Vivendo com as decisões



Capítulo 13

Vivendo com as decisões



- Sr. Winthrop, o senhor tem um minuto?


- Claro, Sev. Alguma coisa o preocupa?


- Sim, senhor. Lamento informar que meu povo mandou notícias.


- Ah, isso significa que você terá que voltar.


- Precisamente.


- E isso vai ser logo?


- Receio que sim. Claro, eu estou disposto a ficar mais uma semana até que o senhor encontre os substitutos.


Dean Winthrop riu-se:


- O quê? Você acha que são precisos dois para substituí-lo? Sev, eu sei que você é bom, mas não é tão bom assim.


- Bem, senhor, o que eu realmente queria dizer é que... bem, Martha e eu...


- Eu sei que vocês estão namorando, e eu acho isso até bonito... Ei! Você não vai me dizer o que eu acho que você vai me dizer, vai?


Snape procurou não fazer careta:


- Eu receio que sim. Ela vem comigo.


- Bom, isso me deixa feliz por um lado. Vocês pretendem se casar?


- Não imediatamente. Já deverá ser uma façanha conseguir que meu pessoal aceite Martha. Na verdade, se eu tivesse juízo, não a levaria comigo.


- Ah, Sev, quem tem juízo não se casa. Continue assim: não pense muito, e aí vocês se casarão em breve, eu acredito. Não pense que não tenho observado vocês dois - Winthrop bateu com uma mão nas costas de Sev - Eu espero que vocês sejam muito felizes. Os dois merecem.


- Obrigado, senhor.


- E você me deixa com um problema. Onde vou encontrar alguém capaz de deixar tudo em ordem como ela em tão pouco tempo?


- Er... Se o senhor não se importar com aparência exterior, eu tenho uma sugestão nesse sentido. Mas eu precisaria falar com a pessoa, eu ainda não comentei com ela.


- De quem estamos falando? Alguém que eu conheço?


- Sim, senhor. McTaggart.


- Aquele homem? Acha que ele é organizado?


- Não, o senhor me entendeu errado. Eu estava me referindo a Madame Edna McTaggart. Uma mulher impressionante.


- Hum - Winthrop pareceu pensar - Eu me lembro dela. Ela é meio pesadinha.


- Mas garanto que é capaz de subir nas escadas dos ingredientes. E eu posso sugerir que ela passe uns dois dias com Martha, para conhecer a loja e como as coisas funcionam aqui. O que o senhor acha da idéia?


Winthrop pareceu considerar:


- Acho que não custa tentar. O máximo que pode acontecer é eu ter que procurar outro alguém, o que eu já tenho que fazer de qualquer jeito. Ah, você se incomoda se eu trouxer alguém para acompanhá-lo no serviço?


- Já tem alguém em vista para meu posto?


- Quando você me disse que poderia ir embora a qualquer momento, achei melhor dar uma sondagem por aí. Tem um garoto que acabou de sair de uma escola de farmácia perto de Surrey que está procurando emprego na área.


- Hum, se ele estiver disposto a agüentar um velho professor ensebado...


- Professor? - Winthrop se espantou - É isso que você faz? Dá aula?


- Num internato.


- Agora entendo porque você fugiu.


- Realmente.


Os dois se entreolharam e caíram na risada. Do outro cômodo, na recepção, Martha se entusiasmou. Tudo parecia correr bem. Mas falar com os McTaggart era uma outra coisa.


***



- Sev? - Brian parecia preocupado quando Snape entrou em casa. - Tá tudo bem, cara? Você anda com uma lata...


- Na verdade, não está bem, Brian. Podemos conversar?


- Claro, mano broda. Para isso que serve a família. Pó mandá.


Snape disse:


- Eu recebi notícias de meu pessoal.


- Lá do lugar de onde você veio? - Snape assentiu. - Boas notícias?


- Eles me querem de volta.


- Então tá tudo limpo? Digo, lá com eles, entre vocês? Ou eles continuam pegando no seu pé? Sabe, eu posso falar com o Mordida de Cobra, e ele dá um jeito neles! Eu pedindo, ele nem cobra e ainda some com os corpos!


Snape apressou-se a dizer:


- Não será necessário, os problemas aparentemente foram sanados. Agora está tudo em ordem.


- Sev, então você vai embora?


- Lamento dizer que sim.


- Pô, cara. Vou sentir sua falta.


- Eu também vou sentir muita falta de vocês todos.


- Bom... Você quer voltar?


- Lá é o meu lugar.


- Aqui tu é de casa, Sev. Pode ficar quanto tempo quiser. Não precisa voltar se não quiser.


- Entendo isso. Você não faz idéia quanto isso é importante para mim, Brian.


- Ah, que é isso. Você é da família, Sev. - O sorriso dele caiu. - Pequerrucho vai ficar arrasado. Ele te adora, sabia?


Snape estremeceu, sentindo outra coisa estranha no estômago. Ele continuava odiando crianças, mas Billy... bom, Billy era diferente.


- Billy é uma criança sem igual.


- Sev, o que você vai fazer com Martha? Já decidiu?


- Sim. Vou levá-la comigo.


- É mesmo? Que maneiro! E vocês vão se amarrar?


- Ainda não sei. Não falamos sobre isso.


- Ah, mas vocês estão praticamente noivos. Que romântico! E seu povo? O que eles disseram sobre Martha?


- Eles não sabem ainda. Acho que será uma surpresa e tanto.


- Cara, que arraso! Você volta com a mulher a tiracolo!


- E eu queria falar sobre isso com você. Sabe, de uma vez só, o sr. Winthrop ficou sem dois empregados. Ele vai precisar substituí-los.


- Pô, vocês deixaram a lojinha sem gente! Saindo os dois ao mesmo tempo! Coitado do Dean! ehehehehe! As coisas que o amor faz!


- Pois é, mas eu estive pensando. Será que Edna se interessaria num emprego fixo de mais ou menos seis horas por dia?


- Ih, Sev, sei lá. Minha bruzundunga cozinha bem, e tudo, mas ela não entende dessas ervas medicinais. Um chazinho ou outro até que vai, mas...


Snape explicou:


- Não, Brian. Eu estou dizendo para o lugar de Martha. Atendendo clientes, verificando estoques, talvez ajudando nos livros de contabilidade. Esse tipo de coisa. Será que ela gostaria disso?


- O quê? Dar mais um lugar para ela arrumar e mandar? Winthrop não deve bater bem da cachola! A Edna vai tomar conta do pedaço rapidinho! Eheheh!


Os dois se riram por um tempo, e Snape disse:


- Bom, eu achei que ela serviria para o cargo. E o dinheiro viria a calhar.


Brian finalmente disse:


- Olha, eu vou falar com ela. Acho que ela vai topar na hora, esse é o que é o problema. Aquela mulher adora mandar nos outros - Ele olhou para Snape. - E a grana realmente vai cair bem. Valeu, mano.


- Era o mínimo que eu podia fazer, já que vocês nunca me deixaram pagar pela minha estadia.


- Você vai embora quando?


- Calculo que em uma semana estejamos prontos para partir.


- Legal. A gente tem tempo para um bota-fora. Mas vê se não some, hein? Manda notícias.


- Você sabe que eu vou para longe, Brian. A comunicação é difícil.


- Manda um e-mail - provocou Brian, rindo de Snape - Brincadeira. Eu sei que você não mexe num computador nem para salvar sua vida!


- Eu posso mandar cartas.


- Ih, que maneiro! Cartas! Deixa o endereço que eu vou ver se escrevo.


- Er... Eu vou voltar a dar aulas num internato, então eu vou dar o endereço da escola. Basta colocar no correio. Não precisa nem selo.


- É mesmo? Sem selo? Que baita! Assim eu vou escrever bastante.


- Eu odiaria perder contato com vocês. E Martha e eu poderemos visitar vocês no fim de ano, se o diretor me permitir sair.


- Então tá fechado! Natal com Sevvie! Vai ser divertido.


- Com certeza - Snape colocou a mão no bolso e de lá retirou um pequeno objeto - Eu gostaria de lhe dar isso. Para vocês se lembrarem de mim.


- Ah, Sev. Não precisa - Ele olhou o objeto - O que é isso?


- Uma cegonha de prata. A cegonha é a árvore símbolo dos refugiados. Era como eu me sentia quando estava aqui. Essa é uma ave muito especial para mim.


- Que legal, Sev. O Billy vai querer brincar com isso.


- Não tem problema. Só não deixe que ele leve a cegonha desta casa. Dizem que uma cegonha de prata só traz sorte se for mantida na sua casa.


- Ah, que bacana, isso. Fica frio que vamos dar um bom trato nela.


- Posso dar uma recomendação? Jamais ferva esse objeto. Eu sei que dizem que fervendo a prata ela fica brilhante, mas acredite em mim, você não vai querer fazer isso com essa cegonha.


- Então tá. Tá na lata que isso é uma coisa muito especial para você. Não é herança de família ou alguma coisa assim, é?


- Não, mas ele abriu novas perspectivas na minha vida. Por isso eu o prezo tanto.


- Então, tá, cara. Escuta, você já jantou?


- Não. Tô sem fome. Estou... ansioso. Não sei se Martha será aceita pelos meus pares.


- Fica frio, que tudo vai dar certo. Confia nisso, Sev. Qualquer coisa que a gente puder ajudar, é só falar, mano.


- Muito obrigado, Brian. Você é uma pessoa excepcional.


- Ih, assim eu vou chorar e vou ficar vazando todo, Sev! Pára com isso. Deixa eu falar com a Edna. Ela vai ter um ataque.


Palavras proféticas.


Edna McTaggart não só teve um ataque de alegria, como também de tristeza. Alegria pelo novo emprego e tristeza por saber que Snape iria voltar para sua terra. Billy passou o resto da semana agarrado ao mestre de Poções toda vez que o via. Snape decidiu que se ele ficasse o resto da vida sem ver Bob Esponja, seria cedo demais.


Alvo mandou uma coruja para saber se Snape teria alguma previsão de quando poderia voltar. Snape respondeu dizendo que iria voltar no fim de semana, e traria um hóspede. Apenas isso. E sorriu sarcasticamente. O bode velho provavelmente ficaria tão surpreso que Snape até temia por um ataque apoplético.


Os dias seguintes foram de preparação e frenesi. Snape descobriu que nem todos os jovens recém-saídos da escola eram tão idiotas quanto ele sempre acreditou. O candidato a seu posto possuía razoável talento para a manipulação de ervas trouxas. Claro, se o rapaz sequer ousasse tentar entrar num de seus laboratórios de poções levaria uma azaração tão rápido que jamais saberia exatamente o atingiu.


Edna McTaggart, como Brian previra, estava mais do que dentro de seu elemento. Em pouco tempo, já começou a querer arrumar a loja todinha. Ela gostou muito das vantagens adicionais: iria trabalhar perto de casa, com tempo para pegar o Pequerrucho e preparar jantar. A renda fixa certamente melhoraria muito a condição geral da família.


Martha ia recebendo as informações sobre Hogwarts e o mundo bruxo em doses homeopáticas e ficava maravilhada. Ela ficou um pouco assustada ao saber sobre Voldemort, e a guerra do Bem e do Mal, especialmente devido ao papel de Snape de espião. Ela temia pela segurança dele.


Nos dias que antecederam à partida deles, porém, ela começara a ficar nervosa. Principalmente, ela temia não ser aceita pelos bruxos e bruxas. Tudo parecia tão desconhecido para ela que ela começou a ter crises de ansiedade. Numa dessas, ela andava de um lado para o outro no quarto, fazendo uma lista do que ela iria levar.


- Talvez isso tudo seja um erro, Sev - ela dizia. - Isso não vai dar certo.


- Você só está nervosa, meu amor. Eu não espero que as coisas sejam fáceis, mas em Hogwarts você estará segura, e teremos tempo para vencer as resistências.


Ela se abraçou a ele:


- Oh, Severo. Eu acho que estou mesmo nervosa. Mas... eu nunca saí de Londres. E tudo me parece tão novo.


- Eu estarei com você. Vamos enfrentar tudo juntos. Agora, que tal pensar em coisas práticas? Por exemplo, existe alguma coisa que você queira levar?


- Bom, eu esperava poder levar objetos pessoais, mas eu não tenho como pagar uma mudança.


- Encolheremos o que você quiser levar e levaremos conosco.


- Encolher?


- Sim, fazer com que as coisas fiquem menores e depois podemos até colocar nos bolsos. Afinal, você vai precisar de alguma mobília. Vou requisitar os aposentos ao lado dos meus e faremos uma reforma nas masmorras.


- Você quer levar... móveis no bolso?


- Não, estou perguntando se tem algum móvel que você queira levar. Com mágica, vai ser possível.


- Oh, eu tenho muito com o que me acostumar.


- Com certeza. Agora eu vou levar você até um lugar muito especial.


- Especial?


- Beco Diagonal, o lugar bruxo em Londres. Vamos fazer roupas para você na Madame Malkin Roupas para Todas as Ocasiões.


- Vou precisar de roupas novas?


- Sim. Você vai ver que os bruxos se vestem de maneira um pouco diferente das pessoas não-mágicas.


- Oh, Severo. Eu não sei se posso pagar roupas novas.


- O que me faz lembrar que teremos que passar no banco e trocar seu dinheiro.


- Por dinheiro de bruxo?


- Sim. Seria bom também comprarmos as passagens de trem para o fim de semana. Pegaremos o Expresso Hogwarts. Se der tempo, ainda no Beco Diagonal, quero que você prove a cerveja amanteigada. Acho que você vai adorar - Ele se ergueu - Então, está pronta?


Martha sorriu para ele.


- Nós vamos fazer isso, não vamos?


- Claro que vamos. É muita coisa, mas eu acho que vai dar tempo.


- Não, digo... *isso*. Eu e você, juntos, no mundo dos bruxos.


Ele a puxou contra si:


- Eu mal posso esperar. Jamais pensei que estaria tão ansioso por volta a ensinar aqueles idiotinhas mimados.


Ela suspirou e afundou a cabeça debaixo do queixo dele:


- Eu sinto que vai ser muito excitante.


- Então podemos ir ao Beco Diagonal? Você vai gostar do lugar. É muito melhor do que aquele brechó.


Martha riu, separando-se dele para pegar sua bolsa:


- Então vamos. Estou louca para finalmente entrar no mundo bruxo.


Snape pegou seu casaco:


- Ah, tem uma outra coisa que você provavelmente não conhece: quadribol.


- Não, nunca ouvi falar. O que é isso?


Eles saíram do apartamento, Snape dizendo:


- Eu lhe explico no caminho para o Caldeirão Furado.


- Ah, que nome interessante. Toda vez que você me fala das coisas de seu mundo, você vem com palavras e nomes tão diferentes...!


- Não, Martha. Agora ele é nosso mundo. E eu quero que você o tome de assalto.


- Eu só quero que fiquemos juntos, Severo.


- Esse seu desejo, meu amor, já está realizado. Agora que você aceitou ficar comigo, eu não vou deixar que nada me separe de você. Palavra de bruxo.


Eles se beijaram e saíram para a rua. Juntos dariam o primeiro passo no mundo bruxo. Era uma apresentação aos bruxos e um começo verdadeiro para os dois.


As emoções estavam apenas no início.




Fim

Continua em "A bondade de seus corações"

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