Brilho de Halloween



O dia da festa de Halloween chegou rapidamente. Era uma festa que criava muitas expectativas, até nos rapazes, pois além de ser a primeira festa em que não se conhecia nada do que iria acontecer, os alunos haviam sido dispensados das aulas do dia seguinte, o que significava que a festa pernoitaria.
Por todos os cantos do castelo pequenos grupos de raparigas falavam do que usariam nessa mesma noite, queixavam-se das suas formas que não encaixariam no vestido, amaldiçoavam internamente as raparigas bonitas e populares de Hogwarts e também os pares dos bonitões, como Lisa Copperfield, par de Ron, o rei da escola e de todos os sonhos femininos e Hermione Granger, par de Cormac McLaggen o loirão da escola. Basicamente, todas as suas conversas e risinhos tinham apenas um tema: Halloween.

Para Hermione Granger, até chegar a hora mínima permitida para que os alunos começassem a preparar-se, era um dia normal de aulas. Nem o facto de ser fulminada com olhares carregados de ódio e inveja, ser comentada por qualquer lugar que passasse ou o seu par ser Cormac McLaggen a afectava. Hermione só se concentraria na festa quando chegasse a hora disso. Felizmente, havia aprendido na sua infância a separar as coisas e organizar tudo e, era uma rapariga responsável e cumpridora, não uma aérea como as outras que se pavoneavam pela escola.

E essa era uma das muitas qualidades que McLaggen apreciava intensamente nela. Hermione não era como as outras, não era vulgar.
Era especial, diferente.

E ele não entendia como podia Ron Weasley tratá-la assim após tantos anos de uma grande amizade.
Ele tinha alguma razão.
Alguma coisa havia acontecido.

E ele precisava descobrir o quê.

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Quando o toque anunciou o final das aulas e o início da preparação para a grande festa, as raparigas dispararam das salas de aulas para os dormitórias a fim de se produzirem ao máximo.
Hermione recolheu os seus materiais lentamente, como habitualmente fazia, sendo imitada por Harry, Ron e McLaggen. Apesar de todos estarem entusiasmados com a festa, achavam que 3 horas seriam o necessário. Pelo menos para Harry, já que Ron cuidava mais da imagem a fim de "espantar as raparigas".

E, para espanto de Cormac, Ron não tirava os olhos de Hermione. Olhava-a de uma maneira que poderia ser entendida como culpa se ele não mantivesse um ar de superioridade. Mas ninguém poderia imaginar os sentimentos que alimentavam o interior de Ronald Weasley.

Ninguém. Apenas ele.

- Bem, se não gostas, sabes qual é a solução, não sabes? - berrava Hermione. O cabelo escorregara-lhe do elegante rolo e tinha o rosto contorcido de raiva.


- Ah sim? - berrava Ron, em resposta. - E qual é?

- Da próxima vez que houver um baile, convida-me antes de outros o fazerem e sem ser em último recurso!

(Baile de Natal, 4º ano)

E, mais uma vez, ele não a havia convidado.
Não por ser tarde demais, por falta de coragem ou por não ter entendido durante 3 anos que ela era uma rapariga.
Mas, por mais um erro estúpido que ele havia cometido para juntar aos tantos que já tinha.

Hermione não voltaria novamente a ser o seu par por culpa dele.

Novamente.

Hermione sentiu o olhar de alguém cravado em si e ergueu os olhos para ver quem a observava. E constatou com grande surpresa que era Ron, que parecia absorto em pensamentos e a olhava com profunda culpa no rosto.
Mas ela já não se importava mais com isso. Ou pelo menos tentava não se importar.
Desviou o seu olhar do de Ron, lançando-lhe antes disso um cheio de mágoa, esperando que lhe pudesse dizer alguma coisa. Mas fez isso sem se aperceber. Olhou para Cormac, que já estava pronto e que lhe sorriu e saiu da sala. Retribuiu o sorriso. Afinal, ele seria o seu par daquela noite.

- Até logo, Harry. - disse evitando olhar para Ron, sorrindo para Harry e saindo.

- Até logo. - o amigo sorriu de volta.

"It's all the same if everybody's leaves her".
(É sempre o mesmo se alguém a deixa)

- Com quem vais? - Ron perguntou, não conseguindo esconder a curiosidade.


- Logo verás. - Hermione virou-lhe as costas.

- O que eu acho é que a ninguém a convidou e não nos quer dizer. - Ron virou-se para Harry.

- Não acho que seja isso.

- Então, porque não nos diz? - Ron insistia.

(Hogwarts, 4º ano)

- Ron. - Harry chamou numa voz suficientemente alta para retirar o amigo dos seus devaneios.

- O que foi? - Ron perguntou, mostrando, sem saber porquê, irritação na sua voz.

- Não te queres preparar para a festa? - Harry olhava desconfiado para o amigo, que mantinha o olhar fixo na porta por onde Hermione acabara de sair.

- Ah sim claro, a festa. Vamos! - Ron modificara o tom da sua voz.

E juntos, saíram.

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A confusão instalara-se no dormitório feminino de Gryffindor. Cabelos compridos esvoaçavam por todo o lado, vestidos de todas as cores e feitios eram visíveis e os mais diversos perfumes podiam ser exalados por quem entrasse naquele momento.

- O meu sapato tem uma mancha! - Parvati Patil começara a gritar e a choramingar.

- És feiticeira ou não és? - Hermione respondeu, revirando os olhos.

- Sim e depois? - Parvati mantinha o tom arrogante habitual para Hermione.

- Pega na tua varinha e tira-a. Não há coisa mais simples. - Hermione falou como se esclarecesse tudo.

Parvati fechou a cara. Não queria admitir que ela estava certa e que deveria ter pensado nisso antes de fazer todo o histerismo que fizera. Mas o seu sapato, o seu lindo sapato não poderia estar sujo.

Hermione voltou ao quarto-de-banho a fim de acabar de se preparar.
Usava um cai-cai ligeiramente justo ligeiramente acima do joelho, azul marinho, mas que não era muito ousado como o de Parvati. O facto de ser justo em cima, dava-lhe um aspecto mais adulto na zona do peito. Hermione completara com uma sandália de salto alto nos mesmos tons, com aplicações em dourado. As unhas dos pés estavam pintadas em rosa claro.. As unhas das mãos estavam pintadas de um rosa claro igual ao dos pés, no qual Hermione tinha passado branco para imitar a unha, fazendo a chamada de manicure francesa. O cabelo estava natural, porém não estava revolto. O cabelo estava liso em cima e com uns perfeitos caracóis em cima, apanhado num elegante penteado. Usava uns bonitos brincos dourados e grandes, ao estilo moderno. A maquilhagem era suave, em tons dourados. Colocara alguns brilhantes na cara e finalizara com um suave gloss nos lábios.
Estava linda. Ninguém encontraria melhor palavra.
Hermione não era mais a rapariga ingénua que havia acompanhado Victor Krum no baile de Natal.
Havia crescido.

E os acontecimentos recentes haviam-na feito crescer ainda mais.

"She's not a drama queen

She doesn't want to feel this way".

Ela não é a rainha dos dramas.
Ela não quer sentir-se desta maneira.

Hermione olhou o relógio pendurado na parede que marcava 19h45. A hora estabelecida havia sido 20h00, para que todos estivessem presentes na abertura das portas do Salão que decorreria às 20h15.
Pensou que Cormac já deveria estar pronto e desceu em direcção ao Salão. Ao chegar à Sala Comum, verificou que ele não estava lá por isso já teria, provavelmente, descido.

- Hermione! - alguém a chamou.

Hermione virou-se e viu uma ruiva a vir na sua direcção.
Uma bonita ruiva.
A sua melhor amiga.

- Ginny!

- Estás, LINDA meu amor, estás mesmo! - Ginny admirou-se com a produção da amiga.

- E tu então querida, estás perfeita. - Hermione respondeu, sorrindo à amiga.

Ginny também estava, de facto, muito bonita. Usava um vestido rodado de alças, acima do joelho, dourado, que combinava com o seu cabelo flamejante, que estava apanhado num elegante e brilhante rabo-de-cavalo bem no alto da cabeça. Usava uns brincos grande, dourados, com uns pequenos pendentes. Usava uma sandália preta de salto médio, com detalhes dourados e pintara as unhas, quer das mãos, quer dos pés, de branco.

- Bem, vamos descer? - perguntou Ginny ansiosa.

- Claro, vamos. - Hermione respondeu. Ginny?

- Sim?

- Estás ansiosa, não estás? - Hermione sorria para a amiga.

- Eu... sim, estou um pouco. - Ginny respondeu, corando.

- Será que o Harry vai perceber que vocês foram feitos um para o outro? - Hermione continuava a sorrir.

- Hermione, pára com isso! - Ginny estava coradíssima, mas não conseguiu deixar de sorrir.

- Eu páro, eu páro. - as duas riam.

- Vá, vamos descer, senão atrasamo-nos.

- Vamos. Estou ansiosíssima por saber como está o Salão. - respondeu Hermione.

Dito isto, as duas amigas saíram do dormitório, direccionando-se para o Salão Nobre.
Pelo caminho, foram alvo de comentários desagradáveis e invejosos, especialmente dirigidos a Hermione. Ginny também era alvo das raparigas, pois o seu par era Harry Potter, que continuava a fazer muitas raparigas suspirarem.

- Olhem só aquele vestido, não tem graça nenhuma... - Hermione e Ginny conseguiam ouvir o que as raparigas diziam, mas não ligavam, continuando sempre a andar e rindo.


- Bem, acho que chegamos. - disse Ginny, procurando Harry com o olhar.

- Parece que sim. - Hermione sorria, procurando Cormac também.

- O Harry vem aí! Até já, Hermione! - disse Ginny, não conseguindo esconder a excitação.

E foi então que o inevitável aconteceu. Atrás de Harry veio Ron, cujo par ainda não havia chegado.
E então, os seus olhares cruzaram-se, tal como há dois anos atrás.

Mas desta vez a situação era diferente.

Azul com castanho, castanho com azul.
Ron não conseguia acreditar que aquela rapariga na sua frente era Hermione. Não queria acreditar que havia ignorado toda aquela beleza durante anos e que agora a desprezava, contra vontade.

Ele não queria, ele não podia.

- Onde eztarre Herm-oun-ninny? - perguntou uma voz.


Krum acabara de chegar à mesa deles com duas Cervejas de Manteiga.

- Não faço ideia - respondeu Reu obstinadamente, olhando para ele. - Perdeste-a?

Krum tinha novamente um ar sombrio.

- Bom, ze a virrem, digam a ela que tenho az bebidaz - disse ele, afastando-se indolentemente.

(Baile de Natal, 4º ano)


Até mesmo Victor Krum. Alguém que Hermione havia conhecido sem estarem três meses completos havia tido coragem de convidá-la para o Baile de Natal.
Até mesmo o parvo, arrogante e pavão do húngaro.

Mas ele não.
E, mais uma vez havia falhado.

Idiota, imbecil.
Incapaz.

- Ronron... - ouviu uma voz suave atrás de si.

Lisa Copperfield havia acabado de chegar e a sua produção, decote e saltos altos exagerados não eram capazes de bater a beleza de Hermione.

"Já chega Ron. Continua, estás a ir extremamente bem. São só efeitos do tamanho do vestido." - Ron pensava, passando a mão freneticamente nos espectaculares cabelos ruivos.

- Lisa, amor - Ron sorria - Estás perfeita, és a mais linda da noite.

- Oh Ron, tu é que és, querido. - Lisa insinuava-se com tudo o que tinha para cima de Ron, abraçando-se a ele. Estás mesmo perfeito, hoje.

Ron estava realmente muito atraente. Usava uma camisa branca de manga curta, que havia combinado com uma fina gravata azul marinho , que havia sido apertada de forma descuidada propositamente e um colete preto, aberto. As calças estavam ligeiramente descaídas e eram justas, do mesmo tom da gravata.
Era alvo de muitos comentários das raparigas e de muitos olhares famintos.

- Vamos? - perguntou Ron, embasbacado pelo decote de Lisa, esquecendo-se de tudo o resto.

- Claro. - Lisa sorria de uma falsa forma sedutora.

Lisa deu as mãos a Ron e foram juntos para a porta do Salão que seria aberta em dez minutos.

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E pensar que o seu par poderia ser Ronald Weasley.


Ron estava muito atraente naquela noite.
E ela tinha a certeza que ele achava o mesmo dela.
O olhar dele havia percorrido todo o seu corpo, como que analisando, parando no peito e nas pernas.

E Hermione agradeceu internamente ser extremamente perpiscaz.
Mesmo sem se falarem, Ron era um rapaz.
E, tal como todos os rapazes, analisara atentamente uma rapariga que nessa noite decidira usar um vestido da mesma cor da sua gravata.

Foi então que Hermione o viu. Alto, loiro, lindo.
Cormac McLaggen havia-a (finalmente) encontrado e vinha na sua direcção com um enorme sorriso.
Hermione não conseguiu deixar de retribuir ao sorriso. Ele estava muitíssimo atraente, lindo de facto.

Cormac usava uma camisa branca, como a de Ron, mas havia preferido uma gravata preta, fina e também apertada desajeitadamente, de propósito. As calças eram pretas, também descaídas, deixando um pouco dos boxers pretos justos à vista. Havia optado por umas sapatilhas brancas, que combinavam perfeitamente nas calças justas. Para finalizar, um blazer, também preto.
O cabelo loiro, estava ainda húmido e insistia em ir para a frente dos lindos olhos azuis, o que fazia com que Cormac recorresse a uma "sacudidela" da cabeça, o que lhe dava um ar extremamente sensual. O sorriso lindo, os dentes brancos, os lábios apetecíveis.
Cormac era lindo e naquela noite havia superado todas as expectactivas.

- Hermione, tu estás - Cormac não conseguia encontrar palavras nem disfarçar o espanto - absolutamente FANTÁSTICA.

- Oh, obrigada Cormac - Hermione sorria, corando ligeiramente - tu também estás muito bem.

- Comparado contigo, estou normalíssimo. - Cormac sorria de uma forma apaixonante.

- Oh, que querido. Mas estás mesmo bonito.  - Hermione retribuia o sorriso.

- Assim nunca saíremos daqui, sua teimosa. - Cormac ria, mostrando os belos dentes brancos.

Os seus belos dentes brancos.

E sem saber, Hermione começou a sentir-se bem ao lado de Cormac McLaggen. Com ele ria, esquecia todos os problemas e passava bons momentos.

Com ele Ron Weasley deixava de ser dor.

Então Hermione sentiu que Cormac havia agarrado a sua mão e ela correspondeu ao gesto, sorrindo internamente. Fechou a sua mão em volta da dele e juntos seguiram para o Salão, cujas portas haviam acabado de ser abertas.
O Salão estava espantoso. Decorado em tons dourados e prateados, com pequenos morcegos pretos que pendiam do tecto, contrastando com os pingentes prateados e as luzinhas douradas. As mesas de equipas haviam sido esquecidas, dando lugar a pequenas mesas, douradas ou prateadas, com duas cadeiras no tom contrário ao da mesa. Em cada mesa estavam dois pratos dourados e reluzentes, os respectivos talheres e taças. Em cada mesa existia também uma pequena abóbora, que dava um ar halloween à decoração. A parede principal, por detrás da mesa dos professores, estava coberta por uma tapeçaria dourada com um grande H preto. O tecto estava ocupado pelos pequenos morcegos e pelas pequenas luzes douradas e prateadas, que se assemelhavam a estrelas.

- Eles capricharam. - disse Cormac.

- Acredita - Hermione olhava espantada para o tecto, virando-se para Cormac de seguida - Vamos sentar-nos numa mesa?

- Sim, vamos - Cormac sorriu - Que tal aquela ali ao fundo?

- Está óptima. - Hermione retribuiu o sorriso.

Quando alcançaram a mesa, Hermione olhou em redor antes de sentar-se. Viu Ginny e Harry conversando animadamente, também de mãos dadas. Viu Parvati Patil ignorando Seamus Finnigan completamente, lançando olhares ardentes a Ron e puxando o vestido para baixo, deixando o peito ainda mais à vista.

- Francamente - Hermione revirou os olhos.

- É bem verdade. Ela queria sair comigo, mas eu não quis. - Cormac respondeu na sequência dos pensamentos de Hermione, para espanto desta.

- A Parvati?

- Sim, ela - Cormac respondeu - Ela é uma galdéria, só quer sair contigo, dar uns beijos, uns apalpões e uns gemidos, para depois contar às amigas que já curtiu com os rapazes todos.  

- Não acredito - Hermione bufou - Coitado do Seamus, ela está mesmo a ignorá-lo.

- Ele já sabia como ele é quando a convidou - Cormac continou - A culpa é dele.

- Há uns dias, adormeci e foi ela quem me acordou - Hermione fez cara de nojo - Foi horrível!

Cormac riu.

Mas Hermione não havia adormecido.
Havia sido uma das suas noites em claro por culpa de Ron.

"Não lhe poderia dizer a verdadeira razão, além de que agora não importa."


Hermione riu também. E então ouviu um tilintar tão habitual nos banquetes de Hogwarts. Era o tilintar que antecedia normalmente os discursos de Dumbledore.

- Alunos! - Dumbledore começou - Bem-vindos a mais um banquete de Halloween. Como sabem, este ano a escola decidiu organizar uma festa como forma de comemoração aos 500 anos desta famosa tradição! Sim, 500 anos! - Dumbledore acrescentou ao ver as caras de espanto de alguns dos alunos - E como é uma data importante e como nós, professores sabemos que vocês querem comemorá-la da melhor maneira, todos estão completamente dispensados das aulas de amanhã! - Dumbledore sorriu ao ouvir vivas provindos dos alunos e prosseguiu o seu discurso - O que significa que a noite de hoje e o dia de amanhã são essencialmente vossos e que podem e devem aproveitá-los da melhor maneira possível, para que se torne inesquecível. E agora, bom apetite!

Dumbledore terminou o seu discurso, sendo precedido de uma enorme salva de palmas e de assobios de satisfação provindos dos alunos.

- A noite toda e o dia todo? Espectacular, hein? - a voz de Ron Weasley ecoou pelo Salão.

- Sim senhor Weasley, todo esse tempo para aproveitar como quiser. - Dumbledore respondeu, sorrindo.

- Como quiser? Isso pode significar muita coisa... - Ron comentou em voz alta, mas felizmente o burburinho havia recomeçado, sobrepondo-se à voz do ruivo.

- Muita coisa Ronron? Como por exemplo? - Lisa insinuava-se fortemente para Ron, que estava com um braço na sua cintura.

- Não sei, não me lembro de nada interessante para fazer agora (a) - Ron dizia, tentando fazer um ar inocente. (N/A: bastante inocente!)

- Hum, com a noite toda, existem muitas coisas para serem feitas, não é verdade? - Lisa falava com voz sedutora.

- Sim, é - Ron mantinha o mesmo ar, mas mudou-o rapidamente quando a comida apareceu no seu prato, retirando o braço da cintura de Lisa - Ah, jantar! Finalmente!

Lisa ficou extremamente indignada com o facto de Ron ter retirado o braço da sua cintura e decidiu jantar também, procurando não abusar, não fosse Ron pensar mal dela.

Quando a comida apareceu no prato de Cormac McLaggen este agiu normalmente, mantendo a postura e o sorriso. Teve uma reacção muito diferente da de Ron, que parecia não se alimentar há semanas. Perguntou a Hermione se precisava de mais alguma coisa e recusou-se a começar sem que ela começasse primeiro.

- Senhoras primeiro, Hermione. - dizia entre sorrisos.

- Oh, mas isto é um jantar! - Hermione contrariava.

- Faço questão. Podes começar, prometo que começo logo de seguida. - Cormac não apagava o sorriso sincero da linda face. Parecia mesmo feliz naquela noite.

- Está bem, se tanto insistes. - Hermione acabou por ceder, sorrindo.

- Ah, assim sim!

Quando Hermione levou a primeira garfada à boca foi impossível não se rir de seguida com a expressão que Cormac havia feito com a cara, como que esperando um grande acontecimento. Cormac acabou por se rir também.

Afinal ele estava ali, com ela.
Rindo-se, divertindo-se,  com ela.
Divertindo-a.

A ela.

Porque ela não era uma rapariga qualquer que ele havia convidado para a festa. Ela era Hermione Granger, a rapariga que ele amava e que coloria os seus sonhos todas as noites.
E ela havia saído dos seus sonhos mais românticos e desejados para fazer parte da sua realidade e mais tarde das suas memórias.
E pensar que ela sofrera tanto por culpa daquele Weasley convencido e arrogante.
Como ele queria ter estado presente para enxugar todas aquelas lágrimas e encostar a cabeça dela no seu peito e acariciar os seus cabelos, dizendo palavras de reconforto.
Como ele queria ter-lhe falado antes.

Como ele queria senti-la, abraçá-la e voar com ela.

- Bem, acho que já posso começar, agora que a senhora Hermione Granger decidiu começar também. - Cormac sorriu.

- Cormac, assim não consigo jantar, estás a fazer-me rir! - Hermione ria sinceramente, como não ria há já muito tempo.

- Eu, fazer rir? - Cormac fazia um ar inocente.

- Sim! - Hermione continuava a rir. - És tão engraçado!

- Obrigado, vou tomar isso como um elogio - Cormac começou, mas ao ver o esforço de Hermione para não se rir e a fitá-lo com uma expressão fingida de irritação, parou - Está bem, eu paro.

- Assim é melhor, senão não jantamos! - Hermione sorria, de novo.

- Acho que tens razão. - Cormac sorriu também e recomeçaram juntos o jantar.

Something is just about to plake.
I will try to find my place (...)

Algo está prestes a explodir.
Eu vou tentar encontrar o meu lugar (...)

Quando o jantar terminou, precedido da enorme variedade de sobremesas e quando todos acharam que haviam já comido o suficiente, os pratos desapareceram, assim como as mesas, dando lugar a um enorme espaço que fornecia uma enorme liberdade para dançar.

E foi quando a música começou e apesar de ao início os rapazes mostrarem alguma relutância, que a pista se encheu de pares de dança animados e felizes. A primeira música foi animada, permitindo a muitos soltarem-se e mostrarem os seus dotes de dança.

Cormac dançava de uma forma surpreendente. Havia agarrado Hermione pela cintura e levava-a com ele nos seus passos de dança certos e compassados. Hermione colocara as mãos no seu pescoço e deixara-se levar pela música e mais: por Cormac McLaggen, que começava agora a ocupar um outro lugar no seu coração.

E quando a primeira música terminou, os alunos mantiveram as suas posições prontos para uma outra do mesmo género. Mas, a música mudou radicalmente, dando lugar a uma mais calma.
Romântica.
Dramática.
Dolorosa.

A hundred days have made me older,
Since the last time that I've saw
Your pretty face.

Os braços de Hermione apertaram ainda mais o pescoço de Cormac e este agarrou a sua cintura com mais força. Os seus rostos ficaram próximos e trocaram um olhar profundo, ao qual Cormac respondeu com um sincero sorriso que Hermione correspondeu. 

Mas aquela música contava a sua história com Ron desde que ele havia decidido ignorá-la e ela não podia negá-lo. Faziam exactamente cem dias nessa mesma quarta-feira desde que ela havia visto o seu rosto.
Havia sido a última vez que haviam trocado uma palavra.

A thousand lies have made me colder,
And I don't think I can look
At this the same.


Ele sabia que aquela letra encaixava perfeitamente no que eles passavam no presente. Ele sabia que fazia cem dias que ele havia decidido tomar uma atitude, que ele havia visto a sua face com um sorriso sincero dirigido a ele.
E as mentiras?
As mentiras dele.
Haviam-na tornado mais fria.
E ele também não era o mesmo.

And all the miles that separate,
They disappear now,
When I'm dreaming of your face.

Apesar de estarem diariamente na mesma sala, pertencerem à mesma equipa, terem o mesmo melhor amigo e serem obrigados a estarem juntos, parecia que existia um muro enorme e sem fim no meio deles. Apesar de estarem a uns escassos metros de distância, essa distância parecia não ter fim.
E, quando a noite caía, eles invadiam os sonhos um do outro, sorrindo, chamando um pelo outro.

I'm here without you, baby
But you still on my lonely mind.
I think about you, baby
And I dream about you all the time.

E ali estavam eles, um sem o outro. A maneira que contrariava completamente tudo o que haviam prometido um ao outro. Todas as promessas haviam sido esquecidas.
Os sorrisos eram apenas memórias.
Tudo estava mudado.

The miles just keep roling,
As the people leave their way
To say hello.
I've heard this life is overrated,
But I hope that it gets better
As we go.

E, apesar de todas as lágrimas, todas as noites em claro e todos os sonhos invadidos, ela estava abraçada a Cormac McLaggen que lhe transmitia uma paz impressionante. Ela estava a escassos centímetros, que não significariam nada para muitas pessoas. E, ela não podia negar que ele estava a ocupar o seu coração. Não tão intensamente como Ron ocupava, mas estava a fazer parte dele.
E ela esperava que fosse tão intenso como o que a fazia chorar noites sem fim.

Everything I know
And anywhere I go,
It gets hard but
It want take away my love.
And when the last one falls,
And when it's all said
And done.
It gets hard but it want take
My love.

Ele sabia que era complicado. Mas era necessário. Talvez um dia pudesse redimir-se e explicar-se. Um dia em que estivesse feliz com um outro alguém, e ela também. Um dia em que ele fosse capaz de contar para ela as verdadeiras razões da sua mudança e do seu silêncio.


Um dia em que ele fosse capaz de redimir-se por todo o sofrimento que lhe havia causado.


Quando a música terminou, Ron e Hermione não conseguiram deixar de olhar um para o outro, cruzando as diferentes cores por alguns segundos, até Hermione decidir voltar as suas atenções de novo para Cormac, que estava a ser profundamente gentil naquela noite.

Quando a música animada voltou e os pares de dança retornaram aos seus passos inovadores, Cormac propôs a Hermione um passeio pelos jardins que ela aceitou rapidamente.

Saíram do Salão, passando por muitos casais que haviam escolhido as paredes mais recatadas para se beijarem, satisfazendo a vontade que os vinha a acompanhar desde o início da festa. Passaram também por grupos de raparigas que não haviam conseguido arranjar par e que fitavam Hermione odiosamente, com a sua mão dentro da de Cormac McLaggen, que afastava o lindo cabelo loiro da frente dos olhos azuis com o movimento habitual de cabeça, fazendo-as suspirar por momentos.

Quando chegaram ao exterior depararam-se com uma visão espectacular: a Lua iluminava os jardins, sendo reflectida na água. A porta pela qual haviam saído dera acesso à visão mais espectacular daquele fenómeno.

A mão de Hermione não soltava a de Cormac McLaggen. A outra mão tremia ligeiramente, facto que ela conseguia disfarçar.
E então, a outra mão de Cormac moveu-se em direcção ao cabelo dela, afastando-o suavemente da frente dos olhos. E então, aproximaram-se...

*******************************************************

Harry e Ginny passeavam pelos jardins de Hogwarts. Haviam escolhido os jardins mais isolados, cujo caminho de acesso era mais longo. Andavam, a uma distância curta, em silêncio, as suas mãos tocando-se por vezes, fazendo-os estremecer ao mais pequeno toque.
Quando chegaram a um banco isolado, iluminado pela Lua, Harry propôs que se sentassem, e assim fizeram.

Continuavam em silêncio até que ele decidiu quebrá-lo.

- A noite está mesmo agradável. - foi a primeira coisa que lhe ocorreu e sentiu-se idiota ao dizê-lo.

- Está mesmo. E a festa também. - Ginny sorriu. Harry pôde ver o seu sorriso iluminado pela Lua.

- Uma boa companhia ajuda sempre. - Harry sorriu em resposta.

- Principalmente se for alguém especial e bastante agradável. - Ginny respondeu ao comentário de Harry, sorrindo sem que ele visse desta vez.

Então as suas mãos tocaram-se novamente e eles decidiram ceder ao toque. Entrelaçaram as mãos e deixaram-se ficar a observar a Lua que iluminava o Lago.
Talvez fartos, viraram-se um para o outro e fitaram-se profundamente durante algum tempo.

E Ginny pôde ver Harry aproximar-se e sentir o seu corpo colado ao dele. E o seu mundo ganhou vida quando sentiu os lábios de Harry sobre os seus. As mãos largaram-se, sendo colocadas na cintura e em volta do pescoço. Ginny correspondeu, e o toque de lábios intensificou-se, dando lugar a um beijo de língua.
Profundo.
Perfeito.
Apaixonado.

Sem saber ao certo quanto tempo havia passado após aquele contacto, largaram-se e olharam-se carinhosamente.

- Só percebi que era isto que eu sempre quis agora. Espero que não seja tarde. - Harry sorriu.

- Não é tarde, porque é tudo o que eu sempre quis também, Harry. - Ginny retribuiu o sorriso.

- Agora tenho a certeza e não tenho medo de o dizer, Ginny. Eu amo-te.

- Eu também te amo, Harry. Desde sempre.

- E para sempre. - Harry acrescentou.

E voltaram a beijar-se, tendo a Lua como a única testemunha do primeiro beijo de ambos.

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- Tinhas aqui uma pestana que não queria sair. - Cormac sorria, mostrando a Hermione algo que dificilmente se via.

- Então, tenho que pedir um desejo. - Hermione sorria também.

- Exactamente. Podes pedir. - Cormac mantinha o sorriso.

E Hermione pensou no que poderia desejar. Pensou em desejar que as coisas com Ron voltassem ao normal, em esquecer tudo o que haviam passado juntos, em desejar amar Cormac ainda mais intensamente do que a Ron.
Mas, o seu desejo real invadiu-lhe a mente como uma flecha.

"Desejo que a minha vida volte a recompôr-se."


- Já está. - Hermione sorriu, fechando os olhos.

- Cima ou baixo? - Cormac perguntou amavelmente.

- Hum, cima. - Hermione tentou.

- E não é que está certo? - Cormac sorriu.

- Que bom! - Hermione ficou felicíssima - Nunca tinha acertado!

- Há sempre uma primeira vez para tudo. - Cormac dizia carinhosamente, mantendo as suas mãos unidas com as de Hermione.

- Cormac, foste de longe o melhor par - Hermione não resistiu a acariciar os lindos cabelos loiros do rapaz - Obrigada.

- E tu Hermione, tornaste esta festa na melhor festa de sempre. Sem ti, nunca seria assim. Obrigado. - Cormac sorriu ao sentir o toque de Hermione sobre os seus cabelos.

- Foste a melhor coisa que me aconteceu nestes últimos dias. - Hermione falou sem pensar, corando de seguida ao analisar as suas palavras.

- Digo o mesmo. Não seria o mesmo sem te conhecer.

- Obrigada, Cormac. Por tudo. És um rapaz espectacular e um grande amigo.

E, sem saber realmente porquê, Hermione depositou-lhe um beijo na face e abraçou-o em seguida, podendo sentir o cheiro do seu perfume.
Perfume esse que começava a enfeitiçá-la por completo. Estremeceu e sorriu sinceramente ao sentir os lábios de Cormac sobre o seu cabelo e  os seus braços fortes entrelaçados nela.

- E tu és uma rapariga espantosa, uma amiga para sempre. - Cormac sorriu - Que ninguém te faça sofrer, que ninguém tente sequer.

Hermione apenas sorriu.
Aquele rapaz estava a conquistá-la completamente.

E, após ver aquele sorriso, Cormac depositou-lhe também um beijo na face bela, fazendo-a sentir o toque macio dos seus lábios. Agarrando de novo a sua mão, voltaram para dentro.

Passaram por Ron e Lisa que estavam completamente enrolados, beijando-se freneticamente. A gravata de Ron já estava no chão, assim como o casaco. A camisa já estava ligeiramente aberta, enquanto que ele colocava as mãos nas pernas da rapariga, que gemia falsamente.

Hermione revirou os olhos perante aquela cena triste e continuou o seu caminho de volta até ao Salão acompanhada de Cormac.
Havia sido sem dúvida a melhor festa da sua vida. E Cormac entendia-a, não a forçava a nada.

"Uma amiga para sempre".
As palavras de Cormac haviam-na feito sorrir, sorrir como não sorria há imenso tempo.
E nem mesmo a cena triste que acabara de presenciar com Ron como personagem principal havia-a afectado.

Ron estava a tornar-se uma página do seu livro, lida quase na totalidade.
Uma página prestes a virar e nunca mais ser vista.
Uma página que daria lugar ao capítulo Cormac McLaggen.

E o Halloween constatou a tradição. As máscaras assustadoras e as travessuras deram lugar a verdadeiras personalidades e a novos sentimentos.


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N/A: Quinto capítulo, finalmente! *-*
Peço imensa desculpa pela demora, mas é que as minhas aulas recomeçaram e bem, tenho que fornecer mais atenção aos estudos |:
espero que gostem do capítulo,
e que continuem a ler.

Sociedade Sul, mais uma vez obrigada pelo comentário, e IMENSAS DESCULPAS pela demora! Um beijo, continua a comentar ;)


beijo para todos e até ao próximo capítulo :)


Obs: música do capítulo : Here Without You - 3 Doors Down.

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