Capitulo 21



Naquela noite Gina não dormiu. Sentia um mal-estar por todo o corpo e imagens tenebrosas surgiam na sua cabeça quando cochilava. Para onde será que Harry tinha ido? Encontrar outra mulher? Margot? Vivien? A medida que as horas passavam e ele não voltava mais ela se convencia de que era para Londres que Harry tinha ido.


 


Já quase de manhã, conseguiu dormir um pouco, mas às sete horas estava em pé, preparando um chá na cozinha. Encheu uma xícara e se sentou diante da mesa, atormentada pelo arrependimento e pelas dúvidas. Enfraquecida pela noite mal dormida e pelos acontecimentos da noite anterior, não agüentou mais e chorou desconsoladamente.


 


Quando levantou a cabeça, percebeu horrorizada que não estava sozinha. Sua mãe estava parada na porta, a preocupação estampada no rosto. E agora? Como ia explicar as lágrimas? Mas do que adiantaria mentir? Mais dia, menos dia ela ia saber de tudo mesmo! Então, Gina decidiu abrir o coração. Contou aquilo que achou indispensável, evitando os detalhes mais fortes, que pudessem chocar a mãe.


 


— Eu ouvi bem, Gina? Está querendo me dizer que Harry quer viver com você?


 


— É isso mesmo, mamãe – Gina suspirou.


 


— Você está louca? – a mãe pôs as costas da mão na testa da filha. — Você está ardendo em febre! Deve estar tendo alucinações. Por que Harry ia querer viver com você?


 


— Ele diz que me ama. Ou... que me amava.


 


A sra. Weasley parecia absolutamente perplexa. Automaticamente, foi até o fogão e se serviu de uma xícara de chá. Tomou alguns goles, respirou fundo, depois, mais calma, olhou para a filha outra vez.


 


— É melhor contar a verdade logo de uma vez. Você está grávida?


 


Gina quase engasgou;


 


— Não, claro que não!


 


— Tem razão. – Molly falou mais para si mesma que para a filha. — Harry não cometeria um desatino desses.


 


— Não dormi com ele, mamãe! O que contei é verdade.


 


— Isso tem alguma coisa a ver com o fato de Harry não ter voltado para casa ontem a noite? – a mãe suspirou.


 


Gina fez que sim com a cabeça.


 


— Você esteve com ele ontem a noite?


 


— Ele me trouxe da casa de Draco.


 


— E vocês tiveram uma discussão.


 


— Mais ou menos.


 


— E por que não me contou tudo antes? – perguntou a mãe, magoada.


 


Gina deu de ombros.


 


— É tudo muito hipotético, mamãe. Harry vai para os Estados Unidos. Vão filmar um dos livros dele e ele precisa assinar os contratos.


 


— E você? – a sra. Weasley mostrava pouco entusiasmo. — Pretende ir com ele?


 


— Ele me convidou.


 


— Santo Deus! – a mãe mal conseguia respirar. — E o casamento?


 


— Casamento, mamãe? – Gina deu uma risada histérica. — Como posso casar com Draco se não o amo?


 


— Acho que você não está em condições de tomar nenhuma decisão agora – aconselhou a mãe, mais calma. — Quando Harry voltar, vamos esclarecer...


 


— Não! Eu... Harry e eu não temos mais nada a dizer um ao outro. Eu... eu não quero... viver com ele, e ele não quer saber de casamento.


 


— E quanto a Draco?


 


— Draco? Não entende, mamãe? Não posso me casar. Simplesmente não posso.


 


— Mas... o vestido, os preparativos.


 


— Por favor... – Gina não suportava ouvir mais. — Não quero mais falar nisso. Preciso me vestir. Disse a Hermione que estaria na loja às nove.


 


Depois de se vestir, Gina ficou sabendo que haviam levado o Alfa à cidade, para consertar. Foi até o quarto da mãe, pedir emprestado o Triumph, e recebeu um choroso “faça o que quiser”.


 


Felizmente o movimento da loja foi grande naquele dia, e Gina conseguiu evitar os olhos atentos de Hermione. A chegada de John Fleming, à tarde, foi outro golpe de sorte. Mais do que depressa, Gina se ofereceu para fechar a loja sozinha.


 


Depois que Hermione saiu, Gina telefonou para a oficina e combinou de ir buscar o Alfa mais tarde. Assim que desligou o telefone, levantou a cabeça e viu Draco parado na porta.


 


— Oi, Draco – exclamou, sem conseguir demonstrar entusiasmo. — Que surpresa.


 


O rosto do noivo não revelava o menor traço de simpatia.


 


— Vim buscar você para levá-la para casa – declarou, sério. — Já está na hora de fechar, não está? Vi Hermione saindo com Fleming. Não vejo razão para você continuar trabalhando até tarde, se ela já foi embora.


 


— Eu me ofereci para ficar. – Gina suspirou. — Como vai? Como está sua perna?


 


— Bluthner deu uma olhada nela hoje de manhã e disse que não é grave. Graças a você, podia ter sido pior.


 


— A mim?


 


— Se não fosse você, eu não estaria lá no estábulo àquela hora e não teria machucado a perna.


 


Gina olhou para ele, incrédula. Ia dizer que não tinham entrado no estábulo por vontade dela, mas achou melhor ficar quieta. Não valia a pena. E, além disso, ele não ia concordar.


 


— Que bom que sua perna está melhor. Mas não precisa me levar para casa, Draco.


 


— Por que não? – a irritação de Draco aumentou. — Seu carro não está na oficina? Certamente foi Potter quem trouxe você para a cidade, mas macacos me mordam se eu vou deixar que ele a leve de volta!


 


— Ele não vai me levar – respondeu Gina, fechando o cadeado da porta. — Vim com o carro da mamãe, não se preocupe.


 


— Humm! – Draco resmungou, mal-humorado. — Então vou atrás de você até King’s Green. Quero dar umas palavrinhas com Potter.


 


— Você não vai poder. Isto é... – Gina hesitou. — O que é que você vai dizer a Harry, Draco? Ele não tem nada a ver com seus problemas.


 


— Que problemas? Nos não temos problemas. Só interferências.


 


— Não é verdade. – Gina sacudiu a cabeça. — Não sei se nosso casamento vai dar certo, Draco. Eu... eu não amo você. Acho que nunca amei.


 


Draco estava perplexo e olhava para ela sem acreditar.


 


— Você está abalada. Aquele problema com o Poseidon ontem à noite... bem... acho que a culpa foi minha, mas você não devia ter fingido que tinha superado seu pavor.


 


— Não é só isso – disse Gina, se sentindo a mulher mais infeliz do mundo. — Nós não pensamos da mesma maneira...


 


— O que você quer dizer com isso? Lemos os mesmos livros, assistimos aos mesmos programas de televisão!


 


— Ora. Draco, a vida é mais do que livros e programas de televisão. Existem outras coisas...


 


— Sexo...


 


— Isso também, é claro.


 


— Já sei... foi Hermione. Ela andou enchendo sua cabeça com as historias dela, não? Então escute... A maioria das mulheres... isso mesmo, a maioria... ficaria feliz por eu não ter feito nenhuma exigência desnecessária...


 


— Exigência desnecessária? – Gina teve um ataque de riso histérico. — Draco, sexo não é uma exigência desnecessária. É uma coisa maravilhosa... uma coisa linda!


 


— Como é que você sabe? – Draco olhou para ela fixamente.


 


Gina hesitou, mas achou que devia ir até o fim.


 


— Eu... eu sei porque... Harry me mostrou – disse em voz baixa e quase perdeu o equilíbrio quando a mão de Draco atingiu seu rosto.


 


— Sua... Como tem coragem de me dizer com essa cara que... que Potter... que Potter e você...


 


— Por favor, vá embora, Draco! – inexplicavelmente, Gina estava mais calma que nunca. Sem dizer nada, tirou a aliança e colocou-a sobre o balcão de vidro. — Eu estava em dúvida... mas agora não estou mais.


 


— Você... você não pode fazer isso! — Draco olhou para a aliança como se nunca a tivesse visto antes. — Ter um caso com Potter é uma coisa, e terminar nosso compromisso é outra. Olhe.. – Estendeu a mão para Gina, que se recusou a segura-la. —Olhe, não seja precipitada. Posso passar por cima do que você me disse. Eu estava fora de mim, e você também. Seria tolice destruir nosso futuro por ... uma bobagem dessas.


 


— Você me esbofeteou, Draco. Não posso perdoar isso. Eu provoquei, mas bater numa mulher...


 


— Pelo amor de Deus! – Draco segurou-a pelos braços, desesperado. — Gina... desculpe. Sim, desculpe... Não vai acontecer outra vez..


.


— Não, não vai – concordou Gina, tranqüila. — Porque não quero mais ver você.


 


Draco deixou cair os braços, desanimado, depois pensou em mais uma cartada.


 


— Você não acha que Potter tem intenções sérias a seu respeito, acha? Você não passa de um passatempo para ele, já que está na sua casa...


 


— Vá embora, Draco!


 


— Conheço o tipo. – Gina não queria ouvir, mas Draco foi implacável. — Muito sucesso com as mulheres... claro, muito sucesso, mas...


 


Gina não agüentava mais. Passou por ele sem olhar e parou na porta.


 


— Vai sair também ou prefere que eu o tranque ai dentro?


 


— Sua vagabunda! – os olhos de Draco brilhavam de ódio. — Meu Deus, e pensar que eu quis casar com você! – pegou a aliança. — Eu devia estar fora do meu juízo perfeito!


 


— Um de nós estava – Gina concordou calmamente.


 


 


 


 


 


 


 


Gina acordou com o som estridente do telefone, às seis horas da manha. Tonta de sono, pois só tinha conseguido dormir às quatro, levantou da cama meio desorientada, indignada porque a mãe nunca atendia o telefone nas horas mais desagradáveis.


 


Fazia quatro dias que Harry tinha ido embora e, desde então, nem mãe nem filha tinham conseguido dormir bem. Como ele não dava noticias, e as duas não se animavam a fazer investigações, o jeito foi comprar soníferos.


 


Gina não se preocupou em vestir um agasalho, nem em calçar os chinelos. Queria acabar o quanto antes com aquele barulho irritante. Pegou o fone como uma sonâmbula.


 


— Pronto.


 


— Gina? – a voz do outro lado era enérgica e masculina. — É você, Gina? Graças a Deus! Pensei que fosse sua mãe.


 


— Vincent? – Gina piscou e esfregou os olhos. — Vincent, por que está me telefonando a esta hora? Você sabe que horas são?


 


— Sei, são seis horas – respondeu, impaciente. — Precisava falar com você antes que meu irmãozinho aparecesse.


 


— Irmãozinho? – Gina sentiu as pernas bambas e se sentou na banqueta ao lado do telefone. — Draco? O que é que Draco tem a ver com isso?


 


— Gina, para de fazer perguntas e escute. Você pode ir ver Harry?


 


— Harry? – se ela não estivesse sentada, provavelmente teria desmaiado. — Harry? – repetiu com voz fraca, tentando se recompor.


 


— Isso mesmo. Sei que não é uma decisão fácil. Mas, honestamente, Gina, se você não vier...bem, não sei o que pode acontecer.


 


Aquele não era o Vincent tranqüilo e despreocupado que Gina conhecia. Havia na voz dele uma urgência que deixou Gina transtornada.


 


— Ele não foi... ele não está... ele não sofreu um acidente, sofreu, Vincent? – perguntou, quase sem poder respirar de ansiedade.


 


— Não, ele não sofreu nenhum acidente.


 


— Então o que foi? – a impaciência de Gina aumentava. — Vincent, pelo amor de Deus, o que foi que aconteceu?


 


— Gina... — Vincent hesitou. — Estou preocupado com ele.


 


— Preocupado?


 


— É – fez uma pausa. — Olhe, não sei o que você sente por ele, mas acho que deve sentir alguma coisa, apesar do que Draco diz.


 


— Draco? – Gina respirava com dificuldade cada vez maior. — O que é que Draco diz?


 


— Você sabe como é meu irmão. Vive tão preocupado com aqueles cavalos que não vê o que se passa em volta. Na opinião dele, você está noiva e conseqüentemente...


 


— Mas eu não estou! – Gina o interrompeu, aflita. — Nós terminamos o noivado há três dias.


 


— Terminaram? – Vincent parecia espantado e aliviado ao mesmo tempo. — Mas ele não me contou nada! E você também não!


 


— Ai, Vincent... – sacudiu a cabeça, desconsolada. — Desde que Harry foi embora, eu estou... não sei... meio perdida. Mamãe não quer falar com ninguém. Parece achar que, se não discutirmos o assunto, tudo vai voltar ao normal. Pensei que Draco...


 


— Não. Ele não disse uma palavra. É por isso que estou telefonando a esta hora. Voltei de Londres ontem e...


 


— Harry está em Londres?


 


— Está.


 


— No apartamento dele?


 


— Não.


 


— Como não? – o coração de Gina ficou pequenino.


 


— Ele está em Kennington, na casa do pai.


 


— Mas eu pensei... – Gina engasgou.


 


— Sei o que você pensou. Uma mulher, não é? Estou vendo que não conhece Harry muito bem. Ele está louco por você. – fez uma pausa. — E eu estou furioso  com o que você fez com ele!


 


— Mas você está preocupado com ele... Por quê? Ele pegou uma pneumonia por causa da chuva do outro dia?


 


— Claro que não, Gina. – Vincent estava impaciente. — Estivemos juntos no Vietnã e ficar ensopado até a alma era o menor dos nossos problemas. – suspirou. — Não é isso.


 


— Então o que é? – Gina estava ficando desesperada.


 


— Bebida – disse Vincent com um suspiro.


 


— Santo Deus! – Gina sentiu  o estômago enjoado. — Mas como é que você sabe que...


 


— Que é por sua causa? – perguntou Vincent. — Se eu dissesse que ele me contou, você acreditaria?


 


— Não.


 


— Está bem. Ele não me contou – suspirou, desanimado. — Mas eu sei, Gina. Eu sei.


 


— Como é que você pode ter certeza?


 


— Diabos! – estava desesperado. — Ele não vai me perdoar se eu disser!


 


— E ele precisa saber?


 


— Talvez não – respondeu Vincent, em dúvida.


 


— Vincent, por favor...


 


— Está bem, está bem. O pai dele me telefonou. Encontrou meu telefone na carteira de Harry. Ele... bem... ele me disse que Harry estava mal e perguntou se eu conhecia uma moça chamada Gina.


 


Gina tremia.


 


— Ele me pediu para ir ver Harry, e é claro que eu fui – fez uma outra pausa. — Nós conversamos, mas... meu Deus! Gina, ele está péssimo.


 


— Ele... mencionou o meu nome?


 


— Só uma vez. – Vincent parecia relutar em continuar. — Ele... bem... perguntou se você estava bem.


 


— E você disse?


 


— Disse.


 


— Quer dizer que, para Harry, Draco e eu ainda estamos noivos.


 


— Estão.


 


— E depois?


 


— Pouca coisa.


 


— Mas meu nome...


 


— Quando eu estava saindo, o velho... o pai de Harry.. me acompanhou até o carro e me disse.


 


— Disse o quê?


 


— Que Harry não parava de repetir seu nome á noite... o velho nem conseguia dormir.


 


— Vincent!


 


— Se Harry souber que eu contei...


 


— Qual... é o endereço dele? – quase sem força para segurar o fone, Gina procurou papel e lápis e anotou o endereço com a mão trêmula.


 


— Obrigada, Vincent. Não sei como agradecer.


 


— Não torne a estragar tudo. — Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, ele desligou.


 


Molly ainda não tinha se levantado quando Gina saiu. Deixou um recado com a governanta.


 


— Diga que fui me encontrar com Harry. Mamãe vai entender.


 


— Se você sabe o que está fazendo – murmurou a sra. Hetherington, contrariada.


 


Gina a abraçou.


 


— Eu o amo. Se não pode ser do meu jeito, então vai ser do jeito dele.


 


 


 
(...)






Fic em reta final *-*



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