CAPÍTULO XII



CAPÍTULO XII

Quando o príncipe Charles desembarcou na ilha de Eriskay, o sol se punha no horizonte emprestando um colorido espetacular à paisagem. Mas sua chegada não foi triunfal, como ele e os que lhe eram dedicados esperavam.
MacDonald de Boisdale, em dúvida quanto ao destino da Escócia, avisou-o:
- Alteza, esta é uma terra áspera, com uma história sangrenta e gente que já viu demasiado libertadores. Sua lealdade é para com os fortes.
A resposta do príncipe foi elegante e concisa:
- Estou voltando para casa. Para mim, isso é suficiente.
De Eriskay, ele e sua comitiva de sete homens, que agora lhe formavam a corte e a guarda, seguiram para o continente. Também lá os jacobitas mostraram-se mais preocupados do que entusiasmados. Mas Charles não se desesperou. Enviou cartas aos chefes de clãs da Alta Escócia, conclamando-os. De Cameron de Lochiel, recebeu um apóio relutante, mas precioso.
E assim, a 19 de agosto de 1745, diante de cerca de novecentos homens leais, o estandarte dos Stuart tremulou na torre de Glenfinnan, anunciando que Charles fora proclamado príncipe regente e que iria governar em lugar de seu pai, James VIII da Escócia e III da Inglaterra.
Esse pequeno exército marchou em seguida na direção do leste, recebendo adesões durante sua caminhada. Os clãs reagruparam-se, os homens deram adeus às suas mulheres e uniram-se às forças do novo rei. Formando uma coluna, avançaram por estradas acidentadas, transpuseram colinas íngremes e conseguiram evitar as guarnições do governo aquarteladas no Forte William e no Forte Augustus.
Os ânimos estavam fortalecidos. Como Harry previra, haviam sido necessários apenas a energia e o carisma do príncipe para unir os escoceses sob uma única bandeira. Quando os homens pensavam nas batalhas que iriam travar, pensavam não na glória pessoal, mas na vitória da justiça que lhes fora negada por tanto tempo.
Alguns dentre eles eram jovens. Harry podia ver a esperança espelhada em seus rostos redondos, pelo modo como riam e aplaudiam aquele príncipe que usava também o kilt, o saiote dos escoceses. Outros eram velhos e representavam o passado, as batalhas perdidas ou vencidas. Eles olhavam para o príncipe, em cujas veias corria o sangue dos Stuart, como quem olha para o homem que não só manteria os clãs em união absoluta, mas que os libertaria dos grilhões de um governo despótico.
Porém, velhos ou jovens, ansiosos ou desanimados, Charles mantinha-os unidos unicamente com a força de sua personalidade, de sua alegria contagiante, de sua confiança sem temor.
O tempo continuava bom, parecia que o próprio Deus abençoava a rebelião. As brisas eram cálidas e frescas as águas que desciam da montanha. A noite, as turfeiras pontilhavam-se de fogueiras. E, enquanto as chamas ardiam alto, soltando centelhas que subiam como vagalumes na escuridão, e os bardos tiravam de suas gaitas de fole melodias inspiradas, os homens bebiam uísque, riam e gracejavam. Contudo, estavam prontos a trocar rapidamente o festim por uma batalha.
Foi Harry o primeiro a saber que um exército do governo, liderado pelo general sir John Cope, havia sido despachado para o norte. Ele recebeu a notícia do próprio príncipe, no instante em que os homens levantavam acampamento e preparavam-se para reiniciar a jornada.
- Vamos lutar, meu amigo!
- Parece que sim, Alteza.
A manhã estava quente e a suave claridade do céu da Escócia derramava-se sobre os campos. No ar, pairava o odor acre das fumaradas, misturado ao cheiro dos cavalos e do suor dos soldados.
- Parece um bom dia para lutar. - tornou Charles, estudando o rosto de seu súdito leal. - Ou acha que devemos esperar por lorde George?
- Lorde George é um excelente marechal-de-campo, Alteza. - disse Harry cauteloso.
- Tem razão. Mas podemos contar com O'Sullivan. - Charles apontou para o soldado irlandês que estava organizando os homens para a jornada.
Harry tinha suas dúvidas. Ele não questionava a lealdade do irlandês, mas sentia que havia nele mais entusiasmo do que a prudência permitia. Porém, sabendo muito bem que seria inútil opor-se ao príncipe, disse respeitosamente:
- Sabemos o que devemos ao nosso rei, como seus súditos. Lutaremos.
- Eu estou aqui para isso!
Charles acariciou o punho de sua espada, enquanto olhava em torno. Experimentava um amor sincero e profundo por essa terra. Quando fosse rei, faria de tudo para que a Escócia e seu povo fossem recompensados.
- Será uma longa jornada, Harry, que nos distanciará cada vez mais do rei Luís e de sua corte.
- Sem dúvida, Alteza. Mas valerá a pena empreendê-la.
- Sabe que havia lágrimas nos olhos de algumas daquelas lindas damas, quando você partiu? Teve tempo de arrasar corações também na Escócia?
- Há apenas uma mulher para mim, sir. E um coração que tomarei cuidado de não partir.
Os olhos negros do príncipe cintilaram de prazer.
- Muito bem! Parece que o disputado lorde Potter caiu de amores por uma jovem escocesa. Diga, mon ami, ela é tão bonita quanto a sensual Cho Chang?
Harry esboçou um leve sorriso.
- Eu pediria a Vossa Alteza que não fizesse comparações, especialmente na presença da jovem em questão. Ela é muito temperamental!
- É mesmo? - Charles riu deliciado. - Estou curioso. Quero conhecer a mulher que conquistou o coração do homem mais cobiçado pelas damas francesas!

As tropas de Cope não apareceram. A estrada para Edimburgo estava aberta aos rebeldes. Com três mil homens a mais, eles capturaram Perth, depois de uma batalha breve, mas fulminante. Vitorioso, continuaram sua marcha para o sul, enfrentando, com sucesso, dois regimentos de dragões.
A luta parecia aquecer seus ânimos. Ali havia ação, em vez de conversa, fatos em vez de planos quiméricos. Com a espada e as gaitas de fole, escudos e achas de combate, eles eram invencíveis. Os que não caíam sob o jugo de suas armas, contariam depois histórias fantásticas sobre sua habilidade e seu destemor.
Sob a liderança de lorde George Murray, que os alcançou em Perth, assediaram Edimburgo com o fito de ali se instalarem. Os habitantes entraram em pânico. Corriam rumores terríveis acerca de atos de barbárie, canibalismo e chacina praticados pelos invasores. A guarda fugiu, apavorada e, enquanto Edimburgo dormia, a facção dos Cameron investiu contra as sentinelas e assumiu o controle da cidade.
Ninguém poderia imaginar que apenas um mês depois de sua chegada, o mais jovem descendente dos Stuart entraria como um cavaleiro eleito pela porta do castelo de seus ancestrais e dele tomaria posse!
Rony estava ao lado de Harry, quando o príncipe, conduzindo um ginete cinzento, de arreios ricamente adornados, rumou para Holyrood Park. A multidão que se acotovelava nas ruas ergueu entusiásticos gritos de aclamação, ao vê-lo com a túnica de lã axadrezada da Alta Escócia e a boina azul com penacho branco. Talvez ele não fosse ainda o príncipe da Inglaterra, mas era certamente um deles!
- Ouça-os, é emocionante. - disse Rony sorrindo. - É a nossa primeira vitória real!
Harry moderou a marcha de sua montaria, guiando-a com cuidado através das ruas estreitas.
- Eu juraria que, agora, ele pode guiá-los até Londres com uma única palavra. Só espero que os suprimentos e os homens que precisamos cheguem a tempo!
- Poderemos ser vitoriosos mesmo inferiores em número. Seria como foi em Perth e em Coltbridge. - Rony torceu o nariz. - Este lugar está cheio demais. Prefiro os campos abertos e as colinas da Alta Escócia. Como um homem pode respirar, se o ar não circula?
Edimburgo era um amontoado confuso de construções de fachadas sórdidas, em sua maioria de pau-a-pique. Os edifícios de pedra, freqüentemente com mais de nove ou dez andares, estavam espremidos de encontro a colinas perigosamente abruptas.
- Pior do que Paris. - observou Harry.
As ruelas e os becos exalavam um forte mau cheiro, e o lixo e os detritos obstruíam as alamedas. Mas o povo, na ânsia de aplaudir o príncipe, parecia não se importar com isso, e o seguia com entusiasmo.
Muito além dos cortiços e das vielas, sobre uma colina que ascendia do rio, erguia-se o Castelo Real de Edimburgo, majestosamente envolto na poeira luminosa de sua antiguidade e de sua história. Em outros tempos, fora o cenário de paixões inconfessáveis. Mary, rainha da Escócia, sua mais famosa e infeliz inquilina, ali casara-se e vivera, ali vira seu amante Rizzio ser assassinado.
E era ali, nesse lugar de pompa e intrigas, que o príncipe Charles, trineto de James I, iria instalar sua corte. Depois de desmontar, ele atravessou lentamente o pátio e as arcadas, reaparecendo momentos depois à janela de seus novos apartamentos, de onde acenou para a multidão. Edimburgo em peso aclamava o príncipe e ele, por sua vez, reverenciava a cidade. Iria provar essa adoração poucos dias depois, quando Cope movimentou suas tropas, levando-as para o sul.
Os jacobitas defrontaram-se com o exército do governo a leste da cidade, em Prestopans. No primeiro instante, somente o som fantástico das gaitas de fole rompia o estranho silêncio do campo de batalha. Sua melodia profunda e sentida erguia-se sobre as charnecas, espalhando tristeza como névoa de inverno.
O primeiro ataque fez os pássaros debandarem em revoada. Foi o sinal para que as duas primeiras filas de ambos os partidos, apoiadas pela retaguarda, se lançassem uma contra a outra num choque tão formidável que se ouviu a uma milha de distância.
Como acontecera antes, a infantaria inglesa não pôde suportar a violência da carga escocesa. Quando a linha vermelha ondulou e quebrou-se, os cavaleiros esporearam os cavalos, e as espadas de dois gumes brilharam ao sol. Os corvos crocitaram, em meio à fumaça de canhão e morteiro, e, atraídos pelo cheiro de sangue, puseram-se a voar cada vez mais baixo.
Harry conduzia sua montaria através do que havia sobrado das linhas inglesas. Enquanto o solo explodia com o impacto das balas, pôde vislumbrar os penachos brancos dos jacobitas e os mantos axadrezados dos Weasley, dos MacDonald e dos Cameron. Alguns caídos, vítimas das baionetas ou das espadas.
Após dez minutos, a batalha estava decidida: a cavalo ou a pé, os dragões retiravam-se precipitadamente para os abrigos das colinas. Esse dia, as gaitas comemoravam a vitória, e o pavilhão dos Stuart foi hasteado na torre de Holyrood House.

- Não compreendo por que estamos aquartelados em Edimburgo, quando podíamos estar marchando para Londres! - disse Rony, enquanto caminhava pelo pátio de Holyrood envolto num manto que o abrigava da neblina gelada.
Pela primeira vez, Harry concordou com a impaciência do amigo. Fazia quase três semanas que estavam na corte recém-estabelecida de Charles. Verdade que o príncipe não esquecia seus homens, dividindo seu tempo entre Holyrood e o acampamento sediado em Duddingston. O moral era alto, mas havia ali mais de um homem que partilhava das opiniões de Rony. Os bailes e as recepções podiam esperar.
- A vitória em Prestopans nos valeu mais apoio. - observou Harry. - Duvido que ficaremos aqui por mais tempo.
- Se os problemas que há entre lorde George e O'Sullivan se resolverem!
Essa era uma questão que inquietava Harry.
- Confesso a você que O'Sullivan me preocupa. Preferia um comandante enérgico, que estivesse menos interessado em causar confusão ao inimigo, e mais interessado na vitória definitiva.
- Não teremos nem uma coisa nem outra, se demorarmos mais um pouco aqui.
Harry sorriu compreensivo.
- Você está sentindo falta de sua casa e de sua mulher.
- Faz dois meses que deixamos Glenroe. E uma vez iniciada a marcha para o sul, poderá passar um ano antes de revermos nossos lares e nossas famílias.
Rony bateu amigavelmente nas costas do companheiro.
- A corte é magnífica e as mulheres são bonitas. Posso jurar que você já partiu uma dezena de corações com a sua indiferença.
- Tenho outras coisas na mente. - Harry sorriu. - Que me diz de um jogo de dados?
Rony assentiu e os dois voltaram a atravessar o pátio. Enquanto seguiam pelas arcadas imersas em sombras, uma mulher, ao passar, olhou para Harry. Ele foi atraído por seu porte, gracioso e reto, mas não se preocupou com ela. Súbito, estacou, pensando por que aquela estranha lembrava-lhe tão intensamente sua pastora de porcelana.
Voltou-se. Ela estava ainda lá. O capuz encobria-lhe parte do rosto e, à luz que morria, conseguiu apenas ver que era muito alta- e esguia. Podia ser uma criada ou uma das damas da corte tomando ar.
- O que há com você? - Rony virou-se. Ao ver a figura de mulher oculta nas sombras, sorriu. - Oh, é isso! Presumo que, agora, não vai querer jogar dados.
Mas Harry não o ouvia. A mulher abaixara o capuz e os últimos raios do sol poente incidiam sobre seus cabelos, fazendo-os brilhar como ouro.
- Gina?!
Começou a correr na direção dela, suas botas produzindo um ruído seco sobre o chão de pedra. Tomou-a nos braços antes que ela pudesse murmurar seu nome e a estreitou contra o peito.
- Querida...
Rony alcançou-os um segundo depois.
- E Mione? - perguntou ele, ansioso, enquanto beijava a testa da irmã.
- Estamos todos aqui. - disse Gina, sem fôlego. - O príncipe nos convidou. Chegamos há uma hora.
- Mione está aqui? Onde?
Sem esperar resposta, Rony girou nos calcanhares e saiu correndo através do pátio.
- Harry... - murmurou ela.
- Não diga nada, meu amor. Não diga nada.
Ele a atraiu para si e beijou-lhe os lábios macios, sentindo o leve perfume e a curva delicada daquele dorso sob as suas mãos.
- Não sabe que tortura é viver tanto tempo longe de você.
- Fiquei desesperada quando tivemos notícia da batalha!
Gina afastou-se um pouco e olhou-o. Era o mesmo homem que partira de Glenroe quase três semanas antes.
- E depois temia que você tivesse mudado. Tudo aqui é tão esplêndido!
- Nada poderá mudar o que existe entre nós, Gina.
Ela voltou a aninhar-se nos braços dele com um suspiro.
- Pedi tanto a Deus que você não encontrasse conforto nos braços de outra mulher...
- Meu amor, não receie ninguém, porque não há ninguém que possa se comparar com você. Esta noite, vou provar isto.
- Nada me daria mais prazer. Mas seria imprudente. O que não diriam os criados, se o vissem entrar em meu quarto, ou se me vissem entrar no seu?
- Esta noite, você virá a meu quarto como minha esposa!
Gina olhou-o, sem poder acreditar.
- Impossível!
- E absolutamente possível! Venha, vamos falar com o príncipe.
Sem lhe dar tempo para objetar, ele a arrastou através das arcadas. O príncipe estava em seus aposentos, preparando-se para a recepção da noite, mas consentiu em recebê-los.
- Alteza. - Harry inclinou-se profunda e respeitosamente, ao entrar na sala de estar.
- Boa noite, Harry. Madame...
Quando Gina postou-se numa reverência, Charles ajudou-a a se erguer e depois beijou-lhe a ponta dos dedos.
- Agora compreendo por que lorde Potter não lança sequer um olhar às nossas damas!
- Alteza, quero lhe agradecer o convite que fez a mim e a minha família. Foi muita bondade de sua parte.
- Devo muito aos Weasley. Eles nos deram um apoio incondicional. Tamanha lealdade não tem preço. Não quer se sentar?
Gina correu os olhos pela sala. Não havia ali senão coisas belas. No teto, cupidos espalhavam flores. E das paredes, decoradas no alto com ornatos em forma de folhagens, pendiam tapeçarias que reproduziam as vitórias dos Stuart nos campos de batalha.
- Obrigada, Alteza.
- Sir, tenho um favor a lhe pedir. - começou Harry.
Charles sentou-se, convidando-o a fazer o mesmo.
- Peça o que quiser, meu amigo. Eu lhe devo muito.
- Lealdade não é dívida, Alteza.
Os olhos de Charles suavizaram-se e Gina compreendeu por que o chamavam de Príncipe Galante. Não era só por seu belo rosto ou sua figura altiva, mas principalmente, pela beleza de sua alma.
- Que deseja?
- Gostaria de me casar com a srta. Weasley.
O sorriso de Charles alargou-se.
- Eu já imaginava. - Virou-se para Gina. - Em Paris, lorde Potter parecia deleitar-se na companhia das damas da corte. Em Holyrood, ele passa por desdenhoso e de gosto difícil.
Gina retribuiu o sorriso.
- Lorde Potter é um homem prudente, sir. Ele conhece a impetuosidade e o temperamento dos Weasley.
Charles riu, divertido.
- Presumo que você queira casar-se aqui na corte, Harry.
- Sim, Alteza. Esta noite.
O príncipe ergueu as sobrancelhas.
- Esta noite? Tal pressa é... - Ele olhou para o rosto radiante de Gina e concluiu: -... perfeitamente compreensível. Tem a permissão de lorde Weasley?
- Sim, Alteza.
- Há o problema dos banhos, mas eu acho que um aspirante ao trono tem a obrigação de resolver os problemas de seus futuros súditos. - Charles levantou-se. - Prometo que os casarei ainda esta noite.

Pálida, tendo a impressão de estar sonhando, Gina foi ao encontro de seus pais.
- Gina! - Molly balançou a cabeça ao ver que sua filha usava ainda os trajes de viagem. - Você precisa mudar de roupa. Estamos na corte, não em Glenroe!
- Mamãe, eu vou me casar!
Arthur beijou-a na testa.
- Já sabemos, filha.
- Esta noite!
- O quê? - Molly levantou-se impetuosamente. - Mas como?
- Harry e eu fomos pedir permissão ao príncipe.
- Compreendo. Tem certeza de que é isso mesmo que você quer?
- Tudo aconteceu tão depressa... Sim, mamãe. Não há nada que eu queira mais do que ser a esposa de Harry!
Molly passou-lhe o braço pelos ombros.
- Nesse caso, temos que nos apressar. Por favor, Arthur, deixe-nos a sós.
- Está me mandando embora de seus aposentos, my lady?
Molly estendeu-lhe ambas as mãos.
- Você iria se aborrecer aqui.
Arthur beijou-as e depois atraiu a filha para si.
- Esta noite, você passará a usar o nome de outro homem. Mas não se esqueça: será sempre uma Weasley!
Não houve tempo nem para pensar. As criadas prepararam rapidamente o banho e, enquanto Gina mergulhava na imensa banheira e um doce aroma de flores impregnava o ar, Gwen e Mione puseram-se a ajustar o traje de cetim branco da noiva.
- É tão romântico... - murmurou Gwen, alisando o cetim.
- Maravilhoso. - concordou Mione. - A noiva será a mais linda!
Essas palavras transmitiram, a um só tempo, alegria e medo a Gina, que saiu do banho tremendo.
- Venha depressa para perto do fogo, querida.
Molly tomou a mão da filha e percebeu que seu tremor pouco tinha a ver com o frio. Procurou tranqüilizá-la:
- Este é o dia mais importante na vida de uma mulher. Daqui a alguns anos, quando olhar para trás, irá lembrar-se dele com saudade.
- Estou com tanto medo...
Molly sorriu.
- Quanto mais se ama, maior é o medo.
- Então, amo Harry mais do que imaginava.
- Eu não poderia desejar um marido melhor para você, querida. Quando a guerra terminar, vocês conhecerão as alegrias que dão valor à vida.
- Na Inglaterra. - observou Gina.
- Quando eu me casei com seu pai, deixei minha família e meu lar. - disse Molly, enquanto a preparava com delicada atenção. - A floresta de Glenroe me assustava, e eu não suportava a idéia de ficar longe de tudo o que amava.
- Como conseguiu superar esse medo?
- Amando e dedicando-me ainda mais a seu pai.
Gina assentiu suavemente. Depois com agrado mirou no espelho a imagem da mulher ali refletida. Os cabelos derramavam-se sobre suas costas, brilhantes. O corpete do vestido de cetim modelava-lhe o busto, permitindo que os seios se elevassem suavemente. As mangas, muito amplas, ajustavam-se nos punhos bordados com pérolas. As pedras também salpicavam a saia, que se avolumava sobre a onda de rendas dos saiotes. A faixa que lhe cingia a cintura era larga e guarnecida com um pequeno buquê de rosas cor-de-rosa.
Foi assim, parecendo uma visão de contos de fadas, que ela atravessou a nave iluminada com os reflexos oblíquos dos vitrais, para se unir a Harry pelos sagrados laços do matrimônio.
Ele a esperava aos pés do altar, cujos degraus estavam cobertos de rosas. Foi ao seu encontro, pensando que nunca o vira assim tão bonito. A peruca branca realçava o rosto moreno e o brilho dos olhos escuros. Quando ele tomou-lhe a mão, Gina parou de tremer e foi confiante que se ajoelhou diante do sacerdote.
Após a cerimônia, haveria, segundo o desejo do príncipe, uma grande recepção. E assim, minutos depois de se ter tornado lady Potter, Gina viu-se conduzida para a Galeria dos Retratos, onde, após a tomada da cidade, Charles oferecera seu primeiro baile de gala. Ali, desejaram-lhe felicidade, beijaram-na e olharam-na com inveja ou admiração.
Ao convidá-la para dançar, o príncipe teceu-lhe o louvor que se dá à mais bela:
- Está extraordinariamente bonita, lady Potter.
"Lady Potter!", pensou Gina.
- Obrigada, Alteza. Como posso agradecê-lo por tornar isso possível?
- Prezo muito seu marido, my lady.
"Seu marido!"
- Sua Alteza é extremamente gentil.
Quando a dança terminou, Harry veio buscá-la.
- Está se divertindo, meu amor?
Ela corou profundamente. Ele estava diferente de peruca. Quase não podia acreditar que aquele era o mesmo homem que se deitara a seu lado e que a acariciara com ternura. Parecia tão encantador quanto o príncipe e quase tão estranho quanto ele.
- Sim, muito.
- Viu os retratos? São de monarcas escoceses. Disseram-me que foram encomendados por Charles II, embora ele nunca mais tenha voltado à Escócia, após a Restauração.
- Aquele é Robert the Bruce, um soldado destemido e um rei adorado.
- Devia saber que uma mulher instruída como você conhece perfeitamente a história de seu país. - Harry inclinou-se e perguntou baixinho: - O que sabe sobre estratégia militar?
- Como?
- Ah! Então há ainda alguma coisa que eu posso lhe ensinar.
Antes que ela pudesse retrucar, ele a levou para o corredor deserto, e ergueu-a nos braços.
- Para onde me leva?
- Para o quarto. - murmurou ele, dando-lhe um grande beijo na boca.
- Que dirão os outros?
- Não se preocupe. Ninguém notará a nossa ausência.
Sem dar-lhe tempo para protestar, Harry galgou os degraus de dois em dois. Uma vez diante de seu quarto, abriu a porta com um pontapé.
- Aqui estamos! - anunciou então, colocando sua esposa sobre a cama.
Ela fingiu-se indignada.
- É desse modo que trata sua esposa, my lord?
- Ainda não comecei!
- Eu estava com vontade de dançar.
- Pois sim, querida, dançaremos. Até o amanhecer!
- Minuetos? - provocou-o Gina.
- Não é bem isso que eu tenho em mente.
Ela alisou o vestido amarrotado.
- Gwen acha-o um personagem de romance, mas duvido que ela continuará a pensar assim, quando eu lhe contar que você me jogou na cama como se eu fosse um fardo!
- Romance? - Ele acendeu as velas dos castiçais. - É isso o que você quer, Gina?
- É com isso que Gwen sonha.
- Você não?
- Toda mulher tem direito a romance no dia de seu casamento.
Ele tirou-lhe os escarpins e beijou-lhe os pés, reverente.
- Que fiz eu para merecer uma mulher assim? No instante em que a vi a meu lado, no altar, soube que todos os meus sonhos iriam se realizar.
- Você parecia um príncipe...
- Esta noite, sou apenas um homem apaixonado. - Ele beijou-lhe o colo. - Enfeitiçado... escravizado!
- Estava com tanto medo!
Ele desabotoou-lhe o corpete do vestido e deixou-o cair até a cintura.
- E agora?
- Deixei de sentir medo quando você me levou para o corredor e me ergueu nos braços. Foi aí que encontrei o meu Harry novamente.
- Serei sempre seu, Gina. Sempre.


Agradecimentos Especiais:

Babi Mione: eu acho que você tem razão, mas ele preferiu dessa maneira e as coisas acabaram dando certo... Beijos.

Bianca: capitulo cheio de emoções... pois é, quantas artimanhas as mulheres possuem, não é mesmo? Bem, mas quem reclama se a garota está interessada em você, não sei se a Gwen está realmente interessada no Harry como mulher, na minha opinião ela meio que vê um irmão mais velho nele, mas nunca se sabe... Beijos.

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