Motivos Emocionais

ADVERTENCIA: O CAPÍTULO A SEGUIR PODE CONTER ALGUMAS INSINUAÇÕES DE FATOS QUE NÃO CONDIZEM COM A CENSURA ESTABELECIDA. PARA MAIS DETALHES, FAVOR LER A N/A ABAIXO.

 

    N/A: Estamos de volta com o primeiro capítulo de 2012. Como já disse, que esse ano seja maravilhoso para todos, e que nos surpreenda (de maneira positiva, nada de fim do mundo). Mas o papo agora é sério.

     Eu sei que a N/A está no começo do cap agora, mas tem algo que eu preciso explicar. Há algumas cenas insinuando fatos que, se fossem mostrados de maneira explícita, caracterizariam um NC/14, no mínimo. Como essa fic é considerada livre e eu não quero problemas com os administradores, achei melhor avisar.

     A insinuação em questão é sobre Willian, e o que aconteceu em sua relação com Hermione que a deixou tão apavorada. A verdade que, quando eu primeiramente pensei nessa cena, não imaginei isso. Mas a idéia acabou vindo na minha mente, e vocês sabem, uma idéia tem um poder irritante. Fiquei em duvida por muito tempo sobre mudar ou não esse cap, daí o atraso na atualização. Acabei me decidindo por posta-lo do jeito original mas, para não parecer forçado, eu acho melhor explicar os meus motivos.

        O primeiro, mais óbvio, diz respeito unicamente ao enredo. Desde o início da fic, eu resolvi concentrar em Willian todas as características obscuras da raça humana, ou pelo menos a grande maioria delas. Porque é verdade que existem, sim, pessoas assim. Não carregam varinhas nem utilizam punhais envenenados, mas elas estão por aí. Médicos, advogados, engenheiros, administradores, enfim. E, psicologicamente, essas pessoas são o que Willian é. E desde o início eu assumi o compromisso do fazer meus personagens de maneira mais realista possível. Felizmente, essas pessoas ainda são a grande minoria. O que nos leva ao segundo motivo.

          A segunda razão é um pouco mais particular: um protesto, ou melhor dizendo, uma tentativa de protesto, contra esse crime abominável. Sinceramente, esse capítulo me incomoda um pouco por isso. Eu estou nadando no limite entre o protesto e a polemica, e isso me preocupa. Não tive a intenção de gerar controvérsias, muito menos ofender alguém. Mas é parte dessa história que eu criei, e psicologicamente falando, explica muitas das atitudes de Hermione. É isso. Espero sinceramente que tenha passado a imagem correta. São nesses momentos que eu sinto falta de uma beta.

          Não se iludam: a cena em si não é nem um pouco explícita, e talvez eu esteja fazendo tempestade em copo d’água com esse papo todo. Não sei. O fato é que eu gosto de me precaver, e não quero passar de maneira nenhuma a impressão errada.

          Há algumas outras coisas interessantes nesse capítulo, e o início de algo que os leitores vem me pedindo desde o cap 36. Eu vou esperar mais comentários dessa vez porque, acreditem, não há ninguém mais insegura do que eu nesse aspecto. E a opinião de vocês é muito importante.

   Giovanna de Paula               

Capítulo 46

 

   Ella foi deixada na frente dos grandes portões de Hogwarts pela carruagem de testrálios. Os via, é claro que os via. Desde sempre, na verdade. Não era de hoje que sua vida era marcada pelo sangue, pela dor, pelas lágrimas. Pelo suor. Perdera a mãe quando muito pequena, em um acidente. O pai padecera de um mal incurável duas décadas mais tarde. Jamais conhecera nenhum dos quatro avós.

     Apesar daquilo entristecê-la, pensava, também a tornara mais forte. Mais determinada. Forma nenhuma de morte podia ser considerada boa em nenhum aspecto – até porque se tal coisa acontecesse a pessoa em questão seria tremendamente egoísta. Ella não era assim, mas sabia que, apesar de algumas cicatrizes nem mesmo o tempo ser capaz de apagar, a presença dessas cicatrizes muitas vezes eram as primeiras portas para uma vida mais sábia.

      Menos impulsiva.

     A impulsividade sempre fora uma característica muito marcante nela, e desde cedo os mais velhos a alertaram que, cedo ou tarde, haveriam conseqüências. Felizes agora?, pensou, amargurada. Possuía dons excepcionais quando o assunto era magia, sim, mas jamais fora uma boa estrategista. Geralmente dava de cara com uma situação, sem ter sequer imaginado que ela poderia acontecer, e simplesmente deixava sua mente aguçada trabalhar a favor da solução mais rápida. Era um método pouco ortodoxo, e certamente não o que dizia a seus alunos quanto eventualmente era convidada a dar palestras. Mas nunca havia falhado.

      Até aquele dia.

      Respirou fundo, afastando seus devaneios da mente. Andrew era uma parte de seu passado grande demais para que pudesse ignorar – nem queria. Mas o que estava fazendo ali era mais importante. Harry Potter precisava de sua ajuda e, pombas, o que poderia ser mais importante que isso? Se o mundo tiver a perspectiva de se tornar um lugar melhor por algo que ela fez, então que seja. Aprendera a recolher os sentimentos em um canto obscuro de sua mente, ao longo dos anos como auror. Foco, foco, foco.

       Porem, havia um sentimento que Ella insistia em preservar. De alguma forma, talvez irracional, mas talvez nem tanto, ele sentia que sua missão ali não se resumia a transmitir conhecimentos. Esperava que, de alguma forma, quanto terminasse sua alma ficasse mais leve.

        Esperava que, de alguma forma, ela o vingasse.

       Passou a alça de sua mochila por seu braço e começou a caminhar pela trilha de pedra, em direção as grandes portas de carvalho que protegiam a fortaleza. Lembrava-se de como se sentira pequena quando as encarou pela primeira vez. Agora, uma mulher crescida e realizada, era irônico que ainda se sentisse da mesma forma.

        Uma figura vestida de preto a aguardava do lado de fora. Ella sorriu. Aquele sobretudo é mais eterno que Dumbledore, pensou. Seu coração, como de costume, acalmou-se pela presença de Jason. Apenas quando eles finalmente se juntaram em um abraço apertado que ela pode ver claramente o rosto do amigo. Sorria, mas as olheiras marcavam seu rosto com crueldade.

         - Aconteceu alguma coisa? – perguntou, preocupada.

         - Aconteceram várias coisas desde que eu falei com você, Ella. Mas vamos entrar, que eu vou lhe mostrar seus aposentos. A noite está muito fria, e já é tarde. – ele respondeu, com a voz em um tom calmo que lhe era característico, mas sem olhá-la diretamente nos olhos.

          Ella suspirou, as engrenagens de seu cérebro imediatamente começando a funcionar. Ia ser um diabo de uma noite muito comprida.

 

          Harry andou sem rumo por mais de uma hora, indo e voltando pelos mesmos corredores dezenas de vezes, afastando todos os detalhes, afastando qualquer coisa de sua mente. Nunca desejou tanto poder esvaziar o cérebro, privá-lo da emoção, daquela culpa que o estava corroendo. Seus dentes estavam cerrados, tensionado dolorosamente sua mandíbula, mas naquele momento qualquer tipo de dor era bem-vinda. Qualquer coisa que o afastasse do mundo infernal em que vivia naquele momento.

        Dobrou o corredor e deu de cara com as portas da ala hospitalar e, por um momento, ficou dividido entre continuar sua peregrinação amargurada ou adentrar no aposento, e procurar Hermione. Não é justo sobrecarregá-la com isso, Harry pensou. Ela já tem coisas demais na cabeça. Apesar de seu intimo precisar desesperadamente da amiga, ele sabia que não tinha o direito de atormentá-la. Por mais que as coisas houvessem mudado nos últimos tempos, e que de certa forma ela nunca tivesse explicado toda a situação para ele, Harry continuava a se preocupar com seu bem-estar. Sua recuperação era prioridade, e nada mais. Já era hora de aprender a lidar com seus sentimentos.

           O moreno continuou a encarar a porta de madeira distraidamente por alguns minutos, que poderia facilmente ser horas, até que ouviu passos um tanto apressados vindo pelo corredor a sua esquerda. Levantou o olhar e encontrou Madame Ponfrey. Ao vê-lo, a expressão da valha enfermeira pareceu relaxar, e ela suspirou de alívio.

           - Que bom que eu o encontrei, Harry – sussurrou ela. Já passava da meia-noite – Hermione acordou um pouco depois que você saiu. Eu sei que talvez eu não possa te pedir isso, à luz dos acontecimentos mais recentes, mas ela fica agitada em sua ausência, e isso não é bom para a recuperação. – a enfermeira tirou e um dos bolsos de seu jaleco uma pequena chave prateada. – Tome. É a chave daqui. Preciso ir até aos jardins colher raízes de mantícora que, como deve saber, só podem ser colhidas a essa hora desagradável. Fique com ela.

            Harry assentiu e Madame Ponfrey se foi, na mesma rapidez com que tinha chegado. Revirou a chave entre os dedos. Não contaria a ela. Simplesmente ficaria ao seu lado e a faria dormir, nada mais.

           Para sua surpresa, Hermione não estava deitada em seu leito de costume, e sim recostada em um pequeno sofá destinado à espera, contemplando a lua. Ela sorriu ao perceber sua presença. Harry tentou inutilmente sorrir de volta, mas tudo que conseguiu foi um ligeiro frisar de lábios. Com cuidado, sentou-se ao seu lado.

             - Desculpe ter feito você vir até aqui – justificou ela – É que eu acordei e você tinha ido, e bem... eu fiquei preocupada.

           - Não há problema nenhum. Não estou com sono. – disse. Até aquele ponto não fora preciso mentir.

            - O que aconteceu, que o fez sair tão de repente? – perguntou Hermione, franzindo as sobrancelhas.

           - Nada demais. Fui guardar minhas coisas no dormitório – respondeu, sem olhá-la nos olhos.

            - Você demorou muito – comentou ela. Harry podia sentir seu olhar perfurando sua nuca. Ela sempre sabia quanto havia algo errado. Sempre. Ele sentiu a ponta de seus dedos acariciarem sua cabeça com firmeza, escorregando por seu rosto até o queixo. Ela o fez olhá-la, e Harry teve a impressão de que ela podia ler sua alma. Sua expressão era doce, porém preocupada. – Harry...o que aconteceu?

              Harry engoliu em seco, angustiado. Tinha prometido a si mesmo não contar nada a ela. Mas agora Hermione segurava seu rosto entre as mãos, tão solícita, tão compreensiva. Ele segurou suas mãos com força, enterrando o nariz nelas e aspirando seu cheiro. Odiava-se pelo que estava prestes a fazer, mas o segredo iria matá-lo se não o fizesse.

             - Eles estão mortos – disse, simplesmente. Hermione prendeu a respiração, mas esperou que ele terminasse – Meus tios. Os mataram hoje a tarde. Nunca foram bons comigo, mas não mereciam. Se ao menos tivessem recusado, mandado esse bebê maldito para a adoção... É minha culpa, Mione. Minha culpa...

             Hermione o olhou com compaixão. Sentia o coração apertado por vê-lo daquela forma, sofrendo tanto... Sem pensar duas vezes, puxou sua cabeça para seu peito, abraçando-o o mais forte que seus ferimentos a permitiam, e afagando seus cabelos com ternura. Ela sentiu Harry começar a tremer com violência entre seus braços, ofegando. Com a cabeça recostada em seu ombro, Harry mordia os lábios a ponto de sangrarem. Finalmente, sem conseguir mais se conter, deixou as lágrimas amargas de remorso rolarem por seu rosto e morrerem na bata hospitalar que Hermione estava usando.

             - Não fale assim, Harry. Não é sua culpa, está me entendendo? – havia uma pontada de desespero em sua voz – Não é sua culpa!

            Hermione sacudia-os para frente e para trás, agoniada. Agoniada porque não era só a morte dos tios. Era a crueldade, a tragédia, a morte que parecia cercá-lo por todos os lados. Assassinato de inocentes a troco de nada, com a única finalidade de atormentar ainda mais a todos. E aquela culpa, aquela culpa que ela era capaz de ler em seus olhos. Ele realmente se achava responsável por aquilo, e por todas as outras tragédias antes dessa. Tomava para si, e só para si, todo o peso daquele fardo.  E ela não suportava vê-lo tão infeliz, ali, chorando como uma criança entre seus braços. Era demais para ele, era demais para qualquer um. E Hermione sabia que não havia absolutamente nada que pudesse fazer para apagar aquelas cicatrizes, e que aquela dor só tendia a piorar dali para frente. A impotência diante disso a consumia.  

             Harry respirou fundo, se controlando. De repente, todas as mágoas, preocupações e angústias haviam resolvido cair novamente em sua cabeça, e ele estava desprevenido. A morte dos tios, o ataque a Hermione, o sumiço de Snape, o esquema de Willian... haviam tantas, tantas coisas erradas em sua vida, tantos casos perdidos, que ele mal podia acreditar. A única coisa que, por ironia, não parecia fora de lugar era Hermione. Ela era ela mesma de novo, e Harry nunca se sentiu tão grato por ter a liberdade de simplesmente abaixar a cabeça e chorar em seu colo. Ela nunca o dissera a história completa, e isso que o impedira te aproximar-se dela novamente. Mas não mais.

            - Mione – ele chamou, levantando devagar a cabeça e apoiando sua testa na dela. Seus olhos estavam tristes, e era como se ela sentisse a mesma agonia que ele sentia. Apertou mais sua mão contra a dela. E preparou-se para abrir sua alma a ela. Quando falou, sua voz saiu um pouco esganiçada. – Eu tentei convencer a mim mesmo que eu ficaria bem. Que eu não precisava te contar. Mas eu cheguei a conclusão de que eu preciso. Essa não é a primeira tragédia no meu caminho, e nós dois sabemos que provavelmente não será a última – fez uma pausa, balançando a cabeça – Mas eu posso agüentar isso, Mione. Por mais que ás vezes me mate por dentro, eu preciso agüentar. Tem muitas coisas que dependem de mim, e eu jamais negaria minhas responsabilidades por puro capricho. E a única coisa que é capaz de me fazer desistir é você. Sua ausência. Porque com você eu não tenho que guardar minhas angustias dentro de mim. Esses anos todos, quem me fez levantar a cabeça novamente foi você. Então, Mione, eu quero que você saiba que eu não dou a mínima para o que aconteceu entre você e o Willian. Se você diz que foi forçada, e que não tinha outra opção, eu acredito. E eu vou esperar para que, no momento certo, você me conte o que houve, porque eu vejo que há algo aí que te machuca. E eu vou dar o melhor de mim para te fazer sentir melhor, eu juro. Eu te perdôo, minha pequena, porque eu confio em você.  E eu preciso de você, Mione. Não posso fazer isso sozinho.

               Os olhos de Hermione estavam cheios de lágrimas. Sem dizer uma palavra, ela levantou-se e foi até a mesinha de cabeceira ao lado de sua cama. De uma das gavetas, retirou um frasco selado por magia. Voltou a ele e ajoelhou-se na sua frente, ignorando a pontada de dor de seu ferimento. Tomou suas mãos nas suas e depositou o frasquinho. Olhando-o melhor, Harry pode ver que era uma lembrança. Ela o mirou fundo nos olhos, e começou a falar:

             - Essa lembrança é o primeiro motivo. Quando eu recebi a carta, eu não sabia do que se tratava. Então fui procurá-lo, quando voltamos a Hogwarts. Tudo que eu falei até agora era verdade: aqui, para você, ou no gabinete. Mas foram essas palavras que me convenceram, Harry, que não era apenas uma vaga ameaça. Acredite, eu tenho nojo de mim mesma por ter cedido. Mas ele é muito mais cruel do que parece. Ele é estrategista, sádico e muito, muito poderoso. Você tem que entender que Willian me deu uma escolha impossível, Harry. E eu simplesmente parei de me preocupar comigo, porque eu sabia que ele realmente iria te matar se eu não cedesse. Iria matar a todos. – Hermione fungou, começando a chorar – Eu não podia arriscar te perder, Harry. Nem que custasse a minha vida, eu... eu simplesmente não podia.

             Harry a abraçou com força, beijando repetidamente sua nuca. Ele podia ver o quão desolada Hermione estava por ter feito o que fez, mas ele sabia que havia sido a melhor opção, se ela assim dissera. Não gostava nem um pouco da idéia dela se sacrificar por ele, mas agora tudo aquilo era passado. E não havia nada que ele desejasse mais do que seguir em frente.

           - Não vou ver essa lembrança, Hermione. Não me interessa. Eu confio em você plenamente. Não preciso de nenhuma prova para saber que você está falando a verdade.

          Ela a olhou com gratidão, e Harry a fez sentar novamente ao seu lado. Depositou o frasco entre os dois, brilhante naquela noite escura. Com delicadeza, enxugou uma a uma suas lágrimas. Ela permaneceu quieta por todo o tempo, mirando o chão. Harry levantou seu queixo e disse:

           - O que te incomoda tanto, minha querida? O que foi que ele fez com você?

         Seu rosto se contorceu em uma expressão de desespero e ela voltou a chorar alto. Por alguns minutos, Harry apenas assistiu a amiga soluçar, com ambas as mãos na frente da boca, como se uma imensa tragédia estivesse em curso em sua mente. Hermione tinha aquela reação frente a Willian Kenbril desde aquela noite, e aquilo o preocupava. Mas, como tinha prometido, esperou ate ela se sentir segura para falar.

           - Na mesma noite em que voltamos, depois que ele fez todas aquelas ameaças, ele me levou a força para as masmorras. ”Vou te provar como você é minha”, ele disse. Ele me prendeu ao chão. – disse ela devagar, sem olhar para ele. Harry pressentiu o rumo que a história tomaria, e não gostou nada. Por puro impulso, segurou suas mãos novamente, com força. – Ele....começou a me beijar, a me... a me tocar – sua expressão agora era de total desespero – E me fez tirar a roupa. Ele fez tudo que quis, mais vezes do que eu me atrevi a contar.

          Harry trincou os dentes com força o suficiente para quebrá-los. Sentiu seu poder ondular perigosamente dentro dele, e por um instante ele fechou os olhos. Seu ódio por Willian transpassava qualquer entendimento. Pela primeira vez em sua vida, sentiu que era capaz de matar. Fazê-lo sofrer como ele a havia feito. Tentou inutilmente disfarçar a expressão homicida que provavelmente ele demonstrava. Aquilo só iria piorar a situação. Sua respiração estava ofegante e descompassada, e ele sentiu que era capaz de partir o homem em dois se o visse. Ainda assim, procurou se acalmar. Hermione precisava dele.      

              Ela estava fitando o chão, lágrimas escorrendo repetidamente pelo seu rosto. Tremia. Harry aproximou-se dela no sofá, passando o braço por suas costas e a abraçando com força. A cabeça dela recostou em seu ombro, e ela também o abraçou, aninhando-se em seu peito, escondendo-se do mundo.

             - Ah, meu amor... Eu sinto tanto você ter passado por isso. Tanto...

            Ela assentiu, voltando a soluçar. Harry simplesmente acomodou-a da melhor maneira que pode sobre seu corpo. Vê-la ali encolhida, tão indefesa, o destroçava de uma maneira que nunca poderia entender. Sem ter muita certeza do que estava fazendo, ele começou a cantarolar baixinho em seu ouvido, acariciando seu rosto ao mesmo tempo. Aos poucos, Harry pode perceber sua respiração acalmar-se. Permaneceu nessa tarefa por quase uma hora até que a morena, exausta, finalmente adormeceu em seus braços.

 

       Ella sentou-se, pensativa, na cama de suas novas acomodações. Havia passado as ultimas duas horas falando com Jason, e só agora ele havia se retirado para o quarto ao lado. Ele a pusera à par da situação. Suspirou, cansada. Tinha de admitir, tinha muita pena de Harry Potter. Era muita coisa acontecendo para um garoto como ele. Contudo, nesse aspecto, os dois se assemelhavam. Ela também tivera de crescer e se tornar adulta muito antes do que seria esperado. Mas também acreditava, ou preferia acreditar, que quando sua vida é ruim desde o início, só pode melhorar.

         Acontece que, em ambos os casos, tudo parecia estar demorando mais do que deveria.

         Ella sabia que a situação no momento era delicada para ele, mas ela não tinha outra opção senão procurá-lo logo no dia seguinte. Houveram outros assassinatos ao acaso por todo país, e aquilo oficializava que todos sabiam que aconteceria cedo ou tarde: a guerra estava começando. Merlin sabia o quanto Ella queria deixar tudo entrar nos eixos primeiro, Harry se recuperar do choque e a amiga sair da enfermaria. Mas, diabo, não havia tempo. A situação era pior do que pensava.

         As coisas podiam deslanchar a qualquer momento, e Harry precisava estar pronto. 

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