Doze horas de Sancredi



Meg saltou para o chão exactamente a tempo de se desviar do raio verde, e lançou-se contra Tom com toda a força que tinha. Este esquivou-se, e ela teve tempo de se colocar de pé, ao mesmo tempo que quase era atingida por um feitiço de atordoar.
- D., importas-te de ficar quieta? - A frase recordou-lhe outra, pronunciada por Caleb Gerand há anos atrás. - Não precisas de tornar isto mais difícil do que já é!
- Avada Kedavra! - Gritou Megan por sua vez. Não estava zangada com ele, nem nada. Sabia que aquilo podia acontecer, mais dia menos dia, e por isso nem a espantava. Se Tom não acordasse numa manhã sem uma vontade inexplicável de a matar, aí sim, seria estranho.
Meg pensou que tinha sido bom enquanto durara. Ela não se permitiria a perder, nem a poupá-lo.
- Atacar pelas costas é muito feio, Tom! - Disse, enquanto ele evitava a maldição da morte e a tentava atingir com um esconjuro siciliano. Ele torceu o nariz.
- Eu não ataquei pelas costas. Não é minha culpa que não me prestes atenção ou olhes quando falo contigo, como qualquer pessoa educada faria! Terias visto o que ia fazer, se levantasses a cabeça.
- Ah. - Fez Megan. Lançou-lhe uma maldição quebra-ossos, e não ficou nada espantada quando Tom ergueu um escudo em que ela fez ricochete. Já imaginava que ele fingia ter problemas com aquela maldição. - Então vais matar-me por ser mal-educada?
Aquilo confundiu Tom por alguns instantes, o suficiente para ela murmurar um feitiço de atordoar, conjugado com uma Avada Kedavra. O rapaz recompôs-se a tempo de saltar para o lado e evitar as duas, antes de girar e lançar duas maldições Invicto ao mesmo tempo. Meg desviou-as ás duas. Começava a perceber, e achava que Tom também, que a trocar feitiços não havia maneira de um deles sair vencedor. Era impossível ela atacar ao mesmo tempo que evitava uma maldição, e era impossível Tom fazer o mesmo.
- Tom - Disse ela, ao mesmo tempo que evitava um raio verde, e mandava outro de volta. - Não acho que isto vá resultar assim. Estamos igualmente balançados em poder mágico - ele fez uma cara de ir dizer qualquer coisa, mas ela cortou-o. - Acho que só há uma coisa a fazer se nos queremos matar um ao outro. - Não deixou de lhe enviar maldições enquanto falava, e Tom não deixou de ripostar enquanto respondia:
- A Sancredi? - Perguntou, referindo-se a uma antiga maldição latina, que trancava dois oponentes numa bolha anti-magia por um período de doze horas. Megan fez um gesto de cabeça. - Mas tu és uma miúda! - Tom olhou-a, sem acreditar. Megan resmungou em voz baixa.
- Tu não tens problemas em tentar amaldiçoar meninas até á morte, mas tens problemas em bater-lhes? - Tom pensou na pergunta dela, e realmente, não fazia muito sentido que se sentisse assim.
- Não, mas espanta-me que escolhas uma área em que estás em desvantagem. - Respondeu, franzindo as sobrancelhas enquanto falava. - Qual é o truque?
- Nenhum. - Respondeu Meg. - Mas aviso-te que não sou tão fraca como pensas!
Tom riu-se. Bem, a ideia era dela, por isso não podia culpá-lo quando perdesse.
- Se não há truque, aceito. - Disse. Aprendera que quando ela dizia qualquer coisa directamente, era realmente assim. Era mais um dos motivos porque tinha de se livrar dela quanto antes. Não podia correr o risco de começar a confiar em Meg. - Mas não te matarei enquanto estivermos na bolha. Irei apenas inutilizar-te, e amaldiçoo-te quando o tempo acabar. - Megan aceitou a ameaça com um aceno de cabeça.
- Eu não prometo o mesmo. - Disse. Levantou o braço direito, enquanto Tom levantava o esquerdo, e os dois gritaram, ao mesmo tempo:
- Lacea magiee sancredit! - Meg sentiu como se alguém lhe puxasse o ar dos pulmões, e lhe arrancasse uma parte. Percebeu que era a sua magia que lhe estava a ser tirada, e por um instante pensou se aquilo não teria sido má ideia.
Quando se recompôs, ainda estava na câmara dos segredos. Tom estava parado a pouca distância, e riu-se para ela ao vê-la pestanejar.
- Começamos? - Perguntou, e sem esperar resposta, atirou-se na direcção dela. Meg estava um pouco destreinada, mas recordava tudo o que Nadja e Hassan lhe tinham ensinado sobre lutas. Ripostou, esquivando-se e tentando acertar Tom com um pontapé no peito. Este desviou-se, parecendo espantado.
- Agora percebo porque quiseste isto. - Sussurrou. Riu-se baixinho. - Não importa. Eu ganho na mesma!
Megan recuou e avançou algumas vezes. Conseguiu pontapear Tom por baixo, e ele perdeu o equilíbrio. Ganhou-o de volta antes de ela o poder atingir com um soco, e empurrou-a para trás. Meg começava a sentir-se um pouco insegura. Ela realmente não contara ficar tão enferrujada com dois anos sem praticar, e Tom era forte. Ainda assim, encontrava-se confiante. Hassan ensinara-lhe que não importava quão forte era o oponente, havia sempre um modo de usar a sua força em seu favor. Mas antes de se conseguir recordar da maneira correcta, Tom moveu-se na direcção dela. Meg tentou acertar-lhe, mas ele apanhou-lhe o braço e prendeu-lho por detrás das costas. A jovem ripostou com um pontapé para trás, e ele largou-a. No processo, Meg perdeu o equilíbrio e caiu de cara no chão em frente á estatua de Salazar. Sentiu o gosto de sangue na boca e cuspiu, preparando-se para contra-atacar Tom, que já se apressava para tentar tirar proveito da sua falha. Outra vez de pé, os dos fitaram-se por um instante, antes de se lançarem ao ataque.
O chão da câmara tremeu.
Megan imobilizou-se, e ele fez o mesmo. Enquanto Tom tinha um ar confundido, ela desatava a pestanejar sem parar, até que viu o sangue que cuspira para os pés da estátua e estabeleceu a ligação.
- O basilisco. - Sussurrou. - Ele cheirou o sangue! - Tom, que parecia ter percebido o mesmo, começou a rir. Meg não percebeu qual era a graça, até que ele sussurrou:
- Parece que não vou ter de esperar doze horas para te tirar do caminho. Somos os dois herdeiros de Slytherin, mas eu sou o único em linhagem directa. Além disso, tenho sido o mestre da criatura há décadas. - Ele sorriu para Meg, que empalideceu. - A quem achas que ele obedecerá se lhe pedir para morder?
Megan sentiu um pouco de pânico crescer nela ao avistar a figura da cobra sair detrás do olho da estátua. Tom, entretanto, parara e observava, com um grande sorriso.
- Acaba com ela! - Sibilou ele, para a serpente que começava a descer para o chão.
Em Inglês.
Meg viu uma sombra de horror passar pelo rosto do rapaz, e riu-se interiormente. Tom, que aparentemente não acreditava que tal coisa pudesse acontecer, tornou a gritar:
- Mata-a! - Ainda em Inglês. O basilisco já deslizava para eles, sibilando de modo ameaçador. Megan, sem saber porque o avisava, gritou para Tom:
- A nossa capacidade de falar serpentês está ligada aos nossos poderes mágicos. - Disse, e desta vez o rosto do rapaz mostrava choque puro. Ela quase se riu quando ele começou a correr, arrastando-a consigo. - Entendes agora? Se ele não entende o que dizes, não lhe podes pedir para te livrar de mim!
- Tu é que não entendes! - Exclamou Tom. Megan não se lembrava de alguma vez o ter visto tão alterado. - O basilisco não distingue cheiros pessoais, apenas consegue diferenciar humanos e animais. Falar serpentês é a única maneira que tenho de ele me reconhecer.
- Ela. - Lembrou Meg, ao mesmo tempo que percebia o problema, e a razão do problema dele. - Queres dizer que  não sabe quem somos?
- E ele foi criado para proteger a câmara dos segredos contra intrusos. - Disse Tom, em tom sinistro.
O som do deslizar do basilisco atrás deles fez com que os dois desatassem a correr. Sem saber exactamente porque é que não se limitava a passar-lhe uma rasteira e a deixar o basilisco distrair-se a comê-la, Tom chegou junto á parede e gritou a palavra passe da sua secção da câmara. Felizmente não colocara aquela em serpentês, ou estariam em muito maus lençóis.
Ao olhar para a cara de Meg, percebeu que ela estava a pensar exactamente o mesmo em relação a dá-lo de comer ao basilisco. Foi invadido por uma sensação deveras estranha ao entender o quão semelhante era a maneira de pensar dos dois.
Megan encostou-se á parede, respirando rapidamente. Só então olhou em redor. Esperava qualquer coisa da habitação pessoal de Tom Riddle, mas não aquilo. Do futuro Lorde Voldemort ela esperava uma sala enorme decorada com as cores de Slytherin, repleta de objectos de tortura. Agora descobria-se num cubículo não muito grande, tão simples que á excepção de algumas diferenças mínimas, a fazia lembrar estranhamente do seu próprio quarto.
- Continuamos? - Perguntou, depois de se recompor. Tom olhou-a, incrédulo.
- D., nós estamos trancados com um basilisco decidido a comer-nos do lado de fora! Queres mesmo lutar até a morte nestas condições? - Megan sacudiu a cabeça.
- Não sei, a ideia foi tua. - Respondeu. Tom sacudiu a cabeça algumas vezes.
- Não estamos totalmente seguros aqui dentro. O basilisco é uma criatura altamente mágica, e pode...
Ouviu-se um choque do lado de fora, e a pedra tremeu. Meg encolheu-se.
- Achas que a parede aguenta doze horas? - Perguntou, a medo. Tom sacudiu a cabeça. Parecia tão inseguro como ela.
- Não faço a menor ideia!

- Isto é chato. - Tom moveu a cabeça, e Megan olhou-o. Ela estava sentada num canto do quarto, encostada á parede, e Tom no outro, exactamente na mesma posição. Tinham usado a cama e tudo o resto para barricar a porta de pedra um pouco mais.
- A ideia de lutar até á morte foi tua. - Lembrou-lhe. Olhou para o relógio na parede. Tinham passado apenas quatro horas, e ela já estava a ponto de querer matar Tom, mesmo que este não o tivesse tentado primeiro. Merlin, ele era resmungão quando o trancavam!
- E a ideia de usar Sancredi foi tua! - Ripostou o rapaz, venenosamente. Meg não respondeu, e contou na sua cabeça. Só mais oito horas. Duas vezes o tempo que já passara. Ela aguentava, se Tom não voltasse a tentar assassiná-la entretanto, ou se o basilisco não quebrasse a porta.
- Sabes o que me incomoda mais? - Tom olhou-a, e Meg decidiu prestar atenção dessa vez. Não era como se tivesse muitas alternativas sobre como passar o tempo. - O meu outro nunca se deve ter cruzado com alguém tão difícil de matar como tu. É injusto, e desesperante!
Meg riu da brincadeira feita com o seu apelido.
- O teu outro foi morto por uma criança de um ano. - Tom resmungou, como fazia sempre que Harry Potter era mencionado. - Eu diria que ele o deve ter julgado bastante difícil de matar!
- Desculpa. - Disse ele, sarcástico. - Esqueci que tu e o Potter são amigos do peito. - Meg fungou.
- Ei, isso não é justo. Eu falei com ele uma vez, durante coisa de um minuto.
- Óptimo. Fala-me disso. - Meg olhou-o, desconcertada.
- Para que queres tu saber? - Perguntou. Sabia que Tom deixara de lado a ideia de tentar atacar Harry Potter directamente há coisa de um ano. Decidira que era mais sensato esperar para ver, se o rapaz era poderoso o suficiente para aniquilar o seu outro. - Julguei que o rapaz não te importasse.
- E tens razão. Mas temos mais oito horas pela frente, discutir maldições contigo está fora de questão dada a situação, eu nunca falaria sobre mim contigo, e desconfio de que tu nunca falarias sobre ti comigo. Assim, vamos discutir Harry Potter.
Olharam um para o outro por alguns instantes.
- Está bem. - Megan encolheu os ombros. - Ele não me impressionou. Não consegui sentir qualquer poder forte vindo dele. Tudo o que sei é que consegue falar com cobras. E tem um amigo ruivo que não me agrada.
Tom pestanejou.
- E isso é tudo? - Meg acenou.
- Eu disse que só tinha falado com ele por um minuto. Pareceu-me uma pessoa correcta. Por isso é que o descartei. - Tom prestou atenção a essa última parte, e perguntou de imediato, com desconfiança:
- O que queres dizer com descartar? - Megan respondeu sem pensar.
- Da profecia de Raoul. - Mordeu a língua, furiosa consigo própria. - Mas isso não interessa.
Era de esperar demais que Tom desistisse tão facilmente.
- Que profecia? - Meg sacudiu a cabeça.
- Não importa. - Disse. - Uma vez que já se cumpriu. Agora, é só esperar para ver como é que isso afecta o futuro.
Tom ficou calado algum tempo.
- Eu não confio em ti, sabes? - Acabou por dizer. - Quando te conheci, deixei-me enganar pelo teu aspecto. Mas tu não és uma menininha inocente. Tens o teu próprio plano, sei disso, mas não permitirei que me arrastes para ele. - Não admitiu que ele tinha o seu próprio plano também, para o qual pretendera arrastá-la de início, antes de perceber que com Meg isso nunca funcionaria. Outra razão porque tinha de se livrar dela. Ela não podia ser controlada, e assim, não podia confiar nela.
- Eu nunca te tentaria arrastar para o meu plano, Tom. - Disse ela, sinceramente. - Não confio em ti para isso!
Foi a vez de Tom pestanejar.
- Então o que é que pretendes de mim? - Perguntou, espantado.
- Não sei, Tom, o que é que tu pretendes de mim? - Devolveu-lhe ela. Tom pensou, e decidiu que como dentro de horas acabaria com ela, podia usar um pouco de sinceridade.
- Nada. Por isso é que tenho de me livrar de ti. Sabes demais, e és completamente inútil para os meus planos. - Megan riu-se.
- A maioria dos teus Devoradores da Morte são inúteis, e tu atura-los na mesma. - Disse. Tom fungou.
- Tu não és um Devorador da Morte. És...- Mordeu a língua, irritado consigo próprio. Quase admitira que a achava uma ameaça à altura. - Eu nunca te conseguiria convencer a ser um Devorador da Morte.
- Há sempre a maldição Imperius. - Sugeriu ela, irónica. Tom sacudiu a cabeça.
- Não funcionaria. Sabes demasiado sobre as imperdoáveis. - Isso lembrava-lhe qualquer coisa. - Excepto a Cruciatus. Não me lembro de alguma vez te ter visto praticá-la. - Meg sacudiu um pouco de cabelo de frente da cara.
- Eu não a uso. - Disse, simplesmente. Tom fez uma careta.
- Percebo. - Explicava algumas coisas sobre Megan, pelo menos. A questão era porque é que ele ainda se incomodava em decifrá-la, se sabia que teria de a matar mais tarde. - Espero que tenhas morto as pessoas que te fizeram isso. - Disse, sem saber o que o motivou.
Megan encarou-o, pestanejando de surpresa. Tom suspirou.
- Eu já torturei pessoas antes, D. Sei como elas reagem depois. Futuro Lorde Voldemort, lembras-te? - Meg fez uma pausa muito pequena, antes de replicar:
- Sim, eu matei-os. - Tom ficou satisfeito em ouvir aquilo, e ela continuou - Eram sangue puros, e mantinham-me trancada com duas crianças Muggle, tratando-me pior que um elfo doméstico. Julgavam que eu era Muggle também. - Megan já falava mais para si do que para ele, naquele ponto. - Nunca hei de esquecer as expressões deles, antes de os matar. Foi um dos momentos mais doces da minha vida.
- Pelo menos comigo podes ter a certeza de que não te irei torturar quando as nossas doze horas acabarem. - Tom arrancou-a ás suas memórias. - Matar-te basta me.
Meg riu, sem achar verdadeira piada.
- Obrigada. - Disse. - Mas acho que isso será mais difícil do que pensas. Eu não dei tudo o que tinha, há pouco.
- Nem eu. - Replicou ele. Megan riu-se baixinho.
- Então acho que é justo dizer que estamos equilibrados, de momento. - Tom sorriu de modo malévolo.
- Eu acho que não. - Ripostou.
Rapidamente, levantou-se e tentou atirar a jovem contra a parede. Conseguiu prendê-la entre os braços. Megan debateu-se, enquanto ele falava.
 - Não tenho dificuldade em manter-te assim nas próximas horas. Assim que a minha magia voltar...AUU!!! - Meg ferrou-lhe uma mordidela no braço e libertou-se.
- Como eu disse...- Exclamou ela, segurando o riso ao ver a cara de Tom. - Acho que estamos equilibrados.

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