O primeiro dia de aula

O primeiro dia de aula



  


 


        Captulo 1.
  A garoa fina salpicava o vidro do meu carro e escorria pausadamente até se desfazer por inteira. Eu dirigia vagarosamente no ritmo do trânsito da movimentada Dallas. A luz vermelha do semáforo se acendeu, aproveitei os poucos segundos para pegar a sulfite que estava no banco do passageiro e corri os olhos por ela lendo o endereço da minha nova escola mais uma vez. O sinal verde se abriu e eu acelerei bruscamente. Prossegui mais algumas quadras e logo avistei o enorme número de pessoas circulando nas redondezas de um prédio extremamente grande. Segundo o mapa era ali, Lutz School.
  Estacionei o carro em uma vaga apertada que demorei a achar no estacionamento. Peguei minha mochila e desci do carro trancando este e começando a andar rumo à porta de entrada. Os alunos eufóricos passavam rapidamente ao meu redor, nunca tinha presenciado tantas pessoas juntas. Pode-se considerar um formigueiro, mas é a minha escola e o lugar onde vou passar todas as manhãs e espero que sejam as melhores manhãs da minha vida.
  Na entrada estavam duas meninas dando boas vindas. Passei por elas retribuindo o sorriso que as duas ofereceram gentilmente, talvez esse seja um bom sinal. Uma das coisas que aprendi com minha falecida avó era entrar sempre com o pé direito em algum lugar, ela dizia que isso dava sorte, para mim já era automático.
  Continuei andando sobre os corredores lotados de Lutz, senti alguns olhares caindo sobre mim e ignorei caminhando até uma porta grande que continha uma placa onde estava escrito Secretaria. Fiquei esperando na porta até que uma senhora de cabelos grisalhos e óculos de grau aparecesse para me atender. (...)


  _Bom dia. – disse à mulher que se identificava como Margott em seu crachá. – O que deseja?
  _ Bom dia. Vim pegar o relatório das minhas aulas. – respondi com minha voz calma e doce de sempre.
  _ Ah sim. Como a senhorita se chama? – indagou Margott.
  _ Jennifer Maddier. – ela abriu uma gaveta e começou a vasculhar alguns papeis.
  _ Aqui está. – disse ela entregando um tipo de agenda com o meu nome na etiqueta. – Está gostando de Dallas?
  _ Estou gostando sim. É uma cidade fascinante. – abri um sorriso discreto no rosto. - Obrigada. Acho que minha primeira aula já vai começar. Tchau! – virei às costas e comecei a andar no ritmo dos alunos que estavam no corredor.
  _ Volte aqui! – gritou Margott, eu girei meu corpo para ela. – A chave de seu armário. – eu fui até a porta outra vez e recebi a chave das mãos aquecidas de Margott. – Boa Sorte!
  _ Obrigada.
  Virei novamente em direção contrária à da secretaria e segui andando. Abri cuidadosamente a agenda de horários que acabara de receber e vi que a aula de Literatura começaria em instantes, subi as longas escadas que davam para o segundo andar e me deparei com a sala que correspondia com o número apresentado no horário. Respirei fundo e mais uma vez a mania da avó agiu naturalmente. Caminhei de cabeça baixa para a primeira carteira vazia que enxerguei. (...)


 Uma senhora de estatura baixa entrou na sala, seu crachá revelava que seu nome era Cellina.
  _ Bom dia. – disse a professora de cabelos longos e escuros, nenhum mero sorriso se abriu em sua face, a aparência rude assustava a todos. – Sou a nova professora de vocês, como sabem a professora Rowenna deixou a escola, e a partir de hoje eu estarei atuando em seu lugar. – Os alunos permaneciam em constante silêncio, nenhum som a não ser da voz irritante de Cellina era emitido. – Vamos parar de conversa. Exercícios da página 13, após finalizarem tragam o caderno em minha mesa. – Imediatamente todos os alunos a obedeceram e abriram seus livros.
  Dez longos minutos se passaram, ninguém havia terminado. As questões eram extremamente fáceis e eu finalizei. Fiquei envergonhada de me dirigir com o caderno até a mesa de Cellina e resolvi esperar até que outra pessoa terminasse. Nesse intervalo de tempo, fiquei observando cada pessoa da classe. Todos aparentemente legais, mas como diz o ditado, as aparências enganam. Poucos minutos depois uma menina se levantou e andou em direção a mesa de Cellina que começou a observar as questões com seu olhar crítico. A menina que eu ainda não sabia o nome era um pouco mais alta que eu, tinha os cabelos pretos azulado e as pontas tinham um tom avermelhado, o corte era esvoaçante e moderno, revelo até que senti vergonha do meu. Após assinar a tarefa, Cellina dispensou a garota. Levantei-me e caminhei levemente em direção a Cellina, esta começou a ler tudo e aquele frio na barriga de medo de ter feito algo errado e levar uma bronca na frente de todos logo no primeiro dia de aula começou a tomar conta de mim.
  _ Está dispensada senhorita Maddier. – disse ela com sua voz rude. Peguei minha mochila e me retirei da sala. Nada de muito importante, tudo normal, acho que isso é bom. (...)


 Desci as escadas e fui até o pátio. Lá estavam várias pessoas de várias idades e estilos, cada uma com seu grupo. Prossegui até um banco que estava vazio e me sentei, girei o olhar para todas as direções e fitei um grupo diferente dos outros. Duas garotas e um menino. Os três conversavam e altas risadas saiam de dentro da conversa. Olhares de deboche corriam por mim. Senti uma respiração de outra pessoa vindo em minha direção e antes que eu pudesse virar para ver quem estava se aproximando, ouvi uma voz suave e ao mesmo tempo firme.
 _ Olá! – era a menina da aula de Literatura, a mesma que terminou a tarefa e foi dispensada um pouco antes que eu. – Sou Kathleen Dewas. – ela abriu um sorriso perfeito e depois se sentou ao meu lado.
 _ Oi. Prazer Kathleen, sou Jennifer Maddier. – respondi retribuindo a mesma simpatia.
 _ Pode me chamar de Kath. Não dê atenção a eles. – Kathleen direcionou seu olhar de desprezo para o mesmo grupo que estava me encarando.
 _ Pode me chamar de Jenny. Quem são eles? – inquiri.
 _ As irmãs Luctor e ele é Alex Mewlight. Os mais metidos da escola. – me virei novamente para eles e agora o olhar das irmãs Luctor era fatal em minha direção. Senti um calafrio e me virei novamente para Kath.
 _ Acho que elas não gostaram de mim. – falei olhando diretamente para os olhos de Kath, estes eram cor de fogo que nunca vi igual.
 _ Não se preocupe. Você não vai precisar da amizade deles, garanto. – O sinal ensurdecedor tocou outra vez. – Vamos logo, você tem que conhecer o nosso professor de Biologia, ele é o melhor.
 Antes de sair da visão das irmãs Luctor e de Alex, eu dei uma última olhada e desta vez Alex Mewlight me encarou. Suas características ficavam meio ocultas pela distância, mas seus olhos brilhavam e sua pele absurdamente branca chegava a cegar. Senti uma sensação inexplicável e confesso que fiquei com medo. Subimos novamente para o segundo andar e entramos na sala. (...)


 _ Olá garotas. – disse o homem sorridente que estava sentado na mesa do professor.
 _ Olá Rudolf! – respondeu Kath parecendo ser íntima de Rudolf.
 _ Oh, temos uma aluna nova. – ele se levantou e veio em minha direção, eu sentia minha pele queimar. – Sinta-se em casa ok? Prometo que vai ter as melhores aulas de Biologia de toda sua vida.
 _ Obrigada. – respondi abrindo em seguida um sorriso tímido no rosto. Kath me indicou uma carteira vazia ao lado dela e eu me sentei.
 As aulas foram passando rapidamente, era incrível, em tão pouco tempo me tornei tão amiga de Kath. Os nossos assuntos eram interessantes, ela contava de seus micos e seus namoros e eu me divertia muito com isso.
 Faltavam poucos minutos para a última aula terminar, eu e Kath trocamos nossos números do celular e combinamos que ela me ligaria após a aula. Mais uma vez, o sinal irritante tocou. Os corredores lotaram-se em poucos segundos. Em passos largos e apressados cheguei ao estacionamento. Abri meu carro e sentei no banco do motorista, ligando o ar quente e colocando as mãos sobre ele antes de dar a partida. Acenei para Kath que estava entrando no carro de seu pai.
 O caminho de volta foi ainda mais cansativo. Estacionei o carro na garagem e entrei em casa. Joguei a mochila no chão e pulei na cama ligando a televisão. De repente, o celular vibrou. (...)


  _ Alô.
  _ Oi Jenny. – era Kath.
  _ Você é rápida. – zombei.
  _ Mais do que imagina. – soltei um riso fraco. – Me conta sobre sua vida agora... Só eu falei a aula inteira. – O que eu mais temia aconteceu, eu não queria falar da minha história, pelo menos agora.
  _ Ah... É uma história muito longa. – respondi tentando mudar Kath de ideia.
  _ Não tenho pressa alguma. Conta, por favor. – as primeiras lágrimas nasciam dos meus olhos, deslizando livremente em minha face e chocando contra o travesseiro.
  _ Minha vida sempre foi difícil... – respirei fundo tentando bloquear os soluços que estavam prestes a vir – Meus pais morreram no final do ano passado. Só me restou o pouco do dinheiro que tenho em minha poupança e esta casa, onde passávamos alguns finais de semana.
  _ Eu sinto muito. – desculpou-se Kath. – Vou ter que desligar, amanhã nos vemos na escola certo? E eu quero saber o resto da sua história. Tchau.
  _ Tudo bem, outro dia eu te conto Kath. Tchau. – as últimas palavras soaram ainda mais fracas, a minha cabeça latejava, tentava desviar os pensamentos, mas era impossível. Sem perceber, me perdi nas lembranças e fechei os olhos.

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