Consequências II



12. Consequências II


 


"Se você não pode mudar seu destino, mude sua atitude!"


Amy Tan


 


O sol já estava a desaparecer do céu límpido quando finalmente eles foram libertados. Todos tinham sido interrogados até à exaustão, os prisioneiros já tinham sido curados e reencaminhados para uma prisão de Inglaterra, seu país natal, os Muggles curados e com a memória apagada e os danos causados naquela rua já não se notavam devido à magia dos aurores. Tudo estava simplesmente igual e só agora é que eles conseguiram arranjar uma chave de portal.


- Quando eu disser. – Disse o Harry. – 3...2...1... agora!


Todos sentiram o conhecido puxão pelo umbigo e quando voltaram a abrir os olhos estavam numa grande sala de estar mobilada com móveis modernos e que tinha tanto objectos bruxos como Muggles.


- Bem eu trouxe-vos até a minha casa que é onde vão ficar hospedados.


A Sarah pigarreou discretamente fazendo-o ter que evitar um sorriso.


- Bem, a maioria... A Sarah e o John decidiram ir para casa.


- Porquê?! – Perguntaram logo o Albus e a Susan que estava estranhamente abraçada ao John.


- Os nossos pais estão em casa e querem que nós vamos para lá. – Explicou a Sarah sobre o olhar atento de todos.


- Como é que sabes isso se vocês não falaram com eles? – Perguntou o Harry calmamente.


- Sr. Potter – sorriu ela - quanto é que quer apostar que daqui a... digamos 5 minutos vai aparecer alguém para nos buscar.


- Mas eles não responderam à carta.


- Deviam de estar ocupados. – Respondeu dando de ombros indiferente.


Ele fez uma careta que mostrou toda a sua desconfiança e ainda abriu a boca para responder mas voltou a fechar ao ouvir a campainha tocar.


A Ginny que era quem estava mais próxima da porta abriu a porta e ficou parada de boca aberta a ver quem tinha tocado à campainha. Parado à frente dela estava um homem alto, que tinha um sorriso amigável no seu rosto perfeitamente arranjado para dar um ar de homem de negócios.


- Desculpe a intrusão, mas os pais dos meninos estavam numa reunião com uma empresa e fui eu que vi a carta. Como só consegui contactá-los agora não pude responder mais cedo. Mas eles mostraram-se preocupados e mandaram-me ir busca-los imediatamente. Sabe como é que são os pais... – disse dando um sorriso constrangido – se acontece alguma coisa aos filhos eles até são capazes de andar meio mundo só para eles estarem bem, e então nem me deram tempo de responder à carta. Eles estão neste momento a arranjar uma maneira para vir para casa e então eu vim buscá-los. Espero que não se importem.


Ela piscou os olhos surpreendida e disse simplesmente saindo do caminho:


- Não há problema. Entre.


Ele entrou na sala depois de um aceno para a mulher e olhou em volta. Quando viu a Sarah e o John abriu um grande sorriso e foi abraçá-los.


- Vocês estão bem? – Disse olhando atentamente na Sarah que foi a primeira que ele foi abraçar. – Fiquei tão preocupado.


O Harry observou interessado quando o John bufou e fez uma careta de incredulidade ao ser abraçado pelo homem.


- Bem, eu vou levar-vos a casa que os vossos pais quase morreram de preocupação.


- Só falta o quase... – murmurou o John baixo mas que devido ao silêncio que se encontrava na sala ouviu-se por todo o lado.


- Não digas isso John. – Disse o Andrew com um sorriso desculpando-se para os Potter.


- Ah, mas pelo menos falei a verdade da mentira não é? – Perguntou agressivo saindo do pé da Susan e dirigindo-se para ele. – Já a... – Calou-se ao sentir-se ser puxado.


- Aqui não John. – Sussurrou a Sarah mordazmente.  


- Aqui não... aqui não... – murmurou saindo do aperto da Sarah e virando-se para o Andrew com os olhos brilhantes de tanto ódio. – Aqueles homens... e... e ele.... se eu pudesse....


- Mas não podes! – Disse alto fazendo-a fechar os olhos para se acalmar vendo que todos os olhares estavam presos nela. – Vamos embora John.


Ele olhou com nojo para a irmã e deu um passo para trás se afastando dela.


- Eu não acredito que os estás a defender Sarah!


- Eu não estou a defende-los. – Disse de dentes cerrados fazendo um sinal com os olhos a dizer que estavam todos ali a ouvir a conversa.


- Não me interessa os outros! A culpa é DELES SARAH! E TU SABES DISSO TÃO BEM COMO EU! – Gritou completamente fora de si.


- John tu estás nervoso... Não sabes o que dizes... falamos melhor depois... em casa!


- Sarah, eu não posso deixar isto passar. O que eles fizeram não tem perdão! Eu tenho outra vez o que defender! – Disse olhando de lado para a Susan que estava paralisada no local ao lado da Rose.


- A tua irmã tem razão John! – Disse o Andrew estranhamente sério. – O que tu passaste certamente te marcou e foi um grande choque. É normal nestas situações estar nervoso e ficar confuso, mas tem calma e ouve a tua irmã.


A rapidez com que o John se virou para ele fê-lo se assustar, principalmente pelo olhar cheio de ódio.


- Eu até posso ouvir a minha irmã mas a si e aos senhores Franklin não! – Disse mordaz não se importando com os sobressaltos que ouve na sala ao ouvirem as palavras dele. – Eu não quero ter nada mais com aquela casa! Vocês passaram oficialmente os limites. CHEGA e tu Sarah, - disse se virando para ela – sabes que isto é o certo. – Ela abriu a boca para responder mas ele impediu-a. – E por Merlim, Sarah, não me fales dessa promessa. Tu sabes tão bem quanto eu que os culpados são e sempre foram os nossos pais!


- Eu vi! – Foi a resposta curta e fria mandando um olhar furioso para o John.


- Sarah, pensa! Tu a conhecias e achas mesmo que ela iria querer isso? Tu só viste o que a mãe quis que tu visses! 


Um vento frio passou pela sala fazendo-os arrepiarem-se e se a Sarah não estivesse só de frente para o John tinham visto os seus olhos tão negros que pareciam sugar toda a claridade à sua volta.


- Não fales disso. Não digas isso. EU VI E SEI O QUE ACONTECEU!


A sua voz anteriormente calma e apaziguadora estava fria e sem vida. Eles deram involuntariamente um passo para trás ao ver algo negro rodear a Sarah, parecia uma aura negra.


Até Andrew sentiu um arrepio ao ver aquilo, a Sarah nunca esteve antes tão descontrolada e o John deveria ter sabido tão bem quanto ele que aquele assunto era um assunto tabu.


- SARAH A SUSAN QUASE MORREU! – Gritou o John não se intimidando com aquela estranha aura. 


- E O QUE É PIOR? MORRER OU QUASE MORRER? – Replicou com tanto ódio na voz que eles deram involuntariamente outro passo para trás.


- Eles enganaram-te!


- Eles não me enganaram! Eu vi-a morrer e ouvi o seu último pedido... Promete-me que vais lutar... FOI ISSO QUE ELA DISSE!


- E DISSE CONTRA O QUÊ? HEIN? DISSE?


- Vamos lá Andrew, tem coragem, tens que fazer alguma coisa... – Disse o Andrew só para si mas o Harry  que estava ao lado dele olhou-o de lado atento a qualquer movimento. – Se morreres agora até é melhor... não morres depois. – Ele fechou os olhos com força e inspirou fundo dando um passo para a frente aproximando-se da Sarah.


- A mãe explicou-me! Tu é que não queres perceber.


- Eu? – Riu incrédulo. – Não vês que eles sempre quiseram isso? Te afastar dela? E eles conseguiram. Eles deturparam a situação Sarah.


- POR ACASO ESTÁS A INSINUAR QUE A MATARAM?


- Quem achas que é mais provável? Eles ou eles – disse apontando com a cabeça para o grupo que estava junto à parede – matarem-na?


- Não é um caso de...


- CHEGA! Que educação é a vossa ao discutirem assim na casa dos outros? No meio de pessoas que vos estiveram a hospedar? – Ele sentiu um arrepio e mudou o peso de perna ao ver os dois olhares assassinos, idênticos, que recebeu deles. No entanto, a Sarah logo se acalmou ao ver os olhares temerosos na direcção dela e até aquela estranha nuvem negra que a rodeava parecendo protegê-la desapareceu. – Peçam desculpa e vamos embora!


- Não és meu pai, não mandas em mim! Aliás a partir de hoje, não tenho pai nem mãe e se tentares levar a Sarah contigo vais lutar comigo! – Disse retirando a varinha num segundo apontando-a logo perigosamente para ele. – Até vai ser divertido. – Disse estranhamente com um sorriso maníaco. – A vingança é doce.


Ele piscou os olhos sem saber como reagir. Continuava ou não a fingir?


- John, por favor. – Suplicou a Sarah fechando os olhos, fazendo-o olhá-la. – Foram muitas emoções para um dia só. Vamos para casa.


- Sarah, eu não vou e nem tu... O Sr. Potter pode resolver tudo.


- JOHN! – Gritou o Andrew. Decididamente era melhor para o fingimento.


- Sim... – Ele disse virando-se outra vez para o Andrew com um olhar de puro ódio. – Ou estás com medinho?


- John, - suspirou a Sarah finalmente se decidindo – faz o que quiseres. Eu não te repreendo, até te compreendo e vou continuar a gostar de ti e a proteger-te mas eu vou para casa. Eu cumpro sempre as minhas promessas nem que morra ao tentar por muito que isso custe! – E deu de costas saindo e arrastando consigo o Andrew que estava com uma postura agressiva muito diferente da inicial. – Obrigado por tudo senhores Potter, Weasley e Scout. Passa bem John e sê feliz. E fica com o carro! – Ela com um gesto estranhamente ágil tirou as chaves do bolso do Andrew e antes que ele pudesse reagir atirou as chaves ao John e com uma força que ninguém imaginava que ela tinha, arrastou o Andrew que se debatia para ir contra o John. Murmurou um “ Prepara-os, não quero mortes desnecessárias e protege-os” para o John e Desapareceu levando consigo o Andrew.


Todos olharam paralisados para aquela cena sem saber como reagir.


- O que é que foi isto? – Perguntou a Susan reagindo finalmente e indo agarrar o John que estava estático a olhar para o ponto onde a Sarah Desapareceu. – John... estás bem? – Perguntou vendo que ele não reagia. – JOHN! – Disse abanando-o.


Ele pela primeira vez olhou para ela, olhando depois para os outros presentes que olhavam fixos para ele.


- Porra! – Murmurou olhando para a porta. – Eu esperei quase seis anos para dizer isto e disse logo na pior altura. Burro! – Olhou para todos os presentes e outra vez para a porta. – Não, eu não posso perdê-la. – Falou só para si. – Não posso nem consigo. – Ele olhou outra vez para a Susan e murmurou um : “desculpa” olhando de seguida para os outros fixando os olhos no Harry.  – Não, ainda não... não é a hora certa, primeiro ela precisa de ver a verdade... – Um sorriso formou-se no seu rosto e, pela primeira vez, olhou divertido para o Harry. – Não, por muito que tente não vai conseguir nem ver os meus pensamentos mais insignificantes. E muito menos à Sarah. Não se espante, – riu ligeiramente ao ver a cara de espanto que ele fez ao ser descoberto – e não piore tudo se tentar da próxima vez que a vir tentar ler a sua mente. Ela não está propriamente feliz consigo. Eu não ligo mas ela iria ficar irritada. – Fechou os olhos tentando se acalmar. – Merda! Estou a perder tempo! Ela precisa de mim. – Ele correu para a rua e poucos segundos depois ouviu-se um “CRACK” conhecido. Ele tinha Desaparecido.


Houve um momento em que ninguém se atreveu a mexer, nem a respirar. O que tinha sido aquilo?


 


*****


 


Ela tinha saído furiosa da casa dos Potter, furiosa por ter revelado mais do que queria, furiosa pela situação e até furiosa por estar furiosa.


- Sarah o que foi isto? – Rosnou o Andew com uma postura tão rígida que parecia uma estátua.


Ela fechou os olhos e suspirou. O dia não estava a correr bem...


- O que querias fazer? – Perguntou entrando dentro da casa. – Apagar a memória de todos?


- Se fosse preciso!


- Deves te achar muito bom. – Murmurou irritada.


- Eu não, mas tu...


Ela parou estática a um metro da porta com o comentário dele.


- Estás por acaso a insinuar que eu os iria atacar? A eles?


- Tinhas lá os teus alvos.


- E inocentes!


- Os meios justificam os fins!


Ela suspirou outra vez e abriu a porta que dava para a sala comentando:


- Isso, eu vou discutir agora com os meus pais!


 


*****


- Sintam-se à vontade mas eu agora tenho uma reunião importante. – Disse sorrindo para o outro casal. – Peço desculpa mas o trabalho não espera. – Disse sorrindo e chamando com a cabeça o Ron que estava encostado contra a porta à espera dele para começar a reunião.


O Harry deu mais um sorriso para eles que estavam a abraçar a Susan que estava chocada com a forma como o John saiu e foi para o escritório onde já estava a Hermione e a Ginny, sendo seguido pelo Ron.


- Hum, temos uma mensagem nova. – Disse franzindo a testa ao ver o alerta. Com um maneio simples da varinha abriu o documento e começou a lê-lo. – É o relatório do ataque. Eram na maioria ingleses e tinham exactamente as mesmas características que os Shadow.


Os Shadow era um grupo que estava a atacar tanto Muggles como bruxos. Eles chamaram-lhes Shadow pela inigualável capacidade de eles andarem nas sombras, sem provas nem vestígios das suas identidades.


- Mas nós agora temos algumas identidades. Agora podemos descobrir muitas coisas. – Disse o Ron.


Um sorriso estranhamente frio formou-se no rosto do Harry.


- Não sei como... nem porquê, mas eles morreram todos.


- Como? – Perguntou chocada a Hermione.


- Puseram-nos em salas de interrogatórios à espera que eu chegasse e, de repente, todos ao mesmo tempo morreram.


- Morreram ao mesmo tempo?


- Sim. As câmaras de vigilância não mentem.


- Mas como? – Perguntou a Ginny. – Não pode ser simplesmente uma coincidência.


- Não sei. Nós revistamo-los e não encontramos nada. Não sei o que pode ter sido.


- Uma poção talvez? – Arriscou a Ginny.


- Não tinham nenhuma.


- Qual foi o seu ultimo acto?


- Agarrar o braço, Hermione. Mas os medibruxos que os viram não encontraram nada. Oficialmente foi um ataque do coração.


- Não pode ter sido só uma coincidência. – Disse a Hermione pensativa.


- Eu sei.


- Então... como? – Perguntou o Ron.


O Harry suspirou e sentou-se na sua cadeira cansado.


- Só há uma resposta. Passou alguma coisa pela revisão que nós não vimos.


- E se foi um feitiço ou encantamento? – Perguntou a Hermione.


O Harry olhou para ela espantado.


- Sim, mas eu nunca ouvi falar de um assim e nem os testes normais deram sinais mágicos neles fora do normal.


- A magia negra é imprevisível. – Respondeu a Ginny.


Ele olhou para a mulher e assentiu pensativo.


- Sim, é a melhor hipótese até agora. Vou mandar pesquisarem isso.


- Mas Harry uma coisa nós pelo menos temos. Identidades. Com as imagens deles podemos chegar às identidades deles.


O Harry olhou para ele com um estranho sorriso.


- Até agora não se sabe o nome de uma única pessoa.


- Mas... – disse estupefacto – as pessoas têm que dar pela falta deles.


- Podem não dar. Este grupo parece que pensou em tudo.


- Ou seja, o que tu queres dizer, é que nós continuamos sem nenhuma novidade?


- Não Ron, nós temos um espião.


- E eu já disse que não acredito nesse espião. Há tanto tempo lá e ainda não descobriu nada.


- Ron... – Advertiu a Hermione.


- Temos que esperar, eles são desconfiados.


O Ron deu uma gargalhada sem humor.


- Ou seja, os nossos filhos quase morreram, pessoas inocentes morreram e ainda não sabemos nada!


- Não, nós sabemos. – Disse a Hermione para espanto do seu marido.


- O quê? Tu nem és auror.


- Mas sou perspicaz, a família Franklin.


O Harry suspirou.


- Eu sei. Vou mandar investigá-los. O John e a Sarah quase que fizeram uma confissão de culpa.


- Não deles, Harry, Dos pais.


- Eu sei Hermione, mas há algo de estranho na Sarah.


- Não digas isso aos nossos filhos Harry, - Disse a Ginny – eles adoram-na. Dizem que ela os salvou.


- Eu sei e é por isso que quero ver as lembranças.


- Mas Harry...


- É o melhor Ginny, mas eu também vou analisá-la muito bem no funeral.


- Funeral? – Perguntou a Hermione assustada.


- Sim, o do Sr. Palmer. Como eu a vi hoje tenho a certeza que ela não vai faltar ao funeral. E ela hoje realmente me intrigou.


- Principalmente quando o John lhe perguntou “Quem achas que é mais provável? Eles ou eles matarem-na? “ – Disse a Hermione pensativa.


- A mim também. Ele estava a dizer que ela achava que nós tínhamos morto alguém.


- Exacto Ron. Harry, sabes de alguma morte que tenha a ver com os dois?


- Não, mas eu quero saber tudo sobre aquela família!


- O pior - observou a Ginny - foi que se a Sarah não tivesse ido embora, o John tinha nos contado tudo.


- Não podemos chorar por leite derramado, agora é melhor ir ver como os Senhores Scout estão. – Disse se levantando. – Ah, e Ron o Scorpius pode ficar na tua casa? – Perguntou com um estranho sorriso. - Recebi há instantes a confirmação do pai dele.


- Porque na minha? – Perguntou desconfiado.


- Como ele é tão amigo da Rose pensei que eles não deviam de perder nenhum instante para...


- PARA?


- Conversarem. Que mais? – Perguntou segurando o riso ao vê-lo começar a perder a cor avermelhada. – Mas deixa estar ele pode ficar na minha casa. Mas é claro que se ele quiser pode sempre ir visitar a Rose à noite.


- HARRY!


- Estou a brincar. – Disse saindo rápido da sala ao ver as orelhas deles ficarem perigosamente vermelhas.


 


*****


 


- Estás bem Sarah? – Perguntou o Sr. Franklin.


- Não sejas hipócrita.


- Não sejas mal-educada Sarah!


- Claro Senhora Franklin. – Disse lhe fazendo um irónica vénia.


- Sarah, vais ou não vais nos contar o que aconteceu?


Os pais dela estavam sentados nos espaços sofás a olhar para a Sarah que estava em frente à lareira e televisão  recusando sentar-se com eles.


- Sabes tão bem como eu o que aconteceu. Ah, espera – disse fazendo uma fingida cara de desilusão – só até há parte em que Desapareceste. Que pena... – Disse irónica. Toda a sua postura mostrava a raiva que sentia fazendo os seus pais controlarem-se.


- Respeito Sarah. Somos os teus pais não somos os teus...


- Os meus... – incentivou.


- Colegas. – Acabou a frase a sua mãe dando um olhar de aviso para o marido.


- Estás a falar daqueles que acabaram de tentar matar apesar de dizerem que não iam atacar ou dos outros?


- Eu não estava lá Sarah!


Ela olhou pensativa para a mãe como se pela primeira vez a visse e sorriu.


- Claro. A senhora não estava – ela quase sorriu ao ver os ombros deles aliviarem-se – mas o senhor, o meu querido papá estava. Estava sim!


A última frase saiu como um rugido e aquela estranha aura negra que a protegia voltou a aparecer. Os seus olhos estavam outra vez negros e ela com um gesto de mão pendurou o pai ao tecto.


- O senhor disse que não ia atacar e o que fez? Heim? Tentou matá-los! Sem dó nem piedade, inclusive matou uma pessoa inocente! – Ela estava tão descontrolada que começou a fechar a mão ao mesmo tempo que o homem agarrava a garganta começando a sufocar. – INOCENTE! – Ela gritou não ligando para o homem estar a ficar roxo.


Ela sentiu uma brisa e olhou para o lado. O Andrew e a sua mãe estavam a lançarem-lhe feitiços numa vã tentativa de a fazerem parar, mas todos os seus feitiços eram engolidos por aquela estranha aura que tinha uma forma circular estando a rodeá-la e parecia absorver os feitiços ficando mais forte.


- Não era isto que queriam? – Perguntou virando-se para eles e esquecendo-se do seu pai que caiu no chão mal ela se virou fazendo-os ouvir o som de estalos. Os ossos tinham-se partido com a queda. – Que eu aceitasse a minha verdadeira forma? Esta? Cá estou eu! Não estai felizes?


- Eu vou chamar ajuda. – Murmurou o Andrew abrindo o casaco e carregando nalguma coisa lá dentro. De repente ouviu-se o som de sirenes e homens estavam por todo o lado.


- Então não estás feliz mãe? Orgulhosa?


- Sarah, controla-te!


- Controlar-me? – Riu sem emoção. – É o teu sonho realizado. A tua filha aceitou as trevas dentro dela. – Disse olhando para as mãos. – Mais diversão. – Disse virando a sua atenção para os homens que olhavam para ela estupefactos. – Obrigado. – Disse dando um sorriso cínico ao mesmo tempo em que apontava a mão para eles fazendo-os cair.


A sua mãe abriu a boca em estupefacção enquanto que o Andrew olhava para ela de olhos arregalados branco.


-  Tens razão mãe, eu sou capaz de destruir exércitos mas não, eu não sou controlada como pensavas.


- Sarah, por Merlim, controla-te.


Ela riu como resposta e andou até ficar a uns metros dela.


- Com medo mãe? De algo que tu querias tanto ter? Eu a fazer uso de todos os meus poderes? Qual é o problema? Para que é que queres tanto que eu me controle se quem me ensinou a ser humana e dar valor à vida não foste tu mas sim uma pessoa que já morreu?


-Eu... eu não a MATEI! – Gritou dando um passo para trás.


- Infelizmente tenho que acreditar porque eu vi, mas se não acredita que seria muito mais fácil para mim, que tivessem sido vocês, os meus adorados pais. – Respondeu com ódio.


- Então porquê isto? – Gritou esganiçada.


- Porque vocês já mataram milhares de INOCENTES tal como ela era!


- Mas Sarah,... a promessa. Lembra-te da promessa. – Disse andando para trás à medida que a Sarah avançava.


- E o que achas que eu vou fazer a seguir? Vou destruir todos os Potter, Weasley e governos que houver. Se estivesses viva irias ficar orgulhosa... Uma pena... – Disse sem emoção.


- SARAH, - gritou angustiada – tu precisas de mim!


- Mentira! Tu precisas de mim, mas eu já estou farta desses joguinhos por isso diz obrigado e adeus, afinal se estivesse bem-disposta torturava-te.


- O que é isto Sarah? – Perguntou uma voz grave.


Ela tinha tirado a varinha pronta para lançar a pior maldição mas aquela voz fez mudar tudo. Os seus olhos tornaram-se castanhos, aquela aura desapareceu e só ficou uma Sarah que assimilava aos poucos o que tinha feito. Ela piscou os olhos uma última vez e olhou para o lado vendo o seu pai numa posição estranha. Um sorriso frio formou-se no seu rosto apesar de o John ter reconhecido arrependimento nos seus olhos.


- É para aprenderem a não mentirem. Eu vou subir, – avisou – anda John.


Ele olhou outra vez para a sala e viu a sua mãe sentar-se no sofá trémula agarrando o braço do Andrew com uma força desnecessária, enquanto que este parecia que ia desmaiar a qualquer minuto. Ouviu outra vez o chamamento da Sarah do andar superior e dirigiu-se para lá com só uma pergunta na mente “ O que aconteceu aqui?”.


 


*****


 


“ Vá, quando eu disser 3! 1,2...3! Agora! Não, é melhor não! Os olhos dela continuam distantes. Vamos Franklin! Age! Move-te! Que raio... nem pareces o mesmo que enfrentou os teus pais vezes sem conta, não parou em Hogwarts... entre outras coisas. E tudo sem medo! É só perguntar o que aconteceu! Vá! Vamos! Tu consegues!”


- Sarah.... – Começou.


Eles foram para o quarto dela e ela mal entrou sentou-se logo na cama cansada. E agora, estava exactamente no mesmo lugar com os olhos perdidos num ponto do armário.


- Sarah! – Chamou outra vez agora com coragem de olhá-la nos olhos mas o que viu fez o seu coração partir-se. Ela estava ali, triste, sem forças, distante. – Sarah, estás bem?


Ele viu-a piscar os olhos desanimada e suspirar mas um segundo depois ele ficou a pensar se não foi fruto da sua imaginação. Ela olhava para ele com a sua face normal, sem demonstrar grandes sentimentos, no entanto, os seus olhos brilhavam de expectativa.


- Sim. – Sorriu. – Acho que estava a dormir em pé. Desculpa lá pela maneira como eu agi.


- O que aconteceu...


- Mais cedo? – Ao vê-lo assentir deu de ombros despreocupada. – Nada de especial.


- Queres falar sobre isso?


- Não... agora não. Quero falar sobre outra coisa! – Disse sorrindo abertamente.


Ele franziu a testa cauteloso. Ela estava quase a pular na cama tamanha a expectativa. O que ela estava a planear?


- Eu conheço esse olhar....


Como resposta teve uma careta.


- Estás a planear alguma coisa?


- Não! – Disse abanando a cabeça divertida. – Na verdade, já está planeado.


- O-o quê?


- Tem calma. – Disse descontraída. – Só queria que me dissesses como te declaraste à Susan.


Ele ao ouvir aquilo arregalou tanto os olhos que parecia que eles iram saltar da orbita.


- Eu vi a vossa cumplicidade. Vá, conta!


Ele desejou arduamente ter metade do à-vontade dela. Esteve meia hora, MEIA HORA, para lhe dirigir a palavra e ela passados meia dúzia de palavras estava ali tão descansada a perguntar-lhe algo tão íntimo.


- Diz lá, -  ela fez-lhe lembrar uma criança a pedir um doce tal o entusiasmo – ou vais dizer-me que estou enganada?


Ele desviou o olhar e sentiu as bochechas queimarem ao dizer:


- Não, não estás enganada.


 


Flash-back


 


Depois que a Sarah partiu ele ficou com o Scorpius em silêncio. Nem um nem o outro tinham o que dizer até que o Scorpius suspirou e perguntou-lhe:


- O que vais fazer?


- Eu, eu não sei. E tu?


- Eu não tenho nada para fazer.


- Claro... – Murmurou irónico.


- É sério... – Disse confiante mas o John não lhe ligou continuando a falar.


- Já viste a vida? Preferia enfrentar aqueles encapuzados todos a dizer alguma coisa à rapariga de quem gosto.


- Isso dizes agora.


- É a verdade! – Disse triste. – Às vezes sou tão covarde.


- John...


- Mas o maior problema é não saber se a relação vai funcionar. Quer dizer... somos tão diferentes e haverá coisas que eu nunca lhe poderei dizer... segredos.


- John! – Chamou o Scorpius mal segurando o riso. – Um namoro não é um casamento.


- Tá. – Murmurou chateado.


- Tu consegues, não te preocupes, não é assim tão... – Mas ele não acabou a frase olhando fixamente para um ponto atrás do John.


O John virou-se com um mau pressentimento e o que viu fez o seu coração involuntariamente bater mais rápido. Ali estava ela, a olhar para ele com os seus brilhantes olhos castanhos.


- Bem eu vou ver os outros. – Disse o Scorpius levantando-se mas não antes de lançar um olhar cheio de significado para o John.


Ela sentou-se ao lado dele e pareceu ficar a olhar o mar.


- Desculpa se interrompi alguma coisa. – Murmurou sem desviar os olhos do mar.


- Claro que interrompeste! – Ela ficou tão surpresa que desviou o seu olhar do mar olhando fixamente para ele. – Não viste? Eu estava a declarar-me a ele. Era neste preciso momento que ele me iria beijar. – Disse fingido estar triste.


- Bobo. – Murmurou batendo-lhe no braço.


Ele só riu como resposta.


- Mas eu percebi que vocês pararam de falar quando eu cheguei. Desculpa se eu interrompi alguma coisa importante. – Repetiu.


- Ah, isso. – Murmurou outra vez sem coragem.


- Está tudo bem? – Perguntou preocupada vendo o desânimo dele.


- Está, estávamos só a falar de como eu era covarde.


- Tu?! Covarde? – Riu descrente. – Ainda está para vir o dia em que eu vou ver o John Franklin sem agir por medo.


- Estás a ver. – Disse fechando os olhos de seguida ao ver o que tinha dito.


- Estás a falar de mais cedo? Tu e a Sarah foram simplesmente espectaculares por isso não te subestimes.


- Eu não estou a falar mais cedo estou a falar de agora. – Disse desejando fazer um buraco na areia para se esconder para sempre.


- Quê? – Murmurou sem entender.


- Esquece. Não é nada importante. – “ Covarde. Tu és um covarde Franklin!”


- Não, estás com medo de quê? De mim? Eu fiz-te alguma coisa?


Ele olhou para ela e o que viu fez o seu coração apertar. Os olhos dela brilhavam e mostravam a clara preocupação que a sua dona tinha. Ele suspirou se decidindo. Tinha chegado a hora!


- Eu percebo se não quiseres ser mais minha amiga depois do que eu disser mas na verdade deverias era de parar de ser da Sarah e do Scorpius que foram eles que me convenceram. Esquece, esta última parte. – disse abanando a cabeça ao ver que a coragem já começava a faltar. Inspirou fundo e decidiu-se a dizer tudo de uma vez. – A verdade é que eu percebo que não quiseres falar mais comigo depois do que eu disser. Eu nunca fui bom com palavras e tenho medo para demonstrar por gestos o que eu quero dizer. – Disse desviando o olhar para o mar não conseguindo aguentar a intensidade daqueles olhos castanhos. – Perdoa-me, eu não sei quando aconteceu, só sei que aconteceu. Eu tentei esquecer. Eu juro que eu tentei, afinal és a melhor amiga da minha irmã. Estive com outras pessoas, mas isso não mudou, quer fossem ricas ou pobres, simpáticas ou antipáticas, bonitas ou feias. Nada! Nenhuma me fazia sentir vivo como quando estou perto de ti. Simplesmente porque elas não eram aquela que eu queria, desejava, amava. Tu não eras elas! Tu fazes-me sentir coisas que eu nunca senti, sequer imaginava que existissem. És simpática, humilde, apesar das tuas origens, alegre, com uma energia contagiante, não desistes, não tens medo. És o sonho para qualquer rapaz. Por isso, eu compreendo que não me queiras a mim, John Franklin. Eu tenho segredos que nunca te poderei contar, eu sou sombrio, eu não sou o rapaz prefeito para alguém como tu és. – Ele inspirou fundo tentando conter o turbilhão de sentimentos que tinha dentro de si. – O que eu queria dizer e que não tinha coragem é que eu te amo Susan. Eu realmente gosto de ti. Mas eu compreendo. Tu não me queres. Só espero que me perdoes. – Disse se levantando e indo para dentro do restaurante.


- John! – Chamou-o, no entanto, ele não tinha coragem para olhar para ela. Só olhou quando sentiu uma mão pequena no seu ombro. – Eu ainda não te respondi. – Os seus olhos estavam brilhantes mas desta vez era pelas lágrimas que corriam soltas pela sua face. – Eu não disse que não queria ser mais tua amiga mas tens razão.


Ele sentiu todo o seu corpo estremecer numa tentativa de conter as lágrimas que queriam correr pela sua face. Ele tinha sido tão estúpido, tão parvo! Deveria de ter ficado calado, mas o que é que fez? Disse o que não devia ter dito e agora por não ter ficado calado ia pagar bem caro. Nunca mais iria ouvir as broncas dela por ser irresponsável, nunca mais iria sorrir para ele por alguma coisa que tivesse dito, nem nunca mais poderia estar perto dela, abraçá-la sem malícia, faze-la rir, chorar aliviada pelo susto que lhe tinha causado... Nada! Se a sua vida já era sombria agora sem a alegra contagiante dela iria ser muito pior. Tinha perdido uma das coisas que o faziam todos os dias lutar contra os seus pais. Involuntariamente abaixou a cabeça, triste, sem forças para enfrentar o provável olhar duro dela. Mas sentiu umas mãos macias agarrarem-lhe o queixo obrigando-o a olhar para ela que tinha na face um sorriso que ele usava muitas vezes, um sorriso de quem alguém fazia alguma coisa má mas que se divertia muito a fazer isso... um sorriso maroto.


- És rápido a tirar conclusões precipitadas. – Ele franziu a testa confuso fazendo-a sorrir ainda mais ao ver a reacção dele. – Eu não quero ser tua amiga quero ser algo mais.


Ele riu entre divertido e aliviado.


- Queres ser minha namorada? – Perguntou deixando transparecer todo o seu espanto, não acreditando no que tinha ouvido precisando da confirmação.


- Sim... quero. – Disse agarrando-se ao pescoço dele e beijando-o.


Quando ele sentiu os lábios dela sobre os seus deixou-se levar naquele beijo perdendo completamente qualquer linha de raciocino que tinha, só sentindo...tinha esperado tanto tempo... tempo demais.


- Eu esqueci-me de acrescentar uma característica tua quando fiz a tua descrição. – Disse quando se afastou dela para a observar.


- Como eu beijo? – Perguntou rindo.


- Não, que és má. – Ela riu divertida. – Eu ia tendo um ataque do coração, sua insensível.


- Insensível, é? Eu ia compensar-te mas assim...


- Compensar... Hum... se fizeres isso talvez eu magicamente me volte a esquecer.


Ela riu, beijando-o de seguida.


Atrás de uma arvora não muito longe dali estava uma pessoa que murmurou não escondendo o entusiasmo.


- Eu sei quem vai gostar de saber isto. Obrigado Sarah!


 


N.A. Mais um capítulo fresquinho que pode não parecer mas tem muita importância para a fic.


Bem, eu queria agradecer a quem comentou, Lilian Potter 10 e a Isis Malfoy. Um muito obrigado, por falta de tempo não vou por o proximo capitulo amanha mas sim quinta porque ele também está concluido e chama-se Familia perfeita. Para vocês verem eu nem tenho tempo de ler fics -.-´ mas quero ver se na quinta mudo isso.


Bem, até quinta xD

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