capítulo quatro.



Capítulo quatro.
Nada é real.


”Nenhum homem, por nenhum período considerável, pode vestir uma cara para si mesmo e outra para a multidão, sem que, finalmente, venha a se confundir completamente sobre qual delas talvez seja a verdadeira.” Nathanial Hawthorne


 Remo estava no salão comunal com dois livros grossos, tão grossos que Sirius se perguntou como diabos ele havia os carregado sozinho, abertos em uma mesa, o nariz enfiado entre eles. Ele ergueu os olhos quando ouviu Sirius.


 - Hey, eu estava esperando você.


 - Ótimo, me diga que tem alguma idéia boa.


 - Huh, pelo jeito a coisa não foi exatamente o esperado com a Marlene, não é? – o outro levantou da cadeira e foi até o sofá, onde Sirius havia se jogado com o olhar cansado e o corpo mole.


 - Defina esperado – ele murmurou.


 - Ela se agarrar em você, vocês jurarem amor eterno... – debochou Remo.


 - Bem, ela não jurou nada.


 - Ela não... não? Sirius, você disse a ela que...


 - Foi no calor do momento, sabe... ah, esquece.


 Remo olhou para os lados por um segundo. Depois voltou até a mesa e trouxe um dos livros enormes nos braços, em uma página em aberto.


 - Se isso te anima, eu descobri algumas coisas. Embora elas não sejam exatamente... boas.


 - Que seja. Eu só quero voltar. O que quer que signifique isso.


 


(...)


 


 - Isso é mesmo loucura. – a voz assombrada de Sirius cortou o silêncio que se havia feito depois da leitura de Remo, plena madrugada no salão comunal vazio.


 - Tecnicamente, a gente está vivendo nos seus sonhos e você da realidade está em algum lugar por aí morrendo. Bem, alimentando um cara com seu sangue - Remo o acompanhou.


 - Eu até estava acreditando nessa parada de os sonhos se realizarem e tal, mas... isso é demais pra minha pobre cabeça. – lamentou o outro, passando as mãos pelos cabelos devagar, fazendo Remo rir.


 - Ah, cale a boca! Você achava mesmo que ia ser de graça? Quer dizer, todo mundo sabe que gênios não são como Merlin, bondosos. Eles nunca disseram que não iriam querer nada em troca.


 Sirius estreitou os olhos para o outro.


 - Como você pode aceitar isso tão facilmente? Quer dizer que você não é real. Que nada do que está acontecendo é, entende?


 - Como é que eu posso ter certeza se você está mesmo me falando a verdade sobre tudo isso, Sirius? Pode só ser uma desculpa.


 Sirius meneou a cabeça, dessa vez arrependido. Como podia desconfiar de Remo? Só ele o estava ajudando.


 - Ok, ham, me desculpe. Pode ler a parte que fala como nos livramos disso? Oh, é claro, não tem uma parte que fala isso!


 Remo riu.


 - Cara, isso é tão óbvio!


 O outro o olhou intrigado. Não havia nada de óbvio ali para ele. Só que ele havia aceitado fazer parte de um banquete para um gênio que casualmente, há milhares de anos atrás, teve ancestrais que tiveram a idéia de não serem nada bonzinhos como os gênios dos filmes trouxas e pedirem alguma coisa em troca. Essa coisa foi o sangue da pessoa. Depois de uma porção de anos, eles começaram a se alimentar da pessoa. Só da pessoa. E isso virou um círculo vicioso. Na verdade, o corpo real de Sirius estava em algum lugar dando de beber para um gênio porco e fedido e tudo aquilo estava acontecendo só na mente dele. Pelo menos aquela era a parte boa.


 - Nós temos que te achar!


 Sirius olhou para Remo e riu, encostando a cabeça no sofá tentando relaxar os músculos. Ah, Céus, que vida.


 


---


 


 - Três páginas sobre a Guerra dos Elfos para sexta-feira! – o professor Bins fez uns movimentos, dispensando os alunos que lamentavam-se em coro.


 - Isto é só um sonho – Sirius sussurrou de maneira engraçada para Remo, com um quê de mistério na voz – Está tudo na minha mente...


 - Cala a boca, Almofadas. – Remo riu e começou a guardar o material na mochila, enquanto Sirius sentava-se na mesa com os pés apoiados nas cadeiras escolares.


 Ele acompanhou Marlene sair da sala com o olhar – ela ria de alguma coisa que Lílian falava com gestos rápidos e engraçados. Ela olhou rapidamente para ele antes de sair pela porta, e foi aí que ele viu James, encostado na parede perto da saída, encarando-o. Sirius segurou o olhar dele por um instante, mas ambos desviaram quando Remo cutucou o primeiro para saírem da sala de aula.


 - Hey, você acha – Sirius começou a falar quando já estavam indo para o próximo tempo nas estufas – acha que James algum dia vai voltar a falar comigo?


 Remo fez uma careta para ele, como se estranhasse o que ele havia dito, e ajeitou a mochila nos ombros folgadamente.


 - Bem, não acho que deva se preocupar com isso agora – ele respondeu – se isso está mesmo na sua mente e a gente vai achar o desgraçado, então vai acabar logo e tudo vai voltar a ser como era antes.


 - É o que eu espero.


 O outro suspirou pesadamente, passando as mãos pelos cabelos.


 - Pedro começou a andar com um grupo estúpido de secundanistas da Sonserina depois que você e James começaram a brigar como cães. Ele até se divertiu no começo... com os gritos e os socos... mas sabe, chegou uma hora que perdeu a graça quando ele percebeu que vocês falavam sério. Foi deprimente.


 Sirius bagunçou os próprios cabelos e não disse nada.


 - Mas, se quer saber – Remo continuou – eu não acho que essa briga duraria para sempre... Há muito mais dos Marotos em nós do que podemos imaginar. A gente se uniria de novo qualquer dia desses.


 - Como se nada tivesse acontecido – emendou Sirius, pensativo.


 - Ou como se tudo tivesse acontecido.


 


---


 


Quatro dias passaram rápido enquanto Sirius e Remo tentavam pensar em algum lugar possível para o tal do gênio estar. Sirius se sentia estranhamente cansado, e seus músculos doíam como se tivesse acabado de treinar após um longo tempo sem o fazer. Isso era terrível, porque a noite era o único tempo livre que tinham para sair perambulando pela propriedade do castelo, e ele simplesmente capotava na cama às sete e meia. A última vez que saíra à noite havia tentado falar com a Mulher-Gorda, que à primeira menção de criaturas não-humanas arregalou os olhos e fingiu que não o estava ouvindo. Sirius teve que berrar a senha para que pelo menos ela girasse o seu quadro e ele voltasse derrotado ao salão comunal. Os outros quadros também não foram mais amigáveis e uns até sumiam pela moldura quando ele chegava à palavra “gênio”. Aquilo não estava ajudando.


 Não sonhava mais. Odiava isso. Não podia tê-la nem mesmo assim. Às vezes ele sorria ou piscava para Marlene, na aula, ou quando se cruzavam em algum corredor, e ela simplesmente acenava com a cabeça, simpática. Às vezes ele tinha a ligeira impressão de sentir o olhar intenso dela sobre si, mas quando tentava capturá-lo, os olhos dela já estavam longe. Às vezes também ele tentava conversar com ela, mas Lene se mantinha monossilábica e simpática até encontrar a primeira oportunidade de fugir, e isso não era muito difícil com James e Lily a todo instante em seu encalço. Ele ficava tentado, ao observar o jeito que ela andava, a segurá-la pelo braço e prensá-la na parede, e de alguma maneira fazê-la entender de uma vez por todas que ele não suportava aquela distância. Aquilo era ao mesmo tempo tão estranho para ele que julgava ser melhor aceitar: o que sentia por aquela garota, pela primeira vez na vida, era verdadeiro.


 Ela tinha um poder estranho sobre ele. Quando passava, ele podia jurar que havia algo o chamando para seguir, e, na maioria das vezes, ele não segurava o impulso de fazer isso. Uma vez, quando a viu sozinha, voltando para o salão comunal, ele foi atrás dela, distraidamente, porque aquele era o seu destino também. Marlene parou e cruzou os braços, olhando para ele de uma maneira divertida. Sirius olhou para ela com um sorriso enorme de todos os dentes.


 - Sirius Black. – ela falou apreciando as palavras – Por acaso está me seguindo?


 Ele ergueu as duas sobrancelhas, parando de andar na frente dela.


 - Não acha uma incrível coincidência estarmos indo para o salão comunal da Grifinória, já que nós dois pertencemos àquela Casa?


 Ela corou furiosamente, e jogou os cabelos para trás, tornando a andar.


 - Mas se quer saber – ele deu um passo largo para ficar ao lado dela – Eu tenho... Freqüentado os mesmos lugares que você, sim.


 - Era disso que eu estava falando, Black – ela ainda estava corada – Aliás, porque está fazendo isso?


 - Pra ver você.


 Marlene parou de andar, porque haviam chegado ao quadro da Mulher-Gorda. Ela ergueu os olhos escuros para ele, avaliando a sua expressão. Sirius não evitou que seus olhos sondassem o resto do rosto dela, principalmente os lábios, e sentiu uma vontade tremenda de segurá-la pelo braço e puxá-la para um beijo.


 - É melhor você ficar aqui fora alguns minutos – Marlene falou, sem responder ao que ele tinha dito – Não acho que James vá achar uma boa idéia a gente voltar juntos.


 - Eu quero que o James se dane.


 - Mas eu não. – Lene respondeu depressa – Pode fazer isso por mim?


 Sim, ela estava jogando pesado. Claro que ele podia fazer qualquer coisa por ela. Segurando aquele pensamento deprimente, depois que ela sumiu pelo retrato, ele jogou os livros que estava carregando no corredor e, com raiva de si mesmo, foi para a cozinha procurar qualquer coisa para fazer e não pensar em nada. Principalmente não pensar nela, mas isso pareceu bem difícil. Praticamente impossível.


 


---


 


 Era manhã de sábado, e Sirius estava sentado sob o sol, em um banco no pátio, sozinho. Uma brisa gelada lambia seu rosto e suas bochechas coravam. Ele não conseguia manter os olhos em um lugar fixo, e muito menos prestar atenção nas pessoas. Só conseguia pensar no maldito rolo em que fora se meter, e estranhamente não chegava a nenhuma conclusão.


 - Sirius Black?


 Era uma vozinha um pouco fina de mulher, logo ao seu lado. Sirius demorou um pouco para se virar, pensando em não fazer isso. Estava mesmo se lixando para o que os outros pensassem dele agora.


 - Black?


 - Sim? – perguntou com a voz rouca.


 - Er, pediram pra eu te entregar isso.


 Sirius se virou e deparou com uma garota loira e pequena. Devia estar no quarto ano, e era da Corvinal. Ela tinha olhos grandes e escuros, e o olhava com curiosidade. Ela lhe entregou um pedacinho de papel grosso e dobrado em duas partes, que ele abriu:


“S.! Me desculpe pela semana passada. Eu adoraria te encontrar esta noite, às sete, no corredor do primeiro andar. Beijos, Ma.”


 Sentiu-se levemente mais eufórico. Ma? Marlene? O que era aquilo, um código?


 - Quem mandou? – ele perguntou ao notar que a menina ainda continuava ali.


 - Ah, ela pediu pra não dizer, quero dizer, ela disse que você já saberia quem era e tal, então é melhor eu não dizer. Você não sabe quem é ou... ?


 - Não, não. Sei perfeitamente. Obrigada.


 Ele não se preocupou em esclarecer que diabos uma garotinha da corvinal fazia com um bilhete da Marlene, mas de qualquer maneira, ela conhecia muitas meninas naquele castelo.


 Sirius ficou eufórico até o instante em que foi para o corredor. Ele mostrou o bilhete para Remo umas trezentas vezes, dobrou e desdobrou, e até pensou em enfeitiçá-lo para saber quem realmente o havia escrito; mas bem, pra que acabar com a mágica daquilo?





n.a: oi gente! Hum, aí está, e depois que eu reli e reli, acho que esse vai ser o capítulo que mais vai esclarecer as coisas pro Sirius. Eu sei, tadinho. hahaha o próximo vai ser um pouquinho revoltante, eu acho :x preparem-se que vem personagem novo! Ah, e MUITÍSSIMO OBRIGADA por todos os comentários, gente. Adoro gente que se expressa *--* eu falo: continuem se expressando! Haha beijo beijo lindos,
Nah Black.

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