Os Ciganos



Megan voltou a gritar as palavras por três vezes, enquanto os Gerand tentavam escapar. A sua fuga desordenada fez com que acabassem por tropeçar e  ser na mesma atingidos pelas maldições. Só quando todos eles se encontravam imóveis sobre a carpete é que Meg baixou a varinha.
Nina, encolhida no seu canto, assistira a tudo e estremeceu quando a menina voltou a sua atenção para ela.
- Por favor! - Exclamou, com os olhos quase rasos de lágrimas, quando Meg começou a andar na sua direcção. - Por favor. Eu não quero morrer!
Megan parou onde estava, incrédula.
- Nina, porque é que pensas...? - Olhou para os corpos espalhados pela sala, e entendeu. - Eu não te vou fazer o mesmo que a eles, Ni! Eles mereciam.  Tu não. - Não sabia o que fazer para a convencer, mas Nina ainda estava doente, e precisava de ajuda. - Ouve, eu vou buscar Jean-Paul. Espera aqui. -  Ordenou, sabendo que Nina não se mexeria enquanto ela não voltasse. Rapidamente, inspeccionou a casa em busca de Jean-Paul. Este encontrava-se  escondido num dos armários do andar de cima. Ao ver Meg vir na sua direcção, risonha, quase desmaiou de choque.
- O que é que estás aqui a fazer? - Perguntou, olhando para todos os lados à espera de ver um dos Gerand. - Ouvi barulhos no andar de baixo, e pensei  que...Onde estão?...
- Matei-os. - Respondeu Meg, sem perder tempo. - Preciso que tires a Nina da sala, ela não me deixa aproximar.
Jean-Paul estava habituado a não fazer perguntas e a obedecer, por isso não fez nada e desceu atrás dela. Megan passou pela sala sem olhar o seu  interior, e dirigiu-se ao celeiro no exterior. A chave estava na fechadura e ela rodou-a. Quando se encontrou no interior, fixou cada uma das cobras nas  jaulas à vez.
- Eu vou deixar-vos ir - disse ela, em serpentês - mas têm de prometer que não tentam comer a Nina e o Jean-Paul! - Depois de obter a mesma  promessa de todas as cobras, tocou cada uma das jaulas, e estas abriram-se uma a uma. Meg olhou para a mão, surpreendida. Ela sabia que os  Gerand não conseguiam fazer magia sem usar uma varinha, mas ela sim. Que estranho!
Abrindo a porta do celeiro para deixar as cobras sair, ela voltou para dentro de casa.

Nina e Jean-Paul ainda estavam perturbados, ela notou-o quando os viu. Não se falaram. Meg apenas lhes pediu para irem para o andar de cima, assim  ela poderia livrar-se dos corpos dos Gerand. Eles tinham um fosso enorme nas traseiras, e ela arrastou-os para lá a custo. Depois de deitar os quatro  corpos lá para dentro, selou a vala com terra que moveu com um gesto de varinha, sem sequer pensar.
Dentro de casa, Jean-Paul deitara Nina numa das camas dos Gerand, muito mais confortáveis. Por acordo mútuo, eles decidiram não falar do que se  passara no andar de baixo. Megan ajudou Jean-Paul a remexer as gavetas dos Gerand em busca de medicamentos para Nina, sem sorte. Ela não sabia  para que serviam os frascos que encontrava, e não conseguia ler os rótulos. O que ela mais queria no mundo era sair dali e depressa, mas teria de ficar  enquanto Nina estivesse a recuperar.
No primeiro e segundo dia ela e Jean-Paul mal descansaram, sempre para cima e para baixo com comida e cobertores para Nina. No terceiro a menina  estabilizou, e eles puderam descansar um pouco. Meg passava esse tempo a remexer nas coisas que pertenciam aos seus anteriores captores.  Encontrou vários objectos suspeitos, como facas e espadas e ervas que pareciam venenosas, mas também outros objectos que ela nunca vira e que a  fascinavam. O mais útil de todos foi uma mala de mão, aparentemente sem fundo, em que ela colocou tudo aquilo que lhe interessava. Os livros, que  enchiam estantes e estantes em quase todos os quartos, foram também atirados para dentro da mala. Prevenida, Meg supôs que a informação neles  contida lhe poderia vir a ser útil. Apenas teria de encontrar alguém que a ensinasse a ler.
Depois de cheia com quase tudo o que lhe interessava, a mala continuava a ocupar o mesmo volume e a ter o mesmo peso, o que a fascinava. Megan  decidiu que, apesar de até aí mágicos e magia só lhe terem trazido problemas, ela era capaz de vir a gostar daquilo dos feitiços.
Quando, umas semanas depois, Nina estava totalmente recuperada, tanto ela como Jean-Paul mostraram desejo de sair dali, tal como ela. Assim, Meg,  com a mala mágica na mão, e eles dois carregados de provisões para o caso de a viajem ir ser longa, saíram pelo portão e deixaram a casa dos Gerand  para não mais voltar.

No dia e meio de caminhada pela floresta que se seguiu, Meg pensou muito sobre o que ia fazer. Sabia o que Nina e Jean-Paul queriam. Eles tinham  sido raptados pelos Gerand, e queriam voltar para La Charlemaine e para os seus pais. Megan tinha a impressão de que, caso tivessem conseguido  escapar sem que ela tivesse morto os Gerand daquela maneira, eles a convidariam para ficar a viver com eles. Agora, de cada vez que olhava os seus  rostos, via medo, e decidiu que não podia fazer nada contra isso. Ela era diferente deles, e não o podia mudar.
Na tarde seguinte, ouviram ruídos vindos de uma parte da floresta. Meg prevenira-se levando um mapa da floresta consigo, e sabia que, apesar de a sua  capacidade de os interpretar deixar muito a desejar, eles ainda estavam muito longe de Le Charlemaine. Por isso, quando escutou o ruído de pessoas a  conversar e a rir, desconfiou. Nina e Jean-Paul estavam cansados de andar, e pediram-lhe para ver quem estava ali. Ela deixara-os, pensando que não  faria mal. Se fosse alguém que os quisesse atacar, ela tinha a varinha guardada no bolso e a maldição da morte decorada.
Felizes, Nina e Jean-Paul avançaram. Era estranho, mas agora eles agiam como se fosse ela a líder. Meg decidiu que gostava dessa sensação.  Seguiu-os, mantendo a varinha a postos. Os três espreitaram, e perceberam que tinham dado com uma clareira. Nela encontravam-se várias tendas e  caravanas, com pessoas vestidas de modo espalhafatoso à volta delas. Os três entreolharam-se.
- Vamos ter com eles? - Perguntou Nina, a medo. Meg encolheu os ombros.
- Talvez eles saibam onde é Le Charlemaine. - Disse, e Nina aceitou isso como um sim. As três crianças saíram das árvores.
- Olá! - Cumprimentou Jean-Paul. Várias das pessoas pararam o que estavam a fazer e observaram-nos. Meg percebeu que não eram feiticeiros, e isso  descansou-a. Aprendera que nem os Muggles eram tão maus como lhe tinha sido ensinado, nem os feiticeiros assim tão confiáveis.
Um dos homens avançou e falou, numa língua que eles não entenderam. Só Meg, que reconhecia algumas das palavras como a língua que Josiah por  vezes falava, inglês, acenou.
- Algum de vocês fala francês? - Perguntou. Uma mulher avançou. Ela tinha cabelos escuros presos com uma fita, e uma saia de folhos coloridos.
- Eu falo. - O seu francês era arranhado, mas perceptível. - O que estão vocês a fazer aqui, crianças?
- Precisamos de boleia para Le Charlemaine! - Meg olhou para Jean-Paul, zangada. Ela ainda não decidira se confiava naquelas pessoas ou não.
- Le Charlemaine? - Perguntou a mulher. Rapidamente, ela trocou umas palavras com o homem, desta vez no que Meg achou que era outra língua  qualquer. Ele respondeu na mesma língua. - Não sei se passamos por Le Charlemaine. Mas devemos poder deixar-vos perto o suficiente para poderem  andar até lá. Concordam?
- Sim. - Desta vez nem sequer Meg conseguiu dizer não, ela estava tão cansada como eles. Só tinha uma pergunta a fazer à mulher.
- Quem são vocês? - Quis saber, e olhou em volta. A mulher sorriu.
- Somos Romani. Um espectáculo itinerantes de saltimbancos.
Meg fez um gesto. Ela não sabia o que eram saltimbancos, mas desconfiava que descobriria em breve.

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