Carpe Diem



   Gina sentou-se a beira do lago, olhos fechados devido a mais recente dor de cabeça. Os cabelos muito ruivos estavam presos em um rabo-de-cavalo firme, de forma que, quando se recostou na árvore, alguns fios se prenderam à superfície árida do tronco. Com um resmungo, tentou livrá-los às cegas. Não estava obtendo grande sucesso, até que sentiu mãos firmes e gélidas terminarem o serviço por ela.


     - Você fica mais bonita de cabelo preso – disse Draco, sentando-se ao seu lado. Gina sacudiu a cabeça, ignorando o elogio.


     - Descobriu alguma coisa? – perguntou.


     - Sim. Ela está viva, mas muito ferida. Não há como saber ao certo o que irá acontecer, só daqui a alguns dias. Potter já foi vê-la – o clima não era dos mais agradáveis, mas não parecem mais brigados. Todos acham que foi culpa de Willian, apesar de eu não saber ao certo por que. – informou o loiro, com ar de tédio.


        - Não faça essa cara. Você mesmo admitiu que gostava um pouco dela – argumentou Gina, sorrindo levemente.


        - Pela personalidade, nada mais. Por mais que eu tenha mudado ou esteja disposto a mudar daqui para frente, não posso ignorar certas coisas. Fui criado para odiá-la. Não odeio mais, mas imagino que seus sentimentos com relação a minha pessoa não sejam dos melhores – Draco soltou uma risada irônica – Quanto ao resto... você sabe que mudei. Imagino que Willian seja um Comensal da Morte. Contudo, não posso me informar a respeito com meu pai, por exemplo. Ele me odeia desde que abandonei aquela causa.


        - O que aconteceu naquela torre realmente te abalou, não foi? – perguntou, com delicadeza.


         Draco respirou fundo e virou a cabeça, mirando-a nos olhos. Em seguida, levantou as sobrancelhas.


         - Potter sabe – disse, apenas.


         - Sua discrição ao mudar de assunto é comovente – disse, debochada – Que você abandou as Trevas? Claro que sabe, ele não é burro. Ele também não te deu um soco sequer desde o início do ano letivo, o que é muito sugestivo. Quando a Willian, também é muito óbvio que...


          - Sobre nós. Ele sabe.


           Gina, interrompida em plena frase, engasgou-se com a surpresa. A seguir olhou-o, em um silencio espantado. Quando falou, sua voz saiu fraca:


           - Como...?


         - Ele nos viu. Há alguns meses, na biblioteca. Antes que você pergunte, não te disse nada porque achei que ele viria conversar com você, e eu não queria me meter. Aparentemente, ele não veio. – justificou-se.


         - Preciso falar com ele. – murmurou Gina, levantando-se de supetão – Mas ele deve estar horrível com essa história toda. Será que vou parecer insensível? Ah, meu Deus, se ele tiver contado ao Rony, estou morta... Mas também não posso falar com ele. Mione sabia, mas ela não tem nada a ver com isso, coitada. E se... – interrompeu-se, levando às mãos a cabeça – Ah, merda.


          Draco assistia a cena indeciso entre o riso e a preocupação. A ruiva movia-se de um lado para outro, desesperada. De repente, rumou, decidida, em direção ao castelo, não sem antes gritar:


           - Estou ferrada, Draco. Não me espere para o almoço.


 


      Harry acordou vagarosamente, e se assustou ao descobrir onde estava. Lentamente, as coisas voltaram a sua mente, e a situação começou a clarear.


      Depois que descobrira o grande golpe de Willian, Harry ficara anestesiado. Ele e Jason discutiram algumas poucas possibilidades, sem acréscimos. Em certo ponto, Harry pedira para ficar sozinho, e Jason o atendeu. Recostara-se na armadura caída onde agora se encontrava, próximo a uma poça de sangue, e adormecera antes mesmo de se dar conta.


       Levantou-se. Todo o seu corpo doía.  Novamente, observou o corredor, e surpreendeu-se ao constatar nenhuma emoção.  Respirou fundo. Estava consternado, estupefato e irritado com a conduta inconseqüente de Willian. Mas, no momento, experimentava uma surreal sensação de alívio. Teve a certeza de que Hermione ficaria bem. E que o importante era o dia presente. Que se dane o passado. E no futuro, só pensarei quando me derem motivos para tal. Chega de auto-retaliação, chega de sofrimento. Vou aproveitar o que tenho agora. E o que não tenho, vou simplesmente ignorar, pensou ele.


          Seguiu sem pressa, até o fim do corredor, e desceu as escadas. Já era hora de ir ao salão da Grifinória.  


 


         O Ministro Scrimegeour estava sentado em sua mesa, e aparentava examinar tranquilamente alguns relatórios. Mas, de fato, estava um tanto agitado com os últimos acontecimentos. Seus dedos tamborilavam nervosamente na madeira bem-polida, e ele precisava ler três ou quatro vezes cada linha para realmente tomar conhecimento do que estava escrito. Pensava no circo que Hogwarts se tornara, e em sua insatisfatória diretora. Em um átimo, perguntou-se quando havia chegado no castelo. E deu-se conta que não conseguia se lembrar.


            Isso levou-o por uma linha de pensamento muito inquietante: revisando o último ano, havia uma série de compromissos políticos e encontros importantes que não se lembrava de ter participado. Entretanto, havia sempre uma grande foto sua estampando a primeira página do Profeta Diário no dia seguinte, tendo como manchete alguma frase dita durante o discurso que, por sinal, ele não se lembrava sequer de ter escrito.


             Rufo, Rufo...., pensou, meu caro, você está ficando velho. Era verdade. Não tinha mais a ginga política e a fala eloqüente que o levara ao seu cargo. Havia muitas histórias em seu passado, muitas das quais talvez não pudesse se gabar. Mas lembrar-se de suas engenhosas artimanhas eram um prazer particular, naqueles momentos.


        Teve seus pensamentos interrompidos pelo bater suave em sua porta. Era sua secretária, dizendo que Sr. Davis estava ali e precisava vê-lo. O nome lhe deu um estalo, mas o ministro não soube dizer por que.


         - Muito bem, mande-o entrar, então – murmurou, um tanto mal-humorado. A figura loira que adentrou em seu gabinete não era, de longe, o que esperava. Não aparentava ter mais de vinte anos! – Com licença, rapaz, mas... lhe conheço?


         O rapaz soltou uma gargalhada. Scrimegeour viu algo de diabólico na maneira que jogava a cabeça para trás, em um sorriso com traços canibalescos, mas não se deteu em tal detalhe. Ele fechou a porta e mirou-o, ainda sorrindo:


          - Ah, senhor Ministro. É realmente uma pena que não possa cometer o deslize de fazê-lo lembrá-lo de mim. Permita-me refrescar sua memória – ele tirou a varinha do bolso e, com um movimento perfeito, pronunciou – Cravitus memoriam!


          O Ministro da Magia revirou os olhos por um segundo, parecendo atordoado. Contudo, assim que retomou o controle de si, fez uma pequena reverencia e disse:


          - Sr. Kenbril. É um prazer vê-lo. Diga-me...em que lhe posso ser útil?


           - Informações, Rufo. Já chegaram a conclusão da autoria dos ataques em Hogwarts noite passada?


          - Receio que sim. Suspeitam do senhor.


          - Ótimo. Algum fato que eu deva saber sobre?


           - Hum... Parece-me que seu joguinho foi muito proveitoso para Severo Snape, senhor. Ele escapou durante a confusão.


            - Isso pode causar-me alguns problemas, já que a essa altura todos sabem que não sirvo àquela escória que se denomina Lorde Negro. Se conhecessem a história toda...veriam como estavam sendo tolos. Eu, um Comensal? – Willian permitiu-se rir novamente, de maneira mais contida. – Contudo, não é esse o motivo de minha visita. Tenho algumas instruções para você.


             - O que quiser, senhor. Como devo agir a seguir?


             O loiro sorriu e sentou-se na poltrona que, por regra, pertenceria ao Ministro. Este, por sua vez, permaneceu em pé, cabeça baixa, em posição de respeito. Willian deliciou-se com o momento. Tenho o mundo bruxo inteiro nas mãos.


                  - Vou dizer-lhe o que fazer.


 


             O salão da Grifinória estava praticamente deserto quando Gina entrou. Os alunos, assustados, mas não por isso descontentes com o recesso inesperado, estavam espalhados por todo o castelo. Apenas Rony estava lá, olhando fixamente para a lareira em uma pose desconfortável. Ela sabia que não poderia evitar o irmão eternamente, mas queria falar primeiro com Harry. Por isso, sentou-se na ponta mais distante do salão, em um local onde seria impossível vê-la.


            Pouco tempo depois, Harry entrou, rumando diretamente para o ruivo. Ele o abraçou fortemente, e sentou-se ao seu lado. A seguir, começaram a discutir algo aos cochichos. Não conseguia ouvi-los.


            - Como está Hermione? – perguntou Rony a Harry, baixo.


            - Não podemos ter certeza de nada. Madame Ponfrey disse que tudo dependerá de como ela reagirá ao antídoto. Mais tarde, pretendo fazê-la uma visita – disse Harry.


           - E eu irei com você – emendou o amigo – Mas, me conte... o que realmente houve?


          O moreno suspirou profundamente, e narrou os acontecimentos de maneira vagarosa. Apesar de seus últimos pensamentos no corredor palco da tragédia, ainda era muito doloroso lembrar-se de tudo.


         - Aquele puto... teve coragem de fazer aquilo com Hermione?


         - Era tudo uma mentira, Rony, Ainda não sei bem porque Hermione aceitou participar disso, mas suspeito que algo muito sério tenha acontecido. Quando dissemos que iríamos atrás de Willian, e, mais tarde no corredor...ela estava aterrorizada. Digo, realmente. Nunca a vi assim antes.


         - Se ele tiver feito mais alguma coisa com ela, eu juro que...


         - Não é bom pensar assim, Rony. Ele não deve dar as caras por um bom tempo. E tem mais, se quer saber. Ele nos enganou direitinho. O calhorda não é nada do que disse ser. Lembra-se que te disse, agora a pouco, que o Ministro andava estranho? Pois bem. Willian lançou a maldição Imperius nele.


          A cara estupefata de Rony de nada surpreendeu o garoto. Por duas vezes, o ruivo abriu a boca para falar, mas não conseguiu. Harry disse por ele:


         - Rony... O filho-da-mãe está à frente do nosso governo.


 


           Gina, irritada, observava a conversa dos dois amigos. Será possível? Estavam demorando demais, e ela estava se tornando muito ansiosa. Remexia-se incomodadamente em sua poltrona. Então, abruptamente, ela observou o irmão levantar-se e subir em direção aos dormitórios, aparentando estar muito possesso. Apesar de ser muito curiosa, a ruiva não deu muita atenção ao fato. Levantou-se e foi em direção a Harry, um tanto nervosa.


           - Harry – disse, delicada porém firme – Precisamos conversar. Você tem um minuto?


 


           - O Ministro está ocupado no momento, Srta. Martinez. Gostaria de marcar um horário para mais tarde? – perguntou a secretária baixinha e atarracada de Scrimegeour.


           - Não é necessário – respondeu ela – Só me faça um favor, ok? Entregue esses relatórios a ele assim que puder.


           - Mas é claro – disse a secretária.


          - Obrigada. Até mais, Gilda.


           Ella Martinez saiu pisando firme do recinto, ao mesmo tempo que sorria, em um ato característico de sua personalidade. A morena de olhos inteligentes não era daquelas que dava o braço a torcer muito facilmente. Claro que, quando se tratando do Ministro Scrimegeour.... O governante era um corrupto, era fato. Mas era impossível contrariá-lo: se o fizesse, levaria para casa uma bela carta de demissão. Aos 43 anos, ocupava um bom cargo na instituição. Sua aparência era, em geral, enganadora: baixa estatura, óculos. Contudo, quem reparava mais demoradamente em sua figura, era recompensado. Por trás das lentes quadradas e finas, seus olhos detinham uma cor peculiar. Eram de um verde acinzentado hipnotizante, que exalava perspicácia.


          Quando adentrou em seu escritório, três andares abaixo, teve uma surpresa. Uma figura a muito conhecida, vestindo seu velho sobretudo preto, a aguardava de pé.


         - Jason! – exclamou, adiantando-se para abraçá-lo. Ele sorriu – Como vai? Ainda dando duro em Hogwarts?


         - Pois é... as coisas não estão muito fáceis, para falar a verdade.


          - Eu ouvi comentários. O garoto apagou a escola toda de uma vez?


         - Sim. Ele é um aluno, digamos bem...adiantado. Mas não é sobre isso que vim lhe falar.


         - Sobre o que, então? Sente-se, Jason. Estamos precisando conversar.


         - Estamos, é verdade. Mas imagino que teremos tempo para isso daqui para frente. Se você aceitar a oferta, é claro.


         - Oferta? – os olhos de Ella brilharam, o que denunciou que ela já estava fazendo suposições – O que quer dizer com isso, meu amigo?


         - O que quero dizer? Pelo amor de Deus, Ella, pense – respondeu o auror, sorrindo – Dumbledore quer você em Hogwarts.


 


            - Sim, eu sei. Faz tempo, por sinal. Mas não consegui conversar com você desde então. Você sabe, essa história toda sobre Willian e tudo mais... – murmurou Harry a Gina, um tanto sem graça. Ao contrário do que ela havia esperado, o moreno demonstrara-se bastante calmo e sensato com ela. Não implicou, não criticou seu relacionamento. Infelizmente, a ruiva sabia que não poderia esperar tamanha condescendência do irmão.


            - Quer dizer que...tudo bem? – perguntou ela, um tanto apreensiva.


           - Bem? Bom, bem não está. Mas você gosta dele, não gosta? – o moreno não esperou por uma resposta – Malfoy sempre foi um cara bem desprezível. Se ele não é assim com você, fico feliz. Aliás, se, de repente, você esteja contribuindo para torná-lo uma pessoa menos egoísta...bem, isso seria uma boa coisa para todo mundo. Sem ofensas.


           A ruiva soltou um risinho nervoso.


           - Ele está diferente, Harry. De verdade.


           - É tudo que importa para mim – sorriu Harry. Mas Gina o conhecia. Ela conseguia ler o cansaço por trás daqueles olhos, daquele sorriso. Características que por muito tempo amara. Agora, ria-se ao pensar no amigo dessa maneira.


           - Eu sei que essa é uma péssima hora para fazer esse tipo de pergunta, Harry, sinto muito. Mas tem apenas uma coisa que eu preciso saber – disse Gina, encarando-o firmemente – Você contou ao meu irmão?


           - Deus, não! Rony te mata se souber...


           - Pois é... – respondeu ela, indecisa entre o alívio e o desânimo.


 


           Ella sentou-se em sua cama, em um bairro nobre de Londres, pensativa diante da proposta que lhe fora oferecida. Jason era seu amigo de longa data, haviam estudado juntos. Eram ambos muito poderosos, mas Ella tinha o que seus professores chamavam de “algo a mais”. Reviu a conversa que tivera mais cedo naquele dia. O garoto Potter, hã? Isso pode ser muito interessante.


 
N/A: Estou de volta. Razoavelemente no prazo desta vez.
         Esse é um capítulo do qual gosto muito. Primeiro, pois tenho a oportunidade de esclarecer algumas pendencias secundárias. Segundo, pois é sempre bom escrever um capítulo sem grandes preocupações. E terceiro que, apesar do clima descontraído, não há uma palavra sequer que não seja importante. Então, eu uni o útil ao agradável, e o resultado é Carpe Diem.
          O nome do capítulo, por sinal, tem tudo a ver com esse momento de enredo. Para quem não sabe, carpe diem significa, em tradução literal, "colha o dia". Mas a minha interpretação preferida é "aproveite o dia", ou "aproveite o momento". Fanfic também é cultura.
           O capítulo vem com uma correção meio porca dessa vez, já que fui eu mesma que fiz. A Erica, infelizmente, não está bem de saúde, e não pode me ajudar. E, como não tenho muito saco para ortografia, o cap pode estar meio poluído. Sorry.
           Não tenho comentários adicionais sobre esse cap. Só que Ella Martinez é um projeto bem antigo, e eu vou adorar colocá-lo em prática. Ela é uma quarentona imbatível, que foi inspirada em duas conhecidas minhas. E não se deixem enganar pelo andar suave e voz doce: a mulher é um demônio. No bom sentido. (bom sentido?)
            Por hoje é só. Não sei o que me deu na cabeça pra postar em plena segunda-feira de manhã. Mas tudo bem.

       
Bjos, Giovanna de Paula 

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Comentários (3)

  • Andre Donatti

    Sinceramente, hoje quando olhei nem acreditei que ja tinha postado o cap ;D Gostei bastante do cap, bem interessante, exclareceu algumas duvidas, mas sempre deixando nós leitores mais curiosos a cada cap, mostrando um harry mais compreensivo com algumas coisas , mesmo que eu goste mais dele destruindo tudo com ciumes doentio, auhauhau =D. Bjs até o proximo cap, que ele seja tão rapido quanto esse. PS: se voce quiser, eu posso dar uma revisada nos caps antes de voce postar, enquanto a Erica não está bem. Té.

    2011-09-19
  • matthew malfoy

    another great chapter. entretanto acho q faltou um momento H/Hr pelo qual estou esperando ansiosamente, pois quero ver se eles ficarão bem novamente, mas no fim ficou muito bom. abraços

    2011-09-12
  • rosana franco

    Bom realmente o ministro esta sendo feito de fantoche,mais uma pra ajudar o Harry,não vejo a hora dele despertar todo seu poder.

    2011-09-12
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