ele percebeu que aquela discussão se tratava dele, não hesitou nem por um segundo, e escancarou a porta, deixando a mostra ele e seus amigos, e entregando o fato de que todos estavam escutando a conversa.
- Professor Lupin – disse Harry, percebendo que na sala não se encontravam só seu ex professor de Defesa contra as Artes das Trevas e um homem desconhecido, mas sim um grande conjunto de bruxos e bruxas também, todos observando, perplexos, a ousadia do garoto -, a reunião da Ordem já começou?
- H-Harry – gaguejou Lupin temeroso – O que faz aqui?
- Desculpe senhor – começou a explicar o menino -, é que eu ouvi o meu nome e pensei que talvez devesse ver se está tudo bem por aqui.
- Harry Potter, – disse o homem que estava conversando com Lupin. Ele aparentava ter uns quarenta anos e possuía uma expressão um pouco sombria. Vestia-se elegantemente e seus cabelos castanhos iam até os ombros. Era um bruxo alto, rico e parecia ter um caráter duvidoso. – Sou Lorde Tensill, representante da Ordem da Fênix nos Estados Unidos da América. É um prazer conhecê-lo. – Ele fez menção para que Harry apertasse sua mão, porém o menino não se intimidou, dizendo logo em seguida:
- Então é o senhor que me acha perigoso? – As palavras de Harry tiveram um grande efeito sobre o homem a sua frente. Lorde Tensill abaixou sua mão e encarou o menino com seus olhos negros e sutilmente trapaceiros.
- Veja bem - começou a dizer ele -, não tenho nada contra você. Só penso no melhor para todos, de modo que acho melhor você não participar da reunião desta noite.
- E posso saber o porquê disso? – perguntou Harry grosseiramente.
Lorde Tensill estreitou seus olhos razoavelmente grandes e mostrou seu par de dentes brancos na forma de um meio sorriso nada agradável.
- Devo confessar que não acho que você seja de todo confiável devido a sua ligação com o Lorde das Trevas, que até onde eu saiba, não pode ser controlada.
Ao ouvir aquelas palavras, uma ponta de raiva foi crescendo gradualmente no peito de Harry, que se sentia sufocado e com vontade de fazer o homem a sua frente engolir o que havia dito. Porém, ele sabia que se fizesse isso, só estaria dando embasamento à alegação de Lorde Tensill de que não controlava os sentimentos que lhe foram herdados pelo Lorde das Trevas, de modo que ele, com muito esforço, só respondeu calmamente:
- Creio que o senhor esteja errado, Lorde Tensill.


- Errado? – repetiu Lorde Tensill cético – Como eu posso estar errado e um garoto de 16 anos certo?
- A questão é que eu sei do que sou capaz. – tratou de esclarecer Harry - Sinto muito, mas o senhor não pode simplesmente determinar as minhas limitações, até porque eu tenho certeza de que minha ligação com Voldemort não é um problema.
- Essa decisão não cabe só a você. – contra-argumentou Lorde Tensill – Proponho que façamos uma votação. – O bruxo se encaminhou para o seu posto na mesa de reuniões, sem nem consultar Harry para saber se ele estava de acordo que fosse feita uma votação – Caros amigos, vamos ser francos e justos. – Todos os integrantes da Ordem da Fênix Mundial estavam reunidos naquela sala, só processando atentamente o que Lorde Tensill tinha a dizer – Eu não creio que Harry Potter esteja apto a participar de nossa reunião devido a dois fatores: ele não é maior de idade e possui uma ligação muito complexa com o Lorde das Trevas, da qual ninguém tem absoluta certeza de como funciona e de que poder exerce sobre o garoto. – houve uma pausa momentânea e então ele fez a pergunta final – Então assim eu vos pergunto, devemos deixá-lo juntar-se a nós esta noite?
Murmúrios inquietantes percorreram por toda a sala, calando os silenciosos e mais insignificantes, e dando mais poder e razão aos mais influentes. Enquanto tudo acontecia, Lorde Tensill se mostrava impassível em seu lugar, era como se ele já soubesse que seu discurso surtira efeito. Já Lupin, tentava convencer todos de que um garoto de 16 anos não poderia ser nenhuma ameaça.
- Harry! – chamou Hermione na porta da sala – O que está acontecendo exatamente?
- Lorde Tensill propôs uma votação para saber se eu vou poder assistir a reunião. – respondeu ele cabisbaixo.
- Mas isso é ridículo! – exclamou Hermione abismada – Não pensei que as tolices que Lorde Tensill disse chegariam a tal relevância para uma votação.
- Parece que ele influencia muito as pessoas aqui... – comentou Harry percebendo que gradualmente, a agitação em que antes se encontravam os bruxos e bruxas da sala, ia cessando.
- Podemos dar início a votação? – questionou Lorde Tensill diplomaticamente.
Todos assentiram, dando permissão para ele prosseguir.
- Sendo assim, - começou a dizer ele – peço que todos que são a favor da participação de Harry Potter à reunião da Ordem, projetem uma luz vermelha com suas varinhas.
Muitas varinhas foram erguidas com uma fulgurante luz vermelha piscando acima delas, no entanto, Harry não podia ter certeza se havia ganhado ou não.
- Agora peço que todos que não são a favor da participação de Harry Potter à reunião, projetem uma luz verde em suas varinhas.
A maioria dos bruxos ao redor de Lorde Tensill ergueu a varinha, porém Harry não era muito ágil, de modo que todos abaixaram as mãos antes mesmo de ele ter conseguido terminar de contar.
- Parece que temos um resultado. – concluiu Lorde Tensill com um sorriso discreto entre os lábios – Com doze contra onze votos, está decidido que o garoto não tem permissão de estar conosco à reunião.
Enquanto uns faziam comentários de aprovação quanto ao resultado, outros estavam bem desgostosos, e esse grupo era liderado por Lupin, que estava perplexo com o rumo que as coisas haviam tomado.
Harry nunca teve problemas em aceitar a derrota, porém aquilo que estava acontecendo não era justo, pois ele sabia do que era capaz muito melhor do que ninguém.
- Isso não está certo! – bradou Hermione conseguindo a atenção de todos para si.
- Como disse? – retrucou Lorde Tensill lançando um olhar intimidador para ela.
- Eu disse que isso não está certo, porque a votação deu um empate. Eu mesma contei, e tenho certeza de que o senhor acrescentou um voto a seu favor. – respondeu Hermione com uma certeza contagiante.
- Como a senhorita se chama? – perguntou Lorde Tensill calmamente.
- Hermione Granger. – a voz dela saiu um pouco mais fria do que o normal.
- Senhorita Granger, – começou a dizer Lorde Tensill – devo concordar que inicialmente, a votação deu um empate, porém, como a reunião está ocorrendo em minha casa, receio que eu tenha o voto de Minerva.
Hermione ficou surpresa por alguns instantes, mas logo em seguida já contra-atacou de novo:
- São assim as regras professor Lupin? – perguntou ela insistente.
- Receio que sim. – respondeu ele infeliz – Não podemos fazer mais nada, é melhor vocês irem andando.
- Mas... – murmurou Harry.
- Por favor, - pediu Lupin – peçam para o Mordomo de Lorde Tensill arrumar-lhes um bom aposento.
Harry olhou interrogativamente para Hermione, mas a amiga não sabia mais o que fazer, pois não havia mais o que fazer, a não ser obedecer Lupin.
- Vão. – disse Lupin por uma última vez.
O mordomo de Lorde Tensill apareceu na porta e fez menção para que o seguissem. Assim que Harry deixou a sala, sentiu as pesadas portas que guardavam a reunião da Ordem da Fênix se fechando, e com elas, mais outra injustiça acontecendo. O mundo era feito de injustiças, e ele sabia muito bem disso. Harry até conseguia imaginar o sorriso sarcástico ainda esculpido em Lorde Tensill. Era estranho um sujeito como ele fazer parte da Ordem da Fênix, pois o menino sempre imaginara a mesma, como uma aliança de pessoas corajosas, guerreiras e que mereciam estarem ali por algum motivo. E essas eram qualidades que, decididamente, Lorde Tensill não possuía.
- Harry? – perguntou Rony preocupado – Você está bem cara?
- Como eu poderia estar? – retrucou ele, expondo uma parte de fúria até então contida – Não consigo entender como aquele sujeito desprezível faz parte da Ordem da Fênix!
- Ele é rico e influente Harry. – explicou Hermione – Consegue qualquer coisa que queira.
- Além disso, ouvi meu pai dizer que a Ordem estava precisando de fundos... – comentou Rony - O apoio de um homem rico não é de se recusar.
- Posso mostrar-lhes seus aposentos? – perguntou o Mordomo um pouco impaciente.
- Temos outra opção? – indagou Luna observando o final de tarde que se proclamava lá fora.
- Bem, - respondeu o mordomo – vocês podem dar uma volta lá fora enquanto a reunião acontece. Mas deverão voltar antes que ela termine, caso o contrário, eu terei problemas.
- Fabuloso! – exclamou Luna radiante – Não demoraremos a voltar! Obrigada senhor... Como é mesmo o seu nome?
- Me chamo Alfred. – respondeu o Mordomo.
- Obrigada Alfred. – agradeceu Luna, correndo logo em seguida em direção à colina.
- Ir para o quarto era uma ótima opção para mim... – lamentou Rony.
- Vamos logo! – chamou Luna do lado de fora.
- Melhorem essas caras! – disse Hermione para Rony e Harry – Quem sabe o que podemos encontrar lá fora?

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.