Delírio



O medo preenchia seu peito e o frio congelante penetrava em seus ossos. Andando desnorteado por aquela trilha íngreme, Rony mal conseguia manter os olhos abertos. Não sabia como conseguia fazê-lo e continuar andando apesar de ter todas as suas forças praticamente esgotadas.
-- Precisamos achar um lugar para passar a noite. Sussurrou Hermione, tremendo ao seu lado. Ela estava envolta por uma capa que esvoaçava ao mínimo movimento e não parecia aquecê-la, a julgar pelas bochechas rosadas e pelo queixo trêmulo.
Ron, sem forças para dizer algo, assentiu com a cabeça, tentando enxergar alguma coisa no breu que se estendia ao seu redor. Ao longe, apenas o som de alguma matilha de cães a caçar. Recortadas contra o luar, as assustadoras montanhas onde eles cometeram a loucura de se infiltrar. Poderiam morrer ali mesmo. E no seu atual estado, Rony não duvidava de que isso aconteceria logo logo.
A batalha que tinham travado há apenas algumas horas parecia ter ocorrido há séculos. Surpreendidos por um ataque noturno, Harry, Ron e Hermione até que estavam indo bem na missão de, como dizia Rony, “tirar o horcrux das garras do gigante mal encarado”. Mas como nada é fácil demais, acabaram tendo que se esquivar de um exército de gigantes irados. Harry, de posse da horcrux, conseguira a proeza de desaparecer no meio das rochas sólidas. Mas Rony e Hermione, perdidos no meio daquele lugar horripilante, estavam completamente indefesos.
Não tinham forças para aparatar, a varinha de ambos havia se partido durante o caminho (Hermione estivera resmungando muito por causa disso). Sem magia, eles não tinham saída.
-- Achei. Gritou Hermione, apontando para um lugar que Rony sequer conseguia ver onde era.
-- Achou o que?
-- Um lugar! Venha cá!
Arrastando os pés semi congelados, Rony seguiu a amiga até a lateral da estrada que serpenteava morro abaixo. Sem saber como ela tinha localizado-a ali, viu que havia uma fenda na montanha, aberta o suficiente para deixar passar um adulto de estatura média. Em outras palavras, Rony teria muita dificuldade de se infiltrar nela, e já ia dizendo isso quando notou que esse era o intento de Hermione.
-- Mione, eu não acho uma... Começou ele, assistindo enquanto ela se esgueirava para dentro da montanha – Boa idéia...
Apreensivo, Rony ficou parado esperando enquanto a amiga era engolida pelas sombras do interior da montanha monstruosa. Depois de alguns minutos, ouviu um gritinho e ficou pálido.
-- Mione! Aconteceu alguma coisa? Gritou, assustado.
-- Nada. Respondeu ela, saindo da fenda com o peito arfante – Só um... rato. Venha.
-- Como assim venha?
-- Achei uma caverna ótima.
-- O que? Você está pensando em passar a noite ai dentro?
-- É. Ou quer que eu providencie uma barraca com cobertores quentinhos para vossa senhoria acampar em segurança?
Resmungando, Rony se encolheu para passar pela fenda. O interior da montanha era úmido, e para o pavor do ruivo, extremamente escuro. O chão era coberto de musgo e crânios de pequenos animais mortos. Sombras horripilantes pareciam se mover nas paredes de pedra, e Ron tentou não prestar atenção nelas.
-- Você está com medo? Zombou Hermione, com a voz fraquinha.
-- C-Claro que não! Balbuciou Rony.
-- Hum... sei. É bom que você não saia gritando Rony, porque eu juro que dessa vez não vou atrás de você.
Rony fitou Hermione com raiva, envergonhado pelo fato ao qual ela mencionava. Fora durante a batalha, algumas horas antes, quando eles ainda estavam com Harry. Assustado por causa de um ruído horroroso, Rony correra desabalado, gritando algo como “salve-se quem puder”. Fora Hermione quem, após se contorcer de tanto rir, tinha ido atrás dele para explicar que o ruido na verdade era um arroto dado por Harry de brincadeira, que ecoara pela galeria de pedra.
-- Olhe, um rato! Ele disse repentinamente, apontando para um animal invisível no chão.
-- Onde? Berrou Hermione, correndo na direção contrária. Em outras palavras, diretamente para os braços dele, que estava ocupado demais preocupado com a própria vingança para notar como o corpo frágil dela encaixava perfeitamente em seus braços.
Envergonhada, Hermione lhe aplicou um tapa forte no busto, voltando a andar na sua frente sem medo. Apalpando as paredes úmidas, ela tinha o cenho franzido.
-- Estranho. Murmurou.
-- O que? Perguntou Rony, olhando preocupado para uma teia de aranha que se tecia acima dele.
-- A caverna que eu vi ficava bem... AI!
Rony gritou, assustado, quando viu Hermione despencar exatamente ao seu lado. O chão onde ela pisara, aparentemente, não era sólido o bastante. Desesperado, ele se curvou sobre o buraco onde a amiga estivera em pé minutos antes. Olhando para baixo, só conseguia ver escuridão.
-- Mione? Você tá bem? Perguntou, com um “quê” de desespero na voz.
-- Estou. Ela gemeu, alguns minutos depois – Acho que quebrei a perna.
-- Espera ai. Gritou Rony, tentando avaliar a altura do buraco até o chão. Sem pensar duas vezes, ele pulou, de olhos fechados. Caiu com estrondo no chão, embora de maneira bem leve.
-- Ron... Hermione sussurrou em algum ponto ao lado dele.
-- Calma ai. Onde você está? Ele perguntou, andando a esmo no escuro.
-- Aqui.
Ouvindo a voz melodiosa dela em algum ponto próximo à parede, ele foi ao encontro da amiga. Sentada contra a parede, ela tinha uma expressão de dor no rosto que até mesmo o escuro não impedia de ver.
-- Você está bem? Ele perguntou, contendo o impulso de envolvê-la em um abraço estrangulado.
-- Acho que sim. Ela murmurou com os olhos lacrimejando.
Curvando-se para analisar a perna dela mais de perto, Rony viu que devia estar doendo muito. Repousando em um ângulo estranho, parecia ter sido dobrada ao meio.
-- Você vai ficar bem. Ele disse, tentando disfarçar o tom trêmulo de sua voz. Nunca tinha sido bom com sangue e afins.
Ela chorava baixinho e o coração de Rony cortou ao ouvir o lamento tímido da mulher que gostava de se mostrar tão forte. Se sentando ao lado dela, passou os braços pelos ombros frágeis, deixando que ela chorasse em seu peito.
A ninando em silêncio, ele gostaria de poder fazer a dor dela passar.
-- Ali. Ela murmurou, apontando para um canto escuro da caverna.
-- O que tem?
-- U-Uma gruta. Sussurrou.
A deixando por um momento, Rony se aproximou para conferir. De fato, havia uma pequena gruta de onde brotava um água límpida e pura. Além de, como o próprio Rony conferiu ao prová-la, extremamente gelada. Sorvendo um pouco através de longos goles, Rony se apressou a encher o cantil que trazia consigo para levar um pouco à Hermione.
Ao se aproximar da amiga, viu que ela não estava nada bem. Suando em toda sua palidez, ela delirava de dor, segurando a perna, cujo sangue escorria pelo chão escuro da caverna com nitidez. Um pouco desesperado, Rony se apressou em fazê-la beber algum gole da água do cantil. Água que ela cuspiu, tossindo.
-- Estou bem. Sussurrou Mione, ao ver que o amigo estava apavorado.
-- Você precisa de...
-- Eu preciso de descansar. E você também. Quando amanhecer, nós podemos aparatar em algum lugar.
-- Mione, você está...
-- Já disse que estou bem.
Ele se calou, voltando a ocupar o lugar ao lado dela. Depois de algum tempo parados, ela se deitou em seu colo, volta e meia emitindo pequenos gemidos de dor. Sentindo a temperatura térmica dela, Ron viu que a febre só aumentava. Estava muito mal. A perna devia latejar de dor, mas ela ainda tentava, a todo custo, disfarçá-la.
-- As estrelas. Sussurrou ela, apontando para cima. Rony ergueu a cabeça, notando o buraco que havia ali, e que deixava à mostra um pequeno pedaço do céu estrelado. -- Tão bonitas... você acha que Dumbledore deve está lá? No céu, quero dizer... não sei muito sobre isso. Para onde vão as almas que morrem?
-- Não sei. Respondeu Rony, angustiado.
-- Tomara que seja para um lugar bem bonito. Um paraíso. Você não acha? Quando eu morrer, será que vou para algum paraíso?
-- Mione, não fale isso.
-- ... Acho que cada paraíso é particular. Com as coisas que cada pessoa gosta ou ama.
-- Nesse caso, acho que seu paraíso teria muitos livros não? Perguntou Rony, feliz ao constatar que ela esboçara um sorriso.
-- Acho que você estaria nele.
Rony congelou no ato de acariciar os cabelos dela.
-- Você é tão... sei lá, diferente e engraçado. Eu gosto tanto de você, que acho que não seria capaz de viver sem suas piadinhas sem graça. É claro, quando você não está me chamando de sabe tudo nem nada. É então quando eu acho que te amo. Porque você é o Ron. Meu Ron. Você é o tipo de cara que estaria no meu paraíso, apesar de as vezes eu achar que você faz meu inferno.
Sorrindo, completamente indeferente ás coisas que tinha acabado de falar, Hermione se virou, suspirando. O coração de Ron batia acelerado. Tão acelerado que ele achou que ia desmaiar.
“Cara, ela está mesmo delirando” Pensou ele, embora no seu íntimo, torcesse para que fosse verdade as palavras que ela tinha dito.
-- E seu eu te dizer que te amo também? Ele arriscou, corando até a raiz dos cabelos. Ela parecia quase adormecida, então ele não tinha muita certeza se iria ouvir.
-- Eu iria dizer que já sabia disso. Ela sussurrou, no entanto. -- Quero dizer, você sempre implicou muito com o Krum, e sempre me defendeu tanto... eu tinha certeza que você me amava. Mas o lance com a Lilá me fez pensar que você só me iludiu o tempo todo. Foi por isso que eu não te disse isso antes Ron. Depois da Lilá, eu finalmente entendi que sou quase uma irmã mais velha para você né?
-- Claro que não. Ele negou.-- Eu não amaria uma irmã como te amo. Amor fraternal é muito diferente desse amor... que estamos falando...
Hermione, no auge do seu delírio, soltou uma risadinha rouca.
-- Amor! Exclamou ela – Não é tudo a mesma coisa? Não é sempre um sentimento que faz a gente querer doar tudo sem saber se vai receber algo em troca? Como você é ingênuo Ron. Existe várias tipos de amor, é claro. Amor destrutivo, amor repentino, amor à primeira vista... Mas é tudo amor. Como em Romeu em Julieta.
-- O que seria isso?
Hermione soltou uma tentativa de muxoxo.
-- Uma história de amor trouxa. Só isso Ron.
-- O que tem as histórias de amor trouxa? Porque acha que eu não posso entendê-las?
-- Porque voce não entende nem os amores bruxos...
-- Eu entendo sim!
-- Não. Você é todo complicado. Você nunca fala sobre seus sentimentos nem nada do tipo.
-- Claro. Sentimentos servem para serem sentidos...
-- E expressados. Mas você tem um bloqueio quanto a isso. Eu sei que tem. Lilá disse que você beija muito bem. E quando ela disse isso, eu fiquei louca da vida. O que voce sentia pela Lilá, foi capaz de expressar. O que você sentia por mim, se é que sentia alguma coisa, você nunca fez nada. Um bundão.
-- Como você tem coragem de dizer isso?
-- É a verdade.
-- Eu amo sim! E expresso meus sentimentos! Eu só sou um pouco... tímido.
-- Timidez não é desculpa. Você não parecia tímido quando agarrou a Lilá. Boa noite.
Suspirando com a última careta de dor, Hermione fechou os olhos, adormecendo lentamente, enquanto Rony, acordado, refletia sobre o que ela tinha falado.
Será que ele realmente tinha um bloqueio em relação a sentimentos?
Agora que parava para pensar, via que realmente, era uma burrice da sua parte nunca ter dado um beijo em Hermione, ou um abraço caloroso, ou ter tentando se aproximar dela mais que “amigavelmente”.
Tomado por um acesso descontrolado de coragem, ele se curvou, depositando nos lábios adormecidos, um beijo singelo.
-- Eu te amo.
Ele não tinha muita certeza, mas achou que viu um sorriso dela antes de fechar os olhos.

“ Se fui errado, se fui complicado
Se te pedi perdão, se enganei o coração
Amor me perdoe
Eu não faço por mal
Eu sou uma criança sem rumo
Quando estou longe de você

Se te amei em segredo, se troquei as palavras
Amor me perdoe
Eu não faço por mal
Se te fiz ficar acordada, se te deixei esperando
Se errei tantos anos, te deixei lamentando
Se te quis mas não pude te ter
É porque fico sem rumo
Quando estou longe de você”


N\A: Essa fic foi projetada, inicialmente, para ser uma NC 15. Mas eu mudei de idéia... hehe...
Desculpa mesmo gente, por não ter atualizado... mas como eu disse, passei as semanas inteiras sem atualizar estudando para uma merda de prova de vestibular que so fez foi ferrar minha vida (interprete como “ eu me ferrei total”)
Bjus a qm comentou
Humildes desculpas a quem ficou sem ler essas coisinhas chatas por causa minha

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Comentários (2)

  • Mariana Berlese Rodrigues

    #MORRI A-M-E-I <3 <3 <3 MUITOOOOOOOOOO LINDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA *.*CHOREI AQUI :) Owwwwwwwwwwwwwwwwwwwwnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn RONALD PERFEITO WEASLEY <3 <3 <3 LINDOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO... <3 <3 <3 

    2012-12-25
  • MioneJeanWeasley

    perfeita mas acharia legal fazer uma continuação...

    2011-11-08
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