Capitulo 1



As ondas sacudiam a escuna de um lado a outro, como se a embalassem. Mas o forte movimento das águas revoltas em nada lembrava um acalanto... Ao contrário: era assustador.


 


Tentando a custo manter o equilíbrio, Gina Weasley apertava com força a borda da escuna, numa evidente demonstração de nervosismo.


 


De certa forma, o mar sempre fizera parte de sua vida... Desde o ponto de vista puramente sensorial e sentimental, ela amava e temia aquele gigante misterioso. Mas Gina possuía, também, um embasamento histórico e científico, que lhe valera uma boa posição no Museu de História Marítima de Portland.


 


Ela passara os últimos onze anos dando seqüência às pesquisas do pai, o saudoso Arthur Weasley, que morrera numa expedição marítima.


 


Cerca de duas semanas atrás, Gina concluíra o trabalho. Agora, já sabia o que esperar do oceano... Que era a um só tempo fascinante e assustador.


 


Observando atentamente as ondas, em seu eterno movimento, ela pensou nos muitos segredos que o gigantesco mar guardava, nas profundezas...


 


— Isto a ajudará a se sentir segura, durante a passagem para a outra embarcação — disse Pappy, o capitão da escuna onde Gina se encontrava. E sorriu, para encorajá-la: — Desejo-lhe sorte, srta. Weasley.


 


— Obrigada — Gina agradeceu, tentando sorrir de volta. Mas estava tensa demais para fazê-lo. Como se pensasse em voz alta, comentou: — Eu apenas gostaria de saber por que, de repente, as águas se tornaram tão agitadas. Ainda há pouco, tudo parecia calmo...


 


 


— Tem razão, senhorita — o capitão Pappy concordou. — A superfície estava como um espelho, há uma questão de minutos... Vá se entender os caprichos do mar!


 


Gina respondeu com um gesto afirmativo de cabeça.


 


Após alguns momentos de silêncio, Pappy voltou a falar:


 


— Nesses muitos anos de vida como capitão, recebi uma lição preciosa: quanto mais se aprende sobre o mar, mais se tem a aprender... Pois ele guarda infinitos mistérios. E este, que acabamos de presenciar, é um claro exemplo.


 


— Concordo plenamente, capitão Pappy — Gina declarou, com um profundo suspiro. — Essa súbita agitação das águas é simplesmente inexplicável.


 


 


Gina não se atreveu a expressar outra opinião, a respeito daquele mistério... Pois temia que o capitão Pappy a julgasse louca. Mas tinha certeza de que as ondas haviam se encrespado no exato instante em que o Xmarks Explorer, um barco de pesquisas e salvamento, havia aparecido na linha do horizonte.


 


Ninguém, entre os tripulantes da escuna de Pappy, saberia explicar aquele fenômeno. Nem mesmo o experiente capitão. Mas Gina tinha um palpite, a respeito: o mar estava raivoso... com ela.


 


Afinal, Gina sabia que não deveria estar ali, em pleno oceano, pronta para embarcar no Xmarks Explorer. Pois, antes de morrer, o pai exigira que ela prometesse que, dali por diante, ficaria longe das águas...


 


Gina cedera, embora não compreendesse o motivo daquele estranho pedido. Afinal, Arthur Weasley sempre amara o mar... E ela também.


 


"Se ao menos papai estivesse aqui, para me fazer companhia nessa aventura arriscada", Gina pensou, com uma pontada de dor no coração marcado pela saudade.


 


Mas Arthur Weasley já não pertencia a esse mundo. Dedicara sua vida ao mar e nele morrera. Gina resolvera dar seqüência ao trabalho que ele deixara inacabado: a busca do Isabella.


 


Estudar os relatórios deixados pelo pai, pesquisar livros, mapas e velhos jornais no Museu de História Marítima de Portland, tirar conclusões... Todas essas atividades haviam ajudado Gina a suportar o sofrimento pela perda de Arthur Weasley.


 


Agora, passados onze anos de intensas pesquisas, ela poderia se dedicar à segunda etapa do trabalho, ou melhor, à parte prática: uma expedição pelo mar... A primeira que faria sozinha.


 


Durante muitos anos, o sonho de Arthur Weasley fora encontrar o Isabella, um navio pirata que naufragara cerca de três séculos atrás.


 


Seu pai estudara exaustivamente a história do Isabella, mas morrera sem realizar seu sonho.


 


Através das pesquisas que fizera após a morte de Arthur, Gina descobrira que ele passara anos procurando o Isabella no local errado. Um erro de cálculo, no início das investigações, resultara em buscas infrutíferas, além de um grande dispêndio de dinheiro e tempo.


 


— Está pronta, srta. Weasley? — perguntou o capitão Pappy, interrompendo-lhe as divagações.


 


Gina acenou afirmativamente. Mas, no fundo, sentia-se ainda mais assustada.


 


O Xmarks Explorer estava, agora, a cerca de dois metros de distância da escuna onde ela se encontrava. Sob as ordens do capitão Pappy, a tripulação estendeu uma prancha, ligando as duas embarcações.


 


Gina contemplou, com assombro, a prancha por onde deveria passar, em poucos instantes. Só assim poderia embarcar no Xmarks Explorer, para dar seqüência a sua expedição.


 


Entretanto, aquele artefato de madeira e corda parecia tão frágil... Além do mais, o mar continuava revolto. Ondas se erguiam, ameaçadoras. Suas cristas de espuma se espalhavam no ar, no momento em que se chocavam contra as embarcações.


 


Gina olhou mais uma vez para a prancha, que oscilava perigosamente sobre as águas do oceano. Parecia impossível manter o equilíbrio naquela ponte improvisada, segurando-se apenas nos corrimãos de corda que a ladeavam.


 


Um calafrio percorreu a espinha de Gina. Quantas vezes ela não lera, nos livros, uma cena parecida com aquela? Muitos personagens de relatos de aventuras marítimas já haviam atravessado pranchas menos seguras, sobre mares bem mais perigosos...


 


Mas a ficção era uma coisa e, a realidade, outra... Muito diferente.


 


Gina Weasley adorava pesquisar e ler sobre o mar. Mas estar ali, sobre as águas revoltas, prestes a passar de uma embarcação para outra, tendo como única via uma prancha de segurança duvidosa... Era uma experiência que, se pudesse, ela dispensaria.


 


— Pode não parecer, srta. Weasley, mas a prancha é absolutamente segura — disse o capitão Pappy, como se lhe adivinhasse os temores.


 


Gina assentiu, com um profundo suspiro.


 


"Pense no quanto será importante encontrar o Isabella" — ela se ordenou.


 


O Isabella não lhe daria apenas a satisfação de realizar o sonho de Arthur Weasley, ou de se deparar com riquezas de valor inestimável. Mais ainda: ele a ajudaria a descobrir as respostas sobre seu próprio passado... Isso seria, sem sombra de dúvida, o maior tesouro que Gina poderia encontrar.


 


— Não se preocupe com a bagagem — disse o capitão Pappy, com um sorriso encorajador. — Eu mesmo cuidarei disso.


 


— Obrigada — Gina agradeceu, elevando a voz, para ser ouvida por sobre o barulho das ondas.


 


Quanto mais rápido transpusesse aquela prancha e embarcasse no Xmarks Explorer, mais rápido sua expedição começaria, ela pensou.


 


Era nesse ponto que devia se concentrar, para vencer o medo.


 


— Mantenha a coluna ereta, mas não tensa — o capitão Pappy recomendou, num tom quase paternal. — Agora respire fundo e dê o primeiro passo...


 


Gina tentou obedecer. Ergueu o queixo, tomou fôlego... Mas não conseguiu ir adiante.


 


— É verdade que o mar está encrespado... — o capitão Pappy tentava tranqüilizá-la — mas não a ponto de ameaçar as embarcações. Se houvesse algum risco realmente sério, eu não a deixaria andar por essa prancha. Acredite nisso, por favor.


 


— Oh, eu acredito! — Gina declarou, tentando demonstrar uma calma que estava longe de possuir.


 


Estendendo-lhe a mão, num gesto de despedida que era também uma demonstração de solidariedade, o capitão Pappy disse:


 


— Agora vá, srta. Weasley. E ouça um último conselho: faça o que fizer, não olhe para baixo.


 


— Como? — Gina indagou, arregalando os olhos verde-acinzentados.


 


— Não olhe para baixo... — o capitão repetiu — em nenhuma hipótese. Concentre-se apenas no ponto onde deve chegar. — E apontou o Xmarks Explorer.


 


Gina olhou na direção indicada e só então percebeu que um grupo de homens a observava. Era a tripulação do Xmarks Explorer. Um dos homens, que devia ser o capitão, estava mais à frente, debruçado na amurada do barco, junto à prancha.


 


Como era mesmo o nome dele?, Gina se perguntou.


 


Um funcionário do Museu de História Marítima de Portland havia lhe contado... Só que ela não conseguia se lembrar, agora.


 


Bem, isso não importava, Gina pensou, fitando-o com atenção.


 


O homem tinha uma postura altiva, quase desafiadora. Usava uma boina azul, camisa colante listrada de azul e branco, e calça preta. Tinha os cabelos negros, nos quais o vento parecia brincar, e um rosto de traços perfeitos.


 


Tratava-se de um belo homem, Gina constatou, fazendo-lhe um aceno.


 


O homem não respondeu ao gesto. Mas continuou a observá-la fixamente, como se a devassasse.


 


"Ele já percebeu que estou com medo", Gina concluiu. "E isso é péssimo."


 


— Vá, srta. Weasley. — O capitão Pappy tocou-lhe o ombro, procurando incentivá-la.


 


Gina mordeu o lábio inferior, numa clara demonstração de nervosismo. Sentia-se no centro das atenções de um palco bastante incômodo... Pois os olhos dos tripulantes de ambas as embarcações estavam sobre ela.


 


Incapaz de suportar aquele constrangimento por mais um minuto sequer, Gina deu o primeiro passo.


"Não olhe para baixo", ela se ordenou, repetindo em pensamento as palavras do capitão Pappy.


 


Esse era o tipo de conselho que nenhum livro sobre o mar trazia. Entretanto, a dica era bastante preciosa. E Gina pretendia segui-la à risca.


 


A prancha oscilava perigosamente. O vento parecia soprar ainda mais forte, açoitando os cabelos ruivos de Gina, desfazendo-lhe o coque, jogando-lhe no rosto as mechas avermelhadas... Que Gina nem sequer pensava em afastar, pois suas mãos estavam muito ocupadas, apertando com força os corrimãos de corda da prancha.


 


"Preciso dar o segundo passo", ela pensou, à beira do pânico.


 


As pernas, porém, pareciam ter vontade própria... E recusavam-se a obedecê-la.


 


— Vamos lá, Gina Weasley — ela disse, baixinho, decidida a não ceder ao medo.


 


Se falhasse naquele momento, seus últimos onze anos de estudo iriam por água abaixo. Em nome do amor pelo pai e do sonho de desvendar os segredos do passado, ela precisava se vencer.


 


Esse pensamento foi como um sopro de alento no íntimo de Gina. Tomando fôlego, ela conseguiu avançar um pouco mais.


 


Uma onda forte quebrou bem abaixo da prancha, jogando espuma para o alto, encharcando Gina da cabeça aos pés e quase fazendo-a perder o equilíbrio.


 


Gina, porém, continuava a manter as mãos firmes sobre os corrimãos. E só por isso não caiu.


 


Devagar, ela continuou avançando. Estava no meio da prancha, agora. Já havia transposto metade daquele curto, mas perigoso, trajeto. Dentro de mais alguns minutos estaria a salvo, a bordo do Xmarks Explorer.


 


Entretanto, a expressão a salvo não parecia muito adequada para definir sua situação, a partir do momento em que ela pisasse no Xmarks Explorer... Pois o capitão da embarcação não lhe inspirava confiança.


 


Não que Gina duvidasse de sua competência, para dirigir o barco. Na verdade, a sequer o olhara de perto, ainda. Portanto, esse temor talvez não tivesse sensação de que aquele homem representava perigo era apenas sensorial. Pura intuição, e não raciocínio. Gina pensou, tentando se tranqüilizar.


 


Além do mais, não estava num momento propício a cogitações... Já que precisava de toda as suas energias, para dominar o pânico.


 


O capitão do Xmarks Explorer continuava a olhá-la.


 


A expressão severa, os cabelos negros que escapavam da boina, o rosto queimado pelo sol, a camisa listrada, o porte altivo... Com tudo isso, não era difícil imaginá-lo como um pirata dos velhos tempos, singrando os mares em busca de tesouros, seduzindo donzelas, espalhando fascínio ou horror por onde passasse.


 


Gina riu, intimamente, diante desse pensamento. A imaginação a estava levando longe demais. Se havia alguma semelhança entre o capitão do Xmarks Explorer e um pirata do passado, era o perigo que ambos representavam. E a palavra perigo, no caso daquele homem, nada tinha a ver com violência, saques ou devastações...


 


Na verdade, Gina nem saberia explicar o porquê daquela sensação. Mas sua intuição a avisava para se manter alerta.


 


— Cuidado! — o capitão Pappy gritou, uma fração de segundo antes que uma onda gigantesca se erguesse, espalhando água para todos os lados.


 


— Oh, não! — Foi tudo o que Gina pôde dizer, antes de se abaixar, grudada aos corrimãos da prancha.


 


Por um triz, ela não caiu no mar. Mas engoliu muita água e tossiu por vezes seguidas, antes de recobrar o fôlego e o auto-controle.


 


— Tente ser mais rápida, srta. Weasley — o capitão Pappy recomendou, erguendo a voz sobre o barulho das águas e do vento. — Falta pouco, agora.


 


— Já basta — Gina decidiu. Estava farta daquela situação. Se continuasse assim, acabaria sofrendo uma crise nervosa.


 


Tomando fôlego, e recorrendo às últimas reservas de força que lhe restavam, caminhou rapidamente pela prancha e chegou ao Xmarks Explorer.


 


— Assim é que se faz, moça — disse o capitão, com um sorriso um tanto irônico no rosto. — Pensei que fosse passar a vida inteira nessa prancha.


 


Antes que Gina pudesse retrucar, ele estendeu-lhe a mão e convidou:


 


— Venha.


 


— Posso fazer isso sozinha, obrigada — ela declarou, num tom cheio de orgulho. Mas ao tentar subir na amurada do barco, quase perdeu o equilíbrio.


 


Num gesto rápido e preciso, o capitão a ergueu pela cintura, como se ela não pesasse mais que uma pluma. No instante seguinte, colocava-a sobre o convés.


 


A tripulação, que assistia à cena, bateu palmas. Alguns assoviaram.


 


Encharcada da cabeça aos pés, ferida em seu amor-próprio, Gina baixou os olhos.


 


— Boa sorte, srta. Weasley! — o capitão Pappy gritou, enquanto seus homens começavam a recolher a prancha.


 


— Obrigada! — Gina agradeceu, no mesmo tom, tentando disfarçar o terrível constrangimento que sentia.


 


— Adeus, Harry Potter! — o capitão Pappy acenou para o capitão do Xmarks Explorer, que respondeu com um aceno efusivo e votos de boa viagem.


 


Então era esse o nome daquele homem, Gina pensou. Bem que um funcionário do Museu de História Marítima de Portland havia lhe falado...


 


— Puxa, já ia me esquecendo da bagagem da srta. Weasley! — o capitão Pappy exclamou. Em seguida levantou a valise de Gina acima da cabeça e arremessou-a no ar.


 


O capitão do Xmarks Explorer apanhou-a facilmente e colocou-a ao lado de Gina.


 


O barco do capitão Pappy afastou-se rapidamente.


 


Gina experimentou uma sensação de abandono, ao ver-se sozinha, no Xmarks Explorer, na companhia de homens estranhos.


 


Mas talvez não fosse preciso ficar preocupada. Afinal, se a direção do Museu de História Marítima de Portland havia contratado os trabalhos do capitão Harry, era porque ele devia ser competente e de confiança... Ao menos Gina assim esperava.


 


— Você é louca?


 


A pergunta, feita por Harry Potter num tom acusatório, pegou Gina de surpresa.


 


— O que disse? — ela indagou, certa de que seus ouvidos a haviam enganado.


 


— Onde já se viu andar numa prancha com a cabeça nas nuvens? — O homem a fitava com ar de reprovação, como se ela fosse uma criança flagrada em meio a uma travessura. — O que você pretendia, afinal? Se matar?


 


— Eu estava prestando muita atenção ao que fazia — Gina se defendeu, ofendida.


 


— Oh, sim — ele retrucou, sarcástico. — Você estava tão atenta, que se o capitão Pappy não a avisasse da aproximação daquela onda, teria caído ao mar e se afogado.


 


— Isso não é verdade — Gina protestou, surpreendendo-se com o tremor da própria voz. Estava encharcada, morta de frio e de vergonha.


 


— Bem, o mínimo que você pode fazer, em vez de ficar teimando como uma menina mimada, é me agradecer — o capitão Harry Potter sentenciou, com ar superior. — Agora diga obrigado e vá trocar de roupa, antes que pegue uma pneumonia.


 


— E por que eu o agradeceria, se você está se portando de maneira lamentável? — ela o desafiou.


 


— Porque salvei sua vida — ele sentenciou, com um sorriso provocante. — Acha que isso é pouco?


 


— Não pedi para ser salva — Gina respondeu, estreitando os olhos verde-acinzentados, como se quisesse fuzilá-lo.


 


O homem fitou-a, a princípio surpreso. Depois riu largamente, inclinando a cabeça para trás. Alguns homens da tripulação o imitaram.


 


— Vejo que a gatinha tem unhas — ele comentou, ao fim de alguns instantes.


 


— Sim. — Gina continuava a desafiá-lo. — É bom que você saiba que não sou tão frágil quanto pareço.


 


— Nossa, estou morrendo de medo — um dos tripulantes gracejou. — Por que não vem me arranhar um pouco, minha gatinha? Eu adoraria...


 


— Controle-se, Fitz — o capitão ordenou, sem se voltar. — Não vamos baixar o nível, está bem?


— Certo, capitão — o homem assentiu, num tom respeitoso. — Desculpe-me.


 


"Um ponto a favor de Harry Potter", Gina pensou. "Ao menos ele acaba de provar que sabe dirigir sua tripulação. Quanto a boas maneiras... Bem isso eu poderei lhe ensinar. E creio que vou começar agora mesmo."


 


Encarando-o com firmeza, Gina propôs:


 


— Acho que devemos começar tudo de novo, capitão...


 


— Como assim? — ele indagou, desconfiado.


 


— Bem, eu nem sequer me apresentei. — E ela estendeu a mão, num gesto que demonstrava boa vontade. — Sou Gina Weasley. É um prazer conhecê-lo.


 


— Harry Potter — ele retribuiu o cumprimento, um tanto desconcertado pela súbita mudança de Ginaa.


 


Disposta a manter um clima agradável entre ambos, ela comentou:


 


— Parece que a primeira impressão que tivemos um do outro não foi muito boa. Mas creio que poderemos mudar esse quadro, se...


 


— Isso não importa — ele aparteou.


 


— Oh, importa, sim — ela o corrigiu, com veemência. — Afinal, vamos trabalhar juntos.


 


— Nada disso, Gina Waltson.


 


— Meu sobrenome é Weasley, capitão — Gina frisou.


 


— Seja lá como for — ele retrucou, um tanto impaciente. — Agora, deixe-me explicar uma coisa, Gina Weasley... — Aproximando o rosto do dela, Harry sentenciou, num tom cortante: — O Museu de História Marítima de Portland tem plena confiança em minha competência profissional.


 


— Lógico que sim, capitão. Caso contrário, não o teria contratado para essa expedição.


 


— Bem, ao menos nesse ponto, ambos concordamos. — Ele fitou-a com descaso. — Mas não se esqueça de que sua presença, em meu barco, é unicamente decorativa.


 


Gina Weasley arregalou os olhos verde-acinzentados, numa expressão de susto.


 


— O que está dizendo?


 


— Exatamente o que você ouviu, moça — Harry respondeu, imperturbável. — O Museu de História Marítima de Portland a enviou apenas para dar um caráter oficial à expedição. E também para contentar os patrocinadores. Você sabe como eles são... Sempre querendo uma garantia dos órgãos públicos, para desembolsar algum dinheiro. Bem, não os condeno. Mas quero avisá-la, desde já, que não tolerarei interferências em meu trabalho.


 


— Creio que está havendo um mal-entendido, capitão Harry Potter — Gina afirmou, quase perdendo o controle.


 


— Não há mal-entendido algum. Para mim, as coisas estão muito claras.


 


— Engano seu, capitão — E Gina esclareceu: — Vim para trabalhar junto com você. E não para fazer turismo, em seu barco.


 


Como resposta, ele apenas sorriu, deixando bem claro sua incredulidade.


 


Gina perdeu o controle:


 


— Ora, tenha a santa paciência! Eu jamais gastaria meu tempo, fazendo apenas um papel figurativo nessa expedição.


 


— Sinto muito, mas é esta, exatamente, a função que lhe cabe. E se não estiver satisfeita, milady, pode abandonar o barco. — O capitão recorria de novo à ironia, para provocá-la.


 


— Ora, não seja grosseiro. Será que todo esse tempo, no mar, não lhe deixou espaço para aprender boas maneiras?


 


Alguns homens da tripulação riram. Mas Harry pareceu não se incomodar.


 


— Precisamos ter uma conversa séria — Gina insistiu. E acrescentou, rapidamente: — Em particular.


 


— Só depois que você trocar de roupa — ele retrucou.


 


— Recuso-me a obedecer suas ordens — Gina declarou. — Afinal, não pertenço a sua tripulação.


 


— Em seu lugar, eu não protestaria... — Alejandro fitou-a de cima a baixo, com uma expressão insinuante.


 


Intrigada, Gina olhou para si. E um forte rubor subiu-lhe às faces.


 


Em geral, Gina ficava furiosa consigo mesma, quando enrubescia. Mas, naquela circunstância, tinha razões de sobra para tanto... Já que o conjunto de bermuda e camiseta branca que usava estava colado a seu corpo, revelando-lhe as formas, em detalhes.


 


Os bicos dos seios, rígidos devido ao frio e à água, pareciam muito nítidos, mesmo sob o tecido da camiseta e do sutiã.


 


— Oh... — Gina murmurou, cobrindo-se como podia. — Mostre-me meu alojamento, capitão — pediu, derrotada. — Trocarei de roupa e depois o procurarei, para continuarmos nossa conversa.


 


— Ah, enfim você resolve tomar uma atitude sensata — ele comentou, indiferente a seu constrangimento. — Estava ficando difícil conter os rapazes...


 


— O quê?


 


Ante a expressão horrorizada de Gina, ele esclareceu:


 


— Bem, é claro que nenhum deles se atreveria a tomar uma atitude inconveniente, com você... Mas um ou outro poderia fazer piadas, ou gracejos um tanto... digamos... chocantes para seus ouvidos delicados.


 


— Poupe-me de seu lamentável senso de humor, capitão — Gina pediu, lutando para não ceder às lágrimas, tamanha era a vergonha que sentia.


 


— Certo, milady. Você é quem manda. — Harry pegou a valise de Gina e, voltando-se para a tripulação, ordenou: — Abram espaço para a moça, rapazes.


 


Gina corou ainda mais. Já não bastava aquela situação embaraçosa e ela ainda teria de passar no meio daquele grupo... Era demais.


 


Como se adivinhasse  os pensamentos, Harry avisou à tripulação:


 


— Não quero ouvir nenhuma piada, certo?


 


— Tudo bem, capitão — disse um rapaz robusto e sorridente. — Se alguém quiser bancar o engraçadinho, receberá trezentas chicotadas, não é mesmo?


 


— Exatamente, Steve.


 


Gina voltou-se para Alejandro, com uma expressão aterradora:


 


— Você costuma chicotear os marinheiros desobedientes?


 


Harry não teve tempo de responder. Uma verdadeira explosão de gargalhadas brotou entre os membros da tripulação.


 


— É verdade, moça! — um rapaz alto e sardento exclamou. — Ontem mesmo o capitão enforcou o cozinheiro, só porque ele tinha posto sal demais num peixe ensopado.


 


— Isso, depois de castigá-lo com as trezentas chibatadas de praxe... — outro rapaz acrescentou. — Pobre homem!


 


— A esta hora, está sendo devorado pelos tubarões — Harry comentou, fazendo uma careta que lembrava um vilão de histórias infantis, para logo em seguida desatar a rir. Voltando-se para Gina, indagou: — Francamente, milady, em que mundo você vive? Não me diga que ainda acredita em histórias de piratas...


 


— Desculpe-me — Gina justificou-se, sentindo-se ainda mais constrangida. — Eu... por um momento... julguei que...


 


— Que eu fosse uma encarnação do velho Barba-Ruiva?


 


As palavras do capitão provocaram uma nova onda de risos, nos rapazes.


 


Baixando os olhos, Gina passou entre eles, seguida de perto por Harry.


 


— Por aqui... — ele indicou um corredor estreito. — Vou lhe mostrar sua cabine.


 


Gina assentiu com um gesto de cabeça. Enquanto se afastava, caminhando ao lado do capitão, ouviu os rapazes comentando:


 


— A moça não usa aliança... Nem no anular esquerdo, nem no direito.


 


— Quer dizer que não é comprometida...


 


— Se é, ou se não é, isso não significa empecilho para mim.


 


— É verdade, pessoal. O Fitz nunca ligou para o fato de uma mulher ser casada, ou não.


 


— Quanto a mim, sou mais respeitador. Não quero problemas com mulheres comprometidas.


 


— O Steve não quer problemas com os maridos, isso sim!


 


Novas gargalhadas soaram.


 


Com um profundo suspiro, Gina disse a si mesma que ensinaria aqueles homens a respeitá-la, no decorrer da expedição. Mas, naturalmente, isso não seria nada fácil.


 


 


 


Continua....


 


 


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