Guardando Segredos



No interior do diário, Tom Riddle, aka futuro Lord Voldemort, felicitava-se a si próprio. Depois de anos a fim em casa daquele inútil Lucius Malfoy, finalmente algo acontecera para quebrar a monotonia que vivia ali dentro. A conversa de há horas atrás com a jovem...ele não sabia ao certo se era uma jovem, mas preferia pensar assim. Se era jovem, seria mais fácil fazê-la confiar nele e contar-lhe alguns segredos. Adolescentes, principalmente meninas, tendiam a despejar em papel todas as suas tristezas e frustrações, e ainda mais se alguém as compreendia ou fingia compreender.
Aquela...Meg, não confiara assim tanto, mas Tom convenceu-se de que aquela era apenas a surpresa inicial de uma feiticeira ante um objecto mágico...
Espera, ele nem sequer sabia se ela era realmente uma Malhou. Meg podia ser qualquer coisa, desde um elfo doméstico a um Muggle. Toda a informação que tinha sobre ela de momento era a de que era uma rapariga de idade indefinida, o seu primeiro nome e a consciência de que ela era naturalmente desconfiada.
Tom tinha vontade de gritar com a sua falta de sorte, e começava a esperar que a tal Meg não fosse mesmo uma feiticeira, ou o diário iria nesse momento a caminho do Ministério.
Forçando-se a acalmar, traçou um plano. Voldemort não desistia facilmente, e da próxima vez que Meg abrisse o diário, tentaria sugar o máximo de informação que podia sobre ela. Controlá-la não seria difícil. Tom entendia bem a natureza das pessoas, e todas elas queriam algo. Ele apenas tinha de descobrir o que queria essa desconhecida chamada Meg.

Embora não o quisesse, o diário não saiu da cabeça de Megan durante toda a semana seguinte. Ela tentava afastá-lo dos pensamentos, mas a sua curiosidade natural dizia que havia ali um mistério que ela se sentia tentada a resolver. Decidiu que o voltaria a abrir em breve, apenas para ver o que acontecia.
Mas não sem antes de se preparar.
Malfoy ainda não dera notícias, e Meg começava a impacientar-se. Quão difícil podia ser aceder a alguns ficheiros velhos? Depois da guerra, estes deviam ter sido simplesmente arquivados, e ler a informação não devia ser grande complicação para alguém com os meios de Lucius Malfoy.
Para se distrair, ela brincava com Kazeila e treinava magia no interior do quarto. Passava também horas sem fim a deambular por toda a rua, entrando em lojas, examinando pessoas e aprendendo. Em pouco tempo familiarizara-se com a rua e tornara-se conhecida dos comerciantes, que se habituaram a ver a menina vaguear por entre a mercadoria, observando tudo o que podia.
O assunto mais presente na cabeça da jovem, depois dos Sete, era Tom Riddle. Meg tentara destruir o diário algumas vezes, pensando acertadamente que não o conseguiria. O que pretendia descobrir era a verdadeira identidade da pessoa no diário. Ela sentia que ele estava vivo. Havia um ser inteligente naquele papel, e ela queria saber quem era ele, se uma vítima inocente que Voldemort prendera ali por artes mágicas ou algo muito mais negro. Começava a fazer uma ideia geral do que se tratava, levando em conta as poucas palavras que trocara com Tom, mas queria confirmá-la. Assim, numa tarde em que não tinha nada que fazer, dirigiu-se à Borgin&Burkes, uma loja no fim da rua. O dono, Mr.Borgin encontrava-se ocupado a limpar o balcão quando ela entrou.
- Menina Renardi. - Cumprimentou. Megan fez um gesto ao de leve com a cabeça, e colocou um frasco pequeno em cima da mesa. Dentro dele, agitava-se um líquido de cor esverdeada.
- É veneno de serpente imperial. - Explicou, ao ver a expressão interrogativa de Borgin. - Fresco. Não sei se lhe interessa...- Borgin parou-a.
- Não se trata de interessar ou não, menina. Veneno de serpente imperial é um ingrediente de poções raríssimo, claro que me interessa. Se compro, isso depende do preço que quer por esta quantidade. - Meg já sabia, por aquela altura, que o dono não perdia uma oportunidade de regatear e fazer valer a sua língua. Ela cortou-lhe a palavra.
- Eu não quero dinheiro, e sim informação. - Viu a expressão dele, e elaborou. - Consigo arranjar mais veneno a qualquer altura, e as perguntas que tenho para fazer são simples.
A perspectiva de conseguir material raro quase de graça fez as orelhas do homem arrebitarem. Ele olhou para a jovem, com ar atento.
- E a menina gostava de saber? - Megan respirou fundo.
- Você conhece quase todos os mágicos, e sabe os segredos de praticamente toda a gente . - Borgin sorriu, enchendo o peito. Aquela era uma reputação da qual se orgulhava. - Eu queria perguntar se alguma vez ouviu falar de um certo Tom Riddle.
Borgin ficou parado, boquiaberto. Pela sua expressão, Meg deduziu que acertara em vir falar com ele.Ele reconhecia o nome, quase de certeza.
- Renardi, eu não sei o que estás a tramar...- Borgin inclinou-se por cima da mesa, encarando-a com seriedade. - Mas acredita-me, esse não é um assunto em que queiras remexer!
- Você conhece-o. - Não era uma pergunta.
Borgin baixou a voz até esta ser pouco mais de um murmúrio.
- Ele trabalhou aqui, nesta mesma loja, durante uns anos, antes de se tornar no que tornou. - Viu o ar interrogativo de Megan, e elaborou - Ele é o Quem-nós-sabemos, menina Renardi.
- Lorde Voldemort? - Meg não estava verdadeiramente espantada. Imaginara qualquer coisa assim, sabendo de onde vinha o diário. O homem deu um salto.
- Não...digas...o...nome! - Meg esforçou se para não rir. Era ridículo, realmente, o medo que os ingleses tinham de pronunciar o nome. Em França não existia essa parvoíce. - Espero que seja tudo o que quer saber!
- É. - Assegurou-lhe Megan. - Por agora.
Saiu da loja, pensativa. Agora que sabia por onde começar a investigar, era muito mais fácil. Primeiro, tentaria descobrir tudo o que podia sobre Lorde Voldemort, tudo o que não sabia já. Depois, era hora de ter uma conversa com Tom.

Tom?
Tom Riddle sorriu para si, satisfeito. Levara uma semana, mas Meg finalmente cedera, como ele sabia que faria. A curiosidade matou o gato, e naquele caso, mataria a jovem.
Preparando-se para mais uma vez assumir o seu papel amigável e encantador, ele respondeu:
Sim? -     Sabendo de antemão como Meg era desconfiada, devia manter as respostas e perguntas o mais claras possivél. Extorquir-lhe os segredos viria com o tempo. Por agora, precisaria apenas de garantir que ela confiava nele e continuava a escrever.
Posso contar-te um segredo?
Se Tom tivesse um corpo, teria caído de queixo. Aquilo tinha sido rápido.
Claro. - Respondeu, e aguardou, ansioso, mas sem se atrever a ter demasiadas esperanças. Ela não podia ser tão estúpida assim, excepto se fosse uma Muggle.
Eu sou uma feiticeira. - Tom teve vontade de gritar alto. Isso ele já sabia, ou se não sabia, assumira automaticamente. Se era aquele o grande segredo de Meg, de pouco lhe servia. Mas esta ainda não acabara de escrever, e ele forçou-se a prestar atenção. - E eu sei quem tu és!
O que queres dizer? - Foi a resposta automática dele.
Sentada no chão do quarto com o diário sobre os joelhos, Megan mordeu o lábio, divertida, antes de se inclinar sobre o papel e escrever:
Sei que és um horcrux. E sei de quem!
Tom inalou, e forçou-se a controlar o pânico. Ela não podia estar a falar a sério. Como poderia saber...teria passado tanto tempo que os seus horcrux eram já do conhecimento comum?
Não sei de que estás a falar. - Respondeu, com firmeza.
Não, Lorde Voldemort?
Tom sentiu que estava perdido. Meg, quem quer que ela fosse, e rezava para que não se tratasse de uma funcionária do ministério, ou pior, alguém da ordem, tinha-o na mão. Literalmente.
Ele não sabia sequer segredos suficientes dela para a conseguir controlar e impedir de o entregar a alguém que o destruiria.
Gostas de ser um diário, Tom? - A questão espantou-o.
Porque é que isso importa? - Respondeu, julgando que ela estava apenas a gozá-lo antes de o entregar a alguém, talvez Dumbledore.
Porque se não estás muito satisfeito com a tua situação actual, talvez eu te possa ajudar.
Tom não acreditou no que estava a ler, mas tentou na mesma entender. A misteriosa Meg oferecia-lhe ajuda. Ela não podia fazer parte do ministério, portanto, nem da ordem. Também não era de certeza um dos seus Devoradores da Morte. Então quem pelas barbas de Slytherin era ela?
Quem és tu? - Escreveu ele. Sentiu os segundos contar enquanto ela respondia:
Desculpa, mas não posso dizer. Eu sei o que me acontece se te contar demasiados segredos.
E antes que Tom pudesse replicar, foi deixado sozinho, no silêncio.

Megan fechou o diário, satisfeita pela maneira como as coisas tinham corrido. Tom não seria muito fácil de controlar ou convencer, mas ela tinha uma vantagem sobre ele: sabia o que o pedaço de alma preso no diário desejava. E sabia como podia conjugar esse desejo com os seus próprios objectivos.
Com um sorriso nos lábios, ela foi até à janela e desapertou uma mensagem presa à pata de uma coruja cinzenta. Desenrolou-a e leu, satisfeita. Não tinha data, nem saudação.

A informação que pediste ainda era classificada, por isso a demora em consegui-la. Os Sete operaram entre 1993 e 1998, e os nomes dos membros do grupo seguem em anexo. Espero que isto resolva a nossa questão.
L. Malfoy.

Meg sacudiu a cabeça enquanto lia os nomes e moradas. Tirando a varinha da mala sem fundo e enfiando no bolso do casaco o diário de Riddle, um tinteiro e uma pena, ela acenou um adeus a Kazeila e desmaterializou-se.

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