Capítulo 1 - A Pretendente

Capítulo 1 - A Pretendente



Uma gravata borboleta, aranhas e um olho cor de chocolate.


 


Faz anos que nos conhecemos, você se lembra?


Eu me lembro muito bem.


Eu tinha quinze anos, estávamos no clube da cidade. Eu tinha sido obrigado a ir pela minha mãe ao aniversário de quinze anos minha prima. Era Debut coletivo, daqueles que vai um monte de aniversariantes, cada uma com seus casais para dançar. Estavam todos dançando, menos eu. Aparentemente o par que ela tinha conseguido para mim tinha pegado catapora.


No meio daquele salão quente, todo enfeitado de branco com balões prateados, eu te notei. Era, na verdade, a única pessoa que não estava dançando, tirando eu. Você estava linda, usava um vestido todo branco, tomara que caia. Ele era longo, e tinha que amarrá-lo atrás. Havia alguns detalhes prateados. Você tinha uma maquiagem bem leve, que realçava os seus olhos, seus cabelos estavam presos em um coque meio desarrumado, de propósito. Ele deixava vários cachos cair sobre os seus ombros e era preso com algumas presilhas de prata.


Você estava sentada a algumas mesas redondas de mim, tinha os olhos fitando o chão, enquanto balançava os pés para frente e para trás, distraída. Levantei-me e caminhei até você. Como eu me achava patético de smoking. Parei atrás de você e fingi um aceso de tosse para você me notar. Você deu um sobressalto e me encarou surpresa. Como você conseguia ficar tão linda com lágrimas nos olhos?


 


~*~




-Ahhh mãe, eu tenho mesmo que usar isso? – Rony perguntou fitando sua gravata borboleta vermelha com bolinhas brancas novamente.


-Claro que sim Roniquinho, é a festa da sua prima, a Laura. Você se lembra dela, não é mesmo? – perguntou Molly ajeitando a bainha da calça do filho.


-Não sei, eu tenho tantos primos. É a crespa, ou a de 1,97 de altura?


-É a com cabelos lisos até a cintura e com olhos verdes. – falou Molly franzindo as sobrancelhas enquanto pegava mais um alfinete da boca. – Prontinho. Você está lindo!


Rony se fitou no espelho. Usava um smoking, a gravata horrorosa e paletó, ou seja lá o que era aquilo. Seu cabelo estava cheio de gel, puxado para um lado, parecendo que uma vaca o tinha lambido e já estava começando a ficar com bolhas nos pés por usar o sapado do seu pai. 


Ele soltou um gemido.


-Agora eu vou ver como está a sua irmã. – disse Molly se levantando. - Não despenteie o cabelo! – gritou desaparecendo da porta, bem na hora em que Rony ia tentar deixá-lo mais apresentável.


Ele suspirou e desceu as escadas para aguardar os outros na sala.


Não demorou muito e Fred e George desceram, os dois estavam sem gravata, com a camiseta para fora da calça de modo desleixado e carregavam os paletós nos ombros.


-Vocês ficam legais com essas roupas! – Rony falou mal humorado. – Olha só o que a mamãe vez comigo!


Os gêmeos o encararam e tentaram segurar as risadas.


-Veja o lado bom maninho...


-Você realmente faria muito sucesso no circo.


-Hahaha, muito engraçado vocês são...


-Nós estamos prontas! – falou Molly descendo com Gina pelas escadas. Gina usava um vestido lilás que amarrava no pescoço.


-Por que só eu fico um idiota nessas roupas? – falou Rony suspirando.


-Vamos logo, a festa já começou há vinte minutos. – disse Gina fitando o relógio da sala.


Todos se espremeram no carro e Molly dirigiu até o clube da cidade. Para o Debut, eles tinham iluminado todo o caminho com luzes coloridas, lanternas a óleo e trepadeiras com flores faziam uma espécie de túnel por onde eles passariam.


-Quem nos dera que o nosso aniversário tivesse tudo isso... – murmurou Fred passando a mão por uma Rosa do Campo.


-Até depois queridos! – gritou Molly do carro de depois desaparecendo no final da rua.


Não parava de chegar pessoas, homens e mulheres, todos de terno e vestidos longos com um sobre tudo por cima. Quando passavam todos olhavam para Rony e riam.


-Ok, você já nos fez pagar vergonha suficiente. – falou George. – Fred, Gina... Que tal uma ajuda?


Os irmãos se aproximaram, Gina bagunçou o cabelo de Rony, o fazendo ficar elegantemente bagunçado. Fred tirou a camiseta de dentro da calça e abriu o paletó, enquanto George tentava arrancar a gravata borboleta do seu pescoço.


-Fala sério, onde a mamãe arranjou isso? – perguntou George ofegante depois de finalmente ter conseguido arrancá-la e a botou na palma da mão de Rony. – Tente se livrar disso rápido, antes que mamãe mande você usar para outra festa, ou no natal.


Rony assentiu botando a gravata no bolso enquanto entravam dentro do salão.


-Uou, uou, uou. – falou Fred esfregando uma mão na outra com um sorriso safado no rosto. – Quantas gatinhas de quinze anos.


E ele tinha toda razão, havia milhares de garotas lá, além das aniversariantes também tinha os tals de 15 casais para dançar valsa.


Um grupo de garotas passou por eles e deram risadinhas quando George piscou para elas.


-Ah, como eu adoro Debut coletivo, ou seja lá qual for o nome.


-Vamos lá cumprimentar a Laura. – falou Gina franzindo as sobrancelhas e arrastando Rony que estava babando por uma mulata em um vestido vermelho sangue.


-Primos! – uma moça gritou ao vê-los. Ela tinha leves olheiras e um nariz um pouquinho grande, mas que se encaixava em seu rosto não a deixando feia. Seus cabelos eram de um ruivo mais claro e meio ondulado. – Nós estávamos apenas esperando vocês para se juntarmos a valsa com os outros. – ela apontou para a gigantesca pista de dança, onde milhares de casais deslizavam com leveza.


-Olá Laura.


-Bem, Fred você vai dançar com a Angelina. – ela falou o arrastando até uma mulher muito bonita. – George com a Amanda e Gina com o Harry.


Ela apontou por fim para um garoto magricela, com cabelos negros e arrepiados, usava óculos e tinha olhos que lembravam esmeraldas. Ele sorriu e ofereceu o braço para Gina que aceitou ficando escarlate.


-Puxa, Ron. Você está bonito. – falou Laura o fitando de cima a baixo e fazendo Rony sentir suas orelhas queimarem.


-Sim né, adivinha quem arrumou. – murmurou Fred para Angelina. Ele falou mais alguma coisa no seu ouvido e ela tentou abafar a gargalhada.


-Hum, obrigada Laura. – Rony sussurrou envergonhado.


-Bem, eu tinha convidado uma moça ótima para dançar com você, a Luna Lovegood. Foi uma pena ela ter ficado doente... Então, desculpa, mas você está sem par.


-Tudo bem! – falou Rony sorrindo. Não sabia dançar, e nem queria. Ele já estava pensando que quando chegasse ao clube fingiria ter torcido o pé e que a não dor não passaria até o fim da festa.


-Tem certeza? Qual quer coisa eu posso pedir para o Cedrico dividir a Cho com você... – ela apontou para um casal que dançava.


-Eu tenho certeza sim, nem se preocupe. – ele falou se jogando em uma cadeira que tinha ali.


-Bem, então nós vamos dançar.


Os casais se afastaram da mesa, e Gina parecia muito fascinada com o seu par fazendo Rony ficar um pouco irritado.


Ele relaxou na cadeira e resolveu arrancar aquele paletó de uma vez, o colocando em cima da mesa.


Garçons passavam por Rony oferecendo salgadinhos que ele enchia as mãos e comia todos de uma só vez. Logo todas as mesas estavam vazias e os casais dançavam embolados entre todos.


Logo uma musica começou a tocar e Rony reconheceu a melodia.


-One Last Cry. – murmurou de boca cheia. Desde que tinha sido tema de uma novela há anos atrás Gina era viciada nessa musica.




My shattered dreams and broken heart
Are mending on the shelf
I saw you holding hands
Standing close to someone else


 


Foi então que Rony notou alguém que também não estava dançando. Ao longe uma garota estava sentada sozinha apoiada em uma mesa. Ela mexia os pés distraidamente enquanto brincava com os dedos no enfeite da mesa.




Now I sit all alone
Wishing all my feeling was gone
I give my best to you
Nothing for me to do




Rony por algum motivo sentiu uma incrível vontade de se sentar junto com ela. Nunca tinha se dado bem com garotas, nem com a sua própria irmã, e achava isso que estava sentindo muito bizarro, vindo dele.




But I've one last cry
One last cry
Before I leave it all behind
I've gotta put you out of my mind this time
Stop living a lie I guess
I'm down to my last cry


 


Antes que se desse conta dos seus movimentos ou de se segurar na mesa, Rony já estava caminhando até ela, como se ela fosse um imã em forma de pessoa.




I was here, you were there
Guess we never could agree
While the sun shines on you
I need some love to rain on me
Still I sit all alone
Wishing all my feeling was gone
Gotta get over you
Nothing for me to do


 


Quando notou já estava parado atrás dela. Ela não pareceu ter notado.


-Cof, cof. – fingiu para ela perceber que ele estava ali.


A garota deu um pulo em sua cadeira e se virou depressa balançando seus delicados cachos com o movimento.




But I´ve one last cry
One last cry
Before I leave it all behind
I've gotta put you out of my mind this time
Stop living a lie


 


-Você está bem? – Rony perguntou surpreso ao ver seus olhos vermelhos e embaçados.


-Quem é você?! – a garota perguntou irritada o encarando e secando as lagrimas apressadamente. Sua maquiagem estava levemente borrada.


-Prazer, Ronald. – falou estendendo a mão. – Ronald Weasley.


-Hermione Granger. – ela falou retribuindo o cumprimento. – O que você quer comigo?




I know I’ve gotta be strong
‘Cause ‘round me life goes on and on and on... and on




-Estava pensando, o que uma moça estaria fazendo sentada sozinha em plena festa de quinze anos. – falou sorrindo de lado. – E, pelo visto você também é uma aniversariante.


-Acertou. – disse retribuindo o sorriso sem muito sucesso.


-Eu posso? – ele perguntou apontando para a cadeira ao seu lado. Hermione fez que sim com a cabeça. – Mas, então. O que você faz aqui abandonada nessa mesa?


 


But I've one last cry
One last cry


Before I leave it all behind
I've gotta put you out of my mind for the very last time
Been living a lie




A garota fungou e Rony logo se arrependeu da pergunta, percebendo que esse era o motivo de estar chorando.


-Eu não tenho par.


Ele a encarou, perplexo. Tudo já tinha se passado por sua cabeça menos isso, nunca teria imaginado que uma garota tão bonita não teria um par para a dança.


-Mas, tecnicamente você também não está comemorando o seu aniversario? – não sabia quase nada desse assunto. Mas em um Debut ele achava que pelo menos a aniversariante tinha que dançar.


Hermione sorriu, o sorriso mais triste que Rony já tinha visto até então.




I guess I'm down
I guess I'm down
I guess I'm down




-Isso aqui não é o que se pode se chamar de aniversario não é mesmo? Minha mãe me obrigou a participar do Debut coletivo aqui do clube. Só vim eu, não tenho muitos amigos sabe? – ela suspirou, aparentemente cansada. – Bem, e meu acompanhante me deu um fora hoje de manhã, falou que tinha conhecido outra durante as férias e... – Hermione tinha se calado colocando o rosto entre as mãos. – Por que eu estou lhe contando isso? Eu mal o conheço!




To my last cry




-Mas isso não significa que você não pode desabafar comigo. – Rony falou encarando os seus cabelos castanhos. – Por um lado até é bom, pois assim não tem como eu te julgar. Estranhos também podem ser boa companhia.


-É, principalmente para mim, que parece que não consigo conviver com ninguém por mais de um dia. – ela falou. Sua voz saiu abafada, pois ainda estava com o rosto entre as mãos.


-Vamos mudar o rumo da conversa. Afinal, você agora tem quinze anos!


-E você quantos anos tem? – Hermione perguntou levantando o rosto. As lagrimas pareciam estar secando.


-Quinze também.


Ela fitou o rosto de Rony, passando dos olhos muito azuis, até o cabelo ruivo e as sardas. Depois fitou a pista de dança. Quando o encarou de novo ela tinha um pequeno sorriso.


-Deixe-me adivinhar; você veio com os ruivos. – aquilo não era uma pergunta.


-Sou parente de todos que estão na pista de dança. – Rony fitou todo o salão. – Ou melhor, da festa.


Hermione riu de lado.


-Qual delas está fazendo aniversario?


-Minha prima Laura, a com cabelos até a cintura e alta.


-E a pequena?


-Minha irmã, Gina.


Ela continuou fitando a pista, até que se jogou para trás surpresa.


-Aquele ali é o Harry Potter?!


-Deve ser, minha prima o chamou de Harry. O conhece? – Rony estava confuso por causa da reação dela.


-Não... Não pode ser ele. Seria coincidência demais! – ela exclamou para si mesma, e depois parecendo se lembrar da presença de Rony, explicou. -Meu amigo de infância, era meu vizinho. Quando ele se mudou para o Brasil perdemos contato e eu nunca mais falei com ele. Nem sabia que tinha voltado a Londres. – ela comentou, olhando para o nada, como se estivesse vendo algo que ele não conseguia ver.


Passaram-se alguns minutos de silencio.


-E os gêmeos quem são? – ela voltou a falar.


-Fred e George, meus irmãos mais velhos. São uns idiotas, devo confessar. – ela riu. – Quando eu era pequeno, tinha cinco anos, eles me botaram uma venda e foram dando coisas para eu provar e adivinhar que doce era. Eu provei chocolate, bombom, sorvete, bala, até que eles me deram uma lagarta bem verde. E eu comi pensando que era gelatina.


Então Hermione explodiu em gargalhadas se esquecendo completamente do namorado.


-E isso deve ter sido uma das mais fracas que eles aprontaram. Teve uma vez que eu estava dormindo, e eles trocaram o meu urso de pelúcia pela caranguejeira do Lino, um amigo deles. Eu acordei berrando com ela caminhando no meu cabelo.


Hermione apertava a própria barriga de tanto rir.


-E, na, não era perigoso? – ela perguntou entre as gargalhadas.


-Não tenho nem idéia. – ele falou dando de ombros. – Desde então, melhor falando, desde quando eu tinha treze anos eu tenho medo de aranhas.


-Treze? – Hermione perguntou o encarando. – Você dormia com o seu ursinho aos treze anos?


-Er.. É... – Rony falou sentindo seu rosto queimar. Nunca mais falaria com garotas! – Mas eu não durmo mais viu?! Isso é coisa para bebês e...


-Nem esquenta Ronald. Até hoje eu durmo com o meu burrinho do ursinho Pooh. – ela falou sorrindo.


-Mas eles até fazem coisas que prestem. Hoje por exemplo, me ajudaram a me livrar de uma gravata borboleta horrorosa.


 


 


Você tem que admitir que aquela tinha sido uma situação estranha. Uma adolescente sem amigos estava comemorando seu aniversário de 15 anos, sozinha. Seu namorado havia lhe dado um fora no mesmo dia e agora você desabafava com uma pessoa que conhecia há 30 segundos.


Ficamos conversando durante a festa toda. Não demorou muito e você já estava gargalhando sobre o que Fred e George já tinham aprontado comigo. Eu lhe contei o que fazia ali e porque também não estava dançando como os outros.


 




-Roniquito! Nós já estamos indo Romeu! – gritou George saindo da pista de dança e notando Rony sentado em uma mesa que não era a deles. – Ah... Olá, George Weasley. – falou se apresentando com um sorriso enorme para a Hermione.


-Hermione Granger. – ela disse sorrindo e estendendo a mão.


George pegou a mão dela e a beijou delicadamente fazendo tanto Hermione quando Rony ficarem vermelhos, por motivos diferentes.


-Vamos gêmeo, mamãe já me ligou 27 vezes e... – Fred falava vindo na direção deles e segurando Angelina pela cintura, mas se calou eu notar Hermione. – Você é...?


-Hermione Granger.


-Bem, Fred Weasley, Migatinha. – ele falou dando uma piscadela. – Essa aqui é a minha parceira de dança, Angelina.


-Prazer.


-O que foi que está o povo todo na mesa errada?! – gritou Gina puxando Harry pela mão até a mesa.


-Estávamos conhecendo a gata da pretendente do Roniquinho, a Mione. – falou dessa vez George fazendo Hermione afundar na cadeira e Rony se camuflar entre os cabelos.


-Pretendente é? Mas o Rony ainda nem sabe beijar na boca. – disse Gina sorrindo para Hermione. – Gina, irmã do seu noivo.


-Prazer.


-Hermione Granger?! É você mesmo?


Tinha sido Harry quem falara. Ele fitava Hermione com os olhos muito arregalados, mas em sua boca havia um sorriso.


-Harry James Potter? O meu amigo desaparecido? – ela falou sorrindo e com um pulo ela se pendurou no seu pescoço o abraçando. – E ai, como foi no Brasil?


-Foi maravilhoso. – disse Harry a soltando e sorrindo. – Puxa, eu nem te reconheci...  


-Quando você voltou?


-Há uns dois anos. Nossa, ainda nem acredito que é você que está na minha frente!


-Bem, vamos lá antes que a mamãe tenha um enfarto. – falou Fred. – Eu te ligo Angelina, cineminha sexta ok?


-Combinado.


-Vamos mesmo combinar da gente se ver? – perguntou Gina encarando Harry.


-Claro, amanhã mesmo eu te ligo.


Aos poucos todos foram se despedindo e Fred, George e Gina caminharam para fora do clube.


-Eu te falei que eles eram chatos. – disse Rony sorrindo. – Até um dia desses Hermione. – e ele lhe deu um beijo na bochecha, logo depois saindo correndo enquanto suas orelhas ficavam levemente vermelhas.


-Hei! Ronald! – ela gritou, mas ele não pode ouvir. – Esqueceu de me dar o seu numero... – murmurou e então logo notou algo no chão. Ela se abaixou e a colocou na sua bolsa com um sorriso. Era uma estranha gravata borboleta, vermelha com bolinhas brancas.


 


Logo eu cheguei em casa e fiquei lamentando durante semanas não ter te convidado para dançar.


Naquele dia eu sonhei com olhos cor de chocolate e um sorriso que poderia iluminar o mundo com a sua beleza.

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