De Onde Convergimos



A cozinha parecia mais fria, agora que Luna fora embora. Com pesar foi que Ron constatou, ou admitiu a si mesmo, que ele já precisava daquela garota. Foi de súbito que ele tomou a decisão de levantar-se e irromper cozinha à fora, sem se dar nem ao trabalho de pôr o quadro no lugar. Ele correu o mais silenciosamente que pôde, tentando alcançar Luna que se fora a pelo menos um minutos.

-Luna? Luna! – Sussurrava ele, enquanto corria em passos silenciosos. Foi no quinto andar, perto da porta para a torre da Corvinal, que ele viu a luz azul-celeste que irrompia da varinha de Luna, e ele a alcançou, “apagando” sua própria varinha.

-O que foi? – Perguntou ela. Seus olhos estavam vermelhos, mas ela não chorava mais.

-Eu vim pedir desculpas.

-Não me agradam pessoas cuja boca é mais rápida que o cérebro.

-Olha, eu sei que eu agi como um idiota...

-Vontade de arrancar seus olhos...

-Mas eu prometo que se você me der mais uma chance....

-Pelas narinas!

-Eu não vou mais agir como...

-E depois ainda te enforcar com suas artérias e...

-O completo retardado que eu tenho sido.

-Dissolver seu cérebro com seus ácidos estoma... Não, isso seria exagero.

-Ouviu alguma coisa que eu falei?

-Você ouviu alguma coisa que eu falei?

-Não me venha com perguntas reversas!

-Sshh. – Disse Luna, de repente, apagando sua varinha. – Filch. – Disse. E em alguns segundos, Ron pôde ouvir passos também. Ele sentiu sua mão sendo agarrada pela de Luna, enquanto ela o guiava na completa escuridão. – Auch! Quem raios colocou essa parede aqui?! – Disse ela, logo após o estrondo de sua colisão. Ela seguiu correndo, e assim que dobraram o corredor, eles pararam pra descansar.

-Precisamos de algum lugar para nos esconder... – Disse Ron

-Como quiserem, Ravenclawn e Griffindor! – Disse alguém, logo atrás deles. Seus corpos gelaram e prenderam as respirações. Foram pegos! Alguém – cuja voz não reconheceram – estava bem atrás deles. Foi Luna quem sussurrou Lumos, fazendo irromper luz de sua varinha, enquanto Ron já imaginava os vasos sanitários que teria que lavar, ou quantos troféus teria de polir. Mas não tinha nada, ou ninguém, a não ser uma tapeçaria velha naquele corredor.

-Quem...

-Veja! – Disse Luna, apontando para a tapeçaria. Nela, tinha a imagem de um cavaleiro em frente a uma porta. Enquanto eles se aproximavam, o cavaleiro ia se afastando a porta, até que ela ficou totalmente exposta.

-Curioso. – Disse Ron, meio temeroso.

Luna levou a mão à maçaneta da porta, como se fosse abri-la.

-Luna, desculpa... mas isso é uma tapeçaria. Quer dizer, não se abrem portas em tapeçarias... – Mas Ron calou-se assim que Luna pousou a mão na maçaneta e abriu a porta para dentro. Ela olhou sorridente pra ele, e saltitou para dentro da tapeçaria. Ron arregalou os olhos e sussurrou palavras desconexas, até que Luna o puxou pelo cangote, e o fez entrar cambaleante em um lugar totalmente escuro. Ele ouviu a garota fechar a porta às suas costas, e murmurou “Lumos” também, pois não enxergava nada.

-Onde raios estamos?! – Perguntou Ron.

-Se você for consultar o dicionário, veremos um leque imenso de palavras e expressões que têm a mesma utilidade de “raios”. Sério, já enjoou.

-Onde pombas estamos?! – Repetiu Ron, quase ignorando a reclamação da garota.

-Não tenho a mínima idéia. – Sussurrou Luna, tateando o local. Ela sussurrou “Incendio” um punhado de vezes, até que acendera todas as velas e tochas da sala, iluminando-a.

Estavam em uma sala relativamente espaçosa. A partir da porta, na sala circular que se encontravam, se via uma estante incrívelmente abarrotada de livros, outra estante abarrotada de artefatos como espadas, balanças, tubos de ensaio e globos de vidro aparentemente inúteis, uma última estante com toda a variedade possível de bugigangas, uma cama enorme repleta de almofadas fofas, uma escrivaninha e uma mesa no centro da sala com algumas cadeiras.

-Se essa é a Sala Precisa, ela deve ter nos interpretado mal. – Disse Luna, levantando uma sobrancelha pra cama.

-Quer dizer, nos interpretado totalmente ao contrário. – Disse Ron, dando uma volta inteira na sala. Luna pôs-se a examinar os livros atentamente, e soprou a poeira daquele lugar. Parecia que não se visitava aquele lugar há anos – talvez há séculos. Teias de aranha, poeira, o cheiro de idade.

-Veja isso aqui. – Disse Luna, de repente. – Tem uma fileira inteira de livros escritos por Rowena Ravenclawn. E este... – Disse ela, fazendo relativa força para arrancar o livro da estante. Era um livro grosso de capa azulada e letras em prateado. – Parece ser o diário dela. – Ela abriu o livro, que desprendeu quilos de pó. Ela tossiu por pelo menos meio minuto, antes de examinar o que dizia dentro. Ela levantou novamente uma sobrancelha e sussurrou alguma expressão desconhecida ao vocabulário de Ron.

-O que foi?

Ela levantou os olhos, animada. – Está em códigos!!

Ron esperou que ela completasse a sentença, mas ela não o fez. – Tá...?

-Códigos! – Repetiu ela, como se Ron não tivesse entendido o âmago da questão.

-Hum... Sei o que são.

-Você não entende que talvez estejamos na frente de um dos grandes mistérios de Hogwarts? E que talvez sejamos os primeiros desde Rowena Ravenclawn a entrar aqui?!

-Olhando por este lado, é bem interessante. – Disse Ron. Ele finalmente entendera a magnitude do fato d’eles terem encontrado o diário de uma das fundadoras de Hogwarts! Quer dizer, quantos segredos se revelariam a partir dali, coisas que nunca nem Dumbledore sonhou sobre sua escola. – Mas está em códigos! O que faremos sobre isso?

-Você eu não sei o que vai fazer, mas eu sei que eu fico três dias acordadas, mas decifro esse diário. Ainda mais se eu fizer isso comendo Torta de amora. Nossa, que fome me deu. Aliás, continuo com fome, já que eu não pude saciá-la, por que você apareceu.

-Eu não te pedi para sair, para início de conversa. – Mas Luna já não o ouvia mais. Ela já se sentara na cama, absorta no livro.

Foi necessário um esforço sobre-humano para desconcentrar Luna, e levá-la para seu quarto, mas Ron conseguiu isso. Ele voltou para torre da Griffindor sem mais problemas, tendo combinado um encontro com Luna naquela sala. Ela pareceu se esquecer do que Ron fizera pra ela, mas algo lhe dizia que não era exatamente o que parecia ser. 



-Você, Srta. Granger! – Acusou Harry, apontando para Hermione acusadoramente. Harry, Ron e Hermione estavam sentados na frente da lareira, no salão comunal da Griffindor. Aproveitavam pra fazer os já passados deveres de DCAT no turno em que teria Herbologia, mas parecia que a professora Sprout havia sido pega de surpresa por nabos galopantes que a atropelaram, e agora estava com alguma coisa quebrada, na ala hospitalar.

-O que foi que eu fiz agora... Potter? – Perguntou Hermione, exausta das caras que toda a escola fazia para ela, desde o primeiro dia de aula.

-Você está compactuando com o inimigo, sua traidora! – Disse, parecendo realmente irritado.

-Você está me julgando por que, exatamente? Por evitar ficar perto da pessoa mais infantil que existe? – Perguntou, faiscando olhares para Ron.

-Não seja hipócrita, Hermione! Quando eu terminei com você, você praticamente rolou e se atirou da janela pra não ter que me ver, e no Expresso você nem sentou no mesmo vagão que eu! – Disse Ron, meio exaltado.

-Ora, como você...

-Não é hora pra uma discussão amorosa, crianças. – Disse Harry enfaticamente.

-Olha, quer saber?! Se virem. – Disse Hermione. – Estou cansada de ser aquela que engole livros pra vocês fazerem as lições de casa e ganhar em troca um bocado de críticas. Vou ver se o Draco precisa de alguma ajuda.

-Nós conseguimos sem você! – Disse Ron.

-Você ta louco? – Perguntou Harry, assim que Hermione deu as costas e saiu. – Você sabe que a gente não consegue sem ela.

-Hey, Frida! – Gritou, para uma garota do outro lado do Salão comunal. – Você sabe alguma coisa da última matéria de DCAT? – Quando a garota acenou na negativa, Ron suspirou e concluiu: - É, não conseguimos sem Hermione.



Hermione foi direto para o banheiro feminino, que havia se tornado um ambiente habitual para ela. Ela apoiou seus livros em uma pia, e se apoiou neles, começando a chorar. Ela andava muito mais sensível do que o comum, desde as férias.

Não era fato que ela se considerasse a pessoa mais sofrida do mundo, mas é que todo o sofrimento tomava uma dimensão diferente – maior – quando encarada por uma mulher, o que Harry e Ron não entendiam. Talvez ela não oferecesse suporte suficiente para Ron, mas ela sempre oferecera! E agora, Ron andava próximo a Luna...

Óbvio que Hermione notara. Eles andando juntos nos intervalos, conversando no almoço, sentando juntos na aula de poções... E se bem que fazia todo sentido do mundo, os dois juntos... Luna era tudo aquilo que Hermione não era, com a vantagem de também ser bonita e inteligente. “Prefiro mil vezes ser racional.” Mentalizou diabólicamente.

Não é que ela não gostasse de Luna, mas todos tinham uma imagem feita da garota que é difícil de se desfazer. E elas nunca foram literalmente pedaços que se completam, e como já foi dito, eram completamente o oposto uma da outra.

E ela era tudo o que o Ron procurava em Hermione e não encontrava. Seu coração pulou, deu três voltas e duas batidas descompassadas antes de voltar a bater normal. Ela ainda sentia-se muito mexida ao lembrar do fim do namoro com Ron. Eles estavam tão bem juntos. Ou melhor, Hermione estava tão bem com Ron! Mas o último mês de férias serviu bem para diluir o amor que ela sentia pelo ruivo, pela falta de convívio, o que abriu em seu coração espaço para amar de novo. O que nem mesmo ela aceitava que acontecesse com um certo Malfoy que andara tentando a conquistar.

Quer dizer, não fora ela no terceiro ano que dera um soco no nariz daquela doninha impertinente?Não fora ele que fizera crescer descontroladamente seus dentes da frente? Não era ele quem chamava-a constantemente de sangue-ruim, escória? Ele não fora um comensal da morte ano passado?

Era estúpido, senão irracional o que ela estava sentindo. Mas era tão bom.

Por sua vez, Malfoy era simplesmente melhor que Ron. Em todos os sentidos. Nos poucos diálogos intensos e extensos que tiveram, ele melhor parecia entendê-la, ouvi-la, absorver cada palavra que ela lhe dizia.

Odiava admitir. Ela se apaixonara pela figura mais patética da trama, o vilão que tenta se redimir dos crimes do passado.

-Que poético. – Sussurrou, olhando para sua face no espelho. –Você é bonita, Hermione. Insignificante e comum, mas bonita. Você podia namorar outro garoto senão aquele ruivo mequetrefe, ou aquele lambido nojento.

-Oi Hermione! – Disse uma voz alegre e cantada, às suas costas. Pelo espelho ela pode ver Luna saltitando até uma pia. Ela parecia estar com uma sanguessuga na testa...? Mas ela ignorou o fato. Pegou seus livros e saiu decidida do banheiro, sem responder à garota.

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