Stranger Things Have Happened.

Stranger Things Have Happened.



Enquanto aquela grande massa de alunos perambulava de um lado para outro na tentativa de descobrir o que é que estava acontecendo. Eu pouco me importava, queria me concentrar nos estudos, a única coisa que me mantinha sem pensar no Pat.


- Você devia ver isso. – Uma garota que eu mal conhecia me chamou e eu, curiosa como sou, fui.


Vi Patrick brigando com Robert e aquela cena não fez sentido. Ninguém fazia nada, então eu, com muito custo eu atravessei a multidão que os cercava e me meti no meio dos dois.


- Para, para! Vocês são loucos? Vocês vão pegar detenção! – Eu gritava empurrando Patrick para um lado e Robert para outro. – Uau! Não sabia que tinha tanta força. O que é que está acontecendo?


- Não é força Sofia, nós paramos de brigar para você não se machucar. – Patrick disse.


Robert ficou quieto. A multidão ainda os cercava, esperando o que aconteceria.


- Conte para ela porque nós estávamos brigando Patrick. – Robert disse desafiador.


- Não é da conta dela. – Patrick disse limpando o sangue do lábio.


- Como assim não é da minha conta? – Eu perguntei. - O que é que você está falando que não é da minha conta? Desde sempre tudo é da minha conta. Tudo que acontece com você, qual a diferença agora?


- Fique longe dela. – Patrick disse para Robert e saiu andando.


Ele havia me ignorado. Pela primeira vez na minha vida.


Fiquei com tanta raiva que não consegui pensar direito e fui atrás dele. Estávamos em um corredor vazio quando consegui emitir algum som:


- Hei, Patrick! – Eu gritei. – Espere.


Ele parou sem olhar para trás. Estava de cabeça baixa, olhando o chão, quando eu cheguei perto. Levei minha mão ao seu rosto de uma forma desajeitada, mas ainda assim carinhosa.


- Não faça isso, por favor. – Ele pediu.


- Não faça o que? – Perguntei.


- Eu não posso te machucar, eu não posso te fazer feliz, você vai estar longe... Não faça isso, não dificulte, não me faça sofrer mais. – Ele disse. Sua voz falhara nas últimas palavras.


- Você... – Eu ia perguntar se ele se arrependia do que havia dito sobre nós. Não o “nós” amigos, mas o “nós” sei lá o que. Mas não consegui. – Você devia ser sincero comigo.


Eu tirei minha mão do rosto dele e voltei a andar. Esperava que ele fizesse uma cena de cinema, me puxasse pelo braço e me beijasse apaixonadamente. Para isso até diminuí a velocidade dos meus passos. Mas após alguns segundos de caminhada, ele caminhou em direção contrária a minha. Nó na garganta. Falta de ar. Dor de rejeição.


Depois de um certo tempo mal conseguia guiar meus passos. Só queria ficar sozinha, chorar um pouco. Enfiei-me debaixo dos cobertores até eu ter uma certa segurança e começar a chorar com a cara no travesseiro, abafando os soluços.


Dormi sem perceber. Perdi a última aula do dia, nem me lembro qual era. Acordei com as meninas entrando no quarto fofocando sobre o ocorrido do dia. E por “ocorrido do dia” eu digo a briga do Patrick e do Robert.


- Foi do nada. Por alguma coisa que o Robert disse, isso eu sei. O Patrick simplesmente o derrubou com um soco. Foi assustador. – Sabrina disse.


Assim que viram que eu estava deitada elas pararam de falar.


Eu me levantei e dei um imenso bocejo. Elas me olharam esperando que eu dissesse algo. Não disse. Fui lavar o rosto e procurar o Alex. Talvez ele pudesse me esclarecer as coisas. Não foi muito difícil achá-lo, ele estava no campo de quadribol, estudando estratégias.


- Alex! – Eu gritei e corri em sua direção.


- Diga Sofia. – Ele me disse sem me olhar.


- Você ficou sabendo da briga?


- Sim. – Ele me disse me olhando finalmente. – Já estava demorando.


- Tive dor de cabeça e fui dormir um pouco. – Eu disse. Era metade verdade.


- Ah, bem, eu não vou te falar nada. Vou deixar para Patrick te contar. – Ele disse.


- Patrick não vai me contar. – Eu disse.


- Ah vai. Vai sim. Eu o obriguei a te contar. Espere e verá. – Alex me disse.


Ótimo. Além de continuar curiosa deveria esperar a boa vontade de Pat. E pelo que conheço dele, talvez até sua vergonha passar. Afinal, além de ter sido rude comigo, ele agiu de uma forma estranha e me disse coisas que ele provavelmente se arrependeu assim que as palavras saíram de sua boca.


Resolvi me sentar na arquibancada e pensar mais, enquanto Alex revia suas jogadas.


Eu não sabia se ficava feliz por saber que os sentimentos dele não eram apenas “sentimentos de amigo” o que tornava tudo mais confuso, mas mais satisfatório para meu coração. Afinal não seria a única a dormir com a consciência pesada de querer beijar meu melhor amigo.


Eu só percebi que a razão (e talvez solução) dos meus problemas estava do meu lado quando ele segurou minha mão.


- Que susto! – Eu disse tirando minha mão da dele e colocando no meu peito para sentir meus batimentos cardíacos.


- Desculpe. – Ele disse tímido. – Eu só estou aqui para te dizer por que eu briguei com o Robert.


- E me pedir desculpas por ter sido um grosso comigo? – Eu perguntei.


- Também. – Ele respondeu olhando para frente.


Ele ficou em silêncio por algum tempo. E eu curiosa e angustiada durante esse tempo.


- Eu não tenho a tarde toda. – Eu disse. – Se você vai demorar muito a gente deixa isso pra domingo. Eu nunca tenho nada pra fazer domingo mesmo e, talvez eu queira...


- Desculpa. Eu fui um grosso, ogro, babaca. Eu surtei, eu sinto ciúmes de você e o Robert me perguntou se você iria com ele à Hogsmead e a possibilidade de você dizer “sim” a essa pergunta me incomodou. Você é minha melhor amiga, uma irmã pra mim. É normal eu sentir ciúmes. É isso. – Ele me interrompeu, dizendo tudo sem tomar ar.


- Você brigou com o Robert por minha causa? – Eu perguntei.


- Sim. – Ele disse. – Eu não devia ter feito isso. O Robert é um cara legal, eu acho que você devia aceitar o convite dele.


- Você acha isso? – Eu queria completar com “Ou você só está dizendo isso para não admitir que sente ciúmes de mim de uma forma não-fraternal e que você que gostaria de me levar para Hogsmead?” mas não disse.


- Sim. – Ele disse ainda sem me olhar.


- Tudo bem. – Eu disse me levantando e caminhando para a descida da arquibancada.


- Aonde você vai? – ele me perguntou.


- Atrás do Robert, aceitar o pedido dele. – Eu disse sem ao menos olhar para ele.


Ele não me disse mais nada e eu, obviamente não sabia se queria realmente sair com o Robert ou se estava indo atrás dele apenas para irritar o Patrick, mas eu fui. Não foi difícil achá-lo, ele estava indo para o campo de quadribol.


- Robert? – Eu o chamei. – Tudo bem?


- Ahm, sim. – Ele disse sem entender muita coisa. – E você?


- Também. Então... Eu conversei com o Patrick.


 - Oh! – Ele pareceu entender o porquê de eu ter parado ele para conversar. – Ok.


- Então... Ele deve te pedir desculpas, ele te acha um “cara legal”. – Eu era péssima com garotos, eu sei. – Pelo menos foi isso que ele me disse. Enfim, ele me disse que a briga começou porque você comentou com ele que gostaria de me chamar para ir para Hogsmead... Certo?


- Ahm, certo. – Ele me respondeu corando um pouco. Ele fica muito bonitinho com as bochechas vermelhas.


Eu poderia apenas ter dito “Eu aceito. Até mais.” e saído. Mas claro que eu ainda estava pensando em Pat.


- Escute, sobre Pat... Ele é esse irmão mais velho possessivo e babaca que acha que deixando todos os caras do mundo longe de mim vai me poupar de todos os dramas da vida de uma garota de 15 anos. Foi por isso que ele te deu um soco. – Eu disse.


- Foi bem mais de um soco. – Robert respondeu sorrindo e me fazendo sorrir.


- Tudo bem. Alguns socos. – Eu disse. – Mas você revidou, então...


- É. – Ele disse.


Alex estava sinalizando para que ele se apressasse para o treino.


- É melhor você ir. – Eu disse. – Alex é bem exigente.


- É, é melhor eu ir. – Ele disse sorrindo.


Eu mal havia dado dois passos quando Robert chamou meu nome.


- Sofia... Eu não recebi a resposta da minha pergunta. – Ele disse.


- Ah. – Eu teria ficado vermelha se eu fosse mais clara. – Sábado às duas?


- É um bom horário. – Ele me disse caminhando para o campo de costas, me olhando.


Eu sorri para ele e me virei de costas. Estava morrendo de vergonha.


Fui para o meu quarto tentando equilibrar minha raiva do Patrick com aquele friozinho na barriga bom que eu estava tendo por causa do Robert.


Aquilo era estranho. Aqueles dois sentimentos ao mesmo tempo. Eu tinha minha ultima aula daqui uma hora, então peguei meu álbum de fotos (que estava sempre debaixo da minha cama) e fui vê-lo.


Fora as fotos da família feliz Blaine de quando meu pai ainda era vivo, praticamente todas as fotos que eu tinha no álbum eram se não minhas com o Patrick, tiradas por ele.


Eu peguei a minha favorita, uma das poucas que haviam sido tiradas pelo Patrick que eu só fiquei sabendo que foi tirada quando a recebi de presente. Eu estava sentada na janela do meu quarto, com um caderno na mão, os meus óculos de nerd, calça de pijama roxa e regata branca. Não tenho idéia do que estava escrevendo aquele dia naquele caderno, mas... Bem, essa era uma das coisas que o Patrick sabia sobre mim que nem eu mesma sabia. A dedicatória da foto era simples, mas o suficiente para mim “Continue sempre na janela em frente a minha. – Pat”. Eu sorri e guardei a foto no meu álbum. Nesse momento Sabrina entrou no quarto sorridente.


- Olá Sofia! – Ela disse se sentando na minha cama. Sem a minha permissão, devo citar.


- Oi, Sabrina. Tudo bem? – Eu perguntei.


- Ótimo! – Ela disse. – Bem, você deve saber o porquê eu estou nesse ânimo todo, não é?


- Na verdade não. – Respondi sincera.


- Ah, bem Patrick me convidou para ir para Hogsmead. – Ela disse, me fazendo querer vomitar. – Ele acabou de me convidar! Imaginei que você, por serem a melhor amiga dele saberia...


- Ah! Claro! Isso... Bem, eu não tinha certeza do que era... Não queria estragar a surpresa, por isso não disse nada. – Eu menti.


- Claro, óbvio que ele não iria tomar alguma decisão sem te consultar antes! – Ela disse. – É claro que não... – Eu estava inconformada. – Mas que bom, Patrick é super legal, aposto que você vai se divertir com ele.


- Espero... – Ela disse. – Sabe, desde que eu terminei tem sido muito difícil. – Detalhe: Eu nem sabia que ela havia terminado. – E o Patrick parece ser um cara legal. Aposto que ele vai me fazer bem.


- É, eu também acho. – Eu disse.


- Mas e você? – Ela me perguntou. – Saindo com alguém?


- Ahm... O Robert me convidou para ir sábado a Hogsmead. – Eu disse.


- Ele é gato! – Ela disse. – Assim, com todo o respeito, afinal eu vou sair com o seu melhor amigo...


- É eu entendi, não precisa se preocupar. – Eu disse sorrindo. Eu queria odiá-la, mas... Como? Ela estava sendo uma fofa comigo.


- Acho melhor irmos para a aula de História da Magia. – Ela disse.


- É verdade. – Eu me levantei da cama e peguei meus livros. – Vamos?


- Vamos. – Ela me disse sorrindo.


Caminhamos para a aula. Como sempre, eu e Patrick nos sentamos juntos. Eu peguei um pedaço de pergaminho e escrevi:


 


“Você convidou a Sabrina para Hogsmead quando?”


 


Entreguei o pergaminho a ele, que não demorou a me responder.


 


“Hoje.” – Seco e nervoso. Ele não queria que eu ficasse sabendo.


 


“Não sabia que você tinha interesse nela.” – Eu escrevi provocativa.


 


“Eu não te conto tudo que passa na minha cabeça, Sofia.” – Ele escreveu.


 


“É, eu percebi isso. Você não anda mais me contando informações relevantes sobre as meninas que você tem interesse.” – Quase escrevi “Inclusive sobre mim”, mas eu precisava ser cautelosa.


 


Você pode me deixar prestar atenção na aula? Obrigado.” Ele escreveu. Ponto para mim! Ele havia fugido de uma D.R. (Discussão de Relacionamento).


 


Guardei o pergaminho no bolso e comecei a fazer minhas anotações da aula. Consegui, entre um comentário e outro do professor, ver que Patrick estava mais incomodado que o normal. Aquilo me divertiu.


Após a última aula do dia teve o jantar e Patrick estava bem quieto. Mas eu falei mais que o normal, para compensar. Sabrina, que havia se sentado perto de nós, também conversou muito.


E então, antes de dormir eu enfiei a mão no bolso do casaco e peguei o pergaminho e o re-li. Doeu um pouco, era um terrível contraste com a frase escrita na dedicatória da minha foto. Eu peguei uma caneta e completei nosso diálogo com um:


 


“Apenas esteja sempre em algum lugar que eu possa te encontrar. Eu te amo.”


 


Guardei novamente no meu casaco o pergaminho e tentei dormir.

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