Capítulo 1



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Em algum lugar no Norte da Bulgária, havia uma grande e bela mansão misteriosa. O jardim que cercava a enorme casa era bem tratado, várias árvores frutíferas estavam espalhadas pelo terreno, e algumas flores campestres decoravam a grande imensidão verde. Entretanto, toda propriedade era guardada por um alto muro de pedras rústicas, cujo único acesso era um grande portão de ferro, com grades enormes e pontas afiadas. Na frente do portão, havia um brasão com um único desenho: uma serpente de olhos vermelhos.

As pessoas que passavam por perto não entendiam como um local que aparentemente deveria servir como um lar feliz tinha uma serpente com olhar sombrio guardando sua entrada. Aquele desenho não combinava em nada com a paisagem que a visão das pessoas tinha acesso pelo portão com grades. Por mais que tentassem, não conseguiam entender o motivo que levara aquela família – jamais vista por ninguém – escolher um animal tão incomum para ser símbolo de sua entrada. O motivo de tal escolha era simples, é claro. A tão assustadora serpente era quem permitia ou não a entrada de alguém nas terras que escondia um grande segredo. Por ali só passavam pessoas que tinham conhecimento da verdade ou quem tivesse o dom de falar com cobras. Pessoas que tentassem pular os muros ou escalar as grades do portão seriam severamente castigados com a morte. E até os dias de hoje jaz um esqueleto próximo ao lado de dentro do portão, como símbolo da idiotice trouxa de tentar burlar as artes das trevas.

No interior da mansão, sentado em frente à lareira – que permanecia sempre acesa independente da estação – lendo um livro de título “O segredo das Trevas”, se encontrava um belo jovem, com cabelos escuros, pele e olhos claros. Seu nome só não era tão temido de se pronunciar quanto o de seu pai, entretanto seus servos ainda gaguejavam quando deveriam lhe dirigir a palavra.

- Se... Senhor Riddle? – a empregada lhe chamara da porta. Suas mãos tremiam com o medo que sentia de causar a ira de seu patrão.

- Por que ousa interromper minha leitura? – a voz arrastada do jovem ecoou pelo aposento de forma assustadora.

- O senhor tem uma visita. – ela explicou, encarando o chão. – O que devo fazer?

- Mate-o! – respondeu de forma simples.

- Matar aquele que lhe ensinou tantas coisas durante todos esses anos, meu Lorde? – uma voz masculina ecoou pelo local, fazendo com que o jovem largasse seu livro e erguesse os olhos para entrada de sua sala – Até mesmo seu pai tinha alguma consideração com aqueles que o serviam.

- Mestre, é uma honra tê-lo em minha casa! – a voz do jovem assumiu um tom mais simpático – O que te traz aqui?

- Preciso de motivos para visitar o jovem que vi crescer? – o homem fez uma pequena reverência para o rapaz. Sua capa negra arrastava pelo chão e seu capuz cobria-lhe parte do rosto.

- Não, entretanto há algum tempo não recebo suas visitas. Para ser mais preciso, há dois anos o único contato que tivemos foi por carta. É natural que eu me surpreenda com seu aparecimento.

O homem sorriu e caminhou até a poltrona que se encontrava em frente ao jovem Riddle. Sem esperar convite, sentou-se e baixou o capuz para que o menino pudesse ver seu rosto.

- Houveram... Complicações meu senhor. – o homem disse pausadamente – Seu pai me designou para uma tarefa, e como bom servo obedeci.

- Compreendo... – o rapaz passou a mão no queixo, um pouco pensativo e então sorriu – Creio que as complicações terminaram, já que está aqui.

- Está errado meu Senhor. – o homem ergueu a mão, interrompendo o jovem Riddle quando fez menção de perguntar-lhe algo – Se eu estou aqui hoje, é porque as complicações apenas começaram. Meu Lorde, o que o senhor precisa compreender, é que os planos de seu pai não seguiram exatamente o rumo que ele desejava. Dá última vez que lhe escrevi, o informei que uma guerra se formava e que era provável que Hogwarts fosse palco de toda batalha... E foi exatamente isso que aconteceu. Mas...

- Mas...?

- Durante essa batalha, seu pai acabou perdendo para seu principal rival, e...

- Por Merlin, pare de enrolar em suas histórias e diga de uma vez o que aconteceu nessa maldita guerra! – o jovem ordenou.

- Seus pais morreram durante a batalha. E o toda uma era projetada para o domínio daqueles realmente dignos de portarem uma varinha, se perdeu.

O eco do silêncio conseguia ser mais intimidador do que as vozes frias e arrastadas que antes dialogavam. Se seu mestre estivesse realmente certo, e Voldemort estivesse morto, todo um futuro planejado durante anos fora por água abaixo.

- Quero detalhes da batalha. Quero nomes, responsáveis, dados... Exijo saber tudo o que aconteceu e, principalmente, como e pelas mãos de quem meus pais morreram.

O mestre do rapaz não precisou ouvir uma segunda ordem para começar a contar-lhe quando e como tudo começara. Lhe falou sobre a morte de Dumbledore, do domínio na escola de Hogwarts, da ascensão de seu pai no Ministério, do controle dos meios de comunicação, da perseguição que faziam aqueles que não provassem ter um bruxo na família... Enfim, lhe contara em detalhes todo o processo de domínio dos simpatizantes por Artes das Trevas, até que por fim, chegou à parte em que seus pais morreram.

- E foi assim meu senhor. Exatamente assim que tudo aconteceu. Deixo minhas memórias à sua disposição, caso queira conferir meu relato.

- Não será necessário, mestre! Eu confio em você. – falou Riddle, se colocando de pé e andando em círculos pela sala – Quer dizer que um rapaz chamado Harry Potter foi o responsável pela morte de meu pai?

- Exatamente, meu senhor!

- Isso significa que todos os sonhos dele se perderam...

- Nem todos, meu Lorde.

O rapaz parou no meio da sala e encarou o homem com as sobrancelhas erguidas.

- Explique-se.

- Durante todos esses anos, o senhor tem aprendido toda a arte das trevas da qual seu pai fazia uso. Também aprendeu feitiços simples, aprendeu a produzir poções, a duelar de maneira correta, a enxergar as falhas de seu inimigo, a fazer planos, elaborar estratégias... O senhor já se perguntou o motivo de todo esse esforço, meu Lorde?

- Para não envergonhar meu pai, quando ele decidisse que era a hora de apresentar seu herdeiro, eu suponho.

- Não! O senhor foi treinado para agir, caso seu pai falhasse.

Riddle gargalhou. Nada lhe parecia tão estúpido quanto a possibilidade de seu próprio pai cogitar uma falha. Voldemort sempre fora cheio de si e apesar de não ignorar as artimanhas de seus adversários, também nunca lhes dera muito crédito. Era óbvio que seu pai nunca pensou que ele pudesse substituí-lo em alguma coisa. Só queria que aprendesse, para não envergonhar seu nome.

- Se meu pai não cogitou perder novamente para o Potter, por que pensaria que pudesse falhar algum momento? Isso é absurdo.

- Sim. Mas não foi seu pai que pensou em falhas nos planos, e sim sua mãe.

- Minha mãe? – a expressão do rapaz passara de incrédula para confusa – Achei que ela concordasse com tudo que meu pai dissesse.

- Belatriz sempre teve fé nos planos de seu pai, mas também não era tonta a ponto de pensar que tudo era infalível. Foi por isso que quando te mandou para cá, pediu para que eu cuidasse de sua educação, e compartilhasse com você todos os segredos de seu pai. – o homem explicou – Ora senhor Thomas Lestrange Riddle, sua mãe apesar de ser uma serva fiel, tinha uma mente mais aberta a opções. Foi por isso que ela treinou você.

Thomas cruzou os braços em frente ao corpo, e continuou encarando seu mestre de forma interrogativa. O homem sorriu.

- Sua função, meu senhor, é terminar o que seu pai começou...

- Destruir os nascidos trouxas e dominar o mundo bruxo?

- Sim... E matar Harry Potter!

- E o que exatamente terei que fazer?

- Tenha calma, meu senhor... Tudo há seu tempo. Por hora é importante que saiba que o mundo bruxo desfruta de uma paz utópica, e que terá de agir de forma inteligente se quiser obter sucesso.






.*.*.*.







Rua dos Alfeneiros, nº 4. Endereço bastante conhecido para todos que conhecem o passado de Harry James Potter. Fora ali, na residência dos Dursley, que o menino que sobreviveu crescera, sem amor, carinho ou simples palavras de conforto. Fora naquela casa que o menino mais famoso do mundo bruxo passou seus primeiros onze anos, sem ter idéia da fama que seu nome carregava, sem saber realmente quem era.

Aos onze anos, Harry descobriu sua verdadeira identidade e no primeiro dia de setembro, embarcou em um trem que o levava na primeira de muitas viagens, ao que ele descobriria ser seu verdadeiro lar.

Em Hogwarts, o jovem bruxo marcado por uma cicatriz – que representava toda desgraça que ocorrera em seu passado – conheceu o significado da palavra família. Ah sim, foi nessa escola que Harry fez seus verdadeiros amigos. Foi ali que ele passou os melhores anos de sua vida. Foi ali que ele viveu aventuras e passou por diversos perigos.

Em Hogwarts ele aprendeu a voar, enfrentou trasgos, dementadores e dragões, se tornou amigo de um meio gigante, enfrentou aranhas monstruosas e derrotou um basilísco... Salvou a irmã do seu melhor amigo, que mais tarde descobriria ser seu grande amor... Usou a sala precisa como refúgio e liderou a tão famosa Armada de Dumbledore... Aprendeu de maneira dolorosa que não deveria contar mentiras, embora estivesse dizendo a verdade... Salvou seus inimigos de morte certa... Desvendou segredos e mistérios... Assim como viu as pessoas que amava partirem...

Fora em Hogwarts que Harry aprendeu a crescer e descobriu o verdadeiro significado da verdade, lealdade e amizade.

Mas nem tudo são flores na vida de um herói. E o lugar que serviu de lar para o rapaz durante parte de sua juventude, fora palco da maior guerra de todos os tempos.

Comensais versus Ordem da Fênix. Harry Potter versus Lord Voldemort. A disputa parecia não ter fim e ser um tanto injusta. Explosões, caçada as últimas horcruxes, incêndios... Quem poderia imaginar que um lugar mágico, destinado ensinar jovens bruxos a controlarem seu poder, se tornaria cenário de devastação e morte? Ninguém. Mas a esperança de que tudo aquilo terminasse bem, incentivava a todos que acreditassem na vitória do menino que sobreviveu, e não permitia que desistissem.

“Avada Kedrava...

... Expelliarmus!”


O peso desses feitiços tinha um enorme contraste. De um lado, um simples encanto para desarmar o oponente. Do outro, uma maldição de morte, lançada para destruir a única pessoa que impedia a ascensão do mundo das trevas... Entretanto, não era Harry Potter que jazia no chão da escola, com os olhos abertos e sem vida. Era Voldemort. Tom Riddle fora vítima da própria maldição. E aquele era o fim.

Em todos os jornais de todo mundo bruxo, a única notícia era que Harry James Potter, um jovem de 17 anos, havia destruído a ameaça para o mundo mágico. Era a ele que todos os bruxos deveriam agradecer pela paz e pela nova era cheia de esperança que estava por vir.

O herói, o Grande Salvador, o Vitorioso... Eram tantos os nomes imputados a Harry, que muitas vezes o jovem ficava confuso quando o dirigiam a palavra.

Mas, Harry Potter, apesar de satisfeito por derrotar Voldemort, sentia-se culpado por todas as mortes que aconteceram. Tonks, Lupin, Collin Crevey, entre outros, morreram lutando em seu nome, defendendo sua causa. Sentia-se tão mal em relembrar a dor nos rostos das pessoas que estavam naquele Salão Principal... Mas nenhuma dor o machucou tanto quanto a que viu nos rostos dos Weasley, pela perda de Fred. Aquela imagem jamais sairia da mente de Harry. Ele não conseguia se perdoar, por ter feito a família que o acolheu como um filho e lhe deu todo amor e carinho que jamais recebera dos tios, perder um membro tão especial. E era por esse sentimento de tristeza, culpa e vergonha, que voltara a seu antigo lar.

Com o final da guerra, a família Dursley se recusou a voltar para sua antiga casa. Não queriam morar em um lugar que sabiam ter sido alvo de bruxos das trevas. Apesar dos aurores do Ministério terem informado que perigo nenhum rondava a casa, a família de trouxas preferiu abrir mão do passado e estabelecer residência em outro bairro tão fofoqueiro e cheio de regrinhas, quanto o que moravam antes.

Diante de tal decisão, Harry, em uma de suas cartas – ele só havia enviado duas – pediu permissão para passar um tempo no antigo lar dos Dursley. A resposta para seu pedido veio acompanhado de uma folha cheia de impropérios escritos por tio Válter, que pensava que com aquela atitude estaria compartilhando da vitória do sobrinho e outra concedendo a ele tal desejo, desde que não envergonhasse o nome de sua família, afinal, seus vizinhos tinham muitos contatos com algumas pessoas que trabalhavam com ele na loja de brocas.

E foi ali, na casa que estava repleta de lembranças infelizes de sua infância, que Harry decidiu se esconder dos jornalistas que o perseguiam, dos amigos, e é claro, da própria consciência que dizia que era culpa dele sua verdadeira família ter perdido um de seus irmãos.

Já haviam se passado quase dois meses, desde que a guerra terminara. Mas, ainda assim, todos os acontecimentos estavam frescos na memória dos bruxos e bruxas que escreviam para o Profeta Diário.

Na manhã ensolarada do dia 26 de Julho, Harry foi despertado por um barulho de uma coruja que insistia em dar bicadas na janela de seu quarto. Um pouco mal humorado, ele caminhou até o local para receber o exemplar de seu jornal – que como uma espécie de cortesia dos editores, não era cobrado. Harry até tentou pagar uma vez, mas levou tantas bicadas da coruja, que desistiu da ideia de colocar nuques em sua bolsinha de couro.

- Propagandas da Floreios e Borrões... Notícias sobre quadribol... Mais uma matéria esquisita da Rita Skeeter... Ah sim, e é claro, uma matéria sobre mim! – disse Harry para si próprio e atirou o jornal em cima da cama – É claro que eles não poderiam deixar de comentar algo sobre o famoso Harry Potter.

Inconformado por mais uma vez ter três páginas do jornal dedicadas a ele, Harry pegou uma muda de roupas e se encaminhou para o banheiro. Mal o dia começou, e ele já sentia necessidade de um banho frio para esfriar sua cabeça.

Até quando eles iriam exaltá-lo daquela forma? Será que ele era o único a pensar que não era necessária tanta atenção? Afinal, haviam se passado semanas desde sua grande vitória, então todos já deveriam estar acostumados com isso, certo? Errado.

Era impressionante a frequência com que escreviam notícias e a rapidez que descobriam fatos da vida de Harry que ele próprio desconhecia. Como foi na vez que publicaram que durante a infância Harry estudou em um ótimo colégio antes de ingressar em Hogwarts e que sua banda trouxa favorita era Os Beattles. É claro que quem havia dado essa informação só poderia estar assistindo a um programa de fofocas que passava na TV. Harry nunca fora para uma escola grandiosa e ele se quer tinha preferência por músicas trouxas. Sentia-se muito feliz escutando apenas As esquisitonas e ria bastante ao se lembrar do repertório de Celestina Warbeck cantado a plenos pulmões pela senhora Weasley.

Quando saiu do banheiro, já vestido e com o humor um pouco melhor, Harry desceu as escadas, passando as mãos no próprio cabelo, na tentativa inútil de deixá-los no lugar. Desistiu logo na primeira tentativa, quando enraivecido, deu um tapa na própria cabeça.

- Definitivamente, eu adquiri TOC. – disse ele, enquanto caminhava para cozinha. Precisava fazer seu próprio café da manhã, e desconfiava não ter comida o suficiente para uma refeição decente.

A cozinha que antes era perfeitamente arrumada e brilhava graças a ação eficiente dos alvejantes e desinfetantes usados por sua tia Petúnia, agora faria a Sra. Dursley gritar de pavor. Tudo estava fora de ordem, as cortinas não combinavam em nada com a toalha de mesa, e sua torradeira parecia ter sido vítima de um incêndio. Harry não tinha muito talento para cozinhar, então todas as vezes que tentava fazer algo que incluía frituras e torradas, acabava causando pequenos acidentes. Um de seus vizinhos, uma vez, jurou tê-lo visto com um objeto de madeira na mão, fazendo com que um jorro de água aparecesse e apagasse o fogo da cortina. Harry, é claro, negou e ainda aconselhou que o velho Ben Sparks fosse a um oftalmologista, pois temia que sua miopia tivesse atingido uma situação catastrófica.

- Certo, eu preciso mesmo fazer compras! – disse Harry ao observar sua geladeira praticamente às moscas. Havia apenas uma garrafa de leite, uma embalagem com um pedaço de pizza e um pote com um guisado que a Sra. Figg havia preparado e feito questão dividir com o rapaz. – Ou então eu posso inventar uma desculpa para visitar a Sra. Figg e aproveitar para comer lá, talvez ela precise de alguém para alimentar seus gatos e... Por Merlin, no que eu estou pensando? Passar a perna em velhinhas abortadas não é uma coisa digna de um herói! – Harry riu assim que terminou de falar. O que os autores das matérias do Profeta Diário diriam se soubessem que ele cogitou a hipótese de ludibriar uma senhora em busca de um bom prato de bacon com ovos fritos?

Foi ainda rindo de sua própria imaginação que ele voltou para seu quarto, calçou seu tênis, guardou sua varinha dentro do bolso de sua calça – e soltou uma gargalhada ao se lembrar do alerta que Olho tonto lhe fizera uma vez a respeito de bruxos que perderam o traseiro por causa disso – e finalmente saiu em busca de alguma loja de conveniência que fornecesse alimentos saudáveis e de fácil preparo para um jovem solteiro e prestes a completar 18 anos.






.*.*.*.







Harry só se deu conta de que já era um pouco tarde para tomar café da manhã, quando finalmente conseguiu sair do mercado. Merlin sabia o quanto ele estava agoniado em meio a tantas mulheres e homens em volta das verduras. E aquelas senhoras discutindo qual era o melhor tipo de macarrão para se colocar em uma sopa de legumes? Simplesmente apavorante. O moreno limitou-se apenas a pegar as coisas que julgava necessário para sua sobrevivência durante àquela semana, passou as compras pelo caixa e saiu rapidamente carregando suas sacolas.

Ir ao mercado era uma das experiências trouxas que não lhe traziam boas lembranças da infância. Quando era menor e sua tia o obrigava a acompanhá-lo nas compras, sempre era feito como um burro de carga. Tinha que empurrar o carrinho, carregar a cesta com as compras, correr atrás de alguma promoção e ai dele se não conseguisse chegar a tempo! Lembrava-se com perfeição da vez em que perdeu o controle do carrinho e foi direto de encontro a um castelo feito de latinhas de ervilha empilhadas... Graças a tal episódio foi obrigado a comer pratos feitos a base de ervilha durante um mês. Sua tia só suspendera o castigo em uma tarde, quando o viu entrar pela cozinha e julgara ter visto sua pele um tanto verde. (ela não sabia que seu filho Duda havia feito uma de suas brincadeiras de mau gosto e jogado sobre Harry uma mistura de água e tinta, que o deixara naquela tonalidade).

Rindo de sua lembrança, Harry aparatou em um terreno baldio que ficava em uma rua próxima a sua casa. Não poderia simplesmente aparecer em frente a sua porta de entrada e alarmar seus vizinhos com a existência do sobrenatural. Todos na Rua dos Alfeneiros já achavam o rapaz bastante estranho, imagina se o vissem aparecendo e desaparecendo do nada?

Já estava quase chegando à sua casa, quando grossas gotas de chuva começaram a cair. Harry praguejou algo que com certeza seria motivo de repreensão, e correu para salvar suas preciosas compras da forte tempestade que estava por vir. As chuvas de verão eram frequentes naquela época e o moreno começava a se sentir um perfeito idiota por ter esquecido de levar seu guarda chuva.

Harry abriu a porta com bastante rapidez e praticamente se jogou porta à dentro, para se proteger da chuva que piorava com o passar dos segundos. Sacudiu a cabeça, fazendo com que seus cabelos espirrassem água na parede. Fez uma pausa para olhar a sua volta. Por algum motivo o jovem sentia que havia algo estranho ali.

Caminhou lentamente pelo hall de entrada e não encontrou nada de diferente. Passou pela sala para dar uma olhada e não se surpreendera ao ver o telefone no gancho, as cortinas fechadas, as almofadas sobre o sofá e... O controle da TV não estava na mesa de centro quando ele saiu de casa. Rapidamente Harry sacou sua varinha e de forma cautelosa começou a ir em direção à cozinha. Agora que prestava mais atenção, podia ouvir algo se movendo lá. Seja lá quem fosse seu visitante, precisava aprender boas maneiras, afinal de contas, não era nada educado invadir a casa alheia quando o dono está enfrentando o martírio do supermercado.

Estava a três passos da cozinha, quando alguém se jogou sobre ele e lhe deu um forte abraço de urso. A única coisa que Harry conseguia enxergar em meio à surpresa, era que seu visitante tinha cabelos ruivos e uma força descomunal, a julgar pelo abraço que lhe dava.

- Harry, querido! Estávamos tão preocupados!

- Sra. Weasley?! Que... surpresa! – Harry tentava encontrar as palavras e o ar, para responder com decência a senhora que ele considerava como mãe.

- Deixe-o respirar, mamãe! Assim vai matá-lo antes mesmo que ele consiga explicar o motivo de tal sumiço! – a voz brincalhona de Jorge ecoou pelo local, e Harry sentiu seu estômago revirar de remorso.

Quando finalmente Molly Weasley conseguiu largá-lo, que o rapaz pôde ter uma visão completa do local. Parados em sua cozinha se encontravam Rony, Hermione, Jorge, Arthur e, para sua completa felicidade, Gina.

- É... É tão bom ver vocês! – Harry sabia que estava se portando como um tolo, mas não conseguia encontrar palavras que expressassem toda sua emoção – Céus, Rony e Mione, como estão? Quero dizer, como estão todos vocês?

- Nós estamos ótimos, querido! – Molly respondeu por todos – Você é que não está nada bem. Veja, está tão magro! Não tem se alimentado direito, eu aposto nisso! – ela fez com que Harry desse uma volta para analisá-lo melhor – Olhei em todos seus armários e nada! Você não tem comida aqui. Crianças como você precisam se alimentar!

- Na verdade eu estava voltando do mercado agora, Sra. Weasley! – respondeu o rapaz, timidamente. Sentia-se como uma criança que fora pego no flagra.

- E onde estão as compras?

- Na sala! Eu vou buscar e...

- Nada disso! Você vai sentar aqui e Jorge, por favor, vá até a sala e traga todas as sacolas. Vou fazer algo para você comer, querido! Precisa colocar alguma coisa decente no estômago antes que desmaie!

Antes mesmo que Harry pudesse protestar, a senhora Weasley já estava sacando sua varinha e enfeitiçando o fogão para que começasse a trabalhar. Ficou boquiaberto com a habilidade de Molly. Nunca, em todas as suas tentativas, havia conseguido fazer com que seus trabalhos domésticos saíssem tão perfeitos quanto os dela. Precisava lhe pedir algumas dicas, para usar futuramente.

Hermione, que antes estava encostada na pia de mãos dadas com Rony, caminhou firmemente até o local em que Harry estava sentado. Antes mesmo que ele pudesse falar algo, a castanha pegou uma colher de pau que a senhora Weasley havia colocado sobre a mesa e bateu com ela na cabeça do moreno.

- Hermione, isso dói! – protestou Harry, enquanto passava a mão em sua cabeça.

- Dói? Você vai ver o que dói, quando eu sacar a minha varinha e te azarar! – disse Hermione, colocando as mãos na cintura e o encarando de maneira furiosa – Será que você pode me explicar o motivo para não ter respondido nenhuma de minhas cartas? Por Deus, Harry! Todos ficamos preocupados com você!

Harry encarou um pouco constrangido, os rostos que agora o encaravam a espera de uma resposta. Engoliu em seco e desviou o olhar para os próprios pés, assim que Jorge entrou na cozinha e largou as compras sobre a mesa.

- Harry, Harry, o que há com você rapaz? – perguntou Arthur Weasley, num tom paternal.

- Vocês... Vocês entenderiam se eu dissesse que agi exatamente como um menino? – perguntou Harry num fio de voz.

Sentado naquela cozinha, de cabeça baixa e com remorso de encarar a família à sua frente, ele não parecia o herói retratado todos os dias nos jornais e revistas bruxos. Parecia exatamente um menino, com receio de dizer que tinha feito algo muito errado.

Gina, que até então estava calada, sentiu seu coração apertar ao ver seu ex-namorado tão vulnerável.

- Cara, o que tá acontecendo? – perguntou Rony, também preocupado.

- Não é o que está acontecendo, e sim o que aconteceu Rony! – ele explicou – Eu... Sei que vão ficar chateados com que vou dizer agora, mas eu não dei notícias por... Por vergonha!

- Vergonha de que, querido? – Molly largara seu trabalho no fogão, e fora para perto do rapaz.

- De encará-los, quando um de seus filhos havia dado a vida em uma batalha que era para ser apenas minha! – Harry ergueu a cabeça para olhar a expressão de todos, e eles puderam ver as lágrimas que se formavam em seus olhos incrivelmente verdes – Eu não tinha coragem de simplesmente olhar pra vocês, sabendo que Fred morreu por minha culpa. Olhar pra vocês, em especial para o Jorge, e saber que um membro tão querido se foi lutando por minha causa, me fazia sentir um lixo. – Harry fechou os olhos e respirou fundo, para controlar suas emoções – Vocês conseguem me perdoar? Eu quis, juro que quis ir até vocês e lhes pedir desculpas, explicar o motivo de ter desaparecido, mas não consegui.

Se Harry pretendia fazer um discurso maior que aquele, teria que fazer outros planos, já que todos na cozinha decidiram lhe dar um abraço em conjunto. Como era possível existir uma família tão boa e perfeita como os Weasley? Ele não merecia tanta sorte.

- Harry, meu menino, escute e entenda de uma vez! – disse Molly, enquanto segurava o rosto de Harry entre as mãos – Nenhum de nós o culpa pelo que aconteceu. Todos ainda sentimos muito a perda de Fred e vai ser assim por toda a nossa vida, mas você não tem nenhuma responsabilidade. Não poderia enfrentar toda aquela batalha sozinho, querido!

- Harry, você precisa entender que até mesmo os heróis precisam de ajuda! – ao som da voz de Gina, Harry desviou rapidamente o olhar para encará-la. Como ela podia ser tão calma, quando ele havia sido um completo covarde?

- Gina tem razão, cara! Você não deve se sentir culpado por cada morte que ocorreu naquele dia! – Rony dava tapinhas amistosos nas costas do amigo.

Harry até pensou em responder, mas ao ver que todos lhe encaravam com sorrisos bondosos, desistiu da ideia de protestar sobre os argumentos ali expostos e simplesmente lhes sorriu de volta.

- Bom, agora que descobrimos que o Harry não estava planejando fugir do país para assaltar outro banco bruxo, será que podemos fazer uma boquinha? – Jorge mudou logo o rumo da conversa, na tentativa de ajudar o amigo – Não é por nada não, mas eu tô começando a ficar com fome.

Nesse mesmo instante o estômago de Harry roncou alto.

- É, eu acho que também estou com fome! – Harry precisou admitir.

- Mas é claro que está! Não tem se alimentado direito, pobrezinho! Dê-me apenas alguns minutos que lhe farei omeletes com bacon, para você! – disse Molly, voltando sua atenção para o fogão.

Enquanto a matriarca Weasley se preocupava em preparar algo para que todos pudessem comer, o restante da família travava uma conversa animada sobre as novidades que envolviam o mundo mágico, e também paravam para tirar sarro das notícias exageradas que envolviam Harry e sua vida particular, que eram constantemente publicadas no Semanário das Bruxas.

Fazia tempo que Harry não se sentia tão leve e feliz, como estava se sentindo naquele momento. Aquela, definitivamente, era sua família. Agora se sentia um completo idiota por ter passado tanto tempo longe das pessoas que amava.

A conversa só cessou, quando Molly colocou sobre a mesa uma bandeja repleta de panquecas e outra com bacon. Ninguém pensou duas vezes antes de atacar a comida que cheirava deliciosamente bem.

- Tem certeza que não quer mais nenhuma panqueca? – insistiu Molly, quando Harry recusou comer a quinta panqueca.

- Estou satisfeito, Sra. Weasley, obrigado! – respondeu educadamente.

- Ótimo! Então agora que já está satisfeito, deve subir e guardar suas coisas em uma mala, para podermos partir! – Molly anunciou, enquanto começava a limpar.

- Partir? – perguntou Harry, completamente confuso – Mas, eu...

- Cara, você acha realmente que o esquadrão Weasley veio aqui só para te fazer uma visita amigável? – perguntou Rony, divertindo-se com a situação.

- Nós viemos sequestrá-lo, Harry! – Jorge explicou – E se disser que não, bom, nós podemos azará-lo sem ficar com peso na consciência, afinal de contas, sequestradores não são bonzinhos.

- Você vai ficar n’A Toca conosco, Harry! – disse Arthur – Não podemos privar Molly de vigiar sua alimentação.

- Sua carta de Hogwarts chegou hoje Harry! – disse Hermione, de repente.

- Hogwarts? Mas, eu...

- Ah, não te contamos? Cara, a Diretora disse que podemos voltar para cursar o ano que perdemos! – Rony interrompeu o amigo, que a essa altura do campeonato, já tinha desistido de expressar sua opinião.

- Estaremos na mesma turma, Harry! – comentou Gina, que parecia completamente à vontade.

- Harry, por Merlin, diga alguma coisa! – Hermione sacudiu o ombro do amigo.

- Eu tentei, mas vocês...

- Ah, cale a boca! Vamos logo subir e guardar suas coisas no malão! – ela deu as costas e saiu pela porta da cozinha, em direção as escadas.

Harry apenas ficou olhando a amiga desaparecer, de boca aberta.

- Viu cara? Os anos passam, mas ela nunca perde o jeito delicado de ser! – Rony comentou, arrancando risada do amigo.

De duas coisas Harry não poderia duvidar: a primeira delas era que seu sonho de retornar a Hogwarts para cursar seu último sonho se tornara real; e a segunda, era que algo lhe dizia que aquele seria um ano cheio de coisas novas.

A única coisa de que Harry não sabia, era que as coisas novas poderiam vir acompanhadas de situações para lá de sombrias...








~~





N/A: Olá!

Sei que é clichê fazer essa pergunta, mas é a única que me ocorre no momento, então lá vai: O que acharam do capítulo?

Essa é minha primeira fic do Harry, Rony e da Mione mesmo! Já havia escrito algumas sobre os filhos deles, mas agora me sinto inspirada a escrever sobre eles, e preciso muito saber da opinião de vocês, para saber se continuo ou não.

Comentem ou simplesmente votem, para que eu tenha uma idéia do que estão achando ok?!

Tentarei não demorar muito com o segundo capítulo!

Aguardo suas opiniões.

XoXo,

Mily.






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Comentários (1)

  • Caderninho azul

    Ain AMEI!!Hahahahah ri do Harry que não conseguiu falar no final,pegou a essência da Mione mesmo? Bom,eu achei ótimo vc escrever sobre o trio mesmo,tipo já li uma parte de Fake Wedding e gostei mas eu pessoalmente prefiro ler sobre o trio mesmo. E a sua ideia de enredo está maravilhosa! Mal posso esperar para que eles cheguem em Hogwarts!Esse Thomas vai se relacionar com alguém? Afinal,se até Voldemort se envolveu...Ah To aqui imaginando ele se envolvendo ou/e enganando a Gina!hahaha Enfim,To adorando mesmo!

    2012-02-18
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