Capítulo 4



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A Toca
01 de setembro de 1998


Apesar do Expresso de Hogwarts partir apenas às 11h00min, os membros da família Weasley estavam de pé desde as 07h00min.

Molly, conhecendo bem a família, sempre preferia que todos despertassem antes do horário, justamente para não ter problemas com atrasos.

A matriarca dos Weasley se via louca correndo de um aposento a outro em busca de algo que Rony, Gina e Harry poderiam ter esquecido de colocar em seus malões. Não se surpreendeu ao perceber que Rony e Harry estavam esquecendo vários pares de meias e algumas cuecas.

- Vocês dois só não esquecem a cabeça, porque estão bem coladas ao pescoço! – disse Molly, enquanto ia em direção à cozinha – Merlin tenha piedade! Ainda bem que levantamos cedo, caso contrário, não chegaríamos a tempo na estação. – ela se sentou à mesa e suspirou pesadamente – Harry, querido, você quer mais bolo?

- Não, Sra. Weasley, obrigado! – disse Harry, com um sorriso no rosto – A senhora que deveria comer um pouco. Tanta preocupação com nossos malões a impediu de tomar café

- Harry tem razão, Molly, querida! – concordou Arthur – Precisa se alimentar e descansar um pouco, antes de partirmos para estação.

Molly pensou em retrucar, mas somente suspirou. Agora que tinha finalmente parado, pôde perceber o quanto estava com fome. Silenciosamente, se serviu de bolo, torradas e bacon, saboreando bem a primeira refeição do dia.

- Será que Minerva vai lhe colocar como Capitão do time da Grifinória, Harry? – perguntou Rony, quebrando o silêncio momentâneo.

- Bom, eu não sei! – respondeu com sinceridade – Mas não recusaria se ela me oferecesse o posto novamente... E por falar em quadribol, Rony e Gi, esperem aqui um momento. Tenho algo que acho que vocês vão gostar.

Gina e Rony se entreolharam e antes que conseguissem perguntar a Harry do que se tratava, o moreno já havia desaparecido em direção às escadas.

- Será que a volta à Hogwarts mexeu com as idéias do Cara? O que foi que deu nele? – perguntou Rony, encarando o lugar vazio onde a pouco, o amigo estava sentado.

- Seja lá o que for, nós vamos descobrir. Ele tá voltando. – disse Gina, fingindo tranqüilidade.

Harry desceu às escadas, trazendo consigo três grandes pacotes que levitavam sobre sua cabeça, graças a um feitiço. Assim que chegou ao último degrau, ele desceu os embrulhos e encostou-os na parede, voltando à cozinha sem nada nas mãos.

- Bom, antes de mostrar o que tenho para vocês, gostaria muito, muito mesmo, que os dois não tirassem conclusões precipitadas e me deixassem explicar, ok?! Não quero vê-los dando nenhum ataque, por favor! – alertou Harry, encarando Rony e Gina de forma cautelosa.

- Harry, por Merlin, diga logo! Rony e eu estamos curiosos! – disse Gina, tão impaciente quanto o irmão.

- Certo! – disse Harry simplesmente, e então foi até a escada buscar os três grandes pacotes.

Assim que chegou à cozinha novamente, viu as expressões de Rony e Gina se transformarem de curiosos para completamente surpresos. Pelo tamanho e formato dos embrulhos, os dois já sabiam do que se tratava.

- Ah não! Não, não, não e não! Cara, eu não acredito que você tenha comprado vassouras para nós. Só pode ser piada! – Rony tinha os olhos tão arregalados, que pareciam querer saltar.

- Rony tem razão. Você não devia...

- Ei, o que eu disse sobre deixar que eu explique antes de começarem a reclamar? – Harry os lembrou e assim que os dois ruivos se calaram, decidiu começar com a explicação. – Vocês lembram de quando estávamos no Beco Diagonal e vimos na loja em que fomos comprar um novo equipamento para manutenção de nossas vassouras, um pôster informando que em breve seria lançada em todo mundo a nova Firebolt?

- Está falando da Fire turbo 2005? – perguntou Rony, totalmente interessado.

- Essa mesmo! – ele confirmou – Então, um dos fabricantes descobriu que eu voltaria à Hogwarts, e como sabia que eu era apanhador decidiu me mandar um modelo novinho.

Se antes Rony e Gina estavam chocados, agora estavam completamente sem fala.

Harry, aproveitando desse momento silencioso, decidiu prosseguir com a explicação antes que os dois começassem a gritar.

- Bom, foi Percy quem recebeu a vassoura por mim e me entregou no dia em que voltamos da casa da Andrômeda. Eu pedi que ele guardasse segredo quanto a isso, enquanto eu tentava resolver a situação com o fabricante. Juro que lhe enviei várias cartas, implorando para que ele reconsiderasse e pegasse a vassoura de volta, ou simplesmente me deixasse pagar por ela, mas ele se negou, alegando que cobrar algo do “herói do mundo bruxo” – Harry fez uma careta ao citar as palavras usadas pelo homem – ia contra seus princípios.
“Então eu lhe enviei uma carta, pedindo que, por favor, me cedesse mais dois modelos da mesma, pois queria presentear meu amigo e minha namorada. Não se passaram dois dias e ele me mandou três modelos da vassoura. Eu tentei pagar por elas, claro. Ganhar uma já era o suficiente, mas toda vez que tentava enfiar as benditas moedas na bolsinha de couro que a coruja carregava, ela piava e me bicava. Enfim, escrevi outra carta para o fabricante, dizendo que era gentileza de sua parte, entretanto eu não podia aceitar as vassouras de graça e também informei que havia mandado uma a mais.”

Harry fez uma pequena pausa para conferir os rostos de Rony e Gina e ao vê-los com a mesma expressão de quem não recuperaria a fala tão cedo, prosseguiu:
- O fabricante, cujo nome não citei, mas é Jackson Smeltings, me respondeu dizendo que a vassoura a mais era para minha amiga Hermione Granger, e que se eu fazia tanta questão de pagar, que fizesse isso autografando as fotos que ele havia mandado em anexo com a carta. Eu até pensei em negar, mas já estava cansado daquele vai e vem todo, e fiz o que ele me pediu. Então ele me mandou uma nova carta de agradecimento, e disse que todas as cartas que eu havia escrito estavam em molduras e penduradas na sede de sua fábrica, como forma de mostrar a insistência de um homem digno e honesto, e... Bom, foi só isso!

Os olhos de Harry passaram dos rostos de Rony e Gina, para os do Sr. e Sra. Weasley, e novamente voltaram a pousar nos primeiros.

Gina e Rony estavam com expressões semelhantes. Ambos tinham os olhos arregalados e as bocas meio abertas de surpresa. Pareciam que haviam sido petrificados naquela posição.

- Ok, acho que essa é a hora em que vocês falam alguma coisa.

Foi Rony quem quebrou o silêncio.

- CARACAS! EU SIMPLESMENTE NÃO ACREDITO QUE GANHAMOS OS MODELOS DAS VASSOURAS MAIS RÁPIDAS DO MUNDO! – exclamou Rony, se atirando para cima de seu presente e rasgando todo embrulho – A Fire turbo 2005! SÓ PODE SER BRINCADEIRA! Caracas, eu tô sem fala!

- Ah maninho, sem fala com certeza você não está! – disse Gina, abrindo seu presente – Nossa, ela é linda! Obrigada Harry! – a ruiva se jogou nos braços do jovem e o abraçou.

- De nada, Gi! – Harry sorriu e deu um beijo no rosto da namorada – Acho que ser herói da Guerra tem lá suas vantagens. – ele brincou, arrancando risadas de todos.

- Por que não desembrulha a sua também? – perguntou Rony, encarando o terceiro pacote.

- Ah, a minha já está desembrulhada e devidamente guardada. Essa aí é da Mione.

- Mas Harry, a Mione tem medo de altura e não sei se vai conseguir se empolgar tanto com o presente como nós. – Gina o lembrou.

Harry sorriu.

- Eu sei, Gi! Por isso vou deixar essa vassoura aqui para que a Sra. Weasley entregue ao Jorge. – ele lançou um olhar rápido para Molly, que lhe sorriu – Para Mione eu consegui um livro que ainda não foi lançado, cujo nome é... – ele parou um instante para se lembrar do nome da obra – Ah sim, o livro se chama: “Mitos e verdades sobre Poções e Feitiços de A à Z.”

- Bem mais a cara da Mione! – comentou Rony, divertido.

- Sim! E ela vai gostar mais ainda quando ver o tamanho do livro e descobrir que veio autografado e tudo mais!

Os três riram. Só mesmo Hermione para gostar de leituras complicadas.

- Queridos, eu sei que a conversa está boa, mas vocês três precisam tomar um banho e se arrumar! – disse Molly – Jorge, Percy, Gui e Fleur disseram que vão nos encontrar na estação, para se despedirem de vocês. Então vão logo se ajeitar para não nos atrasarmos.



.*.*.*.




- Será que alguém nessa MALDITA CASA pode me explicar o motivo dessa mulher está me chamando de filho? – a voz de Thomas ecoou por toda sala, fazendo com que sua empregada se encolhesse.

- Senhor, eu...

- Você fique quieta! – ele interrompeu a mulher. – Onde está o meu Mestre?

- Aqui estou, meu Senhor! – o homem apareceu à porta, com uma expressão tranquila – Por que grita tanto? Meu jovem Lorde, creio que precisa se esforçar um pouco mais se quiser que sua voz alcance a Irlanda do Sul.

Thomas bufou irritado e se virou para encarar o homem. Não estava com humor para gracinhas.

- Guarde suas piadas para si, Mestre! – disse ele entre os dentes – Agora será que se importa de me explicar o motivo dessa criatura com pernas me chamar de filho? Será que o clima inglês mexeu com a capacidade cerebral de todos?

O Mestre de Thomas riu, e se aproximou do jovem, o segurando pelos ombros.

- Acalme-se, meu rapaz! A Srta. Mirable está apenas desempenhando o papel que lhe pedi. – explicou o homem – Não precisa ficar irritado, fiz apenas um ajuste nos planos.

- Ah, então agora os planos são ajustados antes de me consultarem? – perguntou ele, revoltado.

- Não, meu Lorde, de forma alguma. Mas não seria nada prudente que em sua primeira ida à estação estivesse desacompanhado. Lembre-se que no geral os alunos vão acompanhados por suas famílias.

- Ah, claro! E como “família” você me arrumou uma empregada com cara de tapada. – ele encarou a mulher com desdém, e esta se encolheu – Está vendo? Essa imbecil se encolhe toda vez que eu falo.

- Se o Senhor fosse mais simpático, talvez ela não se intimidasse tanto. Mas esqueça isso, e deixe-me explicar a situação. A Srta. Mirable, a partir do momento que sair pela porta dessa casa, passará a se chamar Mary Stevens, e será oficialmente sua mãe. Providenciei todas as documentações para que tal fato fosse comprovado. Você é filho de David Stevens, que foi um grande empresário, mas faleceu ano passado, fazendo com que você e sua mãe herdassem tudo, e... Bom, o resto você já sabe.

- Sim, é claro! – Thomas suspirou – Após a morte do meu pai, passei um ano longe da escola e isso acabou me prejudicando. Então, com a mudança para Inglaterra, decidi terminar meus estudos, e meu avô, que por sinal é você, sugeriu Hogwarts.

- Exato! – o Mestre sorriu e em seguida voltou seu olhar para o grande relógio de prata preso à parede – Ah, meu jovem. É melhor você e sua “mãe” se apressarem. O Expresso de Hogwarts parte exatamente às 11h00min.

- Espere. Você não virá conosco? – perguntou Thomas.

- Ah, receio que agora não seja o momento em que devo aparecer.

- Como assim?

- Por hora, meu rapaz, creio que seja mais seguro apenas saber que estarei lhe acompanhando de perto...

- E quando precisar falar com você?

- Eu o procurarei sempre que houver necessidade. Confie em mim, meu Lorde, tudo dará certo! – disse o homem, completamente tranqüilo – Agora vá, está ficando tarde. – ele olhou novamente o relógio.

- Certo, tem razão, não devo me atrasar. – disse Thomas e então encarou a mulher – Ande, mexa-se! E, por Merlin, faça uma cara menos retardada!

A mulher novamente tremeu diante do tom de voz do jovem e rapidamente pegou sua bolsa e a capa.

- Bom, espero vê-lo em breve, Mestre.

- Oh, tenha certeza que sim. – disse o homem, com um meio sorriso – Lembre-se de controlar seu gênio e boa sorte.

Thomas fez um breve aceno com a cabeça e se virou para sair. Parou assim que chegou à porta da sala e se virou novamente para encarar seu Mestre.

- E se eu não entrar para Grifinória?

O homem sorriu.

- Peça ao chapéu que ele reconsiderará.

- E se mesmo assim eu não entrar?

- Ora, meu jovem, confio em você! Teve pouco tempo para se preparar, mas não tenho dúvidas que esteja pronto para qualquer coisa.



.*.*.*.




Estação de Kings Cross – 10h45min


Com o adiantar da hora os alunos começavam a se movimentar em direção às suas famílias, na intenção de se despedirem com calma. Não tardaria para que soasse o primeiro apito do trem, que indicaria sua partida em breve.

Harry, que tentava de todas as formas não ser grosseiro com todas as pessoas que se aproximavam dele descaradamente e lhe cumprimentavam, estava agora em um canto da estação, aproveitando os últimos minutos ao lado de seu afilhado, Ted.

Andrômeda Tonks havia feito a bondade de levar o neto até a estação para dar um adeus a Harry, antes que ele partisse para escola.

Era notório o quanto Ted era apegado ao padrinho. Toda vez que se encontrava com Harry, seus cabelos assumiam uma cor preta e, segundo Andrômeda, ele se recusava a mudar a aparência por um bom tempo.

- Eu prometo escrever para você contando sobre Hogwarts, está bem? – Harry dizia ao afilhado, que o encarava sorridente e mantinha a insistência de retirar seus óculos.

- Harry, na quero ser estraga prazer, mas para que vai escrever se o Ted nem sabe ler? O máximo que ele faz é dizer “Gugu Dadá” e tenta arrancar seus óculos. – Rony encarava o amigo com uma expressão que dizia “não perca seu tempo”.

Hermione suspirou e deu um sonoro tapa no braço de Rony, antes de dizer:
- Por Merlin, Ronald! Achei que depois de tudo que passamos você tivesse se tornado mais sensível, mas vejo que continua com o emocional do tamanho de uma colher de chá! – ralhou Hermione – É claro que Harry sabe que Ted não vai ler, mas é importante para que a criança saiba que Harry não o esqueceu.

- Ah Mione, fala sério! Se eu fosse você nem pedia tempo tentando explicar algo para o cabeça dura do meu irmão! – disse Gina, brincando com Ted – Ele nunca vai entender coisas complexas desse jeito.

Todos – exceto Rony – riram da piada. O ruivo pensou em contestar, mas naquele instante o apito do trem soou, chamando atenção de todos.

Do lado oposto ao que Harry estava, Thomas e sua falsa mãe, caminhavam em direção ao trem, de braços dados, como se fossem realmente parentes.

Por vezes Thomas sorria, na tentativa de parecer simpático, e discretamente cutucava a mulher para que fizesse o mesmo.

Assim que os dois chegaram próximos a porta de embarque do Expresso, o rapaz – utilizando de toda simpatia e gentileza que fora obrigado a aprender – se despediu da empregada, como se fosse realmente seu filho.

- Bom mamãe, eu espero que fique bem! Sentirei saudades suas. – ele suspirou, falsamente triste e abraçou a mulher – Cuide-se e tranqüilize o vovô ok?! Eu vou ficar bem.

Thomas lançou um olhar significativo a mulher, indicando que era a vez dela dizer alguma coisa. Rapidamente ela entendeu o recado.

- Sentirei saudades também, meu filho. Comporte-se e tire boas notas, ok?! Seu avô e eu estaremos esperando você para o natal. – ela sorriu, um tanto aliviada por conseguir lembrar de sua fala corretamente – Amo você, querido!

- Também te amo, mamãe!

Thomas sorriu mais uma vez, e em seguida embarcou no Expresso de Hogwarts, para o que seria o início de sua vingança.



.*.*.*.




Todas as cabines do trem estavam lotadas, e Thomas se via um tanto perdido em meio aos novatos e antigos que passavam por ele e o encaravam de forma avaliativa, para depois desviar o olhar.

Não se surpreendeu ao perceber que em frente a uma determinada cabine havia uma aglomeração maior de estudantes. Todos eles excitados com as pessoas que estavam lá dentro, provavelmente roxas de vergonha. Thomas tinha consciência da presença de Harry. Não era necessário vê-lo pra saber que o assassino de seu pai estava no local. Tudo emanava aquele cheiro de felicidade e gratidão, e isso fazia com que seu ódio aumentasse ainda mais.

O moreno continuou seguindo para longe daquela confusão, até que se deparou com uma figura um tanto engraçada. Era loira, com os olhos bem azuis e uma expressão completamente alienada. Parecia buscar alguma coisa, enquanto olhava distraída a sua volta.

- Oh, cuidado onde pisa! – alertou a menina.

- Por que eu deveria cuidar? Não há nada no chão.

- Claro que há! Um Tulífano de olhos amarelos e nariz achatado passou por mim agora pouco, preciso achá-lo antes que suma!

- Tuli o que? – perguntou Thomas, completamente perdido – Garota, do que está falando?

- De uma criaturinha um tanto engraçada. Costuma ficar invisível quando está com vergonha. Sua presença deve tê-la assustado. – ela sorriu – Sou Luna Lovegood, e você é...?

- Thomas Stevens, e sinceramente, nunca ouvi falar dessa coisa que você procura.

Luna sorriu e balançou a cabeça.

- Ah, claro que não. Foi descoberta recentemente em uma das pesquisas do meu pai... Enfim, vou continuar procurando. Se vir o Tulífano, guarde-o e me entregue depois, ok?!

Thomas nem teve tempo de responder, e Luna já havia seguido seu caminho pelo corredor, em busca da tal criatura. Ainda estava boquiaberto diante da explicação da menina. Por um segundo pensou estar indo para um hospício ao invés de uma escola.

O jovem continuou seguindo seu caminho, até que por fim, encontrou uma cabine que parecia estar vazia. Bateu na porta uma vez e abriu, se surpreendendo ao encontrar uma figura conhecida.

- Leslie Bennet? – disse Thomas, um tanto surpreso.

- Oh Thomas Stevens. Seguiu-me até aqui para me derrubar no chão, foi? – Leslie sorriu para o rapaz.

Thomas revirou os olhos.

- Acho que essa é a única cabine parcialmente vazia. Importa-se, se eu...?

- Oh não, sente-se! – Leslie juntou alguns objetos que estavam espalhados pela cabine, colocando-os ao seu lado.

Thomas permaneceu em silêncio, apenas observando o trabalho da menina. Aquele ambiente lhe deixava um tanto desconfortável. Por que tudo ali tinha que ser tão... Tão Rosa? A mala de Leslie, a pena, a roupa, a bolsa, a gaiola, até o Mini-pufe – que ele se lembrava que chamava Dorothy – era rosa.

- Pronto, pode se sentar. – disse Leslie, voltando sua atenção para seu bichinho de estimação.

- Eu não quero parecer chato, mas tem algo em você que não seja rosa? Quero dizer, tudo isso está ofuscando minha vista.

- Use óculos escuros e resolva seu problema. – ela disse, sem se intimidar com o questionamento do rapaz.

- Ok, ok, já entendi. Você é amante de rosa.

- Percebeu isso sozinho, foi?

- Você é sempre debochada?

- E você, é sempre intrometido e grosseiro?

- Só fiz uma pergunta.

- Que seja! – ela revirou os olhos e pegou um livro para ler.

Thomas apenas suspirou e decidiu fazer o mesmo. Se tinha que viajar ao lado da garota mais complicada que ele conhecia, então que fosse em silêncio.

Os minutos se passaram, e os dois começaram a se sentir incomodados com aquela situação. Vez ou outra eles erguiam os olhos de sua leitura para espiar o outro, mas sempre que um pegava o outro espiando, disfarçava e voltava a ler.

- Tá bem, são aproximadamente 08 horas de viagem, então creio que não precisamos nos ignorar por completo. – Leslie disse por fim, pousando seu livro próximo a gaiola de Dorothy.

- Concordo. – Thomas também fechou seu livro, e encarou a menina – E então, quantos anos você tem?

- 17, e você?

- Fiz 18 há pouco tempo. – respondeu – Estuda em Hogwarts desde criança?

- Uhum. Desde meus 11 anos. E você vem de onde?

- Bulgária. – ele respondeu, e como não estava com vontade de estabelecer uma conversa sobre sua suposta vida, tratou de mudar o assunto – E então, onde estão seus amigos?

- Hum... É difícil dizer.

- Por favor, não vai me dizer que sua paixão por rosa afastou as pessoas?

- Talvez tenha sido isso. – ela respondeu, novamente mudando seu tom amigável para sarcástico – Talvez meus amigos tenham se afastado porque tiveram a visão prejudicada pela cor, ou simplesmente pelo fato de alguns terem sido assassinados na Batalha de Hogwarts, em que os comensais não pouparam ninguém, mesmo sendo menores de idade!

Thomas engoliu em seco. Não esperava uma resposta como aquela. Ele não se importava com as vidas que foram tiradas, mas por algum motivo, se sentiu mal ao detectar a dor na voz da menina a sua frente.

- Todos eles...?

- Não. Os que sobreviveram não vão voltar pra escola. Mas grande parte da minha antiga turma tá no trem, então creio que possa fazer novos amigos, embora os que se foram jamais serão esquecidos. – Leslie esboçou um sorriso triste e encarou seu mini-pufe, que agora rolava pela gaiola, com a fina lingüinha para fora e fazendo ruídos.

- Lembrou de alimentar seu bichinho? – Thomas mudou novamente o assunto, para se livrar daquele clima pesado – Ele parece mais feliz, do que da última vez que o vi.

- É ela. – Leslie o corrigiu – E creio que da última vez que se encontraram não estavam em circunstâncias agradáveis. Quero dizer, você derrubou a pobrezinha.

- Eu já pedi desculpas. – ele se defendeu.

- Mas não para Dorothy. Vamos, pegue ela e se desculpe.

- O que? – ele arregalou os olhos – É só um animal.

- Um animal com sentimentos. Não seja rude, fale com a Dorothy.

- Você é tão estranha. – disse Thomas, enquanto pegava o bicho peludo e rosa.

“Ótimo, primeiro você é obrigado a ser simpático com um elfo, e agora você vai pedir desculpa a um pufoso. Definitivamente as pessoas perderam a noção do ridículo!” ele pensou e encarou o bicho novamente.

- Desculpe Dorothy. Prometo que da próxima vez que o derrubar, farei com estilo e você cairá a pelo menos 100m de mim.

- STEVENS!

- Brincadeira, brincadeira! – ele sorriu – Eu não vou mais derrubar você, até porque não quero passar por essa situação ridícula novamente.

- Assim está bem melhor, agora me devolva a Dorothy. Tenho medo que você a atire pela janela. – Leslie estendeu as mãos e pegou seu mini-pufe de volta.

Poucos minutos depois, a senhora que vendia doces, passou empurrando o carrinho e gritando. “DOCES, QUEM QUER DOCES?”, para chamar a atenção dos alunos.

- Ahh, doces! – Leslie bateu palminhas e abriu a porta da cabine – Aqui, eu quero doces.

A velha com o carrinho se aproximou da cabine, e encarou a menina bondosamente.

- O que deseja? – ela perguntou.

Leslie encarou Thomas, que parecia alheio aquele momento de compras e perguntou:
- Vai querer alguma coisa?

- Não, obrigado. Não sou formiga para ter paixão por doces.

- Ora, seu... – ela se controlou e encarou novamente a senhora do carrinho – Quero duas tortinhas de abóbora, quatro varinhas de Alcaçuz, duas caixinhas de chicletes, quatro sapos de chocolate, e uma caixinha de feijãozinho de todos os sabores.

Assim que a senhora entregou o pedido para menina, ela fechou a cabine e se sentou. Lentamente, começou a separar o que havia comprado em duas pilhas, repetindo a mesma frase:
- Uma pra você, uma pra mim; duas pra você, duas pra mim; uma pra você de novo, uma pra mim; dois pra você, dois pra mim... E os feijõezinhos para Dorothy.

- Posso saber o que está fazendo? – Thomas perguntou, assim que Leslie colocou a pilha de doces ao seu lado. – Achei que tivesse sido bem claro quanto a não gostar de doces.

- E foi. Mas você já é bem chato com o estômago cheio. Ainda temos cerca de 07 horas de viagem pela frente e você vai sentir fome. Estou apenas me prevenindo de possíveis ataques de mau humor, caso não tenha o que comer até chegar à escola.

- Eu sou chato?

- Demais. Achei que soubesse. – ela deu de ombros e se virou para abrir a caixinha de feijãozinho de todos os sabores, e servir Dorothy.

Thomas pensou em lhe dizer algo bem mal educado. Precisou repetir seu mantra mental “Eu sou um bom moço, sou um bom rapaz!” várias vezes, antes de se controlar e guardar consigo todos aqueles doces.

- Eu não fico chato quando estou com fome.

- Talvez sim, talvez não. Eu nem conheço você. Mas meu pai diz que doce costuma deixar as pessoas elétricas, creio que libere endorfina no sistema. Endorfina deixa as pessoas felizes, e pessoas felizes não reclamam da vida! – Leslie sorriu e se serviu de uma varinha de alcaçuz, pouco se importando com os olhares mortíferos que Tom lhe lançava.

Às horas se passaram, desde a compra de doces feita por Leslie. Começava escurecer, o que significava que não estavam muito longe agora.

De fato, como Leslie havia previsto, Thomas sentiu fome, e detestou dar razão a menina, quando se serviu de sua tortinha de abóbora.

- Aonde vai? – Thomas perguntou, quando Leslie se colocou de pé.

- Colocar meu uniforme. Já estamos chegando à estação, e você deveria fazer o mesmo.

- Hogwarts está perto? – perguntou ele, muito interessado.

- Sim. E estou ansiosa para chegar logo à escola. Creio que esse será um ano incrível!

Thomas olhou pela janela e então sorriu. De repente se sentiu mais seguro do que nunca.

- Qual é a graça?

- Nada... É só que... Bom, eu preciso concordar com você. Este ano será realmente inesquecível.





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N/A: Oh, eu deveria levar uma grande bronca por anunciar o capítulo quatro e demorar tanto a postá-lo. Mas peço desculpas, minha vida andou corrida demais, graças a um fantasma chamado: Monografia.

Só hoje consegui um tempinho para arrumar o capítulo e colocá-lo no ar.

E então, o que acharam? Por favor, peço eu comentem deixando suas opiniões. Gosto de saber como estou sendo recebida pelo público, dessa forma posso melhorar a história.

O próximo capítulo está pronto. Mas só depende de vocês para postá-lo. Não é grande. É apenas uma narração do Tom a respeito de sua chegada à Hogwarts, creio que irão gostar.

Comentem&Votem, que em breve venho com o 5º capítulo pra vocês.

Mais uma vez, me desculpem.

XoXo,

Mily.











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