A Câmara dos Segredos



- Onde estamos?
Meg olhou em redor, confusa. Não reconhecia o local. Este tinha um aspecto de masmorra, e Megan descobriu que o assento irregular sobre o qual se materializara era nem mais nem menos que os pés de uma estátua gigante.
- Hogwarts. - Ela ouviu a voz de Tom, vinda de outro ponto da câmara. Colocando-se de pé, a jovem não era capaz de o ver, mas sabia que ele se encontrava próximo.
- Hogwarts não deveria ser uma escola? - Perguntou. O riso de Tom soou-lhe nos ouvidos, ampliado pelas paredes.
- Estamos numa zona diferente na escola. - Ele materializou-se atrás dela, sorrindo ao ver a sua expressão. - Uma onde os alunos não vêm, e o único local para onde nos podemos materializar a partir do exerior. Bem vinda á câmara dos segredos, Meggie.
Meg tinha começado a andar para explorar o espaço, e parou onde estava.
- Não faças isso.  - Disse, sem se virar. Tom riu.
- O quê?  - Perguntou.
- Chamar-me Meggie. - Respondeu ela, ainda sem virar as costas. - Não o faças.
Percebendo que acabava de encontrar algo que a irritava, Tom insistiu, acompanhando-a enquanto andava.
- Porquê? - Insistiu, apenas para a deixar enervada. - Megan é um nome demasiado sonoro para ti. E Meg traz-me más recordações, de um tempo em que eu estava espalmado entre folhas de papel. Tenho de te chamar de qualquer coisa.
- Chama-me o que quiseres, mas Meggie não. - Resmungou ela. - Os meus irmãos chamavam-me isso.
- Os que morreram? - Meg parou de andar outra vez ao escutá-lo. - Não faças esse ar de não perceber. Tu chamas-te Megan Despaire. Eu passei horas num diário mágico onde um sujeito descrevia em detalhe como assassinara toda a família Despaire, pai, mãe e crianças. Não é difícil fazer a ligação.
- Eu não quero falar sobre os meus pais! - Ela quase rosnou. - E se tu começas a chamar-me Meggie, eu passo a tratar-te por Tommy. Gostarias disso? - Observou Tom contorcer-se de horror com a simples ideia. Satisfeita por o ter colocado no lugar, ela recomeçou a andar.
- Estás a ir na direcção errada! - Avisou Tom, segurando-a e apontando para o lado oposto. - Os quartos são para ali.
- Quartos? - Ele acabara por descobrir que quando ela pestanejava, isso significava que estava confusa ou surpreendida.
- Sim. Não podemos ficar naquela estalagem para sempre, se planeamos lutar contra o ministério. Precisamos de um local onde possamos treinar e traçar estratégias sem ser incomodados, e este sítio é ideal. - Meg decidiu que isso fazia sentido, e começou a andar com ele em sentido contrário. Tom parou-a outra vez.
- Espera, Megs! - Disse, e Megan fulminou-o com o olhar ao escutar a sua nova tentativa de a alcunhar. Tom suspirou. - Também não? Não importa, acabarei por encontrar um. - Tentar deixar a jovem enervada, acabava de descobrir, era divertido. Perguntava-se como seria vê-la assustada, e decidiu que aquela era uma boa altura para a aterrorizar e fazer ver quem mandava. Seria um experiência interessante. - Quero apresentar-te a um amigo meu! - Meg olhou-o, confusa. Tom olhou para a estátua e pronunciou algumas palavras em serpentês. Megan pestanejou furiosamente ao ver a serpente gigante deslizar para fora do olho da estátua.
- Ela é um pouco maior que Kazeila. - Comentou. Tirou a serpente, do tamanho de uma lagartixa, de dentro do bolso do casaco. - Mas também, isso não é muito difícil. - Acrescentou, ao ver a serpente gigante descer para o chão. Percebia que Tom tentava assustá-la, como Josiah quisera fazer uma vez. Fungou. Ele devia ser esperto o suficiente para aprender que cobras não lhe metiam medo. - Tem nome?
- Não. - Tom ainda a encarava, parecendo desapontado pela sua ausência de reacção. - Só não o olhes nos olhos. - Avisou. Por enquanto, ainda precisava de Megan. Não era sensato arriscar deixá-la morrer antes de aprender o que pudesse com ela.
- Eu sei o que é um basilisco, Tom. - Disse ela, ao mesmo tempo que passava uma mão pela superfície das escamas da serpente. No seu bolso, Kazeila sibilou, invejosa. - Alguma vez te passou pela cabeça a quantidade de danos que ela poderia causar à solta na escola? - Sem querer, o rapaz sufocou o riso.
- Fiz isso uma vez. - Admitiu, sem saber porquê. - Mas não acho que seja boa ideia repetir, por agora. Queremos que nos deixem em paz aqui, e não vamos consegui-lo se a escola estiver em pandemónio. Ele terá de ser paciente por mais algumas décadas.
- Bem pensado. - Concordou Meg. Começou a afastar-se dele, mas pensou melhor, e virou-se. - Ah, e Tom? Não é um “ele”. É uma “ela”! - Riu-se da expressão dele ao deixá-lo e ao basilisco para trás.

Nos meses que se seguiram, Meg habituou-se a uma rotina diferente de todas as que conhecera até aí. A câmara dos segredos não era apenas a câmara propriamente dita, mas um complexo de túneis que conduziam a quase todos os cantos da escola. Meg tinha o seu quarto, simples e sem decoração, num dos túneis por detrás da estátua. Tom autoproclamara-se “dono” de toda a parte da câmara junto ao esconderijo do basilisco, e Meg não discutira com ele. Kazeila também ficava melhor longe dele, e afastando-se podia deixar a cobra correr pelos túneis.
Todos os dias, ela acordava para encontrar Tom já sentado aos pés da estátua, que descobriu ser do seu antepassado, Salazar Slytherin, ou imerso num livro grosso ou a praticar magia sem varinha. Meg descobriu que ela quase não precisava de lhe ensinar o que quer que fosse. Tom apenas a consultava quando duvidava de algo, ou quando precisava de um parceiro para treinar. Megan estudava também.
 Os dois lançavam sobre si feitiços da invisibilidade, e durante a noite saiam da câmara para saquear a secção dos reservados da biblioteca. Como não lhes restava qualquer outra ocupação, eles passavam os dias nesse ritmo, de estudo e combates de prática. Uma vez por semana, um ou outro deles saía para o exterior e roubava provisões, voltando também com uma pilha de jornais velhos, através dos quais se inteiravam do que se passava lá em cima na escola.
Outro modo de se manterem ao corrente era mandarem o basilisco através dos canos para espiar, mas acabaram por concordar ambos que mandar Kazeila era menos arriscado e mais simples. A cobra passava despercebida facilmente, e não havia o perigo de esta matar um estudante por engano, causando o pânico e comprometendo a segurança do esconderijo dos dois. Estranhamente, um assunto que nunca conversavam eram os planos para dominar - pois Tom, descobrira ela, não se contentaria apenas em derrubá-lo - o ministério. Desconfiava de que o futuro Lorde Voldemort tinha o seu próprio plano, que não discutia com ela, e assim Megan pagou-lhe na mesma moeda, começando a traçar estratégias em segredo.
Meg começava também a impacientar-se, à medida que os meses passavam. Ela assistira aos progressos de Tom e sabia que ele já estava quase ao nível dela quanto à magia sem varinha. Reparara nisso por já ser frequente encontrá-la deixada pelos cantos, descuidadamente. Ela, por seu turno, aprendera dos livros da secção reservada as mais terríveis maldições jamais inventadas, e praticara a confecção de poções, algo que apesar de saber em teoria, nunca pudera fazer por no acampamento cigano lhe faltar material.
Também muito raramente ela e Tom conversavam. Mantinham-se distanciados um do outro, falando apenas para discutir estratégias e feitiços. Sabia que ele não confiava nela, e ela não confiava nele. Quando trocavam palavras eram normalmente frios e cínicos um para o outro, e Megan habituara-se a isso também. Mais difícil era para ela aceitar ter o rapaz mais velho a tratá-la por “D.”, já que nenhuma das variantes do seu primeiro nome lhe parecia agradar, e ele se recusava a falar em desespero de cada vez que a chamava pelo apelido. (N.A. - “Despaire”, em francês, Desespero.)
Mesmo assim, Meg acabou por habituar-se. Começava a sentir-se cada vez menos desconfortável na presença dele. Tom sentia o mesmo, e isso preocupava-o. Esforçou-se por aprender mais depressa, sabendo que teria de se despachar a superá-la. Caso demorasse demasiado, corria o risco de se ligar demasiado, e seria difícil acabar com a jovem quando a altura chegasse.
Começou a esconder-lhe os seus progressos. De cada vez que dominava um feitiço novo, continuava a praticá-lo dias a fio em frente dela, fingindo dificuldades. Por vezes perguntava-se se as suas encenações eram óbvias demais, pois Megan fungava sempre ao vê-lo tentar executar pela trigésima vez uma maldição quebra-ossos imperfeita. Nessas alturas, Tom sorria interiormente, pensando que ela nem adivinhava o que a esperava. Passara demasiado tempo a fingir que a considerava sua igual que a encenação já era para ele quase natural. Ele próprio já quase sentia dificuldade em não acreditar nela.
Foi na altura em que o percebeu que decidiu que estava na altura de resolver Meg de vez.
O seu plano contra o ministério encontrava-se encaminhado, quase em vias de ser cumprido. O primeiro ano no câmara passou rapidamente, enquanto as habilidades dos dois cresciam ao mesmo ritmo. A rotina dos seus dias fazia com que mal dessem pelo passar do tempo, e antes que o soubessem outro ano passou também.
Foi numa tarde de fim de Verão que Tom Riddle tomou a decisão que mudaria o curso da sua vida.
- D. - Disse, ao chegar perto da jovem, que se encontrava sentada, com um pesado livro sobre pragas milanesas no seu colo. - Preciso de te dizer uma coisa. - Ela mal levantou os olhos do livro.
- O que é, Tom? - Perguntou, num tom de voz que indicava que se encontrava aborrecida por ser incomodada. Tom engoliu em seco. Pela primeira vez na sua segunda vida sentia alguma hesitação. Mas sabia que não havia nada mais que pudesse fazer. Nos últimos dias, a sua fraqueza descera ao ponto de considerar não a matar, e mantê-la a seu lado quando assumisse o poder. Um futuro lorde negro não se podia permitir a ter dessas dúvidas. Apontou as mãos á jovem, sem segurar a varinha. Estava no mesmo ponto que Megan, que não precisava de uma para fazer o que tinha a fazer.
Pressentindo a mudança na sua postura, Meg levantou os olhos, ao mesmo tempo que Tom sussurrava:
- Avada Kedavra!

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