O Casamento Dela



O Casamento Deles






Tema: Ciúmes


Itens: Casamento, Harry Potter, bebida alcoólica, declaração não feita, Pansy Parkinson, lágrimas


(em ordem de importância)




O Casamento Dela







Não ficou surpreso quando recebeu o convite. Surpreendeu-se com a qualidade do papel, o prata escolhido e a delicadeza da letra; com horário e o local, mas o convite em si não foi um choque. Teve três anos para se preparar, afinal de contas. O inevitável finalmente aconteceria.


- Algum problema, Draco?


A voz de Astoria o impeliu a se mover. Segurava o convite por tempo demais para alguém supostamente desinteressado.


- Potter nos convidou para o casamento.


Astoria ficou surpresa e Draco quase sorriu de alivio.


- É mesmo? Achei que... Bem, eram colegas distantes.


Ele não conseguiu segurar a risada.


- Colegas distantes é pouco. Mas obrigado pelo eufemismo – riu, a beijando na bochecha. – Provavelmente quer ser diplomático. Promover a imagem de Salvador mais ainda. Potter, o santo das causas perdidas.


Jogou o convite de volta à pilha de correspondência, voltando-se para o café da manhã que tomavam, contente em nunca mais encarar o pedaço de papel. Estava na metade de sua omelete quando Astoria retomou o assunto.


- Presumo que isso quer dizer que não vamos?


- Exato – falou, abocanhando um pedaço grande de ovo.


- Vamos realmente deixar passar a oportunidade de ir ao que será o maior casamento do século?


Encarou a namorada, sentindo que estava prestes a perder.


- Isso mesmo.


- Draco...


- Astoria! Para quer ir numa festa onde ninguém quer nossa presença? Todos vão encarar a gente e vamos acabar isolados na mesa dos perdedores.


- Alguém claramente quer que estejamos lá ou então não teriam mandado um convite! – argumentou, apontando para o envelope.


- Isso é porque eles querem me humilhar!


- Eles?


- Eles! Potter e os amiguinhos!


Astoria o fitou, incrédula.


- Draco Malfoy, quantos anos você tem? Seis?


- Você não entende o que aconteceu em Hogwarts...


- Vocês se odiavam, azarações incluídas. Depois você resolveu ser tatuado e então se odiaram ainda mais. No fim, sua mãe ajudou Potter e por isso ele testemunhou a seu favor no julgamento. Esqueci de algo?


- Esqueceu da humilhação completa, do ódio que ainda não foi embora. Agora deixe essa história para lá e vamos terminar o café, ok?


O assunto foi encerrado por hora. No entanto, conhecia a namorada, e dias depois Astoria voltou numa tarde ensolarada do Beco Diagonal carregando um pacote grande demais para o gosto de Draco.


- O que tem aí?


A loira apenas sorriu, abrindo a compra antes de responder e revelando um vestido longo prata e decotado.


- Que acha? Meu vestido para o casamento!


- Casamento? Que casamento?


Ela se aproximou dele, o abraçando por trás.


- O casamento do ano. O de Harry Potter.


- Gastou dinheiro à toa. Não vamos!


A expressão dela mudou abruptamente para irritação quase beirando à fúria e Draco sabia que tinha perdido a discussão.


- Ok. Está certo. Vou confirmar nossa presença. Mas não vou me divertir. Vou passar a noite inteira reclamando de tudo, já te aviso.


Em resposta, Astoria deu-lhe um beijo longo que o distraiu suficiente para esquecer com quem exatamente Potter estava casando.




O dia finalmente chegou. Com suas melhores vestes (em tons verde, combinando perfeitamente com o vestido prata de Astoria) e a pior expressão de descontentamento que possuía, deixou para trás a segurança de sua casa para enfrentar o “evento do ano” e tudo o que viria junto. Mais uma vez ficou perplexo com a atenção aos detalhes, dos enfeites à iluminação. O Salão Principal de Hogwarts não parecia o mesmo lugar em que centenas de alunos faziam suas refeições, mas sim um local digno de uma festa. Achava a escolha da fazer a cerimônia lá extremamente sentimental e até mesmo pretensiosa, mas é claro que Potter conseguiria que a diretora da escola liberasse o uso do castelo e seus terrenos.


Draco insistiu que se sentassem o mais longe possível do altar improvisado, escolhendo dois lugares próximos da saída. O salão estava lotado, chegando a ponto de vários convidados (ou penetras) serem obrigados a ficarem de pé durante a cerimônia. Como em qualquer evento público envolvendo Potter, havia dezenas de jornalistas, fotógrafos e celebridades de toda parte do mundo. Ricos, pobres, puro-sangues ou sangue-ruins, todos estavam lá. Claro que o destaque estava para as primeiras fileiras cheias de cabeças ruivas, o clã Weasley, como sempre mais preocupado em procriar do que enriquecer.


- Aquele não é Vitor Krum? - Astoria perguntou, olhos arregalados, depois riu. - Eu tinha uma enorme queda por ele!


Draco revirou os olhos.


- O que, exatamente, as garotas viam nele? Testa enorme, quase uma sobrancelha única, cara de neandertal... Praticamente uma carranca.


- Vai me dizer que não era fã dele?


- Fã é diferente de admirador. Ele jogava bem.


Astoria revirou os olhos, voltando suas atenções para o público, procurando mais celebridades ou então convidados com roupas ridículas que poderia zombar. Infelizmente, Draco não estava animado para se unir à atividade predileta dos dois: falar mal dos outros. Seu estomago começava a revirar e balançava uma das pernas constantemente nervoso e sentindo-se como um animal enjaulado prestes a ser levado ao sacrifício. Queria se convencer de que ir ao casamento fora a melhor decisão: um jeito de quebrar qualquer conexão e enterrar de vez as memórias. Mas só teria certeza de sua sanidade assim que as horas de tortura terminassem e estivesse de volta ao conforto da mansão Malfoy.


Contra seu próprio julgamento, fitou a outra ponta do salão, onde Potter esperava sua noiva. O Idiota-Que-Sobreviveu estava visivelmente nervoso, mas mantinha um sorriso enorme nos lábios, trocando palavras com seu padrinho Rony Weasley. Sentiu uma pontada de inveja, por um breve instante desejando estar no lugar do quatro-olhos.


Astoria pegou a mão dele na sua, num gesto simples e banal, mas que lhe ajudou a esquecer o sentimento e tentar focar na mulher incrível que estava ao seu lado.


- O que exatamente o padrinho está vestindo? Parece um palhaço depois de uma noite de bebedeira – ela sussurrou em seu ouvido, sorrindo.


Draco riu baixo.


- Provavelmente foi a mãe dele que escolheu numa loja de segunda mão empoeirada.


- Ela é cega?


Tentou não rir muito alto para não chamar atenção. Continuaram a trocar insultos sobre os Weasley e Draco se viu relaxando. Um dos motivos que tanto gostava de Astoria: ela o fazia rir e pensava como ele. Mesmos conceitos, idéias e ambições. Seu par perfeito. Até mesmo seus pais aprovavam o namoro. Porém, algo o fazia hesitar e impedia de tornar o relacionamento mais sério.


E com isso voltou a fechar a cara, lembrando do que o esperava em alguns instantes.


A música mais esperada pelos convidados e noivo começou a tocar. Draco tentou não esmagar a mão de Astoria de tanto que a apertava. Todos levantaram.


As portas do salão se abriram e ele percebeu o tremendo erro que cometera ao escolher sentar tão próximo da saída. Pois foi o primeiro a fitá-la. Seu vestido era branco perolado, os cabelos ruivos estavam presos com uma tiara e um véu fino e delicado cobria parcialmente seu rosto. Era tudo que não queria ver.


Virou o rosto e, ignorando a reação de Astoria, sentou-se querendo desaparecer da face da Terra.


É claro que ela seguiu o caminho até o noivo, sem nem sequer virar o rosto para Draco. Provavelmente nem lembrava da existência de um certo loiro perdedor. Nem dos semi-encontros, noites em claro e dois beijos confusos. Passado esquecido.


A cerimônia começou. Votos foram pronunciados com orgulho e emoção. Quando o noivo levantou o véu da noiva e lhe beijou, era claro que nenhum dos dois lembrava de que estavam na frente de centenas de pessoas. Muitos choravam e vários aplaudiram quando tudo terminou.


Draco apenas fitou o teto mágico do salão, observando as estrelas e tentando não gritar de raiva. Era ele quem devia estar naquele altar, era para ele que ela devia olhar. Apenas com Draco Malfoy que Gina Weasley devia esquecer o resto mundo.


O casal recém-casado correu até a saída, enquanto todos jogavam arroz e flores para o alto, numa perfeita cena para o casamento perfeito. Quis vomitar com o excesso de sacarina.


O lugar escolhido para a festa foi perto do lago, nos terrenos da escola que agora virara um gigantesco espaço de festa, com mesas decoradas, velas flutuantes, pista de dança com direito a vários cantores bruxos famosos, incluindo As Esquisitonas. Em questão de minutos, todas as mesas estavam ocupadas e garçons passavam de um lado para o outro oferecendo petiscos dos mais variados sabores, dos mais simples às especialidades francesas requintadas.


Astoria e ele buscaram mais uma vez uma mesa afastada, longe da pista de dança e da agitação. Dividiam a mesa com uma mulher ruiva gorda velha que cheirava a mofo, um homem magricelo cheio de espinhas e seu amigo de óculos de fundo de garrafa que parecia estar encantado com tudo que via. Quando até mesmo os três “companheiros” de lugares saíram para dançar, o nível de irritação de Astoria já estava nas alturas.


- Não vai pelo menos me chamar para dançar?


Bufou, tomando todo o conteúdo de seu copo de champanhe.


- Eu te avisei que não íamos nos divertir.


Sua namorada percebeu que havia algo de errado além de antigas inimizades e colocou uma mão em cima da dele, querendo confortá-lo.


- O que há, Draco? Pode contar para mim.


- Quem disse que tenho algo para contar? - retrucou, na defensiva e com medo de revelar o que sentia.


Astoria aproximou sua cadeira, ficando ombro a ombro com ele. Colocou a mão livre no rosto dele, forçando-o a encará-la.


- Sei que sente algo pela noiva de Harry. Ficou bem claro no minuto que ela entrou.


Virou o rosto, aproveitando que um garçom passava por perto para pegar outro copo, dessa vez de whiskey de fogo.


- Não seja ridícula. Nem sequer troquei três palavras com a Weasley.


Sabia que mentir não era o certo, mas a dor era ainda muito forte e pulsante. Falar a verdade apenas criaria uma distancia maior entre os dois. Infelizmente, Astoria perdeu a paciência.


- Posso ser muitas coisas, Draco Malfoy, mas cega não é uma delas. Quando quiser falar comigo, estarei na pista de dança com alguém que esteja interessado em mim de verdade.


Enquanto ela se afastava colocou a mão na testa, irritado por ter deixado as coisas chegarem naquele nível patético. Se não tivesse vindo naquele casamento estúpido! Devia ter mentido sobre o convite e evitado o assunto totalmente! O que tinha com Astoria era bom demais para deixar terminar por uma ruiva que o esquecera completamente anos atrás.


Suspirando e terminando o copo de whiskey num gole só, levantou com a intenção de ir atrás da namorada, que desaparecera entre a multidão.


Encontrou Astoria dançando com um ruivo, com certeza de propósito para criar ciúmes e enfurecê-lo. Marchou determinado para a pista de dança, pronto para usar de violência para afastar o imbecil de perto dela, mas...


Parou bruscamente, como se atingido por um raio.


No centro da pista, alheios a tudo e todos como se protegidos por uma barreira invisível, estavam Potter e Weasley, dançando abraçados, num ritmo totalmente diferente do que a música animada d'A Esquisitonas pedia. Ele a segurava como algo precioso e delicado, enquanto ela tinha seu rosto encostado no ombro dele, olhos fechados e com um sorriso satisfeito.


“Olhe e admita derrota perante um amor verdadeiro” era o que diriam para Draco. Era o que devia fazer. Entretanto só conseguia sentir ciúmes, o consumindo por inteiro.


Esquecendo-se completamente de Astoria e seu ruivo, deu meia volta e se afastou apressado da festa, desejando desesperadamente ficar a sós, longe daquela felicidade maldita que dominava cada babaca presente naquele lugar.


Encontrou paz dentro do castelo, não indo muito além do Salão Principal, sentando-se numa cadeira e finalmente relaxando. Fitou o teto e quase se arrependeu de não ter pego uma garrafa de álcool no caminho. Pelo menos o silêncio lhe confortou por alguns minutos.


Aquele era um ponto baixo em sua vida, tinha que admitir. Talvez fosse um dos poucos que ficariam em sua memória para sempre. Lá estava o patético Malfoy colecionando mais uma perda, outro fracasso. O pior de tudo era que nada daquilo era uma surpresa. Afinal, a história de Draco Malfoy e Gina Weasley terminara antes mesmo de começar.


Por alguns meses eram duas pessoas perdidas num mar de acontecimentos muito maiores. Ele, escolhendo perambular à noite buscando solidão. Ela, insistindo em desafiar a autoridade de Snape saindo muito depois do toque de recolher. Quando seus caminhos se cruzaram perceberam que estavam perdidos juntos. Uma conversa, insultos trocados, uma promessa silenciosa de se encontrarem de novo.


Não era tolo a ponto de acreditar que aqueles pequenos momentos significaram para ela o mesmo que para Draco. Seu último ano em Hogwarts foi marcado por medo, insegurança e depressão. Nada mais se encaixava, nada mais o motivava. Acreditava que não teria lugar em qualquer que fosse o futuro que o esperava. E então Weasley apareceu, o desafiando a ser alguém melhor.


Alguém que ele não era.


Como sempre suas inseguranças falaram mais alto e se afastou, decidindo que seria melhor não se verem mais. Foi covarde outra vez.


Ela aceitou sem muitos protestos. No fim, nenhum deles acreditou que dariam certo.


O tempo passou e a amargura permaneceu. No meio desta, estava bem escondida a esperança de voltar atrás e tentar de novo. Algum dia, alguma hora. Em outra vida.


Não mais.


Ouviu a porta enorme de entrada do castelo se abrir, risadas femininas enchendo os corredores. Ele reconheceu as vozes: as madrinhas e a noiva.


- Uau, alguém já tinha reparado o quanto... Marrom é esse castelo? - riu uma das madrinhas. - Assim, muito.


- Angelina, você está bêbada! - protestou a outra, ultrajada. Draco sabia que se tratava de Granger. - Quantas taças tomou?


- Quem se importa? Hoje é dia de ficar alta! Comemorar a vida! O amor! Pegar o time todo da Bulgária!


Todas caíram em gargalhadas.


- Comemorem depois que me ajudarem a tirar esse vestido!


Draco engoliu seco, não desejando ouvir a voz dela. Depois de tantos anos... A proximidade era dolorosa demais.


- Alguém está muito apressada para ir para a lua-de-mel! - outra mulher proclamou, entre risadas.


- Menos falação, mais ajuda! - Weasley reclamou. - Vão!


Franziu a testa e fechou o punho, imaginar Potter e ela no mesmo quarto estava fervendo seu sangue. As risadas se afastaram até deixar o silêncio reinar outra vez. O limite de Draco chegara e decidiu que era hora de encontrar Astoria, ir para bem longe dali e esquecer de uma vez por todas Ginevra Weasley.


Sem querer perder mais tempo, levantou e caminhou em direção ao hall de entrada, porém, teve que parar antes de chegar às portas.


Weasley estava de cabeça abaixada, apoiando contra a parede enquanto tirava um dos sapatos, o vestido de noiva levantado parcialmente de um lado e a tiara jogada no chão sem cuidado.


Draco só conseguiu encará-la, enquanto segurava a respiração.


- Hermione, esses sapatos estão me matando... - ela começou antes de levantar o rosto e o encontrar. - Ah. Olá. O que você está fazendo aqui?


Foi o tom indiferente que o fez responder, sem vontade de cobrir o sarcasmo.


- Fui convidado. Por algum motivo.


Ela jogou os dois saltos para longe, massageando um dos pés.


- É mesmo? Não sabia.


- Então... Não foi você? - deixou-se falar, antes que percebesse o erro.


A ruiva o fitou, confusa.


- Eu? Por que eu iria convidar você para o meu casamento?


Deixou a fúria se esvair antes de responder. Aquela seria a última conversa que teriam e a finalidade da situação combinada com um pouco de bebida alcoólica o compeliu ao sentimentalismo.


- Ciúmes.


Talvez percebendo que Draco deixara escapar a verdade, ela finalmente amenizou a expressão do rosto, revelando um breve momento de tristeza.


- Não. Eu não faria algo tão mesquinho com você. Apesar de saber que o contrário não é verdade.


Draco deixou-se sorrir por um segundo.


- Se o contrário fosse verdade... Você sentiria? - odiou a fragilidade que estava mostrando.


- Não.


Não ficou surpreso com a resposta, mas tampouco estava feliz. Abriu a boca para falar, talvez algo extremamente romântico e açucarado, talvez uma declaração que há muito tempo precisava ser feita, quando o momento foi arruinado pela chegada de Granger.


- Gina, estamos com tudo pronto... - a madrinha fez uma pausa, fitando Draco com estranheza. - Está tudo bem?


- Tudo ótimo. Agora que tirei esses sapatos horríveis do pé – a ruiva sorriu.


Draco não esperou por mais, abriu a porta e saiu. A festa continuava animada, ignorante de qualquer conflito interno que ele sentia. Andou pelos convidados numa espécie de transe, buscando por Astoria. Apenas ela podia curá-lo daquela obsessão estúpida que tinha por Weasley.


Quando a viu, sentiu que estava em casa novamente. Ficou feliz especialmente com o fato que ela estava sozinha na mesa deles, obviamente o esperando.


- Eu sou um idiota – começou, sentando ao lado dela. - Desculpe.


- Eu também não ajudei as coisas, não é mesmo? - ela riu. - Então vamos nos perdoar e seguir em frente. E bem longe dessa festa.


Afundou seu rosto contra o pescoço dela, deixando-se ser abraçado.


- Graças a Merlin.


Voltaram para o aconchego da mansão Malfoy, longe de Potter e sua vidinha perfeita. Dois meses depois (na mesma semana que o casal voltou da lua-de-mel), pediu Astoria Greengrass em casamento. Deixando para trás os desejos infantis finalmente.




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